quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Shoshin

Aquele ano foi bastante intenso. Além da faixa preta, vieram muitos outros desafios, campeonatos e situações sempre novas. Muitas vezes as pessoas confudem as coisas. Usar a experiência a seu favor, não quer dizer viver momentos já vividos e tirar tudo de letra, na verdade quer dizer apenas usar o conhecimento sobre tudo que foi vivido até então, para encarar novas situações.

Nada é igual pelo caminho. Se é, certamente é porque você está fazendo da forma errada. Quem busca a verdade nunca vê as mesmas coisas, nem nos mesmos lugares.

Quando se é iniciante, existe uma falsa esperança para o futuro, onde se imagina uma facilidade. Quando eu for faixa preta, será mais fácil de fazer tal coisa. Errado. Uma vez que você anda, você muda, tudo muda com você. E essa talvez seja a grande maravilha da cosia, pois treinando duro, esta condição sempre irá existir, mantendo quem pratica sempre num estado eterno de busca pela melhora, com os pés sempre dentro da humildade, sinceridade, aquilo que creio que podemos chamar de "Shoshin". O bom e velho espírito de aprendiz.

Não são títulos, graduações, faixas ou kimonos bonitos que fazem o Karate-Do de cada um ser o que é. É o ser e não o ter.

Recentemente no último campeonato que competi, uma criança me perguntou quantas medalhas eu tinha e eu não soube responder. Elas estão guardadas numa gaveta da minha casa. Talvez se ele tivesse me perguntado sobre alguma história, de alguma dessas medalhas ganhas eu saberia responder de prontidão.

Mais do que qualquer coisa que eu possa ganhar de material, eu sempre fui muito mais ligado ao que se conta sobre estas conquistas. Talvez tenha aprendido isso com os senseis lá no Japão ou melhor, aprendi isso com eles lá. Na humildade de ser e não demonstrar, na sinceridade de ser sempre o símbolo de uma busca de quem serve a um propósito muito maior.


Shoshin, no final daquele ano de 1995, era o que eu teria que encontrar pela frente.

1 comentários:

Douglas Deiró disse...

Olá Sensei Horácio!
Tudo bem?
Um ponto em especial de seu texto me chama a atenção... sobre a criança te perguntar quantas medalhas você possui.
É curioso como o Karate ficou associado, no ocidente, com competições... já está praticamente "enraizado" este conceito.
Você sabe (Sensei Akira também), melhor do que eu, que a arte vai muito além disto. O jovem ainda pode aprender sobre isto com o tempo... o duro mesmo é ouvir isto saído da boca de "marmanjos" por aí que, não raro, ostentam, até faixas pretas.
Ainda bem que existem pessoas sérias, honradas e comprometidas como os Saito - incluo nesta, também, meu Sensei aqui Luciano Moreira - que defendem o Caminho do Budo.
Até mais!
Oss!