Quando retornei do Japão, sabia que tinha muito trabalho a ser feito aqui para conquistar o meu espaço. E o ano de 1997 foi uma grande prova. Novos alunos, novos locais de aula, Mundial, era tudo muito fascinante e assustador ao mesmo tempo. Sempre aprendi que a coragem nunca tinha nada a ver com a ausência do medo, muito pelo contrário, era nas horas de real sentimento de medo que precisávamos demonstrar muita coragem para conseguir seguir em frente. E assim foi, sempre acreditei que me sairia bem em situações de pressão e onde todos desistiriam, eu deveria progredir. Naquele ano o Mestre Ryuzo Watanabe, que já se tornara também um grande mentor (afinal de contas o Mestre Watanabe era amigo pessoal do meu avô e pertencíamos à mesma Associação Fukushima Kenjinkai) me disse que gostaria que eu fosse promovido para Yon Dan. Na minha concepção, um Yon Dan era algo ainda distante. Me lembrava do Shihan-Dai da matriz da Shizuoka Goju-kan, Nagatani Sensei e das inúmeras surras que eu levava dele quando treinávamos Jyu-Kumite e me perguntava se eu estaria pronto para ocupar tal graduação.
Mestre Watanabe sempre era muito prestativo nos treinamentos que fazíamos todos os últimos domingos do mês em seu Dojo na Móoca, onde se reuniam vários faixas pretas vindos de diversos lugares, inclusive de outros estados e algumas vezes de outros países. Eram nestes treinamentos que podíamos observar as técnicas do Karate-do Goju-ryu sendo aplicadas pelo Mestre Watanabe. Sempre estávamos presentes, eu e o Horácio, que na época era Shodan e que também ouviu do Mestre Watanabe que gostaria de vê-lo como Ni Dan. Não almejávamos tal promoção, já que havíamos aprendido com nosso Mestre que o reconhecimento sempre vem, não é necessário que se peça, o Mestre lhe dirá quando estiver pronto.
Em um destes treinamentos, Mestre Watanabe disse que gostaria de marcar nosso exame, e eu prontamente lhe respondi que ainda não me sentia pronto para ser um Yon Dan, achava que ainda me faltava muita experiência. Ele riu e disse que conversaríamos depois para marcar. Alguns meses depois, no final de um destes treinamentos de domingo, o Mestre Watanabe me chama para conversar e diz que eu havia passado no exame. Eu, meio sem reação, lhe pergunto: "Mas Sensei, eu não fiz nenhum exame". - E ele me responde: "Você e o Horácio estavam sendo examinados por mim a algum tempo e dentro do que vocês demonstram pelo karate, tanto em treinamento quanto fora dele, eu graduo o Horácio para Ni Dan e você para Yon Dan Jokyo." - me entregando um envelope grande com os certificados dentro, com um grande sorriso.
Fiquei nesta graduação por onze anos, sempre pensando em evoluir tecnicamente e também adquirir maturidade, para crescer como ser humano. Pois para passar para a próxima graduação eu precisaria ser o melhor Yon Dan que podia ser e com o título de Jokyo, era preciso trabalhar muito pela arte em si. Tinha muito trabalho pela frente......
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