Saimos de casa rumo ao treino de Karate. Uma viagem até que longa. Acompanhando o meu irmão mais velho, sigo para o que seria o meu primeiro contato com um ambiente que marcaria demais a minha infância, o Dojo de Sagara.
Entre plantações de chá e uma viagem de trem, lembro deste dia exatamente com os olhos infantis daquela época. Meu irmão me apresentando todo orgulhoso para os senseis Konomoto e Nagatani, para os outros praticantes do dojo. Pude perceber naquele dia o quanto era importante, o quanto meu irmão estava feliz por eu estar ali com ele, novamente como uma espécie de aprendiz/fiel escudeiro.
Porém, não vou enganar ninguém e dizer coisas filosóficas sobre aquele dia. Eu tinha dez anos e como disse, prevalece a ótica infantil daquele dia. Sei que seria muito mais bonito escrever que fiquei emocionado ao me deparar com a energia daquele lugar, dos senseis ou qualquer coisa deste tipo, mas com dez anos de idade na época, se eu disser que foi assim, é pura balela.
Lembro sim do meu irmão se esforçando para me mostrar o quanto ele era bom naquilo que fazia. Na verdade, mesmo que ele fosse ruim naquilo que estava fazendo, eu ia achar o máximo, pois ali estava eu de novo, de alguma forma, como nos dias em que ele me ensinou a andar de skate, o seguindo novamente. E isso por si só já bastava.
Naquele dia, lembro de ter saboreado pela primeira vez um doce feito de chá verde. Um presente do sensei Konomoto, sempre muito gentil. Confesso que o sabor não foi dos melhores que já experimentei, mas hoje, essa lembrança para mim vale muito mais do que o gosto daquele doce daquele dia. Penso naquele gesto como a verdadeira humildade, o verdadeiro caráter que deve ser honrado por um praticante de Budo. Com nove dans conquistados ao longo do caminho do Karate-Do, todas as imagens que eu tenho guardadas comigo do sensei Konomoto são iguais. Humildade e simplicidade. Lembrar daquele gesto do sensei me faz pensar no que eu devo ser, em como o Karate-Do deve ser.
Voltando para casa, ao final de um dia tão empolgante, com uma revista que era uma espécie de coletânea de mangás (que meu irmão havia comprado), falando de tantas coisas daquele dia, só é preciso dizer que nós eramos muito mais felizes sendo uma família de novo e eu, tendo o meu irmão de volta.
Hoje, quando penso naquele doce de chá verde, entendo que certas coisas se tornam doces com o tempo.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Chá Verde No Meu Doce
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