Uma das coisas que eram bem diferentes no Japão, era a temperatura local. A província de Shizuoka, apresentava estações do ano muito bem definidas (na minha opinião). O mês de agosto é um calor tremendo e o verão é abafado. O inverno não era tão rigoroso como em outras regiões do país, mas comparado com os pseudo-invernos existentes em São Paulo por exemplo, era sim um frio bem considerável.
Neste cenário climático, de uma forma ou de outra os treinos sempre pareciam pegar fogo. O meu primeiro verão no Japão, também foi o meu primeiro verão treinando Karate. Sob aquele mormaço da cidade litorânea de Sagara e entre aquelas paredes e pisos de madeira escura, os kihons nos davam a sensação de estar numa sauna em movimento. O dojo de Sagara possuia uma única pia com uma torneira para se beber água e até hoje quando lembro dos treinos no verão ali, penso que aquela água era sagrada.
Com as estações bem definidas, óbviamente o treino no inverno também não era nada fácil. Tanto que, com excessão dos homens adultos, era permitido usar camiseta por baixo do Karate-Gi nos dias de frio mais intenso.
O piso de madeira, no inverno escorregava muito. Ao contrário do verão, onde o calor era úmido, no inverno o ar era seco e o sensei colocava um aparelho no canto do dojo para umidificar o ar.
Não bastassem as tábuas geladas no chão, nós molhávamos os pés num pano de chão, que apesar de gelar mais ainda os pés, pelo menos nos deixava com os pés muito menos escorregadios, o que de fato era um fator importante para quem quer permanecer em pé. Entre os "prazeres" do inverno no Dojo, ficar sentando em seiza, que já não era gostoso no verão, no inverno, naquela madeira então, definitivamente não era o ápice de diversão do meu dia.
Entre uma sequência de exercícios e outra, entre Kihon, Ido, Kata e Kumite, no inverno aquela única torneira citada já não era mais o nosso atrativo sagrado. Entre os adultos, talvez sim. Mas entre nós, os moleques, sagrados eram aqueles cinco minutos na frente do stove ( ストーブ), aquecedores populares no Japão que geralmente são abastecidos por algum tipo de combustível líquido ou por energia elétrica. Durante os pequenos internavalos, a molecada corria para a frente do stove e ficava ali esfregando as mãos e esquentando a sola dos pés uma à uma com o calor do aquecerdor.
O que não mudava de fato era o ritmo do treino. Sendo com temperaturas próximas à 0ºC ou 30ºC, o treino era sempre o mesmo. Nunca existiu justificativa para ser diferente, seja por calor ou frio. Meu irmão sempre seguiu essa linha e eu, o fiel escudeiro com um verão e um inverno já citados no texto, ia entrando de vez no mesmo clima.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Sagrados elementos do clima
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário