quinta-feira, 19 de maio de 2011

A arena de inverno

Está frio, saio correndo de manhã, antes do trânsito ficar caótico na cidade. As mãos estão geladas, ao final da corrida, a pele do rosto arde ressecada pelo vento gelado e literalmente sai fumaça(vapor) do meu corpo. Ah, como eu gosto dessa sensação.
Caminhando de volta para casa, fumaçando e ofegante passo pelas pessoas que me olham de forma meio estranha, com certo ar de espanto. Eu ignoro os olhares e mergulho na razão de estar ali, sozinho, voltando para casa exausto entre aqueles olhares curiosos:
"O vento quase não sopra no inverno daquele lugar. A iluminação do campo era suficiente para fazer daquele treino "O" evento do dia. Naquele dia, não tinha treino de Karate no Dojo e o meu irmão trabalhava no período diurno, sendo assim, essa hora vaga do dia era o nosso espaço para "fazer acontecer".

Treinávamos ali. Corríamos ou melhor, meu irmão corria e eu sofria. Quantas vezes acabei sendo um atraso para o treinamento do meu irmão, hoje em dia eu sorrio de canto de boca quando lembro dessas cenas. A "dor no baço" era terrível e sempre vinha seguida da "dor no ombro". Tinha vontade de parar, de andar, mas sempre meu irmão reduzia a marcha e ao meu lado corria e dizia "só mais uma volta, só mais um pouco". Aos trancos e solavancos, sempre dava para terminar o treino.

Após a corrida, vinham os Kihons, os Katas, a movimentação de Shiai Kumite e por último, as flexões de mãos fechadas em cima das pedras e os socos nas árvores que cercavam o campo.

As flexões deixavam sempre a pele afundada, com a marca das pedras nos dedos. Quem tinha mais marcas prfundas era o vencedor moral daquele exercício, assim como quem arrancasse mais "casca" das árvores com socos era o vencedor da segunda etapa."

Caminhando de volta para casa, voltando do treino. Exatamente onde eu deveria estar. No frio, com a pele ressecada e ardendo. Ali, não é só sobre ganhar, perder, ser melhor técnicamente ou fisicamente.
Físico você lapida, técnica você aprende, você ensina. Mas um ideal, você assume.
Treinar Karate-Do, é correr, é lutar e acima tudo, é conflitar suas verdades de ontem com as de hoje dizendo para si mesmo, quem você quer ser amanhã.

Voltando da corrida abrindo o portão de casa, eu sempre tenho as minhas respostas.

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