Suado eram os treinos. Mas mais ainda eram os "extras" que vinham após os treinos do dojo. Após o horário convencional das aulas de Karate, meu irmão sempre me pegava para treinar, eu, ele e um relógio que andava lentamente quando dava-se início à essas horas extras.No começo, eram apenas treinos visando o meu aprendizado. Mas com o tempo, comigo ganhando tempo de treino e experiência, o aprendizado entrava cada vez mais em uma etapa onde aprender era um significado mais moral do que prático, porque na prática, eram horas extras que visavam só uma uma coisa, a melhora. Na prática nessas situações, você só vai saber o que aprendeu de verdade tempos depois com aquele trecho já percorrido.
Se no horário de aula, os sons daquele mundo ecoavam, ali no "mano à mano" com o meu irmão eu tinha a sensação de que o silêncio combinando com o som dos golpes, dos Kiais, do Karate-gi de lona estalando, mentalmente me engoliam como um cordeiro. A presença de treino no "mano à mano" era muito diferente e o meu mundo nesse caso sempre se tornava um terreno tenebroso para mim, como se fosse mais o meu mundo e sim o do meu irmão.
A minha "moleza" acabou exatamente quando eu saí da faixa branca. Dali em diante tudo, exatamente tudo até hoje, foi feito com estas horas extras que amigavelmente chamo de bônus game.
Algumas vezes eram repetições de movimentos de Kata infinitas vezes, outras eram direcionadas para as falhas no Shiai Kumite(luta) e em algumas ocasiões era um um "leve" alongamento.
A cobrança crescia à cada dia e nem sempre eu aceitei isso numa boa, tranquilo. Principalmente porque os Saito são cabeças duras por natureza. Era penoso encarar meu irmão com seus vinte e poucos anos enquanto meus amigos de escola estavam em casa assistindo Dragon Ball Z na TV.
Por que eu tinha de ser bom naquilo? Eu nunca ouvi uma palavra se quer sobre isso naquela época. Nunca perguntei, da mesma forma que nunca fui cobrado verbalmente por tal coisa. A palavra vinda de cima para baixo era sempre a mesma: Faça.
Dentro desta arte marcial, as palavras estão sempre em segundo plano.
Muitas pessoas mundo afora se apegam ao sacrficio de forma errada, tornando a dificuldade e o esforço, apenas em palavras soltas sem sentido, apenas para se gabar de algo ou se desculpar por eventual fracasso premeditado.
Nenhum sacrifício do mundo vale um centavo se quer, se falar está antes do fazer. Nenhuma palavra substiturá o trabalho árduo, correto. Eu disse nenhuma. Dentro de uma arte marcial onde o intuíto é criar guerreiros, sacrifício só significa mais glória na vitória e desde que isso sirva só para você mesmo como prova de que você é capaz. Nenhum guerreiro quer pena, nenhum guerreiro faz as coisas premeditando à pena dos outros em relação à ele mesmo. De onde vim, não era sobre matar leões todos os dias e sim aprender como me tornar um deles.
Então, por que eu tinha que treinar tanto, horas à mais que os outros meninos da minha idade? Eu nunca ouvi da boca do meu irmão, mas não era preciso. Eu tinha quer ser melhor para ser o melhor. Para meu irmão apontar o dedo com orgulho e dizer: Aquele, é meu irmão.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Meu irmão
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