Vários meninos da minha idade sentados em volta de um Koto demarcado por fitas no chão. A categoria, só de meninos faixas brancas tinha por volta de vinte e cinco "moleques". Todos ali, uns mais outros menos, mas todos sem excessão estávamos ansiosos com a primeira apresentação à ser realizada em uma competição.
Ali, naquele momento começava oficialmente a minha jornada pelas competições de Karate. Enquanto estava sentado ali, observando os outros garotos se apresentando e aguardando a minha vez, na minha cabeça eu repassava o que tinha de ser feito.
Ver os garotos que se apresentavam antes me ajudava também neste processo, já que a entrada, os "protocolos" padrões eram universais e olhar os que faziam antes da minha vez, me ajudava de forma direta na minha tarefa mental.
O Protocolo consistia basicamente em: Cumprimentar antes de entrar no Koto(na linha de entrada da área de competição), puxar ambos os braços com os punhos cerrados na alturado Hikite(altura da puxada de mão padrão do golpe de Karate, na parte lateral superior da costela), dar uma corridinha até a linha que demarcava onde o atleta tinha de se posicionar para a execução do Kata, cumprimentar novamente e ali, levantar o braço direito em riste anunciando o nome do Kata de forma clara e firme.
No Japão, as crianças utilizavam este padrão de entrada.
Enquanto eu esperava e relembrava os movimentos do Kata, meu irmão estava ali, o mais próximo possível. Observando tudo atentamente. De alguma forma me transimitindo confiança, segurança e apoio. Coisa que até hoje tenho muito orgulho em dizer que ele faz, mesmo após tantos anos. Em seu último campeonato competindo Kata, nos enfrentamos e eu pude vencer este sujeito(isso já é outra história e das boas), que ali, há quase vinte anos atrás e por todos este anos esteve sempre do meu lado. Independentemente da situação, da minha condição, sendo em dias de favoritismo ou em dias de pura descrença por parte dos outros. Se existe uma pessoa que eu posso dizer que sempre acreditou no meu melhor, essa pessoa é aquele cara que ali estava desde o começo, acreditando que eu sempre podia vencer.
Taikyoku Jodan! Anunciva então a versão mirim daquela época. Dezenove movimentos mais tarde, eu estava feliz por ter feito parte daquilo. Da competição em si? Sim, de certa forma. Mas por ser o melhor que eu podia. Dentro do que me cabia, sem modéstia eu posso dizer que foi perfeito. Porém é claro que em campeonato, o seu perfeito compete com o perfeito de outros.
Essa não é uma história de meninos prodígios que ganharam o mundo logo na primeira vez. É a história de dois irmãos que continuam sonhando como naquele dia. Fazer o melhor. O importante ali era competir de fato por conta da primeira experiência. Porém dali em diante, competir era vencer sempre. Os adversários nem sempre, mas a versão anterior de quem você foi no dia de ontem. Você é a competição.
Não fui campeão no meu primeiro campeonato. Mas tinha um sorriso que ia de orelha à orelha. Na verdade, dois sorrisos, um meu, outro do meu irmão orgulhoso.
Se você me perguntasse ali, para onde eu estava indo, certamente eu não saberia responder. Agora eu respondo e entendam, aqueles que falam a mesma língua que nós. Naquele dia, eu, estava indo para casa.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
O importante é competir - parte II -
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