quinta-feira, 21 de julho de 2011

Viver para sempre

Somos todos um. À partir do momento em que na sua faixa preta há entre outras coisas bordadas, o nome da sua escola de Karate-Do, isso quer dizer que seu sangue, seu caminho, sua palavra e sua conduta, representam não só você como indivíduo, mas o Karate-Do como sentido.
Muita gente borda a faixa porque é bonitinho ou porque viu a de alguém e quis fazer igual. Mas nós, bordamos as nossas faixas pretas para saber quem nós seremos pelo resto de nossas vidas e colher as consequências do uso de tudo que esta faixa representa dentro da arte. Desculpe-me, nós não, eles, já que essas faixas não são feitas, nem encomendadas por nós mesmos e sim, por aqueles que nos ensinam.

Treinar Karate após receber a faixa preta, quer dizer assumir o compromisso com a vida da arte. Quer dizer que pelas suas mão esta arte nunca deixará de viver e que mais tarde essa arte também será passada adiante. O Karate-Do assim, nunca há de morrer, porque todos nós somos parte da vida desta(ou parte de nós).

Vivendo dia após dia, pensando, respirando, sentindo(dores muitas vezes) e praticando o Karate-Do em todas as formas, o tempo voa depressa porém o espírito de querer fazer o melhor permanece o mesmo. Entro numa livraria no bairro da Liberdade (o bairro japonês de São Paulo), me direciono para a mesma sessão de sempre, pego uma revista de Karate chamada "Gekkan Karate-Do" e ao folheá-la, eu tenho exatamente a mesma sensação que tinha ao folhear esta mesma revista naqueles anos no Japão, em que ainda era o meu irmão quem comprava estas revistas para lermos em casa.

Durante esse tempo que se passou até aqui, desde a primeira vez em que folheei uma dessas revistas, eu passei parte deste tempo vivendo, observando, aprendendo com grandes senseis dentro e fora do Dojo. Das correções do sensei Konomoto, os kumites com o sensei Nagatani, a humildade e a bondade em tempo integral de ambos que sempre lideraram através do exemplo. Exemplo que fez o meu irmão aprender e seguir adiante com o nome da nossa escola em nossas faixas, do outro lado do mundo.

Eu permaneço o mesmo, continuo me esforçando como aquele garoto de anos atrás. Hoje eu carrego minha faixa preta já um pouco envelhecida e alunos que seguem o que com muito esforço tento ensinar. Continuo aprendendo com os senseis, com o meu irmão, tudo como sempre. Um dia, os sensei morrem e um dia todos nós também, mas para aqueles que vivem, viveram suas vidas em nome daquelas inscrições bordadas nas faixas, a vida sempre há de continuar.

Os mestres que se foram vivem naqueles que hoje lutam pelo caminho, e nós, que hoje caímos, levantamos, caminhamos e aprendemos através deste, assim como estes senseis fizeram, continuamos aqui, dando a nossa contribuição para a vida daquilo que todos nós amamos. Todos vivemos e viveremos, enquanto o verdadeiro Karate-Do existir.

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