Nunca fui o melhor dos alunos. Nunca fui o melhor dos atletas e até hoje me vejo desta forma. Muitas vezes penso no que sobra de talento nato em mim, se eu tirar toda quantidade de treino e dedicação exigida até hoje. A resposta que encontro é sempre a mesma: Nenhum.
Vencer naquele dia, foi um passo importante dentro do meu caminho.
Eu nunca fui como o meu irmão. Nunca fui o mais confiante, nem o mais otimista. Mas eu aprendi.
Vencer em um terreno onde as pessoas não te conhecem, é provar a sua capacidade pela capacidade. Não existe "nome", não existe política, não existe nada a não ser a prova do seu merecimento. Então é o que vale.
Merecer é o que conta no travesseiro.
Naquele ginásio velho, a jornada se tornava mais sólida e um desejo era moldado com aquela vitória. À partir daquele dia, eu comecei a acreditar que realmente existia algum talento em mim, ali eu comecei a acreditar de verdade que eu podia fazer coisas que só eu podia. Ver coisas que ninguém vê, fazer coisas que ninguém faz, ser o que ninguém é.
Ser um campeão, que nasce, que se cria muito antes de qualquer título, resultado, medalha, dinheiro ou qualquer outra coisa do tipo. Ninguém nasce com uma coroa no meu modo de ver o mundo, você conquista.
De lá para cá, enfrentei atletas de diversos tipos, tamanhos e nacionalidades. Uns melhores que eu, outros não. Foram muitas derrotas e vitórias até aqui, eu continuo olhando para algo que eu ainda não consegui, para um lugar onde nunca estive, sempre com base naquele mesmo desejo moldado naquele dia.
Perdi a conta de quantas manhãs de inverno acordei às 5h da manhã para correr, de quantos golpes dei treinando sozinho, de quantas repetições eu fiz a mais quando na verdade o que eu queria era vomitar e cair.
Tive lesões que me acordaram no meio da noite e já pensei que não poderia mais fazer o que mais amo no dia seguinte, tenho lesões e não as uso como desculpa para justificar as minhas falhas. Eu treino com dor. Eu ignoro a dor.
Não há desculpas. Só um desejo e esse, talvez seja o meu talento.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Um talento, um desejo
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Mendoza - Argentina
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quinta-feira, 24 de maio de 2012
Que comece a viagem
Competir nunca fez de mim um astro de propaganda de marcas de material esportivo, nem muito menos um milionário astro como no basquete americano.
Competir, com excessão de pouquíssimas vezes ou fazes da vidade atleta, sempre me trouxe muito mais prejuízo financeiro do que outra coisa. Mas se por um lado gastei muito dinheiro, se fiz a minha família gastar dinheiro, não posso dizer que eu não tenha aproveitado cada momento de cada viagem.
Para este campeonato na Argentina, acabei recebendo uma pequena ajuda da escola onde estudava naquela época, o que mais tarde acabou me rendendo uma bolsa de estudos integral e aí, pode-se dizer que quitei a dívida(em partes) com o meu pai, pagando assim pelo menos os meus estudos.
Mas isso é uma outra história, porque eu nem se quer tinha ido para a Argentina e as contas se pagaram na escola depois que eu voltei, então voltemos ao assunto da pré viagem.
Tirando a viagem feita para oa Japão, eu nunca tinha visitado outro país. Está certo que par quem viaja para o Japão, qualquer viagem se torna curta e sem muito mistério, mas conhecer outro país era algo que eu ganhava como bônus por competir(assim continua até hoje).
Se não trouxe financeira muito mais do que algumas dívidas adquiridas e pagas ao longo do tempo, culturamente é sempre enriquecedora a experiência de ter contato com outros povos, suas culturas e costumes. E talvez mais importante ainda, é o fato de ter dividido tantas vezes esses momentos fora do país com amigos e parceiros de jornada. Conheci novas culturas, respirei ares diferentes e agradeço ao Karate por ter ganho amigos que podem contar as mesmas histórias que eu conto das minhas jornadas.
Competir é uma viagem, que você tem que curtir. Principalmente sendo atleta de Karate. E eu acredito que ali, naquela terra, naquele ginásio gringo, depois de alguns apuros em terra Argentina,lá estávamos nós, eu e o meu irmão.
Começava então a minha viagem.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Shizuoka Goju-kan na Argentina
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quinta-feira, 17 de maio de 2012
Moldando o merecimento
Com um kimono a menos e uma faixa preta, um objeto muito pessoal e significativo a menos, voltei para casa. Com algumas histórias novas, umas boas, outras nem tanto, mas com uma nova experiência adquirida que sem dúvida me serviu muito bem como cartão de visitas, de como as coisas funcionavam por aqui.
Trouxe comigo também novas amizades que naquela época eu mal imaginava que seriam tão duradouras. Se existe uma coisa dentro da vida de atleta de Karate que posso dizer que ganhamos de verdade, já que não há glamour nenhum, não há salários milinoários, mídia nem nada do tipo é a amizade daqueles que lutam muitas vezes como adversários, mas que ao longo dos anos acabam se tornando grandes parceiros de uma parte do caminho do Karate-Do que é a competição.
Dentro de alguns meses, o Sul-Americano da Goju-Kai nos esperava lá na Argentina. O primeiro como Brasil, o primeiro como Shizuoka Goju-Kan do Brasil, fora do Brasil.
Treinar duro não era novidade. Novos desafios para o meu irmão, só funcionavam como lenha nova jogada na fornalha e eu, ia nesse embalo como parceiro de treino.
Treinar Karate se trata sempre de sinceridade. Aquele que não traz a sinceridade para o treino, que fique em casa. O treino é duro e mesmo maior, mesmo um pouco mais velho, eu ainda penava e muito para acompanhar o ritmo do meu irmão. Nunca teve um dia sequer que o nosso treino não tenha sido sincero. Dos acertos aos erros, das defesas aos ataques, tudo tinha a marca da verdade de cada um.
Quem quer competir, precisa querer merecer. Não existem títulos, medalhas e resultados construídos somente com a sorte. A sorte, a oportunidade existe, mas quem nãoestá preparado, simplesmente não aproveita e acaba dependendo de mais sorte, que neste caso dá para dizer que é cuspir na sorte anterior.
Nós sempre treinamos, lutamos e trabalhos muito duro correndo atrás do merecimento. Sem merecimento, não importa o que for, não tem valor.
Você é muito antes de ter as coisas e nós contruíamos e continuamos construindo o que nós somos ali, dentro daquele Karate-Gi surrado de treino, encharcado de suor.
E no final do treino, só existe uma pergunta:
Você foi sincero com o melhor e o pior de você?
A resposta é o que você leva, em busca do seu merecimento. Naquele ano, naqueles treinos, eu tenho a maior certeza do mundo, que merecimento nunca nos faltou.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Saito Brothers - Shizuoka Goju-kan do Brasil
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quinta-feira, 10 de maio de 2012
Realidades e Guerreiros que dizem sim
Desde a minha volta, tinha competido apenas uma vez em solo nacional. Em tal experiência fui bem, ganhando medalha e tudo mais. Mas acredito que aquela experiência não conta muito como "dia de campeonato no Brasil". Isso porque naquele dia, eu fui acompanhado dos meus pais e logo após ter cumprido com o meu dever ao competir, fui embora e nem vi a competição msmo, o evento todo em si.
Se você é atleta de Karate, se você já foi atleta de Karate, você sabe do que estou falando quando digo "o evento todo em si". Passar o dia todo num ginásio, quando a competição é relativamente bem organizada para os padrões brasileiros, já não é lá um dos programas mais agradáveis para levar a família toda(deveria, mas não é).
Pois bem, até aquele momento na van, eu não conhecia essa realidade.
Talvez eu me lembre daquele campeonato como um dos mais terríveis em que já estive. Não sei se é por conta do choque ou se de fato foi tão ruim assim. O ginásio, bem, não era um ginásio. Era algo como um centro de convenções ou coisa assim, com uma espécie de piso frio, totalmente adequado para competições esportivas(ironia). Olhava ao redor daquel ginásio e não sabia muito o que pensar a respeito. Passamos um tremendo frio dormindo no chão do "alojamento" ou melhor, passamos a noite, porque o pessoal não colaborava muito e era uma zona que só.
Pouco a pouco na competição, conhecíamos as pessoas dali daquele meio. Mesmo passado tanto tempo, algumas dessas pessoas continuam na ativa e treinando o bom e velho Karate-Do como nós, tenho orgulho de conhecê-las, outras porém já não estão trilhando o mesmo caminho. São escolhas da vida, onde sempre há a opção de ficar ou partir. Eu sinto orgulho por todo dia ser aquele que fica, assim como tenho orgulhod o meu irmão e também dests amigos que até hoje continuam dizendo sim para o Karate-Do.
Uma lembrança que beira o bizzaro neste campeonato, foi ver um sujeito fazer o Kata na categoria do meu irmão logo apoós terminar sua apresentação, se ajoelhar em seiza e esperar a nota, enquanto os juízes levantavam seus caderninhos com as notas anotadas, mas todos sentados em cadeiras normais e o sujeito ali, ajoelhado, como se aquilo fosse um sinal de respeito a mais que lhe fosse dar algum ponto extra.
Quando vi aquilo pensei comigo: Mas o que diabos é isso? Será que é assim que as coisas funcionam aqui? Nunca vi isso no Japão! No Japão! A Terra do Karate!
Para o meu alívio, não, não eram. Se tratava apenas de uma melância no pescoço.
A missão foi cumprida, mas tudo era muito diferente e por hora, eu e o meu irmão eramos só dois forasteiros naquele meio. Tão forasteiro talvez que alguém decidiu roubar a minha mala! Com Karate-Gi e faixa preta dada pelo meu sensei no Japão(alguém viu por aí? Ainda está em tempo de devolver).
Dizem que a primeira impressão é a que fica. Mas nesse caso, o tempo levou ela embora junto com um bocado de coisas e o que fica na verdade, são aqueles que sempre estão dizendo sim ao Karate.
Se hoje escrevemos essa história, é porque o sim, sempre foi a nossa resposta.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Saito Brothers Brasil
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quinta-feira, 3 de maio de 2012
Os Mestres de uma viagem
Mal tinha voltado do Japão e lá estava o meu irmão já engajado naquilo que seria a nossa nova jornada juntos pelo Karate. O destino era a cidade de Serra Negra.
A van era apertada e eu não conhecia as pessoas. Porém, tinha de novo o meu irmão ao meu lado e isso bastava para que eu fosse para qualquer canto sem saber muito bem o destino.
Foi neste dia que eu conheci o mestre Ryuzo Watanabe e logo de cara eu já tive a mesma impressão que carrego ate hoje do sensei. Alegre, receptivo e de bom coração. Esta primeira imagem que tive do sensei naquele dia dentro daquela van apertada, foi a imagem que eu vi durante os anos que pude ter contato com ele e é sem dúvida alguma a imagem que eu guardo hoje, mesmo após sua morte ocorrida anos atrás.
É engraçado, porque uma vez mestre, sempre mestre e estes, parecem todos iguais.
Como brasileiro, posso dizer que sou uma pessoa de sorte. Pois conheci vários sujeitos que se enquadram nesta categoria acima dos seres comuns.
A sabedoria, a humildade e a sensação transmitida de que tudo, não importa o que seja, vai ficar bem. Em palavras, seria mais ou menos esta a sensação de estar junto de uma pessoa do meio do Budo, chamada de mestre. E essa era a sensação que eu tinha, treinando com o sensei Konomoto e ali, naquele momento com o sensei Watanabe.
Claro que naquela época eu não tinha muito a noção do tamanho do privilégio que a vida me deu por poder aprender com figuras tão importantes da vivência do Budo. Hoje paro, penso muito a respeito e vejo que a formação da minha base como Budoka e também como pessoa, deve-se e muito ao convívio que pude ter ao lado destes mestres.
A técnica, sim claro, mas mais importante que isso, eu aprendi com eles o que é certo e o que é errado para seguir trilhando o caminho do Karate-Do. Lição que faz toda diferença, não existe honra em quem não não respeita o certo e o errado dentro da arte marcial.
O Karate-Do é uma longa viagem e os mestres já rodaram um mundo todo.
Uma longa viagem era aquela, naquela van apertada e sem muito conforto. Mas lembrar do sensei Watanabe feliz e sorridente naquele dia parece ser uma lembrança muito mais forte do que o tempo, o desconforto ou até mesmo aquela viagem em si.
Porém chegando ali, eu descobriria que o mundo do Karate, não é o mesmo em todo lugar e que as coisas funcionavam de uma forma bem diferente agora...