O Karate-Gi ainda nem era de lona. A faixa era a oposta da preta de hoje. A idade nem se fala e a experiência muito menos. Porém ali, eu tinha como grande aliados os fatores que na infância, nos fazem encarar as novidades, os desafios com mais naturalidade do que na vida adulta. Ser criança é sempre uma descoberta todos os dias e estar ali sentado, esperando a minha vez para fazer o meu primeiro Kata, na minha primeira competição, era mais uma dessas descobertas.
Tradicionalmente, todos os anos o Campeonato Estadual de Karate-Do Goju-Kai da Província de Shizuoka-Ken, acontece no mesmo ginásio. O ginásio B&G de Sagara. Um pequeno ginásio comparado à grandes palcos esportivos do Japão como o Yoyogi e o Budo-Kan, onde mais tarde tive a oportunidade de competir em outras ocasiões.
No Japão, não se usa o calçado usado para andar do lado de fora (rua) dentro dos recepientes. Isso desde dentro da sua própria casa, escola e no ginásio também não era diferente. Então, logo na entrada do ginásio, do lado de dentro, haviam centenas de pares de diversos tipos de calçados. De sapatos sociais à tênis de corrida. Como culturalmente no Japão não existe o fator popular no Brasil chamado de roubo, não existia risco ou melhor, não passava pela cabeça de ninguém deixar o seu tênis ali e temer pela presença (ou melhor, a não presença) deste mesmo ao voltar. Claro, os brasileiros temem nas primeiras vezes, pois pensam como brasileiros.
As quadras dos ginásios japoneses, sempre estão em estado impecável, sem exagero e com exatidão, é correto dizer que elas estão sempre brilhando. Naquela época, tatami (piso) de competição era algo que só víamos quando íamos disputar um campenato de porte maior, como o campeonato nacional. Em eventos estaduais, não eram utilizados tatamis. Até hoje, em alguns eventos não são utilizados e penso eu que, com aquelas quadras impecáveis realmente dependendo da situação, a utilização não se faz necessária mesmo.
Muitas crianças de Karate-Gi e aos poucos foi batendo aquela ansiedade (que só conhece quem compete), aquele frio na barriga que à partir daquele dia me acompanharia durante todo o meu trajeto esportivo. Mudando sim com o tempo, acompanhando a minha própria mudança evolutiva, mas sempre ali, presente naquele momento que antecede a competição. Bastante gente para assistir e muitas famílias reunidas para acompanhar os membros da família que iam competir. Claro, que uma vez estando ali o meu irmão e eu, ambos como atletas, minha família também estaria ali, todos juntos para nos ver. Especialmente para as crianças no Japão, dá para dizer 100% que o domingo de campeonato é um evento em família.
Foi fácil passar o tempo entretido ali com tanta coisa acontecendo e o relógio costuma andar bem rápido quando isso acontece. Um chamado no microfone, uma categoria e um aviso do meu irmão: É a sua categoria.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
O importante é competir - parte I -
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