quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Forte

Crescer vendo meu irmão treinar, sempre se tratou de admiração. E sempre quando cito a palavra admiração, me refiro à admiração pelo resultado final, que se obtém através da soma entre vitórias e derrotas, multiplicadas pela experiência vivida. Algumas vezes tudo ia bem, os resultados estavam ali e tudo era muito fácil de ser admirado, em outras ocasiões porém, as coisas não iam bem, tudo era difícil e os resultados não eram os desejados.
Admirar e querer, se espelhar nos bons resultados de alguém, é um jeito óbvio de admirar, de fácil digestão que não requer muita coisa de quem admira.
Então acredito que para admirar alguém de verdade, é necessário admirar também esta pessoa nos seus piores momentos, admirar a essência da tentativa, da luta e não apenas os resultados.

Lidar com a dor. Por algumas vezes eu vi o meu irmão em má fase. Algumas vezes o trabalho na fábrica era duro e as condições de treino se tornavam horríveis pela própria condição do corpo cansado. Outras vezes, vi o treino ser feito da melhor forma possível e os resultados nos campeonatos não corresponderem. E algumas poucas vezes, lembro do meu irmão lidando com lesões que o impediam de treinar ou de treinar com o seu melhor estado físico. Eu vi as melhores e as piores fases.

Costumava pensar naquela época que ele era de ferro e que tudo que fazia era simples porque ele era forte, da mesma forma que costumava pensar que as dificuldades que eu tinha, ele não tinha, simplesmente porque era assim, forte por natureza. Não, não era.

Aí a verdadeira admiração, de quem sabe que ninguém é forte por natureza. A dor é a mesma para todos e o meu verdadeiro motivo de admiração, é saber disso e ver que a grandeza mora em fazer o que tem de ser feito. O melhor.

Então, a admiração cega daquela época foi se moldando, se tornando uma verdadeira admiração, respeito e acima de tudo uma lição que eu aprendia ali, para lidar com as minhas próprias derrotas e dores ao longo destes anos. Cai de pé, sempre o Budoka, ouvi um dia desses da boca do meu irmão numa das tantas conversas que temos hoje como parceiros de treino e de caminho. Até quando é ruim, eu me torno mais forte. Cai de pé.

Suava, cansava e doía. Com um olhar sempre duro, mas nunca distante, meu irmão dizia sempre, sem precisar abrir a boca que "o que dói em você, também dói em mim".

O que dói em você, dói em mim. Forte é quem sente, mas que vive acima de qualquer dor e este caminho é sobre isso, ser forte, só isso.

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