segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Um Dojo, Honra e Fidelidade
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
As férias do sangue
Apos passar um tempo tendo aulas particulares para me readaptar aos estudos, lá estava eu de novo numa nova escola, num novo lugar.
A vida seguia adiante sem perguntar nada. A vida nunca pergunta nada, ainda mais para um moleque de treze, agora quase quatorze anos de idade.
Se passara alguns poucos meses desde que voltei do Japão e a sensação que tinha, era a de que estava de férias do Karate. Era estranha aquela sensação de não ter mais todoss os dias da semana ocupados com os treinos de Karate, porém também significava ser um moleque normal da minha idade, podendo fazer todas as coisas que eu não fiz por conta do Karate.
Mais do que essa sensação de férias do Karate, pesava(ou aliviava) a sensaçãode que estava de férias das cobranças do meu irmão. Férias da pressão de ter que ser bom, das broncas principalmente. É óbvio, isso era sensacional, estamos falando de férias não?
Se eu fosse fazer um estudo sobre as pessoas da minha família, mais do que semelhança física, acho que encontraria semelhança entre as personalidades de cada um. Nós, os Saito, somos teimosos, de gênio forte e a simples tentativa de um de nós negar esta afirmação, já é uma mostra do quão teimosos somos de fato.
Das diversas broncas que tomei, creio que pelo menos 70% tenha sido ocasionada pela minha insubordinação. Não tenho vergonha de admitir isso, na verdade tenho orgulho por dois motivos essenciais. Primeiro, admitir isso só me faz enxergar uma parte de mim, que eu sempre terei que lidar, aprendendo a controlar, porque certas coisas nunca vão mudar(principalmente o que é de sangue) e é exatamente esta parte falha que vez ou outra, me mostrará se estou sendo humilde ou não. Segundo, eu não nasci para ser mais um e nessas horas que o sangue fervia, acho que pelo menos isso ficava evidente, que eu nunca ficava feliz ao ser contrariado pelo meu irmão, porém muito do que "tenho" hoje, é graças à esta gana, que me fazia querer mais das coisas.
Que fique bem claro, que estou enfatizando a nossa relação de sangue e família.
Férias. Estar longe do Karate, longe do meu irmão então pelo lado positivo(ou não) das coisas, queria dizer que por algum tempo eu estava de férias do meu sangue. Sem pressões altas dentro das artérias. E nessas férias eu fiz o que queria fazer sem me preocupar com nada.
Mas estamos falando de férias não? Então temos que saber, que uma hora elas acabam, para o bem elas acabam...
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Mestres
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Quem é você?
Depois de colocar o sono em dia, tudo parecia ter voltado ao normal. Só parecia, porque não era mais o "normal" que eu havia me acostumado. Perto da minha casa, não havia mais uma loja de video games, nem as lojas de conveniência de grandes redes como "Circle K" ou "Seven Eleven".
Estava eu aqui de novo, desta vez num lugar familiar, mas que agora soava como estranho. Com excessão dos meus pais e das minhas duas irmãs, todas as pessoas do meu convívio diário ficaram para trás.
Os amigos, os lugares e as atividades, nada mais daquilo estava do meu lado. Era estranho encontrar com parentes, pessoas que eu não via há tempos e sinceramente talvez mais até do que quando cheguei no Japão, me senti como um estranho no ninho.
Claro, família é família e exatamente por isso sei que nenhum deles tem culpa pelo fato de eu ter me sentido de tal forma, a culpa, se é que dá para chamar assim, era da vida, dos acontecimentos, das memórias e das experiências que eu vivi naquele tempo em que estive longe.
Até aquela sensação passar demorou, assim como demorou para eu entendê-la também. Entender que, não eram as pessoas, o clima ou a casa no Brasil que haviam mudado e sim eu. Eu não voltei a mesma pessoa.
É óbvio. Porque toda criança, todo adolescente muda até a fase adulta. Mas não é disso que estou falando, estou falando de conceitos que moldam os pliares essenciais da vida, a raíz, o núcleo, a base.
Penso eu que, a formação da base de um indivíduo é o que o define como pessoa pela vida inteira. Todos mudamos, melhoramos ou pioramos no decorrer da vida, mas ninguém muda completamente lá na sua raíz. E a minha raíz foi moldada no Japão. Dali em diante então, talvez eu realmente estivesse no lugar certo ao ser chamado de japonês.
Mas mais uma vez, a vida exige uma adptação daquele que mais uma vez encontra-se como um estranho no ninho.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Lembranças
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Do brasileiro ao japonês
Descendente de japonês, no Brasil é chamado de japonês e no Japão é chamado de brasileiro. É estranho ser um pouco de cada e é estranhado ser um pouco de nada. Foi estranho voltar ao Brasil.
Dentro do avião, o tempo passou mais devagar do que o de costume(a viagem nem é longa). Passei mal, tomei remédios, dormi bastante, mas o suficiente para não lembrar do gosto ruim da comida que serviam no avião naquela época. Até hoje lembro do gosto(não sei se dá para chamar de gosto), de uma cenoura cozida que comi em uma das refeições voltando para o Brasil, ou pelo menos era para ser uma cenoura.
No aeroporto, encontro velhas lembranças naquela tonalidade meio marrom, meio esverdeada que se tem na combinação de cores das paredes e pisos do aeroporto(pelo menos para mim). Aos poucos é como se voltasse à ser japonês e não mais o brasileiro em terras japonesas.
Como se fosse eu disse bem.
Ao ver o meu pai, tive a mesma alegria que tive quando chegamos no Japão. Era bom saber que estava perto novamente e de alguma forma, agora ele parecia mais feliz, porque estávamos na nossa terra.
Sob efeito do fuso horário, é como se o retorno, o trajeto para casa de carro, tudo isso acontecesse sob efeito de uma maré que você apenas se deixa levar. Quando percebi, estávamos nós em casa desfazendo as malas e recebendo algumas visitas de parentes nos dando boas vindas.
É quase um doping esse fuso, mas bom, porque pelo menos por hora, nos mantinha longe da palavra saudade do que nós tínhamos acostumado a chamar de lar. Era bom, porque ninguém quer se sentir deslocado na própria casa.
Sem conseguir ver nada de forma muito nítida para amanhã, talvez fosse a questão apenas de fluir com o que acontecia ao redor. Uma certeza apenas, no Brasil, no calor, na minha casa e então, era hora de ser o japonês de novo.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Uma nova página
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
O Presente da Adaptação
A vida é uma constante adaptação.
Desde a chegada ao Japão, até aquele momento que me encontrava ali, me despedindo do meu irmão aos prantos, ouvindo ele dizer que era como se seu braço direito estivesse sendo arrancado, tudo passou muito rápido.
Naquela última semana, fui aos treinos, nos Dojos diferentes onde eu treinava. É difícil descrever, mas acho que não definiria como tristeza, talvez como uma gratidão minha com uma espécie de reconhecimento deles, por ter vivido tantos momentos ali, por te valido à pena.
De todos os senseis eu ganhei alguma coisa antes de vir embora. Presentes que iam desde uma quantidade simbólica de dinheiro que o sensei tinha no bolso, até uma luva novinha da Mizuno(aquela toda surrada da foto).
Pelos outros lugares que nós frequentávamos por tabela, por causa do Karate, o restaurante onde comíamos nos sábados após o treino e na loja da Kondo san, onde comprávamos os Kimonos também passei naquela semana e também acabei ganhando presentes.
Dos donos do restaurante, eu ganhei uma caneta toda pomposa, digna de contratos milionários(pelo menos dentro dos meus sonhos de pré-adolescente). Na loja da Kondo san, lembro de ter passado por ali inúmeras vezes com o meu irmão antes dos treinos de Sagara. Eu adorava aquela loja(assim como ainda adoro lojas de esporte talvez por causa disso), tinha tanta coisa para ver, tanta coisa para querer e naquele dia, naquela última visita para me despedir, a Kondo san chegou para mim e disse "escolha o que você quiser". Eu acabei escolhendo um tênis, que toda vez namorava quando passávamos por ali.
Mais do que estes presentes, o que eu guardo eternamente comigo é o sentimento de gratidão por todos eles.
Vez ou outra, eu pego a medalha que o sensei Konomoto me deu(entre tantas outras) e entendo que há muito pela frente, muito à aprender sobre gratidão, respeito e humildade.
Aos prantos no aeroporto, se para o meu irmão era como perder um braço, para mim era como perder todo o resto, porque eu sempre o segui para onde quer que fosse. Ninguém enxerga ou tem a mínima noção do que ralmente está por vir de verdade, é só parar pensar onde você estava há dez anos atrás e com certeza verá que, naquela época não fazia a mínima idéia de onde estaria nos dias de hoje. O que há sempre é a esperança que rega planos que são traçados, as metas, mas nunca a certeza de nada.
Era hora de ir embora, sem ter a mínima idéia do que seria dali em diante. Doeu muito me despedir do meu irmão.
Mal sabia eu que o maior presente de todos estava ali, não naquela mala que eu empurrava em cima de um carrinho de aeroporto, mas com tudo aquilo que eu levava dentro de mim.
Todos os lugares, todas as pessoas, todos os senseis, todo o Karate-Do e por último, o último rosto conhecido que eu vi naquele lugar. Nascemos irmãos de sangue, mas naquele dia eu soube, o que era um amigo de verdade.
A vida segue no avisão de volta para "casa". A vida segue sendo uma constante adaptação, uma constante adaptação.