quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Presente da Adaptação

A vida é uma constante adaptação.

Desde a chegada ao Japão, até aquele momento que me encontrava ali, me despedindo do meu irmão aos prantos, ouvindo ele dizer que era como se seu braço direito estivesse sendo arrancado, tudo passou muito rápido.

Naquela última semana, fui aos treinos, nos Dojos diferentes onde eu treinava. É difícil descrever, mas acho que não definiria como tristeza, talvez como uma gratidão minha com uma espécie de reconhecimento deles, por ter vivido tantos momentos ali, por te valido à pena.

De todos os senseis eu ganhei alguma coisa antes de vir embora. Presentes que iam desde uma quantidade simbólica de dinheiro que o sensei tinha no bolso, até uma luva novinha da Mizuno(aquela toda surrada da foto).

Pelos outros lugares que nós frequentávamos por tabela, por causa do Karate, o restaurante onde comíamos nos sábados após o treino e na loja da Kondo san, onde comprávamos os Kimonos também passei naquela semana e também acabei ganhando presentes.

Dos donos do restaurante, eu ganhei uma caneta toda pomposa, digna de contratos milionários(pelo menos dentro dos meus sonhos de pré-adolescente). Na loja da Kondo san, lembro de ter passado por ali inúmeras vezes com o meu irmão antes dos treinos de Sagara. Eu adorava aquela loja(assim como ainda adoro lojas de esporte talvez por causa disso), tinha tanta coisa para ver, tanta coisa para querer e naquele dia, naquela última visita para me despedir, a Kondo san chegou para mim e disse "escolha o que você quiser". Eu acabei escolhendo um tênis, que toda vez namorava quando passávamos por ali.

Mais do que estes presentes, o que eu guardo eternamente comigo é o sentimento de gratidão por todos eles.

Vez ou outra, eu pego a medalha que o sensei Konomoto me deu(entre tantas outras) e entendo que há muito pela frente, muito à aprender sobre gratidão, respeito e humildade.

Aos prantos no aeroporto, se para o meu irmão era como perder um braço, para mim era como perder todo o resto, porque eu sempre o segui para onde quer que fosse. Ninguém enxerga ou tem a mínima noção do que ralmente está por vir de verdade, é só parar pensar onde você estava há dez anos atrás e com certeza verá que, naquela época não fazia a mínima idéia de onde estaria nos dias de hoje. O que há sempre é a esperança que rega planos que são traçados, as metas, mas nunca a certeza de nada.

Era hora de ir embora, sem ter a mínima idéia do que seria dali em diante. Doeu muito me despedir do meu irmão.

Mal sabia eu que o maior presente de todos estava ali, não naquela mala que eu empurrava em cima de um carrinho de aeroporto, mas com tudo aquilo que eu levava dentro de mim.

Todos os lugares, todas as pessoas, todos os senseis, todo o Karate-Do e por último, o último rosto conhecido que eu vi naquele lugar. Nascemos irmãos de sangue, mas naquele dia eu soube, o que era um amigo de verdade.

A vida segue no avisão de volta para "casa". A vida segue sendo uma constante adaptação, uma constante adaptação.

1 comentários:

Douglas Deiró disse...

Olá, Sensei Horácio!
Tudo bem?
Como já havia dito ao Sensei Akira tempos atrás, tornou um hábito visitar este blog. São histórias riquíssimas de valores, ensinamentos... sempre me pego tentando imaginar, tentando visualizar o que estou lendo. Mais ainda, me pego refletindo sobre e, mantendo as devidas proporções, reflito para comigo mesmo ("Será que comigo seria assim?").
Seja como for, os fatos narrados aqui são muito bacanas e, com certeza, ensinam a todos nós.
Até mais.
Oss!