quinta-feira, 1 de março de 2012

Aprender sozinho

Até hoje costumo dizer que as coisas mais valiosas, eu aprendi com as horas em que estive sozinho. Sozinho, porque há um ponto onde o Karate-Do se torna o seu caminho e não mais dos seus pais que pagam suas contas, dos seus senseis que cobram seu desempenho. Existe uma hora, onde as influências e os ensinamentos já foram dados e o que se tem pela frente, é o que você fará com tudo isso.

Pela primeira vez de fato, eu estava sozinho. Não tinha mais cobranças e muito menos a referência do meu irmão por perto para me dizer o que fazer com o meu caminho.

A sensação de férias, uma hora chegaria ao seu fim, uma vez que esta não era a verdade e no fim das contas, só a verdade permanece.


Era previsto, que meu irmão voltasse no final daquele ano para o Brasil, no ano de 1996. Até lá, para dar "continuidade" no meu Karate, meus pais com o auxílio de informações do meu irmão, procuravam um lugar para que eu pudesse treinar. Não haviam escolas de Goju-Ryu na minha cidade, sendo assim acabei por alguns meses treinando um outro estilo de Karate bem mais popular, chamado Shotokan.

Voltava a vestir o Karate-gi, amarrar a mesma faixa de antes, mas nem de longe era a mesma coisa. Treinava e aprendia coisas do novo estilo. Porém de maneira muito correta, o sensei Wagner, nunca quis me converter ou coisa assim, o que seria muito comum nos dias de hoje onde o ego parece ser mais importante do que graduações, conhecimento ou sabedoria em si. Durante o tempo em que treinei ali, eu fiz o que todos faziam, mas nunca o sensei me desencorajou com o meu estilo de Karate, pelo contrário, sempre fazia questão de que eu mantivesse o que eu tinha aprendido até então. Afinal, eu tinha uma faixa preta do meu estilo.

Os meses passavam e por melhor que fosse o treino ali, eu nunca me senti adaptado ao que estava fazendo. Hoje eu vejo que são estilos bem distintos, por conhecimento eu sei disso, mas naquela época eu sabia pela apenas sensação. De Kimono, de faixa, mas ainda sim sozinho.

Ao contrário do que eu pudesse imaginar, não era questão de estar treinando com muita ou pouca gente, ou estar treinando ou não em algum lugar. Era uma questão de estar sozinho com o meu Karate. Então a sensação de estar de férias se transformava em uma sensação onde o que se percebia, era que na verdade era o meu mundo que estava de férias sem previsão de volta e eu é que estava sozinho, num lugar que por mais acolhedor que fosse, não era o meu lugar.

Ninguém quer estar sozinho e aquela sensação era estranha, como se estivesse hibernando de forma ativa, com a minha essência dormindo em algum lugar.

Certas coisas, você tem que aprender sozinho.

0 comentários: