quinta-feira, 23 de junho de 2011

Aprendendo sobre grandeza

Lembro-me bem daquele dia, até então eu nunca tinha visto o meu irmão ceder, perder e consequentemente cair. Caíram ali todos os treinos, todo o esforço para competir e vencer. Era estranho, porque dentro da minha cabeça não parecia ser real, um final não programado para o campeonato daquele dia. Ver o meu deitado sendo atentdido pelos médicos foi um balde de água fria para mim.
Eu tinha crescido seguindo os passos do meu irmão e tinha me acostumado à ve-lo sempre à frente de tudo e talvez até de todos. Eu nunca tinha visto o meu irmão sendo parado por nada, nem por dor, nem por cansaço, nem por "falta de tempo", por problemas financeiros ou de trabalho, mas naquele dia um chute o fez parar.

Sentados na sala de espera do hospital. Parando para me concetrar agora no que estou escrevendo, lembro e sinto perfeitamente aquela apreensão que rondava aquela sala. Eu e minha família, saímos do campeonato para ver a situação da cabeça do meu irmão.

Feitos os exames, lembro de na saída do hospital ter visto meu irmão abatido. Talvez naquela época, todos tenham pensado que era por conta da dor causada pelo chute ou coisa assim, mas eu sabia de alguma forma, eu sei que não era nada daquilo. Eu não sei explicar como, mas nos olhos do meu irmão mesmo que ele tentasse se manter firme como um budoka tem que ser com a dor, eu via de alguma forma que o que doia era o seu orgulho, a sua vontade e todos aqueles dias treinando para aquele campeonato. Mas é claro que isso, só hoje eu sei colocar em palavras, mesmo após tantos anos passados até aqui, o motivo é simples, certas coisas você só sabe por completo se aprende na prática.

Por algum tempo eu me questionei. Aquela foi a primeira, mas não foi a última vez que eu vi um ídolo cair. Hoje sei mais do que qualquer outra pessoa, de que "material" é feito um ídolo, do que é feito o meu irmão e acredito que os ídolos caem pelo simples e mais belo fator de todos, aquele que justifica a grandeza, a fraqueza ao mesmo tempo. Eles são humanos.

Parece básico e óbvio, mas não é. A grandeza da idolatria está exatamente no fato destes ídolos serem humanos no início, no meio e no fim. As pessoas geralmente os idolatram pelas conquistas, pelo presente, pelo que é visto somente agora e pelo brilhos de seus feitos. Assim muitas vezes é fácil achar que estas pessoas são, estas conquistas, o que é de longe uma maneira ingênua, inocente e em alguns casos, até ignorante de ver as coisas.

Por trás das conquistas, há lembranças de vitórias, mas certamente há muito mais histórias de decepções que se transformam em lendas da superação.

Então eu volto à lembrar daquele dia, admirando hoje como adulto os grandes feitos daqueles seres que sempre, por mais humanos que fossem, encontraram uma maneira de elevar o "nível do jogo". Falhando vez ou outra, mas nos ensinando sempre a arte de nunca desistir da persguição pela grandeza, num recomeço cada vez maior, mais forte que o anterior, que às vezes nos fazem esquecer de que a essência dessa força é meramente o fato de sermos antes e depois de tudo, humanos.

Ali, observando o meu irmão saindo do hospital, eu realmente comecei à aprender.

2 comentários:

Eduardo disse...

concordo com vc sensei. Heróis, ídolos, são de carne e osso. E é isso que os torna tão especiais, pois transcendem essa condição, sem deixar de ser humanos. Espetacular!

Horácio Saito disse...

A fraqueza faz a grandeza neste caso creio eu. Obrigado pelo comentário Eduardo san !!!