quinta-feira, 30 de junho de 2011

As grandes proporções de um mundo

A bagagem ainda era pouca. Mas lá estava eu, prestes à competir em um evento internacional. O primeiro e logo de primeira já um campeonato mundial. Naturalmente, como eu ainda era muito novo de Karate e obviamente também muito novo nas competições de karate, não havia pressão alguma por resultados. Porém, quem compete sabe que, uma vez que se está ali dentro de uma quadra executando o seu papel, vencer é algo que passa pela cabeça de quem está ali, mesmo que este seja apenas um iniciante. O importante é competir, mas só pensa nisso quem já perdeu. Comigo não era diferente, essa sensação era nova, já que a minha vida como atleta de Karate mal tinha começado. Então há de se dizer que, por mais ingênuo que esse sentimento fosse naquela época, sim, eu queria vencer.

Voltemos um pouco. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, apesar do tamanho reduzido do terreno Japonês, viajar de uma Província para outra não é algo que se faz com tanta rapidez e as viagens de carro pela estrada são igualmente cansativas, mesmo o Japão sendo um país pequeno. Chiba, fica ao lado de Tokyo. Tokyo por sua vez é por volta de quatro horas distante(de carro) de Shizuoka onde nós morávamos e treinávamos. Portanto era sim uma pequena viagem.

Viagens de van nunca são confortáveis, pelo menos é isso que eu sempre pensei à respeito delas(e continuo pensando), mas confesso que nesse caso eu mal lembro do desconforto. A sapateira gigante na entrada do ginásio causava curiosidade pela proporção, que era imensamente maior que a sapateira que tinha na entrada da minha escola por exemplo. Mas a organização já não me despertava muitas reações de surpresa, já que a esta altura eu já tinha me acostumado com o modo "japonês" de vida(muito por conta da escola), logo, era a mesma organização de sempre, de todos os lugares, só que em uma proporção maior.

Lembro me dos "souvenirs" à venda. Nos campeonatos grandes era de praxe ter sempre esses produtos à venda e os meus olhos sempre brilhavam ao avistá-los. Muita gente vai pensar "ah, mas nos campeonatos aqui no Brasil também tem" e eu vou responder na velocidade de um Deai que, não meu amigo, não tem. De camisetas, mochilas e outras lembranças do mundial até outras coisas "chatas" como Nunchakus e Tonfas de uma qualidade que é só preciso dizer "Made In Japan".

Desde que cheguei no Japão e comecei à praticar Karate, aquele foi o meu primeiro contato com uma massa de gaijins(ocidentais) vestindo Karate-Gis. Até então só tinha visto o meu irmão, o senpai malaio que fazia intercâmbio no nosso Dojo e aquele americano safado(tsc, tsc) que tinha chutado a cabeça do meu irmão meses atrás. Era bacana ver como o mundo do Karate-Do era grande, não apenas no Japão, mas no mundo todo mesmo. Era uma ótima sensação ver aquilo e saber que o que eu fazia, era parte de algo muito, mas muito maior do que eu imaginava.

Naquele mundial, os japoneses eram dominantes em quantidade e em qualidade(mais uma coisa óbvia). Chamaram a minha categoria e eu ali, já misturando com aquele bando de garotos japoneses olhava curioso para os garotos de outros países presentes ali. Naquele momento a minha atenção se dividia entre a competição em si e a minha curiosidade em saber se mesmo treinando em outos lugares do mundo os meninos faziam a mesma coisa que eu. Era hora de obter a minha resposta...

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