quinta-feira, 16 de junho de 2011

Até amanhã

Ao final de cada dia, deitava minha cabeça naquele travesseiro japonês, pensava um pouco no dia que tinha se passado e dormia sempre sem pensar no dia de amanhã. O dia seguinte era sempre uma consequência daquela vida que mais parecia uma aventura ainda cheia de descobertas, mesmo comigo já adaptado ao "cenário" japonês. O sentimento era de que sempre existia um mundo inteiro à ser descoberto, à ser revelado, na escola eram as novas atividades, as matérias que eu nunca teria a chance de estudar no Brasil, nas horas vagas meus amigos me mostravam cada vez mais "os clássicos da infância japonesa" que iam desde as pequenas lojas de doces do bairro(onde por cinco yens, algo como cinco centavos), se comprava um chocolate que era incrivelmente bom! Além de saboroso, era bom também para o bolso dos estudantes que viviam de suas mesadas.

Apesar do treino pesado, cada vez mais duro e intenso, o Karate sempre acabava sendo a grande descoberta que finalizava o meu dia. Todos os dias era algo diferente, às vezes tinha medo, às vezes tinha preguiça, por outras ia sorrindo e me divertindo com o meu irmão. Alguns dias voltei chorando, bravo ou decepcionado por não ter feito um treino melhor. Outras vezes, jogávamos Street Fighter no Boliche ao lado da estação em Hamamatsu, de onde chamávamos e esperávamos o Taxi chegar para nos levar para casa.

Em todas essas ocasiões, de diferentes situações, sentimentos e acontecimentos, existia lá no fundo uma coisa que era sempre igual, o gosto por aquilo tudo. Se chorava, se doia, se levava uma bronca, sabia que quando voltasse para casa e colocasse a cabeça naquele travesseiro, o dia seguinte teria a oportunidade de tentar tudo de novo e exatamante por isso não pensava no amanhã. Quando você sabe, não pensa, não questiona, porque sabe, simplismente sabe. Fazer o que não deu certo funcionar e viver todas as coisas que deram certo novamente. Era exatamente isso que acontecia.

Já faz um tempo que tudo isso aconteceu e perdi a conta de quantas noites se passaram colocando a cabeça no travesseiro querendo apenas que o tempo adormecendo passasse logo, para fazer tudo novamente. Quantos "amanhãs" eu vivi dessa mesma forma.

Ando de metrô e lembro desses dias. Jogo uma versão mais nova de Street Fighter num aparelho portátil, esperando o ônibus na estação. Caminho um trecho à pé voltando para casa pensando em como nada mudou. A verdade é que não há de mudar nunca, pois a nossa essência apenas se adapta às circunstâncias da vida e do tempo. Ao final de cada dia, coloco a cabeça no travesseiro. Amanhã? Sei que será melhor, eu apenas sei. Nós somos os mesmos.

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