quinta-feira, 2 de junho de 2011

O sabor dos ideais

Assim como o Pocari Sweat tem o seu papel na nossa história, muitos outros objetos e lugares nos fazem lembrar constantemente daqueles dias no Japão, tão importantes dentro daquilo que somos, já que estamos falando das nossas raízes dentro do Karate-Do.

Se eu fosse fazer uma classificação em estações do ano dentro do nossos treinos de Karate-Do daquela época, diria que o verão era Pocari e o inverno era Milk Tea.
Para quem conhece o Japão, sabe do que estou falando. Sim, é literalmente chá com leite, que era vendido igualmente nas maquininhas de refrigerante em versões quente ou gelado. O Japão não é um templo budista ou shintoísta como muitos imaginam que seja, muito menos uma reunião de samurais engravatados. Claro, a cultura tem os seus aspectos tradicionais intáctos, mas como um país moderno e desenvolvido, também absorveu muitas outras coisas vindas do ocidente assim como o Milk Tea.
No frio, sempre tomávamos Milk Tea, saído diretamente da maquinhina situada  quase ao lado da plataforma da estação de trem. Estação de Hamakita, onde à esta altura, meu irmão, à pedido do nosso sensei ia ajudar nas aulas do dojo desta cidade.

Os treinos deste dojo aconteciam de segunda e quarta-feira. E justamente nesta época, o Karate-Do começou a se tornar algo muito mais sério e cobrado, onde os nossos treinos "pessoais", fora do Dojo de sagara, agora não se limitavam mais "apenas" aos nossos treinos no parque. Lembrar dessa época chega a me dar aquela saudade que você sente, porque foi uma época de extremo aprendizado, mas não porque foi fácil ou divertido(às vezes era sim). E daí em diante, os dias certamente nunca mais seriam os mesmos trilhando este caminho. Treinar Karate-Do  já não era  mais algo sério, era algo muito sério.

Mas voltemos ao chá com leite. Aquele chá com leite, quentinho após os treinos de Hamakita, também fazia parte do gosto pelo Karate. Como a bebida era quente, a lata tanbém era mais grossa. Não é como aquela lata de alumínio que você amassa com a mão ou com o pé com facilidade. As latas de chá, café, bebibdas quentes e neste caso o Milk Tea, eram bem sólidas. Um metal duro onde mais uma vez meu irmão via a oportunidade de testar a si mesmo, amassando a lata com um soco(após ingerir o conteúdo é claro). E é engraçado dizer isso, mas enquanto os praticantes normais do Karate socavam Makiwaras e os meninos viam TV nas noites da semana, meu irmão e eu estávamos socando árvores e latas duras de refrigerante. Quem treina Karate-Do, vive Karate-Do e vê Karate-Do em tudo, não existe outra maneira de ser um bom praticante se você não estiver disposto à enxergar a vida desta maneira. Claro, isso não é com a boca que se faz e sim fazendo o Karate acontecer mesmo em situações onde teoricamente não existem Karate. Óbviamente que uma lata de refrigerante nunca vai substituir um Makiwara, mas se você por além do makiwara fazer alguma coisa que te aproxime, que te faça criar uma conexão com a sua técnica, por que não fazer?

Certa vez, conversando com uma pessoa mais velha ela me disse:
"Não adianta ninguém lhe dizer que o prato requintado na sua frente é delicioso, se você não provar, analisar, saborear e aí sim gostar, nada faz sentido. Se não fizer isso por si, nunca vai saber qual é a verdade, o gosto da verdade."

Hoje faz um pequeno frio em São Paulo comparado ao frio Japonês, adivinha o que eu vou beber? Vou treinar.

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