quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Uma vez campeão, fechando a minha mão

Em 1994, no campeonato estadual de Shizuoka, eu obtive o meu primeiro título. Naquele mesmo ginásio B&G,  dessa vez com uma faixa marrom na cintura.
Entre os garotos da minha idade que ali sentados esperavam pela sua vez, olhava ao meu redor e ganhavam destaque os garotos da Seigo Dojo, que já tinham bem mais pinta de atletas de Karate, mais experientes, com seus Karate-gis impecáveis, bordados, com caimento perfeito. Era nítido que ali, entre todos nós, eles eram os favoritos. A postura e a aparência já diziam, traduziam o que tecnicamente eles representavam.

Porém uma vez ali, somos todos iguais. Ou melhor, para os que treinam duro, ali, são todos iguais. Independente de tamanho, nome, Dojo, postura ou aparência. Até então, até aquele campeonato, existiram outros campeonatos anteriormente, onde perdi e humildemente reconheci que era preciso voltar para casa, pegar o meu Karate-Gi e treinar mais, porque o que eu tinha, não era suficiente para ganhar.

Olhava ao meu redor, de alguma forma aquele favoritismo alheio não fazia a menor diferença. Não porque acreditava no título, mas por uma forma ingênua e pura que fazia com que eu apenas me preocupasse em bater de frente com as minhas expectativas de ser melhor, que o melhor já feito por mim mesmo. Talvez seja pessoal, talvez não seja nenhuma lição geral dentro do Karate-Do, mas desde que vesti aquele velho Karate-Gi pela primeira vez, o grande combustível que queima lá no núcleo da vontade de treinar sempre foi essa vontade. A vontade de ser melhor que o melhor de si a cada momento, a competição sempre foi apenas um lugar onde isso seria feito entre outras pessoas que teoricamente fariam o mesmo.

Naquele dia, Karate-Gis cheios de pompa, poses cheias de marra e até técnicas mais refinadas, não foram suficientes para vencer. O que foi suficiente, foi a minha vontade de fazer algo que eu nunca tinha feito, por mais que tivesse feito o mesmo Kata milhares de vezes anteriormente até estar ali naquele campeonato, aquele Kata representou para mim, naquela época, o que corredores chamariam de PB (Personal Best), uma marca que te leva sempre à outro patamar.
Eu acredito e essa tem sido a base do meu Karte-Do, talvez a base do nosso Karate-Do. Acredito que a nossa base vai além técnica e do desempenho físico, a nossa base está muito mais relacionada a transparência da nossa sinceridade. E isso, é o que realmente faz as coisas terem solidez.

Eu tenho certeza, que naquele dia os outros eram melhores do que eu em vários aspectos, mas a transparência daquela vontade fez mais efeito. Naquele simples ato de fechar a mão, como quem se agarra com tudo que pode naquele momento.

Após o término da categoria, com o resultado anunciado, um sensei que estavade árbitro na minha quadra(koto) veio me cumprimentar e disse "Sabe por que você ganhou hoje? Porque só você fechou a mão direito."

Talvez tenha demorado um bocado de tempo, até que essas palavras fizessem tanto sentido ou ganhassem um sentido maior. Mas hoje eu sei que só estou aqui, por sempre ter fechado a minha mão o mais firme que eu pude a cada dia.
Somos assim. E uma vez campeão, os adversários existem, mas eu sempre existi antes deles, sem pensar em nada a não ser fechar as minhas mãos.

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