Em 1990, resolveu-se que meu irmão iria para o Japão. Com 8 anos, é claro que eu não fazia a menor idéia de quão longe era o Japão (com excessão das aulas de geografia) e do que de fato isso significava para os adultos. Para a minha mãe e para o meu irmão especialmente. Minha mãe, por se deparar com a ida de um filho para o outro canto do mundo e para o Akira, por estar deixando tudo que conhecia aos 19 anos de lado, em busca de novas experiências de vida. Em relação ao peso disso, eu era só uma criança.
Criança, porém família. E família para nós, sempre foi sinônimo de ligação, conexão (parece óbvio, mas garanto que nem todos crescem em famílias assim). A ida do meu irmão para o Japão, de certa forma era uma conexão sendo desfeita. Isso abalou minha mãe. Meu irmão partiu e mesmo sem entender muito, foi isso que me fez chorar com aquele abraço de despedida no aeroporto. Criança, que capta verdades e sentimentos, sem precisar compreender nada de forma tão racional. Criança que chora. Eu chorei, porque sabia que por um tempo indeterminado, eu estaria sem o meu irmão, aquele, que sempre me ensinava coisas tão legais, que sempre tinha alguma coisa nova para me mostrar, me apresentar.
Após a partida do meu irmão, lembro que diversas vezes eu encontrei minha mãe aos prantos na sala, segurandos cartas, ouvindo fitas K7, que o meu irmão gravava e mandava para ela, com músicas Japonesas. Vez ou outra encontrava minha irmã mais velha em situação semelhante.
Periódicamente, o telefone nos colocava em contato mais direto, se assim posso dizer. Íamos até a casa da minha tia já que não tinhamos telefone na época. Quem já viveu longe de alguém da família porém sabe, que essas maneiras de matar a saudade são paradoxas, já que não dá para afirmar se alivia ou se deixa mais saudade. Bom mesmo, é para saber se as coisas estão indo bem. Mantendo quem está longe informado.
Se não tinhamos um telefone, muito menos eu tinha um video game. Era época em que os video games se popularizavam, o final de década de oitenta e o início dos anos noventa no Brasil, creio que foram o grande "boom" dos video games. Meus amigos já possuiam os consoles e eu jogava na casa deles. Não vou dizer que faltou algo na minha infância, porque meus pais sempre batalharam para que eu tivesse tudo que fosse necessário, mas isso também não quer dizer que eu tive tudo que eu queria.
Mesmo sendo a hora dos video games, as melhores recordações desta época foram construidas nos asfalto da minha rua. Jogávamos bola, usando o portão dos vizinhos como gol e o goleiro usava o chinelo nas mãos para "abafar" o poderoso chute de um moleque de 8 anos. No fim da tarde tomávamos chá e comíamos o pão que a minha mãe servia para a molecada que vinha brincar em casa. Andar de bicicleta, correr do caminhão d'água que lavava a rua nos dias de feira e ouvir a minha mãe me chamar para tomar banho no fim da tarde. Na infância, é como se a magia do verão durasse o ano inteiro. As responsabilidades escolares, são meros detalhes deste eterno verão.
O verão dura para sempre ou quase isso...
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
O Eterno verão de 1990
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