segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O tempo passa rápido

O mundo dá muitas voltas e às vezes não vemos o tempo passar. Estava no Japão a um ano, meu pai também tinha deixado seu país natal para vir trabalhar e apesar de ser boa a sua presença, era triste saber que nossa família no Brasil contava agora com um membro a menos.
No Dojo, os treinamentos tornaram-se mais intensos e técnicos após ser promovido para faixa marrom.
Mas, uma mudança inesperada estava por vir. A terceirização dos serviços da empresa havia acabado e teria que iniciar em outro serviço, mas em outra cidade, outra Província.
Ao comunicar a notícia ao Sensei, ele me disse: "Entendo perfeitamente se você parar agora, você veio ao Japão a trabalho e Okayama-ken é bem longe..."
Mas na verdade, no meu íntimo, não tinha intenção, não queria parar, queria saber se o Sensei permitiria que eu fosse treinar nos finais de semana e se poderia dormir no Dojo quando viesse. O Sensei então disse que poderia sim, e gentilmente cedeu o quarto de hóspedes que ficava no primeiro andar do Dojo.
O novo trabalho era bom, trabalhava um turno de 12 horas, uma semana de dia outra de noite. Quando trabalhava de dia treinava em um porão desocupado que havia no alojamento e corria à margens do rio que cortava a cidade. Quando trabalhava a noite, muitas vezes de madrugada ficava treinando atrás das máquinas.....
Quando chegava o final de semana, pegava o ônibus e ia até a estação de trêm de Nariwa, pegava o trêm até Okayama para pegar o "Shinkansen" (trêm bala) até a cidade de Kakegawa, onde pegava outro trêm até Kikuagawa e pegava um ônibus até Sagara-cho. Este percurso levava em torno de seis horas, mas o fazia feliz, afinal de contas iria ver meu Sensei, treinar duro e rever meus amigos de Dojo. Depois do treino do domingo de manhã, fazia todo o trajeto de volta e lá pelas 20h estava chegando no meu alojamento, na cidade de Nariwa.
Foi neste período que ganhei meu primeiro torneio estadual, na categoria Kata adulto até faixa marrom. Fiquei muito feliz e claro noticiei logo para minha família que estava no Brasil e para o meu pai que estava no Japão, mas em outra Provínica.
A cidade de Nariwa é uma típica cidade japonesa de interior. Suas tradições e costumes, sua arquitetura, suas belezas naturais: As montanhas com suas cores marrom-avermelhadas por causa de suas árvores "Momiji" na ápoca do outono e depois o branco da neve. E, ao chegar a primavera o florescer do "Sakura" flor de cerejeira que embelezava toda a cidade.
O tempo passa rápido e já estava a quase um ano em Nariwa, quando meu Sensei me informou que eu participaria do próximo exame para Faixas Pretas, uma mistura de alegria e medo tomou conta de mim. Afinal de contas, será que eu estaria preparado? Seria que conseguiria? Será que eu havia me esforçado o suficiente? Será? Dormia todos os dias pensando nas perguntas e sem as respostas.....

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