Era boa aquela sensação, de olhar para estante da minha casa e ver aquele troféu ali. Pela primeira vez na vida eu entendi o verdadeiro valor de troféus e medalhas. Ao ficar ali, olhando para aquele troféu, eu podia viver ou reviver aquela sensação. Materialmente, esses prêmios pouco tem valor, já que o custo financeiro real de um troféu ou medalha não é alto. Daria perfeitamente para qualquer um ligar para uma loja ou fábrica e encomendar o seu sem problema algum, basta pagar o dinheiro. Mas todos sabem ou pelo menos deveriam saber que não é disso que se trata.
Um campeão há de merecer a sua condição de campeão. E qualquer troféu ou medalha, deve ter merecido parar ali na sua estante. Por mais que sejam objetos fabricados de forma industrial e entregues pelas mãos de outras pessoas, um troféu ganho é o reflexo de quem você foi até chegar ali.
Uns são mais bonitos que os outros, uns são bem concebidos, outros nem tanto, o que importa mesmo é o que você vê nestes objetos e ali, eu só via orgulho. Um orgulho meu por ter treinado duro, por não ter recuado quando senti medo, insegurança ou vontade de dar um passo para trás, um orgulho de ter sido forte nos dias em que me achava fraco e um orgulho enorme, por ter honrado a fé das pessoas que acreditavam em mim. O objeto era o orgulho do meu irmão e da minha família também, talvez esse tenha sido o maior dos orgulhos ao olhar para aquele troféu.
Na semana seguinte, lembro de ter levado para a escola, um recorte do jornal onde foi publicado o resultado do campeonato e foi uma semana muito feliz. Queria eu que aquela sensação durasse para sempre, mas não dura, e é exatamente por isso que no dia seguinte já é necessário fazer tudo de novo, em busca de outra conquista, em busca de outra "semana de campeão".
Desde então, competir é uma batalha pelo orulho, por esse mesmo velho orgulho, por esta mesma velha sensação, pela vontade de viver sempre aquela semana.
Olhando ali para aquele troféu na estante, de certa forma era olhar para todos os outros que vinham a seguir.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Aquela semana
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Se tornar Campeão
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Uma vez campeão, fechando a minha mão
Em 1994, no campeonato estadual de Shizuoka, eu obtive o meu primeiro título. Naquele mesmo ginásio B&G, dessa vez com uma faixa marrom na cintura.
Entre os garotos da minha idade que ali sentados esperavam pela sua vez, olhava ao meu redor e ganhavam destaque os garotos da Seigo Dojo, que já tinham bem mais pinta de atletas de Karate, mais experientes, com seus Karate-gis impecáveis, bordados, com caimento perfeito. Era nítido que ali, entre todos nós, eles eram os favoritos. A postura e a aparência já diziam, traduziam o que tecnicamente eles representavam.
Porém uma vez ali, somos todos iguais. Ou melhor, para os que treinam duro, ali, são todos iguais. Independente de tamanho, nome, Dojo, postura ou aparência. Até então, até aquele campeonato, existiram outros campeonatos anteriormente, onde perdi e humildemente reconheci que era preciso voltar para casa, pegar o meu Karate-Gi e treinar mais, porque o que eu tinha, não era suficiente para ganhar.
Olhava ao meu redor, de alguma forma aquele favoritismo alheio não fazia a menor diferença. Não porque acreditava no título, mas por uma forma ingênua e pura que fazia com que eu apenas me preocupasse em bater de frente com as minhas expectativas de ser melhor, que o melhor já feito por mim mesmo. Talvez seja pessoal, talvez não seja nenhuma lição geral dentro do Karate-Do, mas desde que vesti aquele velho Karate-Gi pela primeira vez, o grande combustível que queima lá no núcleo da vontade de treinar sempre foi essa vontade. A vontade de ser melhor que o melhor de si a cada momento, a competição sempre foi apenas um lugar onde isso seria feito entre outras pessoas que teoricamente fariam o mesmo.
Naquele dia, Karate-Gis cheios de pompa, poses cheias de marra e até técnicas mais refinadas, não foram suficientes para vencer. O que foi suficiente, foi a minha vontade de fazer algo que eu nunca tinha feito, por mais que tivesse feito o mesmo Kata milhares de vezes anteriormente até estar ali naquele campeonato, aquele Kata representou para mim, naquela época, o que corredores chamariam de PB (Personal Best), uma marca que te leva sempre à outro patamar.
Eu acredito e essa tem sido a base do meu Karte-Do, talvez a base do nosso Karate-Do. Acredito que a nossa base vai além técnica e do desempenho físico, a nossa base está muito mais relacionada a transparência da nossa sinceridade. E isso, é o que realmente faz as coisas terem solidez.
Eu tenho certeza, que naquele dia os outros eram melhores do que eu em vários aspectos, mas a transparência daquela vontade fez mais efeito. Naquele simples ato de fechar a mão, como quem se agarra com tudo que pode naquele momento.
Após o término da categoria, com o resultado anunciado, um sensei que estavade árbitro na minha quadra(koto) veio me cumprimentar e disse "Sabe por que você ganhou hoje? Porque só você fechou a mão direito."
Talvez tenha demorado um bocado de tempo, até que essas palavras fizessem tanto sentido ou ganhassem um sentido maior. Mas hoje eu sei que só estou aqui, por sempre ter fechado a minha mão o mais firme que eu pude a cada dia.
Somos assim. E uma vez campeão, os adversários existem, mas eu sempre existi antes deles, sem pensar em nada a não ser fechar as minhas mãos.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Saito com orgulho
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A Galeria
Não há força sem fraqueza, não há perfeição sem imperfeição. Não existe ser imbatível. O que existe, são os poucos que nunca param de crescer.
Não é, nunca foi e nunca será uma questão de nunca ser abatido ou derrotado. Cada queda traz uma lição de humildade e cada porção de humildade traz consigo a honestidade de quem realmente quer ser melhor a cada dia naquilo que faz.
Somos invencíveis. Mas veja bem, não porque não perdemos, não porque não caímos, não porque não sentimos. Somos invencíveis. Porque estamos sempre nos levantando, dando o troco no dia seguinte.
O silêncio que me consome na derrota, mais afiado do que qualquer palavra que me repreende. Do gosto amargo, só é filtrado a essência que amanhã se torna base para o crescimento.
Revidar. Naquele dia, naquela luta, contra aquele mesmo faixa preta. Dei-lhe um ashibarai e soquei-lhe o estômago. Fez efeito e ali se consumava o meu revide. Eu não perco. Eu caio e acham que eu perdi. Só não podem esquecer que eu sempre me levanto e volto melhor. Assim foi aquele revide.
A luta acaba e olho para o meu irmão, na mesma proporção daquele outro dia em que estava bravo, agora estava contendo o orgulho, eu sei, eu vi isso. Eu mesmo estava orgulhoso por ter feito por merecer aquela sensação de ter cuidado "dos meus próprios problemas". A volta para casa naquele dia, foi cheia de empolgação e falamos quase o tempo todo sobre a luta, uma pequena luta, num pequeno treino e uma pequena parte do que hoje se tornou o caminho do Karate-Do para mim, já faz algum tempo. Muito provávelmente neste dia, eu tenha inaugurado a minha galeria pessoal de vitórias.
Passados quase vinte anos, eu continuo caindo em alguns trechos deste caminho. São outros problemas, outras dimensões e situações. O caminho não para para quem não para e a galeria, só cresce para os que perseguem o topo da montanha. Lembro daquele dia e de tantos outros em que pude revidar e mostar para mim mesmo que somente eu posso escrever o "fim" das minhas histórias.
Só existe um final para cada luta na mninha vida, a galeria e o resto, é só uma questão de revide.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Família sempre Família
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Eu sempre estou aqui
Por muitas vezes por conta daquela rotina dentro do karate, tive que abrir mão de estar presente em muitos outros lugares em que eu gostaria de estar.
Festas que deixei de ir, filmes que deixei de ver no cinema, coisas que eu não comi e muito tempo que se contar até os dias de hoje, deixei de estar com os meus amigos, família e pessoas que gosto.
Por tantas vezes eu estive treinando, competindo ou viajando até aqui. Dentro disso, desde quando era criança, naqueles sete dias e sete treinos, eu de alguma forma mesmo estando totalmente entregue ao momento em que vivia, de alguma forma pensava nesses momentos paralelos, achava que os perdia.
Não vou negar que sempre fiquei dividido entre a sensação de estar e não estar presente. Porém, quando escolhas são feitas, acredito que não quer dizer que você não pensará em nenhum momento nos outros lugares e caminhos paralelos, mas sim que isso tem um espaço devido dentro daquilo que escolheu.
Todas as fraquezas levam á força. Todas as pessoas e situações nunca foram e nem serão dexadas para trás. Carrego tudo comigo, na minha forma de ser forte, na forma de afirmação dentro daquele caminho que escolhi.
Dentro de um caminho de afirmação, tudo e qualquer coisa que lhe serviria de motivo para duvidar, só serve para afirmar. Não é questão de não pensar em nada, nem ninguém, mas sim de dizer para si mesmo que num longo caminho solitário, tudo e todos estão exatamente aqui neste caminho de pura afirmação. O caminho, de só saber ganhar.
Só tenho aprendido mais um pouco que sou exatamente, o que carrego\comigo.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
A Arte de Superar
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quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Memorando das derrotas
Aquela segunda-feira era exatamente igual à todas as outras. A escola entre os perídos da manhã e da tarde, uma pequena folga até o sol baixar e o agora já rotineiro caminho de trem até Hamakita. Fisicamente, comparando com os meus dias de adulto, acho que posso dizer que naquela época o que eu sentia treinando todos os dias, estava bem longe de ser cansaço. Mas de alguma forma, eu pensava que estava cansado.
A pequena linha de trem, que ligava Hamamatsu à Hamakita, nos levava até o Dojo. Andando por cerca de 100 ou 150 metros, contando inúmeros pensamentos que vinham na minha cabeça, chegava então no Dojo.
O Dojo era antigo, quase no meio do nada. Perto da estação de trem, porém quase isolado num terreno onde ao lado havia apenas uma plantação de alguma coisa que não me lembro e mato, muito mato.
O Shihan dali, mais parecia da Yakuza. Era rígido com as crianças e era comum vê-lo com o Shinai na mão distribuindo algumas pancadas leves, nas pernas traseiras que ousavam permanecer dobradas nos zenkutsudachis do Kihon-Ido.
O treino geralmente era composto por Kihon, Kihon-Ido, Shiho-Ido, Kata e Kumite. Respeitando sempre o sensei do local, meu irmão estava ali colaborando com a padronização dos exercícios e técnicas, sempre me usando como exemplo do que ele estava explicando ou ensinando.
Porém nem sempre servi de exemplo ali. Por mais que tivesse uma técnica melhor, fosse irmão do "novo sensei", eu também estava ali para aprender e por muitas vezes eu me esquecia disso. No final das contas isso era bom, mas não necessariamente tinha de ser assim. Deve ser o sangue pendendo nas decisões, de sempre escolher o lado intenso das coisas. Os Saito são passionais.
Me custou um tempo até me acostumar com a luta. Mas penso que esse é o caminho normal. Afinal, lutar é bom, é desde que você esteja no controle da situação, caso contrário, é um pesadelo. Ali, o treino encontrava o seu ápice no Kumite. Sempre, sem excessão, meu irmão me colocava para lutar com aquele faixa preta (que não lembro o nome). Bom ou não, com forma técnica arcaica ou não, ele era faixa preta e eu não. E isso, ali no Japão só quer dizer uma coisa: Você mereceu aquele faixa.
Naquele dia, no decorrer da luta levei um gyakuzuki e quase dobrei. Após esse golpe, a vontade de vencer sumiu, o domínio da luta idem e a única coisa que eu conseguia controlar eram as lágrimas que acumulavam nos olhos. Só pensava no tempo e no fim da luta. A luta então termina e nessa hora eu tinha até medo de olhar para o meu irmão, pois sabia que depois daquele treino eu teria duas opções: Outro treino de portas fechadas só eu e ele logo após o fim daquela aula ou aquele silêncio na volta para casa, que me repreendia mais do que qualquer bronca que pudesse levar.
Naquele instante não me sentia exemplo de nada, digno de nada e envergonhado por tudo. De nada adianta ser citado como exemplo de alguma coisa, querer ser exemplo de alguma coisa, se na hora difícil você acabar agindo como todos os outros. Não lembro se neste dia teve uma hora extra de treino de portas fechadas com o meu irmão, talvez por conta daquela sensação gigante de fracasso e derrota. Mas lembro sim do silêncio voltando para casa. Esperando o trem chegar digerindo a própria vergonha, olhando pelo vidro do trem um exemplo do que não queria ser e enfim enfim em casa, fechando os olhos para esquecer aquele dia.
A força nasce da fraqueza.