A nova rotina era puxada. A esta altura do campeonato, já não era mais faixa branca. Isso na prática além de representar o seu nível técnico, quer dizer que além de tudo existe a responsabilidade de ser "melhor" que alguém, saber mais que alguém e por consequência, tratando-se de Karate-Do significa que, de nada adianta ter uma faixa colorida, seja ela qual for se esta mesma não for justificada pelo seu empenho prático.
Além disso, nesta época eu era uma espécie de agregado do meu irmão. Indo para cima e para baixo, o acompanhando na sua nova empreitada dentro desses outros Dojos. Carinhosamente chamo essa época de sete dias, sete treinos. Não havia dia de folga, a não ser por algum tipo de impossibilidade maior do meu irmão, que nesse caso significava estar doente e assim como hoje em dia, isso quase nunca acontecia(ele é um X-Men).
Quando tudo isso começou, sinceramente não lembro se eu já tinha um Karate-Gi de lona ou se ainda usava o vellho Fuji Daruma mais simples de todos. Mas lembro-me muito bem, de quando já vestia um Tokaido, de tirar o Kartae-Gi da mala e colocá-lo direto no varal do apartamento, para que este secasse ao vento, estando pronto assim no dia seguinte para um novo treino. Uma vez por semana, era quando minha mãe(que também trabalhava numa fábrica) tinha disponibilidade de lavá-los(o do meu irmão também) e assim seguíamos com um único Karate-Gi cada nessa jornada de sete dias de treino.
Eu não tenho vergonha nenhuma de dizer que em muitas coisas, incluindo o Karate eu nunca fui o melhor. Sempre tive que me esforçar muito para ser bom em algo. Dentro destes dojos, eu me esforçava sempre além do que podia, na maioria das vezes por imposição do meu irmão, mas sempre indo além daquilo que era confortável fazer. Nos sete dias, sete treinos, eu tenho dentro da minha história no Karte-Do, a parte mais intensa, por vezes divertida e por outras tantas, as mais difíceis.
E foi ali, naqueles Dojos que eu comecei a aprender que ser irmão de Akira Saito, ali dentro não era uma questão de sangue ou DNA, era uma condição que eu tinha que provar dia após dia. Quando se é irmão de alguém que é bom em alguma coisa, é comum as pessoas lembrarem de você como "o irmão de".
Na prática isso possui dois sentidos distintos. No primeiro, quer dizer que você é exatamente apenas um agregado e ninguém lembra do seu nome. Irmão, apenas na ligação de sangue. No outro sentido, quer dizer que você é "O Irmão", querendo dizer que você é aquele que honra o nome, a carreira, o caráter e tudo que o seu antecessor tem ou teve, da forma mais digna possível.
Nos sete dias, sete treinos, eu vivi para ser "O irmão". Mais do que campeonatos vencidos, entre dias difíceis e surras levadas no treino, em alguns dias eu obtinha minhas vitórias pessoais quando os senseis me elogiavam pelo nome e quando eu via nos olhos do meu irmão que ele sentia orgulho daquilo. Eram sete dias da semana, que eu lutava para vencer e crescer, mas acima de tudo eram dias em que eu lutava por aprovação.
Tinha dias em que não ia bem, fazia tudo errado no treino e me sentia envergonhado por naquele dia ter falhado com o meu nome. Porém quando se vive sete dias por semana, respirando e querendo alguma coisa, é possível dar o troco logo em seguida, porque a intensidade lhe permite isso.
Um dos maiores orgulhos que tenho na minha vida no Karate-Do, é hoje dizerem que o Horácio é irmão do Akira e em alguns casos pelo caminho que trilhei com os meus próprios pés, eles até dizem que o Akira é irmão do Horácio.
Nós somos os irmãos Saito do Karate, não apenas pelo sangue, mas sim pelo significado do nosso caminho que nos une em nossas vidas. Somos irmãos, de sangue e por merecimento.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Irmãos por merecimento
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