quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lar, amargo lar

Naquela jornada de treinos que era um ciclo semanal sem dias para descanso, eu vivia entre sonhos e pesadelos em intervalos curtos de tempo. Em artes marciais japonesas, o Ippon caracteriza o fim do combate, aquele que decide quem permanece vivo e quem é o morto da vez. Nos sete dias, sete treinos, todos os dias eu tinha desafios diferentes. Passando por outros três dojos diferentes além do Honbu Dojo de Sagara, sempre havia uma pedra pelo caminho, uma pedra dentro do meu sapato.

Em Sagara, no Dojo que era a nossa casa, o treino em si já era bem puxado e ali, a maior pedra no sapato era o próprio treino. É uma sensação estranha no início, que cabe dentro do grande paradoxo que é o Budo, era minha casa, mas ali dentro do treino eu nunca tive conforto. Com o tempo, sorrimos com esta situação, porque simplesmente é assim que funciona no Budo, não há conforto onde há sinceridade no treino, há sim realização, mas conforto não. Assim é a nossa casa, assim é o chamado lugar do caminho, o Dojo.

É claro que eu não entendi essas coisas de uma hora para outra e me custou muito entender tudo isso, pois na prática, passar por dificuldades nunca é agradável (ao paladar do ser humano e não do Budoka). Se em Sagara o treino era o gosto amargo, nos outros Dojos onde meu irmão agora ensinava, haviam outros tipos de pedras no meu sapato.

No Dojo de Hamakita, onde muito provavelmente eu era visto como "o irmão do sensei jovem que vem nos ensinar", havia um garoto, faixa preta que nos Kumites sempre tentava azedar as coisas. Claro, meu irmão percebia isso e via nisso uma oportunidade de sempre me colocar em teste. Dessa mesma forma, nos outros dois Dojos de Hamamatsu, existia uma outra pedra, chamada de Aoki. Apesar de eu ser mais graduado que ele, ele era mais velho que eu e bem maior, o que assim como em Hamakita, deixava tudo muito mais azedo.

Na segunda-feira, o faixa preta de Hamakita, na Terça o Aoki, na Quarta-feira Hamakita e faixa preta, na quinta-feira Aoki de novo... Na sexta-feira eu tinha o meu irmão e os treinos físicos pela frente, no sábado era o treino de Sagara. Domingo Deus descansou e eu tinha o Aoki de novo pela frente...

Vamos começar pela segunda-feira...

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