Leia Mais…
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Mente sempre aberta para aprender
Leia Mais…
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Lar, amargo lar
Naquela jornada de treinos que era um ciclo semanal sem dias para descanso, eu vivia entre sonhos e pesadelos em intervalos curtos de tempo. Em artes marciais japonesas, o Ippon caracteriza o fim do combate, aquele que decide quem permanece vivo e quem é o morto da vez. Nos sete dias, sete treinos, todos os dias eu tinha desafios diferentes. Passando por outros três dojos diferentes além do Honbu Dojo de Sagara, sempre havia uma pedra pelo caminho, uma pedra dentro do meu sapato.
Em Sagara, no Dojo que era a nossa casa, o treino em si já era bem puxado e ali, a maior pedra no sapato era o próprio treino. É uma sensação estranha no início, que cabe dentro do grande paradoxo que é o Budo, era minha casa, mas ali dentro do treino eu nunca tive conforto. Com o tempo, sorrimos com esta situação, porque simplesmente é assim que funciona no Budo, não há conforto onde há sinceridade no treino, há sim realização, mas conforto não. Assim é a nossa casa, assim é o chamado lugar do caminho, o Dojo.
É claro que eu não entendi essas coisas de uma hora para outra e me custou muito entender tudo isso, pois na prática, passar por dificuldades nunca é agradável (ao paladar do ser humano e não do Budoka). Se em Sagara o treino era o gosto amargo, nos outros Dojos onde meu irmão agora ensinava, haviam outros tipos de pedras no meu sapato.
No Dojo de Hamakita, onde muito provavelmente eu era visto como "o irmão do sensei jovem que vem nos ensinar", havia um garoto, faixa preta que nos Kumites sempre tentava azedar as coisas. Claro, meu irmão percebia isso e via nisso uma oportunidade de sempre me colocar em teste. Dessa mesma forma, nos outros dois Dojos de Hamamatsu, existia uma outra pedra, chamada de Aoki. Apesar de eu ser mais graduado que ele, ele era mais velho que eu e bem maior, o que assim como em Hamakita, deixava tudo muito mais azedo.
Na segunda-feira, o faixa preta de Hamakita, na Terça o Aoki, na Quarta-feira Hamakita e faixa preta, na quinta-feira Aoki de novo... Na sexta-feira eu tinha o meu irmão e os treinos físicos pela frente, no sábado era o treino de Sagara. Domingo Deus descansou e eu tinha o Aoki de novo pela frente...
Vamos começar pela segunda-feira...
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
O Caminho que nos une
Leia Mais…
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Um trajeto mental
Durante esse período, onde tudo era mais intenso, eu tive que lidar com muitas pedras no sapato. Treinando sete dias por semana em três lugares diferentes, não havia lugar para me esconder ou fugir. Talvez eu possa dizer que este período foi o mais desconfortável de todos, porque tinha que provar alguma coisa todos os dias.
Treinando no Dojo de Sagara, basicamente era sempre uma questão de provar para si mesmo. O Dojo era longe, o caminho de carro(quando iamos de carro de carona) ou de trem tinha tempo necessário para que sempre hovesse um conflito entre as minhas razões mundanas para não querer ir e a minha vontade de treinar. Durante este trajeto muitas vezes na minha cabeça as razões mundanas falavam alto e a vontade de ir treinar só aparecia quando estavamos parando o carro, chegando no Dojo.
Independente da condição mental e dos conflitos de "fazer ou não fazer", uma vez estando ali, rumando para algum lugar, não há como não fazer. Estar indo para algum lugar já é uma decisão, logo essa batalha mental acaba não fazendo o menor sentido. Uma vez estando em movimento, percorrendo um caminho para algum lugar, quer dizer que não é hora de decisões porque isso já foi decidido antes de você iniciar o movimento. O início é a decisão, percorrer a distância é uma constante afirmação.
Creio que por muitas vezes as pessoas deixam de viver, colher muitas coisas para premeditar o que lhes espera adiante. Algumas vezes estas pessoas são movidas pela sensatez, mas em muitas outras são movidas apenas por esse conflito mental. Fazendo escolhas onde não cabem escolhas, só afirmações.
Claro, se há um desafio adiante, onde você sabe que algo difícil lhe espera, é natural temer, duvidar ou questionar, pois acredito que a grande vitória está no fato de entrar em choque e vencer tudo isso de fato. Mas a questão mora em quantas imersões você teve nesses conflitos de verdade ao longo dos anos. A tentativa é o que molda as pessoas. O teste é a tentativa, então só perde realmente quem não tenta. Quem na mente, já perdeu.
O carro para, são sete e meia da noite. Sagara Dojo, até o fim.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Sagara Dojo
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Irmãos por merecimento
A nova rotina era puxada. A esta altura do campeonato, já não era mais faixa branca. Isso na prática além de representar o seu nível técnico, quer dizer que além de tudo existe a responsabilidade de ser "melhor" que alguém, saber mais que alguém e por consequência, tratando-se de Karate-Do significa que, de nada adianta ter uma faixa colorida, seja ela qual for se esta mesma não for justificada pelo seu empenho prático.
Além disso, nesta época eu era uma espécie de agregado do meu irmão. Indo para cima e para baixo, o acompanhando na sua nova empreitada dentro desses outros Dojos. Carinhosamente chamo essa época de sete dias, sete treinos. Não havia dia de folga, a não ser por algum tipo de impossibilidade maior do meu irmão, que nesse caso significava estar doente e assim como hoje em dia, isso quase nunca acontecia(ele é um X-Men).
Quando tudo isso começou, sinceramente não lembro se eu já tinha um Karate-Gi de lona ou se ainda usava o vellho Fuji Daruma mais simples de todos. Mas lembro-me muito bem, de quando já vestia um Tokaido, de tirar o Kartae-Gi da mala e colocá-lo direto no varal do apartamento, para que este secasse ao vento, estando pronto assim no dia seguinte para um novo treino. Uma vez por semana, era quando minha mãe(que também trabalhava numa fábrica) tinha disponibilidade de lavá-los(o do meu irmão também) e assim seguíamos com um único Karate-Gi cada nessa jornada de sete dias de treino.
Eu não tenho vergonha nenhuma de dizer que em muitas coisas, incluindo o Karate eu nunca fui o melhor. Sempre tive que me esforçar muito para ser bom em algo. Dentro destes dojos, eu me esforçava sempre além do que podia, na maioria das vezes por imposição do meu irmão, mas sempre indo além daquilo que era confortável fazer. Nos sete dias, sete treinos, eu tenho dentro da minha história no Karte-Do, a parte mais intensa, por vezes divertida e por outras tantas, as mais difíceis.
E foi ali, naqueles Dojos que eu comecei a aprender que ser irmão de Akira Saito, ali dentro não era uma questão de sangue ou DNA, era uma condição que eu tinha que provar dia após dia. Quando se é irmão de alguém que é bom em alguma coisa, é comum as pessoas lembrarem de você como "o irmão de".
Na prática isso possui dois sentidos distintos. No primeiro, quer dizer que você é exatamente apenas um agregado e ninguém lembra do seu nome. Irmão, apenas na ligação de sangue. No outro sentido, quer dizer que você é "O Irmão", querendo dizer que você é aquele que honra o nome, a carreira, o caráter e tudo que o seu antecessor tem ou teve, da forma mais digna possível.
Nos sete dias, sete treinos, eu vivi para ser "O irmão". Mais do que campeonatos vencidos, entre dias difíceis e surras levadas no treino, em alguns dias eu obtinha minhas vitórias pessoais quando os senseis me elogiavam pelo nome e quando eu via nos olhos do meu irmão que ele sentia orgulho daquilo. Eram sete dias da semana, que eu lutava para vencer e crescer, mas acima de tudo eram dias em que eu lutava por aprovação.
Tinha dias em que não ia bem, fazia tudo errado no treino e me sentia envergonhado por naquele dia ter falhado com o meu nome. Porém quando se vive sete dias por semana, respirando e querendo alguma coisa, é possível dar o troco logo em seguida, porque a intensidade lhe permite isso.
Um dos maiores orgulhos que tenho na minha vida no Karate-Do, é hoje dizerem que o Horácio é irmão do Akira e em alguns casos pelo caminho que trilhei com os meus próprios pés, eles até dizem que o Akira é irmão do Horácio.
Nós somos os irmãos Saito do Karate, não apenas pelo sangue, mas sim pelo significado do nosso caminho que nos une em nossas vidas. Somos irmãos, de sangue e por merecimento.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Saito Kyodai
Leia Mais…
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
A Lei da Intensidade
Depois daquele ano, o conceito de treinar nunca mais seria o mesmo. Naquele ano, acompanhando mais do que nunca o meu irmão para cima e para baixo em outros três Dojos de Karate, o que já era puxado, se tornou de vez muito mais intenso do que eu podia imaginar.
A semana tem 168 horas. E intensidade nesse caso quer dizer, quanto tempo você gasta fazendo de fato alguma coisa que faz sentido nesse espaço de tempo. Nessa época, na verdade o que mudou foram os locais de treino e a vestimenta. Antes do meu irmão ser promovido para Nidan e assumir a responsabilidade de ajudar outros senseis em outros Dojos, nós cobríamos os dias sem treino de Karate-Do no Dojo, com treinos físicos de Karate-Do fora dele. Agora eram sete dias da semana, sete dias de Karate-Gi.
A intensidade do meu treino sempre foi muito vigiada de perto pelo meu irmão, sempre fui colocado diante de números, situações e adversários difíceis, que sempre, sem excessão ou folga tinham algo que ia além do que eu possuia no momento. A tendência então, foi isso tudo piorar. E foi de fato o que aconteceu.
Agora quase não havia mais tempo para digerir as derrotas nos treinos, os fracassos nos exercícios ou as broncas frequentemente recebidas, ser intenso significa entre tantas coisas "ter uma digestão rápida".
A verdade das coisas caminha lado a lado com a intensidade. Não existe maneira de ser bom em algo se não investir na intensidade. Há de se ter uma prática intensa e neste caso nem estou citando o número de horas gastas ou o número de repetições necessárias pois isso tudo é muito subjetivo e pode mudar de acordo com a situação vivida por cada um. Claro que para mim naquela época, significava sim horas de prática e número de repetições, mas na vida adulta, nos sonhos adultos, mais do que tudo isso é necessário ter uma visão intensa sobre os objetivos, ser sempre sincero ao extremo com aquilo que você faz. Ser o melhor e mais um pouco, naquilo que você se dispôs à fazer. Falhas não são aceitas, são digeridas como lições e amanhã é um outro dia, com uma nova verdade em jogo, no mesmo além do limite, além da intensidade.
Niguém aprende isso nos livros, nas conversas e muito menos nestas palavras ditas aqui. A lei da intensidade é a lei da prática.
Não há justificativas para o não ser intenso e se há, então não há sinceridade na sua escolha. A intensidade é a mais pura sinceridade.