Mais do que medalhas e fotografias, fica o aprendizado.
Aquela era a nossa primeira competição internacional de Bunkai. A primeira competição fora de casa, como Saito Brothers.
Mais do que os títulos como o daquele dia, ficam para sempre os laços que se fortalecem a cada disputa, cada vitória ou derrota. Toda vitória, toda historia é construída com a vivência intensa destes momentos. Tudo tem de valer à pena. Da dor à alegria, tudo tem de servir como alicerce de uma grande fortaleza. Esse é o caminho e é o nosso caminho.
Com o tempo, há de se aprender que quem não coloca tudo em jogo, não serve para o jogo. Porque ali só vence quem é sincero. Não existe sinceridade com o pé atrás. Só conta se for 100%. A sinceridade nunca perde, sempre vence, embora algumas vitórias só o tempo revele.
Com o tempo, há de se aprender também, que aquele que quer honrar a confiança das pessoas, sempre luta com 100% do que tem e além disso, leva todas estas pessoas à serem honradas nos ombros, nas costas, na mente, no pensamento. Quem luta por muitos, tem a força de muitos.
O juvenil, aprende a lutar por si. O homem luta por si e pelos outros. Seja pela memória destes, pela gratidão ou pelo apoio recebido. Os homens honram o(s) nome(s) que carregam.
Naquele dia, aprendi a carregar as coisas nas costas. Para honrar o nome de quem um dia fez o mesmo caminho. Tinha dezesseis anos, muita coisa pela frente, mas sabia que estava no lugar certo.
Estava no caminho.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Só honra quem carrega
segunda-feira, 30 de julho de 2012
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quinta-feira, 26 de julho de 2012
Pelo nome e não com o nome
Um dia todos vamos embora. Não existe maior certeza do que a morte. O que acontece, é que nos maravilhamos com a vida e passamos os dias sem se quer pensar(corretamente até) nesta única certeza. Um dia, todos vamos morrer.
Nós nunca imaginamos a vida sem aquelas pessoas que fazem dela um lugar seguro. Ninguém nunca pensa em perder um pai, uma mãe, por mais que essa seja a ordem natural das coisas.
Com os mestres acontece a mesma coisa. Eles são pais de muitos. São as figuras centrais de contos, histórias e até lendas dentro de suas artes. Representam sempre em carne e osso, as lições de um caminho que abriga muitos peregrinos. Eles são o caminho.
A perda do mestre Ryuzo Watanabe, significava para nós da Goju-Kai, perder o caminho. Pois assim como outros grandes mestres, ele era o desde o ar que respirava, até o último batimento do seu coração, puro Karate-Do.
Foi um momento de muita tristeza. Lembro-me do dia do enterro do sensei até hoje com muita clareza. Se lembrar demais, talvez comece a sentir que é muito mais triste do que já é, porque sei, que ele faz muita falta neste mundo. Porém creio que pensar nisso seria de certo modo egoísmo meu, já que certamente hoje em dia ele deve estar muito mais feliz no lugar em que se encontra (provavelmente com outros grandes mestres).
Muitos se perderam depois daquele dia, muitos, decidiram levar o caminho adiante honrando a memória de alguém que viveu pelo caminho do Karate.
Todos temos a opção de escolher o que fazer com a memória das pessoas que se foram, o que fazer com os bons dias vividos ao lado de quem se foi, o que fazer com os ensinamentos, as lições de quem viveu para passar um ideal adiante e liderar um grupo, uma família.
Tenho orgulho e gratidão pelos senseis que tive, tenho orgulho de ser irmão de um grande Budoka que sempre optou por seguir os exemplos, fazendo como eles, liderando, desbravando rumo àquilo que é certo.
Depois de tantos anos, eu olho para todos estes dias que ficaram para trás desde o falecimento do sensei Watanabe e vejo que o meu irmão me(nos) guiou para o caminho certo.
Por onde se honra a memória das pessoas com a nossa própria maneira de viver. Não nos agarramos, nos escoramos no nome de ninguém, não usamos a imagem de ninguém. Nós somos aquilo que aprendemos, somos o que passamos adiante. É assim que um legado, uma memória se matém viva. Os mestres vivem no caminho e na transmissão dos ensinamentos deste. De nada adianta ficar citando nomes se as atitudes não falarem por estes nomes citados.
Temos MUITO ORGULHO das nossas raízes, de ter aprendido com quem aprendemos e é exatamente por isso que damos o nosso melhor todos os dias. Para honrar o nome das pessoas com atitudes, porque Karate-Do é feito muito mais de luta, do que nomes à serem citados na primeira oportunidade.
Tínhamos um campeonao para vencer, por nós, pela memória do sensei e acima de tudo... Por honra e gratidão.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Próximo de um final
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quinta-feira, 19 de julho de 2012
Pescando na chuva
Meu irmão sempre gostou de pescar.
Todas às segundas, meu irmão pegava na escola depois da aula, eu trocava de roupa no caminho, dentro do carro e íamos pescar. Essa era mais uma das "nossas coisas", momentos, como aqueles vividos no Japão, nas viagens de trem, quando passávamos na livraria, líamos o que queríamos, meu irmão pegava uma revista de Karate, eu pegava a nova edição do mangá preferido e pegávamos um taxi para casa.
Entre essas coisas que fazíamos juntos, lembro também das manhãs já aqui no Brasil, quando acordava cedo e íamos correr no parque antes da escola. Voltava para casa, tomava um banho, vestia o uniforme e ia estudar.
Pescar, naquela época era a "nossa coisa"do momento. Apesar de eu ir muito mais pela diversão de fisgar o peixe e por acompanhar sempre o meu irmão em todos os lugares, gostava muito desta época. Mas nunca fui um pescador como o meu irmão.
Meu irmão se divertia pescando, mas também se divertia com as minhas trapalhadas com a "tralha" de pesca, quando eu gastava mais tempo desembaraçando a linha do que pescando em si. Eu ficava bravo e ele ria e quando os nós eram cegos demais, ele montava outra vara para mim.
A maioria das pessoas gosta de fisgar o peixe. E acho que isso se encaixa muito bem no que é a vida. As pessoas sempre querer ter algo, ter o prazer de ter algo, mas quem aqui gosta de pescar na chuva sem pegar nada?
Bom, o meu irmão gosta.
Lembro-me de um dia, que estava frio e chovia muito. Fomos pescar, porque o meu irmão sempre seguia em frentre com os seus planos, fosse com sol, fosse com chuva. Chovia tanto naquele dia, que eu mal podia ver o que se passava lá na ponta da linha lançada no lago, quase não via a bóia. Não dava para diferenciar o que era a chuva balançando a água e o que era o peixe tentando morder a isca. Tudo que eu via, era o meu irmão. Parado, quieto, atento, coberto com uma capa de chuva, olhando para a água.
Nesse dia, do quiosque, observando o meu irmão pescando na chuva eu entendi muita coisa sobre pescar, aprendi o que é gostar de pescar. E quem sabe até, tenha aprendido muita coisa sobre a própria vida. A verdadeira pescaria, mora em quem gosta de pescar independente de tudo.
É preciso estar lá. Com sol ou com chuva. Enxergando o que há adiante ou não, é preciso estar lá.
O que essas lembranças tem a ver com o nosso Karate? Bom, só entende, quem está na chuva. Para se molhar? Sim. Mas mais do que isso, para pescar.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Um ideal
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quinta-feira, 12 de julho de 2012
O que você não imagina e o que você imagina
Nunca esperei receber aquela graduação, mas honrei-a até o seu último dia.
Naquela época, mal passava pela minha cabeça ser algo além de Shodan. Me focava apenas em treinar, ser melhor e a busca era apenas isso, por melhora. Graduações vem com o tempo, desde que o foco do presente seja melhorar sempre, hoje mais do que ontem, amanhã mais do que hoje...
Porém, uma vez que possuir a graduação, é necessário mais do que nunca ser a graduação e justificar o pedaço de papel, principalmente a assinatura e a confiança de quem assinou aquele certificado.
Tem de ser a graduação todos os dias. Sem desculpas, sem justificativas, porque só assim a graduação vale alguma coisa.
Muitas vezes lhe é dado algo que você nem imaginava poder ter. Eu acredito que quando isso acontece, pessoas boas farão o bem com isso, pessoas más fão o mal com isso e pessoas sem caráter vão transitar entre o bem e o mal, sempre de acordo com o que for mais vantajoso para o próprio ego. Ter é importante, ser também é, mas no final das contas, o que faz realmente a diferença, é o que você faz com o que você tem, com o que você é.
Não me imaginava Nidan, da mesma forma que eu sei que o meu irmão não se imaginava Yondan. Não porque ele escreveu esta semana, nem porque ele me disse algum dia, porque não disse. Mas porque viemos do mesmo lugar e eu sei que ele não se imaginava.
Quem você é hoje e quem você quer ser amanhã sempre vai depender diretamente das coisas que você recebe da vida sem nem imaginar. Logo adiante, vai depender do que você imagina e da sua capacidade de ser fiel aos princípios e caminhos que te levam a esta imaginação.
Não existe enganação com esta imaginação, porque ela é sua. Não existem atalhos, nem "cheat codes", só existe o seu caráter dizendo verdades para si mesmo.
Treinar mais, para honrar as coisas que você mal podia imaginar. Ser melhor, para ter o que imaginar.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Jokyo - Yon Dan
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quinta-feira, 5 de julho de 2012
Mais "Sen"
Para a Shizuoka Goju-Kan do Brasil, ter mais alunos significava um certo sucesso na empreitada. Para o meu irmão, significava mais trabalho. E para mim, significava mais olhos me observando. Era preciso ser o exemplo.
Talvez tenha sido a época de mais cobrança na minha vida. Meu irmão não me cobrava abertamente, mas com os seus olhares de reprovação em cada falha ou com os socos e chutes que vinham quando lutávamos nos treinos de portas fechadas, não era necessário dizer muita coisa. A mensagem sempre vinha e eu absorvia como dava, bem ou mal.
Essa época de acúmulo de responsabilidades, veio justamente na minha adolescência e certamente influenciou muito na minha formação não só como atleta, praticante ou sensei de Karate-Do, mas também como adulto.
Era a questão de chegar mais cedo, de sair mais tarde, de fazer dez a mais que os outros, de parar depois que os outros e sempre justificar a minha posição ali dentro. Todos mereciam uma vírgula, um porém, eu não. Pelo menos para mim, era isso. Ser o exemplo.
Falhei muitas vezes, vi algumas vezes resultados escaparem em campeonatos enquanto outros alunos mais novos se destacavam. Mas sempre voltei calado de cada uma dessas derrotas. Devia para mim mesmo.
Eu acreditava que um bom senpai, se fazia só com números e a cada derrota, me frustrava por não corresponder com as minhas obrigações perante os mais novos e o meu irmão.
Hoje, não tenho apenas a condição de senpai, mas também de sensei. Os anos se passam e entendo que ser um bom exemplo, se trata muito mais de quantos anos você passa querendo mais, fazendo mais, mas principalmente os anos que você acumula caindo e levantando logo em seguida, não importando a altura da queda. é preciso muito mais do que vitórias para continuar no mesmo caminho.
Ser exemplo, nada tem a ver com nunca cair ou ser invencível. Tem a ver com ser mais forte dia após dia, seja com vitórias ou derrotas. Tudo tem que te fazer melhor amanhã. Muitos, ficam pelo caminho.
A margem de erro diminui com o tempo, mas ainda sim é uma luta por vez. Continuo lutando para ser um exemplo. E é assim tem de ser. "Sen", vai adiante, toma a dianteira e segue o caminho.
Luatava então, para ser um bom exemplo.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Aprender e Ensinar
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quinta-feira, 28 de junho de 2012
Tudo no seu devido lugar
O Destino se constrói. Não, não é uma forma cética de ver a vida. Na verdade, é ter mais fé do que se possa imaginar. Não existe Destino sem trabalho.
Todas as coisas boas e ruins estão sempre no lugar certo e na hora certa, mas somente onde há alguém que trabalha duro todos os dias para construir a própria história. Nada cai do céu, Destino não é isso.
Ninguém entra numa competição de nível internacional(ou em qualquer outra que seja) para dizer "o importante é competir". Se existe alguém que entra com esta mentalidade, me desculpe mas esse alguém deveria ficar em casa vendo TV. A esta altura do campeonato, se você não entender que "o importante é competir" é só o que você ensina para criancinhas quando elas estão iniciando no esporte, meu amigo, tenho que dizer que você não serve para a coisa.
Existem resultados que acontecem por acaso, sim, de certa forma existem. Já vi gente que trabalha muito não vencer no dia do campeonato e gente que passa a vida tomando suco vencer. Essas vitórias do acaso não se repetem e os frutos(se é que dá para chamar assim, porque só há fruto onde há algo plantado e cultivado) não duram por muito tempo. E aí se explica o "de certa forma", pois pela minha maneira de ver as coisas, a vitória por acaso de um é irrelevante, porque o que conta para o Destino é derrota na hora e no lugar certo, daquele precisa aprender algo ali, para ser um verdadeiro campeão, com raízes, tronco e frutos para a vida toda.
Quem sabe o meu irmão tivesse que aprender alguma coisa ali, assim como um dia eu mesmo teria que aprender outras coisas experimentando sensações ruins. Ver um ídolo, um líder perder nunca é bom, mas é isso que na minha opinião é a verdadeira admiração. Carne, osso e trajetória de grandeza.
Costumo dizer que ninguém sabe o que vai acontecer daqui a cinco anos. Há sempre uma meta, uma expectativa, mas fato é que ninguém sabe, nem daqui cinco, muito menos dez. Em dias normais, ninguém sabe dizer, num dia onde o sabor da derrota é o que há então...
Então volto para o Destino. Tudo certo, no seu devido lugar. Existe hora para tudo, tempo para tudo para aqueles que carregam o próprio mundo nas costas todos os dias. Conheci gente, que há dez anos atrás vencia algum campeonato por acaso. Mas onde estão essas pessoas hoje? Não faço a mínima idéia... Talvez em outro lugar, fazendo outra coisa que realmente seja o "Destino" delas. Mas aqui? Aqui não.
Não é entender as derrotas de bate pronto, não é esperar que elas aconteçam, muito menos esperar que elas não aconteçam. Mas sim viver tudo que for necessário, para ser um campeão, de raíz, tronco e frutos.
Meu irmão viveu aquela frustração, mas a vida, o Destino e ele mesmo(batalhando todos os dias), reservaram algo especial para o futuro.
Sempre fui o braço direito do meu irmão e naquele dia, eu perdi junto também...
Porém tudo estava no seu devido lugar. Tudo está no seu devido lugar.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Aprendendo com as derrotas
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quinta-feira, 21 de junho de 2012
A óbvia evolução de 1997
Sempre que contei algo por aqui, deixei bem claro que nada veio de graça. Sempre frisei bem que tudo se tratou de passar por maus bocados na verdade, superar as deficiências e dificuldades à curto, médio e longo prazo.
1997 foi não apenas mais um desses anos, mas sim, um ano especial, onde pude aprender muito sobre o que é trabalhar duro pelas coisas e acima de tudo, fechar a boca, engolir as eventuais derrotas e seguir trabalhando mais.
A grandeza mora nos grandes. Parece óbvio não? Conversando num boteco na esquina, numa roda de amigos, sim, é óbvio, como meu irmão sempre diz "falar de Budo é muito fácil numa rodinha de amigos, fazer Budo é outra história". Não é óbvio, pelo menos para os fracos.
A grandeza está no que há de grande, coisas como a glória, a honra e o orgulho, que só os grandes possuem, porque trata-se basicamente de experiências acumuladas, de histórias sobre alegria, realização, mas acima de tudo, cicatrizes de uma trajetória de superação, "sem" dor, sem "última vez", sem nunca desistir daquilo que você acredita.
A grandeza mora nas tradições. Não é costume em tempos modernos as próximas gerações cantarem antes de uma Guerra, canções sobre as vitórias dos guerreiros do passado. Não é costume lutar e sonhar com um futuro, onde outros guerreiros cantem sobre a sua batalha. Não faz parte do nosso tempo.
Porém, grande é aquele quer quer o que ninguém tem, que sonha com o que ninguém sonha e nós vivemos lutando, sonhando com essas canções que nunca serão cantadas.
A grandeza mora nos grandes e não é óbvio nos dias de hoje. Engolir a sensação amarga faz parte do processo de evolução de quem entende e aprende o que é ser grande, olhando para quem é grande.
Olhava para o meu irmão e às vezes sentia raiva por não corresponder à altura. Os grandes vivem de honra, mas pagam suas contas com luta e sacrifício. 1997 era o ano de falar menos, contestar mais(a si) e treinar com tudo que eu tinha.
Os fracos não evoluem, só sofrem as cações do tempo. Os grandes fazem do tempo o que bem entendem. Para os grandes sempre se trata de levantar todos os dias dizendo a mesma coisa.
Eu quero, eu preciso.
Então, a evolução é só uma consequêcia.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Pronto para as Seletivas
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quinta-feira, 14 de junho de 2012
Crescendo no silêncio
Naquele ano do mundial da IKGA, lembro de ter visto meu irmão suar como nunca. Era um ano intenso, o Campeonato Mundial por si só, já era algo que requeria muita dedicação, responsabilidade, além disso, ainda existia o desafio de fazer a Shizuoka Goju-Kan crescer e plantar novas sementes com novas turmas, novos alunos, novas pessoas interessadas no caminho do Karate-Do.
Dos faixas pretas que atualmente continuam firmes e fortes com o Karate-Do e a Shizuoka Goju-Kan nos dias de hoje, a maioria deu seus primeiros passos, socos e chutes exatamente nesta época.
A época era dura, o terreno talvez aparentasse incerto na época, mas julgando pelo que se vê hoje, tudo indica que era sim um terreno fértil.
Não foi uma vez, nem duas vezes que vi dentro de casa o meu irmão sobrecarregado de coisas naquele ano. Acredito que esta imagem que sempre tive, dos "bastidores" faz muita diferenteça sobre a imagem que eu tenho do meu irmão como Sensei e exemplo à ser seguido. É fácil ver só o que você quer ver, o difícil é ver e conhcer o que se vê.
Nunca fui muito de falar nos treinos. Nunca fui muito de falar e comentar sobre os treinos em casa, nem mesmo com o meu irmão. Sempre aprendi mais observando os exemplos e fazendo perguntas para mim mesmo, sobre o que estava fazendo para ser grande, spbre o que eu estava fazendo para ser um exemplo. Ver os "bastidores", me fez entender muito e até hoje às vezes me pego lembrando das cenas daqiela época e penso comigo mesmo, que exatamente tudo que o meu irmão conseguiu até hoje, foi fruto de muito suor e trabalho. Não devia ser nada fácil e hoje, muitas vezes passando por situações parecidas, dou uma risada por entender situações de anos atrás.
A questão é que tudo na vida realmente tem um preço. Entretanto o que as pessoas esquecem, é que geralmente é necessário pagar antes de ter as coisas. Isso é como assinar um contrato sem ler e depois reclamar.
Com o volume de responsabilidades, número de aulas e treinamentos do meu irmão para o Mundial daquele ano, aumentaram por tabela, as minhas responsabilidades e treinamentos, mais bagagem para carregar nas costas, mais pedras no sapato e muitos kimonos para a minha querida mãe lavar.
Mais do que nunca, agora eu era "o irmão", mas tinha plena consciência de que tinha de ser "O" irmão. Com novos alunos entrando, eu tinha de me tornar um exemplo. Não tinha direito de falhar, não tinha direito de fracassar e não tinha direito de desapontar o meu irmão. Ter o direito, significava desapontar a si mesmo, esse era o ponto de vista que fazia com que eu me cobrasse em silêncio em cada treino. Se era para ser forte, eu tinha de ser o mais forte, se era para ser rápido, eu tinha de ser o mais rápido, assim como meu irmão fez comigo, eu nunca peguei leve com niguém e creio que os que ficaram, entendem o porque de tudo isso.
A responsailidade só mora no silêncio e as respostas são sempre pelas atitudes. No silêncio de quem se cobra, é só assim que nasce, cresce e evolui a consciência de que você mais do que ninguém precisa ser melhor, precisa fazer melhor. E treinar não é isso? Eu penso que é.
De nada adianta ter exemplos se você não seguí-los. No silêncio, da sua responsabilidade.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Seletiva para o Mundial 1997
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quinta-feira, 7 de junho de 2012
O certo e o certo
Ganhar era bom e continua sendo. Vencer é ter o seu mérito reconhecido, ter todo sacrifício coroado com troféus e medalhas. Porém o que vale mesmo, é o valor que você para os próprios sacrifícios feitos e é somente isso que tem valor numa medalha, você dá o seu valor.
Vencer era bom, mas sempre aprendi que o mérito constrói além de medalhas, o caráter de um homem.
O treino constrói o caráter de um homem. Só existe sinceridade e humildade naqueles que buscam merecer suas medalhas e graduações. O caráter mora no mérito e este sempre depende de trabalho.
Trabalhar em cima dos seus deveres sempre em primeiro lugar, antes de questionar sobre os seus direitos. Um homem que não é direito, não possui direito. Quem deve, nunca merece.
Havia aquela boa sensaçãode ser recompensando, ganhando uma bolsa de estudos, deixando minha família toda orgulhosa, vendo as coisas caminhando bem para o meu irmão e a Shizuoka Goju-Kan. Tudo porque trabalhamos e merecemos. Somente isso nos satisfaz até hoje. Mérito.
Costumamos dizer, o que ouvimos de nossos senseis. Que Karate não possui meio termo, que não existe Karate mais ou menos. Ou é ou não é. Não existe meio Sanchin-dachi ou meio Jodan-zuki. O que existe é o certo e o errado. sendo que se a busca pelo que é correto for o maior objetivo prático e moral do treino, nunca haverá o errado, haverá sim sempre a busca pelo certo. A sinceridade mora nesta busca e a humildade só existe nesta busca.
A Shizuoka Goju-Kan estava começando no Brasil e com elas novas sementes eram plantadas. Hoje, com o passar do tempo temos muito mais do que frutos, temos um ideal sólido que traduz o treinamento do Dojo com três palavras: Sinceridade, humildade e mérito.
Num Dojo, se constrói um ideal, criando coisas boas para o mundo através do caráter. Cria-se para o mundo e quem não pratica tal sinceridade, num local chamado de "local do caminho", não creio que esteja pisando no lugar certo.
O certo e o certo. É só o que existe, para aqueles que criam algo, deixam algo que faça a diferença no mundo.
E lembro então da educação que meu pai e meu irmão me deram: De mais ou menos, o mundo está cheio.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Oportunidades
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quinta-feira, 31 de maio de 2012
Um talento, um desejo
Nunca fui o melhor dos alunos. Nunca fui o melhor dos atletas e até hoje me vejo desta forma. Muitas vezes penso no que sobra de talento nato em mim, se eu tirar toda quantidade de treino e dedicação exigida até hoje. A resposta que encontro é sempre a mesma: Nenhum.
Vencer naquele dia, foi um passo importante dentro do meu caminho.
Eu nunca fui como o meu irmão. Nunca fui o mais confiante, nem o mais otimista. Mas eu aprendi.
Vencer em um terreno onde as pessoas não te conhecem, é provar a sua capacidade pela capacidade. Não existe "nome", não existe política, não existe nada a não ser a prova do seu merecimento. Então é o que vale.
Merecer é o que conta no travesseiro.
Naquele ginásio velho, a jornada se tornava mais sólida e um desejo era moldado com aquela vitória. À partir daquele dia, eu comecei a acreditar que realmente existia algum talento em mim, ali eu comecei a acreditar de verdade que eu podia fazer coisas que só eu podia. Ver coisas que ninguém vê, fazer coisas que ninguém faz, ser o que ninguém é.
Ser um campeão, que nasce, que se cria muito antes de qualquer título, resultado, medalha, dinheiro ou qualquer outra coisa do tipo. Ninguém nasce com uma coroa no meu modo de ver o mundo, você conquista.
De lá para cá, enfrentei atletas de diversos tipos, tamanhos e nacionalidades. Uns melhores que eu, outros não. Foram muitas derrotas e vitórias até aqui, eu continuo olhando para algo que eu ainda não consegui, para um lugar onde nunca estive, sempre com base naquele mesmo desejo moldado naquele dia.
Perdi a conta de quantas manhãs de inverno acordei às 5h da manhã para correr, de quantos golpes dei treinando sozinho, de quantas repetições eu fiz a mais quando na verdade o que eu queria era vomitar e cair.
Tive lesões que me acordaram no meio da noite e já pensei que não poderia mais fazer o que mais amo no dia seguinte, tenho lesões e não as uso como desculpa para justificar as minhas falhas. Eu treino com dor. Eu ignoro a dor.
Não há desculpas. Só um desejo e esse, talvez seja o meu talento.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Mendoza - Argentina
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quinta-feira, 24 de maio de 2012
Que comece a viagem
Competir nunca fez de mim um astro de propaganda de marcas de material esportivo, nem muito menos um milionário astro como no basquete americano.
Competir, com excessão de pouquíssimas vezes ou fazes da vidade atleta, sempre me trouxe muito mais prejuízo financeiro do que outra coisa. Mas se por um lado gastei muito dinheiro, se fiz a minha família gastar dinheiro, não posso dizer que eu não tenha aproveitado cada momento de cada viagem.
Para este campeonato na Argentina, acabei recebendo uma pequena ajuda da escola onde estudava naquela época, o que mais tarde acabou me rendendo uma bolsa de estudos integral e aí, pode-se dizer que quitei a dívida(em partes) com o meu pai, pagando assim pelo menos os meus estudos.
Mas isso é uma outra história, porque eu nem se quer tinha ido para a Argentina e as contas se pagaram na escola depois que eu voltei, então voltemos ao assunto da pré viagem.
Tirando a viagem feita para oa Japão, eu nunca tinha visitado outro país. Está certo que par quem viaja para o Japão, qualquer viagem se torna curta e sem muito mistério, mas conhecer outro país era algo que eu ganhava como bônus por competir(assim continua até hoje).
Se não trouxe financeira muito mais do que algumas dívidas adquiridas e pagas ao longo do tempo, culturamente é sempre enriquecedora a experiência de ter contato com outros povos, suas culturas e costumes. E talvez mais importante ainda, é o fato de ter dividido tantas vezes esses momentos fora do país com amigos e parceiros de jornada. Conheci novas culturas, respirei ares diferentes e agradeço ao Karate por ter ganho amigos que podem contar as mesmas histórias que eu conto das minhas jornadas.
Competir é uma viagem, que você tem que curtir. Principalmente sendo atleta de Karate. E eu acredito que ali, naquela terra, naquele ginásio gringo, depois de alguns apuros em terra Argentina,lá estávamos nós, eu e o meu irmão.
Começava então a minha viagem.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Shizuoka Goju-kan na Argentina
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quinta-feira, 17 de maio de 2012
Moldando o merecimento
Com um kimono a menos e uma faixa preta, um objeto muito pessoal e significativo a menos, voltei para casa. Com algumas histórias novas, umas boas, outras nem tanto, mas com uma nova experiência adquirida que sem dúvida me serviu muito bem como cartão de visitas, de como as coisas funcionavam por aqui.
Trouxe comigo também novas amizades que naquela época eu mal imaginava que seriam tão duradouras. Se existe uma coisa dentro da vida de atleta de Karate que posso dizer que ganhamos de verdade, já que não há glamour nenhum, não há salários milinoários, mídia nem nada do tipo é a amizade daqueles que lutam muitas vezes como adversários, mas que ao longo dos anos acabam se tornando grandes parceiros de uma parte do caminho do Karate-Do que é a competição.
Dentro de alguns meses, o Sul-Americano da Goju-Kai nos esperava lá na Argentina. O primeiro como Brasil, o primeiro como Shizuoka Goju-Kan do Brasil, fora do Brasil.
Treinar duro não era novidade. Novos desafios para o meu irmão, só funcionavam como lenha nova jogada na fornalha e eu, ia nesse embalo como parceiro de treino.
Treinar Karate se trata sempre de sinceridade. Aquele que não traz a sinceridade para o treino, que fique em casa. O treino é duro e mesmo maior, mesmo um pouco mais velho, eu ainda penava e muito para acompanhar o ritmo do meu irmão. Nunca teve um dia sequer que o nosso treino não tenha sido sincero. Dos acertos aos erros, das defesas aos ataques, tudo tinha a marca da verdade de cada um.
Quem quer competir, precisa querer merecer. Não existem títulos, medalhas e resultados construídos somente com a sorte. A sorte, a oportunidade existe, mas quem nãoestá preparado, simplesmente não aproveita e acaba dependendo de mais sorte, que neste caso dá para dizer que é cuspir na sorte anterior.
Nós sempre treinamos, lutamos e trabalhos muito duro correndo atrás do merecimento. Sem merecimento, não importa o que for, não tem valor.
Você é muito antes de ter as coisas e nós contruíamos e continuamos construindo o que nós somos ali, dentro daquele Karate-Gi surrado de treino, encharcado de suor.
E no final do treino, só existe uma pergunta:
Você foi sincero com o melhor e o pior de você?
A resposta é o que você leva, em busca do seu merecimento. Naquele ano, naqueles treinos, eu tenho a maior certeza do mundo, que merecimento nunca nos faltou.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Saito Brothers - Shizuoka Goju-kan do Brasil
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quinta-feira, 10 de maio de 2012
Realidades e Guerreiros que dizem sim
Desde a minha volta, tinha competido apenas uma vez em solo nacional. Em tal experiência fui bem, ganhando medalha e tudo mais. Mas acredito que aquela experiência não conta muito como "dia de campeonato no Brasil". Isso porque naquele dia, eu fui acompanhado dos meus pais e logo após ter cumprido com o meu dever ao competir, fui embora e nem vi a competição msmo, o evento todo em si.
Se você é atleta de Karate, se você já foi atleta de Karate, você sabe do que estou falando quando digo "o evento todo em si". Passar o dia todo num ginásio, quando a competição é relativamente bem organizada para os padrões brasileiros, já não é lá um dos programas mais agradáveis para levar a família toda(deveria, mas não é).
Pois bem, até aquele momento na van, eu não conhecia essa realidade.
Talvez eu me lembre daquele campeonato como um dos mais terríveis em que já estive. Não sei se é por conta do choque ou se de fato foi tão ruim assim. O ginásio, bem, não era um ginásio. Era algo como um centro de convenções ou coisa assim, com uma espécie de piso frio, totalmente adequado para competições esportivas(ironia). Olhava ao redor daquel ginásio e não sabia muito o que pensar a respeito. Passamos um tremendo frio dormindo no chão do "alojamento" ou melhor, passamos a noite, porque o pessoal não colaborava muito e era uma zona que só.
Pouco a pouco na competição, conhecíamos as pessoas dali daquele meio. Mesmo passado tanto tempo, algumas dessas pessoas continuam na ativa e treinando o bom e velho Karate-Do como nós, tenho orgulho de conhecê-las, outras porém já não estão trilhando o mesmo caminho. São escolhas da vida, onde sempre há a opção de ficar ou partir. Eu sinto orgulho por todo dia ser aquele que fica, assim como tenho orgulhod o meu irmão e também dests amigos que até hoje continuam dizendo sim para o Karate-Do.
Uma lembrança que beira o bizzaro neste campeonato, foi ver um sujeito fazer o Kata na categoria do meu irmão logo apoós terminar sua apresentação, se ajoelhar em seiza e esperar a nota, enquanto os juízes levantavam seus caderninhos com as notas anotadas, mas todos sentados em cadeiras normais e o sujeito ali, ajoelhado, como se aquilo fosse um sinal de respeito a mais que lhe fosse dar algum ponto extra.
Quando vi aquilo pensei comigo: Mas o que diabos é isso? Será que é assim que as coisas funcionam aqui? Nunca vi isso no Japão! No Japão! A Terra do Karate!
Para o meu alívio, não, não eram. Se tratava apenas de uma melância no pescoço.
A missão foi cumprida, mas tudo era muito diferente e por hora, eu e o meu irmão eramos só dois forasteiros naquele meio. Tão forasteiro talvez que alguém decidiu roubar a minha mala! Com Karate-Gi e faixa preta dada pelo meu sensei no Japão(alguém viu por aí? Ainda está em tempo de devolver).
Dizem que a primeira impressão é a que fica. Mas nesse caso, o tempo levou ela embora junto com um bocado de coisas e o que fica na verdade, são aqueles que sempre estão dizendo sim ao Karate.
Se hoje escrevemos essa história, é porque o sim, sempre foi a nossa resposta.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Saito Brothers Brasil
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quinta-feira, 3 de maio de 2012
Os Mestres de uma viagem
Mal tinha voltado do Japão e lá estava o meu irmão já engajado naquilo que seria a nossa nova jornada juntos pelo Karate. O destino era a cidade de Serra Negra.
A van era apertada e eu não conhecia as pessoas. Porém, tinha de novo o meu irmão ao meu lado e isso bastava para que eu fosse para qualquer canto sem saber muito bem o destino.
Foi neste dia que eu conheci o mestre Ryuzo Watanabe e logo de cara eu já tive a mesma impressão que carrego ate hoje do sensei. Alegre, receptivo e de bom coração. Esta primeira imagem que tive do sensei naquele dia dentro daquela van apertada, foi a imagem que eu vi durante os anos que pude ter contato com ele e é sem dúvida alguma a imagem que eu guardo hoje, mesmo após sua morte ocorrida anos atrás.
É engraçado, porque uma vez mestre, sempre mestre e estes, parecem todos iguais.
Como brasileiro, posso dizer que sou uma pessoa de sorte. Pois conheci vários sujeitos que se enquadram nesta categoria acima dos seres comuns.
A sabedoria, a humildade e a sensação transmitida de que tudo, não importa o que seja, vai ficar bem. Em palavras, seria mais ou menos esta a sensação de estar junto de uma pessoa do meio do Budo, chamada de mestre. E essa era a sensação que eu tinha, treinando com o sensei Konomoto e ali, naquele momento com o sensei Watanabe.
Claro que naquela época eu não tinha muito a noção do tamanho do privilégio que a vida me deu por poder aprender com figuras tão importantes da vivência do Budo. Hoje paro, penso muito a respeito e vejo que a formação da minha base como Budoka e também como pessoa, deve-se e muito ao convívio que pude ter ao lado destes mestres.
A técnica, sim claro, mas mais importante que isso, eu aprendi com eles o que é certo e o que é errado para seguir trilhando o caminho do Karate-Do. Lição que faz toda diferença, não existe honra em quem não não respeita o certo e o errado dentro da arte marcial.
O Karate-Do é uma longa viagem e os mestres já rodaram um mundo todo.
Uma longa viagem era aquela, naquela van apertada e sem muito conforto. Mas lembrar do sensei Watanabe feliz e sorridente naquele dia parece ser uma lembrança muito mais forte do que o tempo, o desconforto ou até mesmo aquela viagem em si.
Porém chegando ali, eu descobriria que o mundo do Karate, não é o mesmo em todo lugar e que as coisas funcionavam de uma forma bem diferente agora...
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Nosso Caminho
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quinta-feira, 26 de abril de 2012
Irmão de sangue
Buscar o meu no aeroporto era algo que me causava euforia e alegria, porém ao mesmo tempo havia uma sensação estranha. No caminho do aeroporto, um misto de sensações. Entre aquela alegria pelo reencontro e a certa estranheza.
Num período curto de tempo talvez eu tenha mudado muito, ou pelo menos achava que tinha mudado muito e de certa forma eu não sabia muito bem se mesmo assim tudo continuava a mesma coisa.
É claro que hoje, eu sei que certas coisas e nesse caso, as mais importantes, nunca mudam. Nem com o tempo, nem com outras circunstâncias da vida. O sangue permanece sangue, o caminho permanece o mesmo caminho e estes dois fatores se cruzam, se confundem entre si ao longo dos anos, então além do sangue, o caminho nos faz irmãos.
Um silêncio pairava nos meus pensamentos. Em mais desses dias que definem o que é a nossa história. Vejo o meu irmão no portão de desembarque e era simples como é hoje, irmão de sangue, amigos de verdade.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Aguardando o retorno
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Todo presente, se faz presente
Generosidade e humildade são palavras que para mim,. definem grande parte do que significa a palavra Mestre, quando o assunto é Karate-Do.
Por trás de todo conhecimento, de anos de vivência percorrendo um longo caminho, sempre há uma base gigante que expressa tais qualidades.
O Konomoto sensei não era diferente. Ou melhor, ele é a definição da palavra Mestre. Em cada gesto, eu nunca vi um sinal que mostrasse qualquer falta de humildade. E acredito, que o caminho natural do Nagatani sensei seguia pelo mesmo destino.
Os presentes, vindos destes senseis, se contar com os pães de sua padaria, que o sensei Nagatani nos dava sempre após os treinos do sábado para que não gastássemos dinheiro com comida na volta para casa, eram presentes frequentes.
Os pães do sensei Nagatani, a luva da Mizuno que ganhei da Kondo-san, o dinheiro que recebi do sensei de Hamakita, a medalha que um dia foi do sensei Konomoto e que num dia, em uma lição sobre desapego, simplesmente me deu. Tudo isso, todos estes presentes continuam presente na minha vida.
Para mim, mais do que agrado, estes presentes significam confiança e esperança depositadas em nós naquela época. O engraçado disso tudo é que hoje, ao lembrar destas coisas e ao pegar em mãos alguns destes objetos, eu sinto o que eles depositaram nestes presentes. Confiança e esperança.
Existem presentes que só tem como função agradar. Nada de errado com isso, se este for o propósito. Mas existem outros presentes que acredito que poucas pessoas tem a honra de receber na vida, presentes que se fazem presentes, porque você honra, sua, chora e sorri para manter os valores daqueles objetos e memórias intactos.
O valor de cada presente, permanece aqui. Nós estamos presentes.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Presente Especial
quinta-feira, 12 de abril de 2012
O Bastante
Ganhava finalmente altura e perdia peso, ou melhor, não perdia peso e só crescia mesmo. Dos doze ao início dos meus quatorze anos, posso dizer que fui gordinho e baixinho. Tudo que alguém pode desejar(ao contrário) nesta fase da vida. Mas os dias de pouca estatura e peso a mais, ficava para trás naquele ano em que finalmente chegava o meu estirão.
A falta de altura já me causava muitos problemas desde o último ano em que morei no Japão. Já estava difícil competir com a diferença de altura.
Da mesma forma também que era dureza perder tais competições e ainda ter que "aturar" o meu irmão nos treinos de portas fechadas. Eu queria ser maior que aquele pouco mais que um metro e meio.
Porém agora as coisas estavam mudando. Naquele ano ganhei uns centímetros a mais que de certa forma me moldavam, talvez a vida e o tempo me preparava para a volta do meu irmão.
Nesta época, influenciado pelos novos moldes em que o meu corpo se ajeitava, eu peguei gosto pelos exercícios abdominais, talvz até por um certo trauma de nunca mais querer ser o gordinho de novo.
Fazia então meus treinos de Karate e tomava gosto pelo que se pode fazer de bônus quando ninguém estava me cobrando. Talvez esta tenha sido a minha primeira experiência de fato com o fator "treinar sozinho", por conta própria, por gosto próprio e pelas próprias metas.
Porém com toda a ingenuidade do mundo eu cometia um erro grave que mais tarde colocaria todo este prazer que eu sentia naquele momento no chão.
Eu achava que era o bastante, me satisfazia crendo que era o bastante e é aí que eu me enganava.