quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Deixando tudo para trás


O ano vai virando e está quase na hora de jogar o atual calendário fora. Sempre nessa época do ano eu lembro de tudo que vivi até aqui, não só deste ano que passou, mas de todos os anos que se passaram + este que agora se passa.

Olho para os objetos na minha mesa, desde os mais antigos até os mais recentes, lembro do dia em que foram parar ali e de qual era a sensação que tive no dia em que os avistei pela primeira vez.
Todo fim de ano eu faço exatamente a mesma coisa com as lembranças que guardo dentro da minha cabeça. Tiro a poeira, pego na mão e dou uma bela encarada.

Não há tempo que pare ou que volte.
Faz tanto tempo que vivi no Japão e tanta coisa já ficou para trás. Mas não estou dizendo isso(ficou para trás) no sentido de largar ou abandonar, mas sim de ter vivido tantos bons momentos, um atrás do outro que ao analisar mais um ano que termina, dá orgulho e saudade de tanta coisa boa que já está tão distante na linha do tempo.

É uma sensação boa. Deixar tudo para trás é bom, para aqueles que continuam vivendo, sentindo, trabalhando e sendo a mesma pessoa em sua essência, a mesma daquele tempo já longínquo. É bom olhar para trás se você continua o mesmo, da mesma forma que é inspirador olhar para frente e sentir que muitos outros bons momentos estão logo ali adiante.

Penso que esse é o jeito correto de passar pela vida. Se existe o passado, é honrando com o presente, se existe saudade, é uma saudade boa e se o futuro promete, só promete porque você está fazendo a coisa certa.

Então respiro fundo e mesmo hoje não tendo uma história bacana para contar da época em que era apenas um menino aprendendo sobre Karate ou sobre a vida com o meu irmão, no Japão, sei que é um bom dia para contar para mim mesmo que tudo é bom, porque fizemos com que fosse bom até aqui.

Deixo tudo para trás então mais uma vez em busca de algo logo ali, algo que sempre faz os meus olhos brilharem. Pensar sobre o ano  novo que se aproxima é entender que tudo foi tão divertido até aqui. Sim, divertido. Os dias bons, os ruins, o que aprendi, enfim, tudo!
Não faz sentindo, se não ver Graça. Não faz sentido se não gostar. Gostar de criar, gostar de praticar, gostar de trabalhar para crescer!! Gostar de caminhar!!

Então, deixo tudo para trás!! Nos vemos no ano que vem! Os Saito Brothers desejam à todos um FELIZ ANO NOVO!!!

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Família acima de tudo

Quando não estávamos treinando, passávamos nossos dias em família. Comemorarmos aniversários, Natal, Ano Novo, tinha um sabor especial, já que alguns anos atrás, tive a experiência de passar estas datas sozinho e pude comprovar que a solidão não é boa para ninguém. Por isso, a família tem um valor essencial para mim.
Viver em harmonia, buscando trilhar o caminho, ao lado da família, isso era além de estimulador, uma forma de poder cumprir também o papel de quem queria honrar o nome dos antepassados.

Nosso vida diária era corrida, nossos treinos eram pesados, mas era sempre descontraído estar sempre ao lado da família. O conceito do karate-do em relação à família tinha todo o propósito de melhoria do ser humano através de sua prática, e por isso era também uma ferramenta importante no meu aprendizado.

Minhas lembranças desta época são sempre muito boas e me trazem flashs de alegria e felicidade. Compartilhar esta alegria com meu brother Horácio era uma coisa que fazíamos sempre, seja conversando durante um treino, ou logo após seu término na volta para casa, de ônibus, táxi, trem ou mesmo a pé. Realmente o que faz um caminho valer a pena é o seu percurso e o valor que tudo isso representa, o nosso era, é e acredito que sempre será isso......

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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Naturalmente um mundo pela frente

Com treze anos de idade eu tinha a minha faixa preta. Aquela, que geralmente no Ocidente as pessoas cobiçam tanto desde o primeiro dia em que pisam num Dojo de Karate. Sim eu digo no Ocidente, porque eu nunca vi coisa do tipo lá naquele canto do mundo.

No Japão, era muito mais comum, e é muito mais comum a palavra naturalidade do que a palavra cobiça. De uma forma bem geral, os japoneses vivem a vida com fluidez e naturalidade. Existem metas, desafios e ambições sim, mas sempre tudo parece estar de acordo com um plano muito maior, sempre organizado pela disciplina e dedicação nos afazeres. Então sempre o que se vê é uma naturalidade nas coisas, pois sempre a cabeça está focada no trabalho do dia de hoje. Amanhã é importante, mas os pensamentos no agora, é o que tem para o dia de hoje.
Se eu for colocar isso como Karate-Do, que é uma arte criada para a Defesa, direi o que sempre digo. Contragolpe não existe sem defesa.

Todo mundo vai chegar onde quer. É o que transparece no trabalho silencioso daquele povo, que nunca reclama das coisas. É como se todos compreendessem muito bem que se o trabalho é bem feito, não há porque os resultados não aparecerem. Parece bem óbvia essa mentalidade, mas pelo menos por aqui no Ocidente, eu vejo isso sendo óbvio somente na teoria e para alguns casos, nem na teoria, o que muitas vezes acabam resultado na cobiça pelas coisas de uma forma errada.

O tempo é precioso, nunca volta atrás e muitas vezes as pessoas iniciam alguma coisa, já pensando no dia em que chegarão ao fim, algumas vezes até procurando "atalhos" para este "fim".

Como Karate, é Do, que também se lê como Michi(caminho), creio que existe a extrema importância de se prestar muito mais antenção e captar os detalhes do caminho, tentando captar e absorver o máximo possível de todo o trajeto pelo qual seus pés caminham. Para onde vai interessa, mas por onde anda conta muito mais.

Ser faixa preta para mim era divertido e óbvio. Eu fiz o necessário para estar ali e nunca naquela época, me via andando pelos caminhos de hoje portando um terceiro Dan. De trecho em trecho, treinando(caminhando), prestando o máximo de antenção nos detalhes o tempo voa e quando menos se percebe, um bom tempo se passou e o mais interessante de tudo, sempre existe um mundo imenso pela frente!

Um mundo tão grande, que ao programar o próximo passo, se olhar demais até assusta um pouco, mas volto a olhar para os meus pés, respirar fundo, olhar ao redor, sorrir e agradecer.

Treze anos de idade, respira fundo e segue adiante. Era assim naquela época, é assim nos dias de hoje. Naturalmente, existe um mundo pela frente.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um nome, um ideal, honra e história

No Japão, o nome da família tem um valor incalculável. O nome da família conta com um registro em sua Prefeitura de origem, onde consta a árvore genealógica com todos os antepassados. Por isso é ensinado que nunca se deve envergonhar e desonrar o nome da família, uma herança da época dos samurais e motivo real de valor. Por isso em nossos karate-gis estão bordados os kanjis de nossa família e não de nosso nome próprio.

No Honbu Dojo de Shizuoka, lá estavam nossos sobrenomes em plaquetas na parede. Isto significava que estávamos ali para termos responsabilidade e para honrar o Dojo e nossa família. Agora a família Saito tinha dois representantes que deveriam honrar com dignidade o Dojo e também a família.

Ser um faixa preta significa ter a responsabilidade e cumprimento do caminho acima de qualquer ambição pessoal. E ali estávamos agora, trilhando o nosso caminho, buscando o cumprimento de um ideal.
Treinar com afinco, buscar a superação dos próprios limites, ter em mente que agora não se trata apenas de si mesmo, mas de todo um legado.

Honrar nosso Mestre, honrar nosso Dojo, honrar o nome de nossa família e buscar com isso um lugar no história do Karate-do Goju-ryu.

O ano era de 1995 e se queríamos algo era preciso trabalhar duro, trabalhar muito.

Saito Brothers, Karate-do Goju-ryu, família e honra.....

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

50% e Karate-Do antes de tudo!

Sempre quando competi, tive o meu irmão do meu lado. Enquanto aguardava sentado, vendo os outtos garotos lutarem ou fazerem seus Katas, meu irmão sempre estava ali comigo, me falando coisas sobre as lutas que aconteciam, me orientando sobre possíveis adversários, dando conselhos sobre como eu devia me comportar durante a luta ou anotando as notas dos Katas numa folha de papel.

No Japão, além de na maioria das vezes as categorias terem muitos participantes, o que já aumentava a dificuldade das coisas, sempre a competitividade entre estes era muito grande. Era tudo muito equilibrado, onde lutas se decidiam sempre em detalhes, e décimos de ponto dividiam as colocações na competição de Kata.

Hoje, lembro de coisas que agora são engraçadas, mas que na época eram um tanto quanto frustrantes. Lembro de algumas vezes na competição de Kata, onde tirava notas boas, lá pela apresentação do atleta número 30, estar perfeitamente no páreo para passar para a final ou até mesmo conseguir uma boa colocação e ganhar um troféu. Porém, na medida que os atletas se apresentavam, Kata após Kata, meu irmão me dizia "ah, esse te passou por um décimo", "ah esse te passou por dois" e quando a categoria chegava ao seu fim, lá no atleta de número 100, eu já não estava tão no páreo assim.

Estar entre aqueles 50% que tinham chance de brigar pelo título, para mim já era motivo de alegria pois o nível é muito alto e parecido entre os atletas que compõe essa fatia. Mas é claro que só isso não era nem de longe o bastante, o interessante mesmo era ganhar!

E um fator muito curioso, é que por mais competitivo que fosse, por mais que o número de atletas fosse grande, eu nunca vi nenhum atleta questionar a decisão de árbitro algum. Nunca vi o meu irmão duvidar de resultados e voltar reclamando para casa. Sempre o vi dizendo que tinha que treinar mais. Isso sempre serviu para mim também.

Além do respeito de quem compete, acredito que no Karate Japonês, assim como no Japão em todas as áreas, cada um faz o seu papel com muito orgulho, amor e competência. Antes de atletas eu via alunos de Karate-Do, antes de técnicos eu via Senseis de Karate-Do, antes de árbitros eu via ali sentados Senseis e Mestres de Karate-Do. É claro que o erro faz parte da condição humana e muitas vezes por mais perfeito que fosse, algum erro acontecia, mas quando se sabe que todos ali fazem devidamente a sua parte sempre, literalmente não há nunca do que reclamar.

Muitas coisas no mundo da competição hoje em dia(no Ocidente), não dão certo justamente porque as pessoas não fazem a sua parte e tudo vira uma bola de neve. Antes de tudo, há o Karate-Do, caso contrário nada faz sentido.

Antes de tudo, há sempre o Karate-Do e sua filosofia.

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Treinar como Budoka competir como atleta

Uma das coisas que admiro no Japão é a capacidade que as pessoas tem em assimilar e conviver com o que há de mais tradicional com o super moderno em perfeita harmonia e sem conflitos. Nos treinamentos em nosso Dojo era exatamente desta forma que os Senseis conduziam os ensinamentos. A tradição se mostrava presente em tudo que fazíamos, etiqueta, cerimonial, hierarquia, formas de treinamento, etc. Porém, éramos estimulados a competir, e com isso, aprendíamos as regras da competição e as características "modernas" do Karate-do.

Na competição tínhamos a chance de colocar alguns fatores em prática e nos colocar também em teste, a principio contra os adversários, depois contra nós mesmos.

Com este ensinamento, pude aprender a não ser "radical" e aproveitar o que há de melhor tanto dos treinamentos tradicionais e também da competição.
Como este pensamento no nosso Dojo era praticado por todos, o Horácio também fazia parte disso, por isso quando ele se formou faixa preta, já era parte da equipe que representava o Honbu Dojo em várias competições.
O treinamento sempre foi muito intenso, muito detalhista e perfeccionista. Pensando assim não é difícil de imaginar que na competição seria fácil de se destacar, certo? No caso do Japão, não. Porque todos os Dojos também pensam assim. Então em uma categoria onde haviam cerca de cem competidores, dava para se afirmar com certeza que, pelo menos 50% eram fortes candidatos ao título de Campeão, era portanto, uma competição muito acirrada.

Aprendemos sempre com nossas derrotas e este ensinamento de saber perder é muito importante. Mas, por outro lado, é necessário também saber "ganhar", pois ganhar uma vez pode ser difícil, mas se manter, pode ser ainda mais. A competição pode ser que tenha uma data de validade, mas quem pratica como Budoka sabe que o karate tem que ser para a vida toda, por isso os ensinamentos do Hanshi Konomoto são para mim um verdadeiro tesouro.

O Horácio estava aprendendo a se tornar um Budoka e com grande mérito iniciando sua carreira de atleta e de suas conquistas......

Horácio Saito - Campeão Estadual Shobukan Aichi-ken


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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Só existe 1995

O ano de 1995 deve ter sido um dos anos mais marcantes da minha vida. Um dia após completar treze anos de idade, recebo pelas mãos do sensei a minha faixa preta. Estava me destacando bem nos campeonatos e sempre indo para cima e para baixo com o meu irmão, fosse nos treinos, fosse nas horas de lazer.

Um ano em que era muito fácil descrever o que era ser feliz. Continuava sendo o mesmo garoto de sempre, com meus amigos japoneses, me divertindo como nunca e aproveitando os meus dias ali como se não existisse mais nada no mundo, provavelmente não existia mesmo.

Os Saito sempre foram e sempre serão passionais e intensos. E com toda a nossa história, nunca foi diferente.
É o que é e por mais que novos desafios e responsabilidades surgissem pela frente, nada mudou, muda ou irá mudar a nossa maneira de encarar todos os momentos da vida. Talvez essa característica nossa, seja também uma das características únicas que faz o nosso caminho ser do jeito que é.

Frequentar diferentes Dojos, nos sete dias da semana junto com o meu irmão, agora como faixa preta. Se a disputa com os "rivais" locais já era intensa quando eu era faixa marrom, não seria agora sendo faixa preta que isso ficaria mais fácil.

Talvez esta tenha sido a demonstração mais prática possível de que nada muda com a cor da sua faixa, só a responsabilidade de ter que fazer tudo melhor, inclusive, lidar com as mesmas dificuldades de antes, mas procurando atingir um patamar condizente com o que é expresso pela cor daquilo que é amarrado na cintura.

Mais treino, mais intensidade e assim segue 1995, sem mais nada no mundo.

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ser Faixa Preta

Nossos treinos, sejam eles no Honbu Dojo da Shizuoka Goju-kan na cidade de Sagara, no Dojo de Hamakita ou nos Dojos de Hamamatsu, eram sempre marcados por um fator importante: A sinceridade dos praticantes. Treinar karate ali não era um passatempo, uma diversão ou uma mera atividade física. Todos tinham um compromisso com o Sensei e com o Dojo. Os alunos não faltavam e dificilmente chegavam atrasados, sabiam da importância de não apenas estar, mas de "ser" parte do Dojo e do Karate-do. Pensando assim, os alunos desde os iniciantes aprendiam que o mais importante do que apenas estar ali, era preciso assumir o verdadeiro papel de um karate-ka.

Se tornar um faixa preta era o cumprimento de um estágio importante, o de começar a trilhar o caminho da responsabilidade, da lealdade, do respeito e de começar a aplicar tais ensinamentos. Muitas pessoas dão importância ao fato de "ter" a Faixa preta, o que não é correto. O mais importante é "ser" Faixa Preta o que significa não apenas saber as técnicas e o código de conduta, o Budo, mas segui-las à risca. Ter o karate-do não apenas como uma forma de defesa pessoal ou uma forma de se manter saudável, mas como uma filosofia de vida mesmo.

Quando se começa a caminhada de "ser" um faixa preta, tem que se ter em mente que o caminho será longo, árduo, de aprendizado e de aplicação. Assim como o símbolo do Yin e Yang, o que era um dia branco, se tornará preto para depois poder retornar a ser branco.

Assim a partir de então era o caminho dos Saito Brothers:

"Serem Faixas Pretas"......

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Desafios sinceros

Lembro daquele dia do primeiro Tameshiwari. Sentando aqui escrevendo sobre isso, lembro de como aquilo foi imprevisto e de como tudo deu certo.
Muitas vezes, não existe ensaio. A realidade é que dentro do Karate-Do, não existe ensaio. Existe treino, existe aperfeiçoamento técnico, físico, mas nunca vai existir treino capaz de reproduzir, situações onde essas técnicas serão exigidas, não só técnicas, mas situações onde você será exigido no auge da sua sinceridade.
Quando as situações te pegam de surpresa, não há nada que possa ser feito, a não ser, ser sincero. E o resultado, o rumo, o caminho para o desfecho destas situações sempre vai depender de quão em dia está a sua sinceridade. Tameshi é sobre sinceridade.

Tive medo de falhar, pois nunca havia feito qualquer coisa parecida com aquilo. Porém com o tempo, aprende-se que a coragem mora no domínio do medo e não na ausência deste, essa é a grande virtude da coragem. Meu irmão sabia, que eu não falharia, que eu podia quebrar aquelas madeiras. Naquele momento, nem eu podia afirmar com certeza se isso era possível, mas os olhos de quem ensina sabem. A árvore sempre sabe onde exatamente caem os seus frutos.

Cada vez mais, com o passar dos anos o caminho fica estreito. Os muitos que iniciaram já não se fazem presentes, você segue encarando as situações imprevisíveis que aparecem, sempre levando consigo a sinceridade para seguir adiante. Talvez sejam poucas as madeiras à serem quebradas, mas são muitos os Tameshis pela frente.

Praticar a sinceridade, para que esta sempre guie os passos nos momentos difíceis. Ser sincero, é a maior recompensa do caminho.

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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Saito Kyodai

Nossos dias no Japão seguiam uma certa rotina, o que havia aprendido, já que o Japão é um país metódico. Nossos domingos à tarde eram sempre voltados a passeios no Shopping, Game Centers, sair com os amigos ou reunir todos em casa para uma batalha de Street Fighter no vídeo game. Mas estávamos sempre juntos, seja treinando ou nos divertindo.

Lembro de um evento promovido pela Prefeitura da cidade de Hamamatsu, onde convidaram diversas personalidades para representarem seus países e suas culturas. Na oportunidade fomos convidados para representarmos o Karate do Brasil em uma apresentação com vários outros Senseis e Dojos. Foi realmente com muito orgulho que pudemos representar o nosso amado país. E talvez tenha sido a primeira vez que nos apresentamos, apenas nós dois, os irmãos Saito. Claro que não tínhamos na época a pretensão de sermos uma dupla de Bunkai, mas lembro que apresentamos o kata Kururunfa e algumas aplicações. Fizemos também algumas demonstrações de "Tameshiwari" (quebramento de tábuas), tudo proposto ali na hora, sem aviso, pelos Senseis Japoneses que estavam também se apresentando e aquela foi a primeira vez que o Horácio teve que quebrar uma madeira, sem saber como, sem ser avisado e em público. Talvez ele não tenha entendido na hora, mas aquele tinha sido um verdadeiro Tameshi e eu sabia que ele não falharia, apenas disse a ele: "Vai lá e quebra!"

Talvez este seja um dos segredos do entrosamento dos Saito Kyodai, não apenas o treinamento técnico em si, não apenas o esforço empregado por cada um, mas o fato de trilharmos juntos o Caminho do Karate-do Goju-ryu, o Caminho do Budo, mas acima de tudo o Caminho de sangue e de honra da Família Saito.


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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A era do preto e branco

Não havia motivos para não ser verdadeiro. Não há motivos para não ser verdadeiro, para mim esta continua sendo a afirmação sobre tudo isso. Os socos de ontem já foram absorvidos por quem você se tornou hoje, o que resta sempre ao amanhacer, é o que você vai fazer nas próximas vinte e quatro horas, caso contrário de nada vale o passado.
Parte do que entendo por honra, quer dizer, lutar no presente pelo futuro para ser fiel às batalhas vencidas, ser fiel às glórias do passado.
Só há espaço para a verdade na afirmação "eu sou faixa preta" e neste caso a verdade se faz nas tentativas do presente, caso contrário, a afirmação correta seria "eu era faixa preta". Quem é alguma coisa, luta.

O caminho com o passar dos anos(das faixas e graduações) se torna cada vez mais preto no branco. As perguntas exigem respostas concretas, só há espaço para sim e não. Muita gente na vida confunde equilíbrio com algo mal preenchido. Estar sempre no meio do caminho não quer dizer que isso seja equilibrado, só quer dizer que é incerto.

A era do preto e branco é o que penso sobre a faixa preta. O branco que um dia se torna preto e o preto, que por sua vez, vai ter que se "gastar" para ficar branco novamente. A cor preta é o que todos buscam no início de tudo, mas logo adiante o que se percebe é que na realidade, o grande aprendizado e o engrandecimento do ser que se procura, mora no branco.

Um papel cheio de verdades é o que guardo no final do dia, um papel cheio de mentiras não existe nem no arquivo e nem na mesa. E pela manhã, no dia seguinte, sempre há esta folha em branco esperando pelas palavras: Eu sou faixa preta.

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Kuro Obi - O início do Caminho

Agora que o Horácio havia conseguido passar no exame, caia sobre ele a responsabilidade de trilhar o caminho do verdadeiro Karate.
A faixa preta é o divisor, onde a lições aprendidas até então devem começar a ser colocadas em prática, não apenas no contexto técnico mas também em seu dia a dia.
Ele a partir de então era mais um Saito a trilhar o caminho do Karate-do Goju-ryu. Era mais um representante da Associação Shizuoka Goju-kan, discípulo do Hanshi Konomoto Takashi.
Pedi para tirar uma foto dele com sua nova faixa ao lado do Shihan dai do Dojo, Sensei Nagatani. Acredito que todas as dificuldades do percurso são apenas testes para que nos fortalecer e nos preparar para podermos trilhar o caminho da sinceridade.

Nem é preciso dizer o orgulho de toda a família Saito, ainda mais porque até mesmo para os padrões japoneses, o Horácio havia conseguido chegar até aquele estágio de forma muito rápida, em menos de três anos, merecendo até reportagens em jornais locais.

Para quem sabe o verdadeiro valor do Budo e o que representa o fato de ser aceito como Kuro Obi em um Dojo Tradicional, aquele era um momento memorável.

Kuro Obi, aquele era o início do Caminho dele......

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Onde as coisas começam

O lugar era o mesmo, as pessoas também. Os mesmos golpes, as mesmas sequências, os mesmos passos. O clima lá fora, não era diferente daquele encontrado há alguns anos atrás, ali, naquele mesmo lugar.

O gosto da água no intervalo, era o mesmo de sempre.
Mas algo mudara naquele dia.

O Karate-Do, é arte, o caminho por onde aprendemos através de um mesmo soco, novas verdades todos os dias. Aquele dia, para mim representava exatamente isso.
Anos atrás, eu pisava ali como um novato. Um papel em branco sem rabisco, desenhos ou palavras, agora três anos mais tarde lá estava eu, cultivando no meu papel a verdade que eu adquiri ali dentro, lapidando através da técnica, as verdades que eu queria para mim. Naquele papel, agora havia a minha verdade, moldando-se a cada dia, agora crescendo como gallhos em um tronco sólido chamado Karate-Do.

O mesmo não é mais o mesmo, porém sempre segue na mesma jornada.

É engraçado dizer isso, mas ao colocar a faixa preta pela primeira vez, me senti gente grande. Por mais que soubesse que à partir daquele momento teria pela frente novos desafios (isso inclui a palavra DIFICULDADES), a sensação era de muito orgulho. Um orgulho de ter feito algo grando por mim mesmo e tabém um orgulho por ter feito naquele momento as pessoas que sempre acreditaram, que um dia eu faria a mim mesmo orgulhoso, orgulhosas também.

Lembro de no final do exame, ter tirado fotos ao lado do sensei Nagatani. Quando fui tirar uma foto solo, por sugestão do meu irmão, ele disse "faça uma pose bacana" e eu, fiz um kamae do Kata Seienchin para a foto.
Eu que que no dia anterior acabava de completar meus treze anos. Tudo estava exatamente ali, da melhor maneira, muito além do que eu podia imaginar há três anos atrás.

Geralmente, as pessoas dizem que tudo tem começo, meio e fim. Mas eu, prefiro pensar que estamos sempre começando. Aquele dia, aquela faixa, era só mais um novo começo.

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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Shinsa

Para muitos, praticar uma arte marcial é apenas mais uma atividade física ou um mero esporte. Mas para quem conhece os conceitos do Budo e principalmente, faz parte de famílias que mantém as tradições, é muito mais do que praticar, é preciso viver a arte marcial. Talvez o Horácio ainda não tivesse noção da dimensão de se tornar um Faixa Preta ali, mas com certeza sabia da sua responsabilidade.
Ele estava prestes a prestar um exame que para os garotos japoneses já era uma grande façanha, mas que para ele tinha um peso ainda maior, além de ser brasileiro, havia sido indicado pelo próprio Sensei Konomoto com menos de três anos após ter iniciado no Karate. Isto de fato já era por si só um grande mérito, mas também reconhecimento de muito esforço e para nós, a família, motivo de orgulho.
Mas, ele ainda precisava passar no exame, era necessário ainda ultrapassar aquele último obstáculo. O último obstáculo para iniciar realmente o verdadeiro caminho do Karate, pois a conquista da Faixa Preta indica que o aluno está pronto para trilhar o caminho do Budo.

Aquele Dojo é uma parte importante de minha vida. Muitos dos conceitos da vida e não apenas as técnicas do Karate, foram aprendidas ali, com suor, com esforço, mas também com muita sabedoria, paciência e confiança do Nagatani Sensei e do Mestre Konomoto.
Ser parte daquele Dojo era um motivo de orgulho. Estar ali assistindo ao exame do meu irmão, dobrava este sentimento, pois tinha a certeza no fundo de minha alma que o sobrenome Saito seria também um dia motivo de orgulho para nossos Senseis e poderia assim retribuir tudo que haviam me ensinado.

Dia de Shinsa, dia orgulho para a família Saito, principalmente para mim, que pude ver meu irmão com apenas treze anos se tornar a partir de então um "Kuro Obi".


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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Acreditando para acreditar

Por incrível que pareça, mesmo estando prestes à relizar o exame para Shodan-Ho, eu não pensava muito à respeito. Na verdade, as coisas eram tão intensas no dia a dia que não era necessário pensar no que vinha adiante. Hoje, muitos anos depois, eu me pergunto se isso faz parte de quem eu sou ou se aprendi a ser assim no decorrer da minha vida.
Era tudo tão intenso, é tudo muito intenso. Era tão ocupado com o dia de hoje, treinando para ter o melhor da minha capacidade, para ser fiel à tudo aquilo que eu esperava, que o exame para Shodan-Ho tornava-se um detalhe.
Veja bem, não apenas um detalhe, mas um detalhe especial. Sentia que ser faixa preta era uma questão de fazer as coisas no presente, o que começava já quando estava na faixa marrom. Todo faixa marrom, há de se comportar como faixa preta se esta faixa for o seu próximo objetivo. Isso eu aprendi. Então, o dia de hoje era mais importante do que o dia do exame.

Sempre aprendi ali, dentro do Dojo, que o exame de faixa era feito no decorrer do tempo e que o "dia do exame" era apenas um dia que simbolizava o teste, o aprendizado daquele tempo vivido com treino e dedicação. Era o dia de tornar concreto, aquilo que já estava presente.

Penso que todo discípulo, confia muito mais nas palavras dos seus mestres do que nos próprios pensamentos.e no decorrer do caminho, aprendem a confiar nos próprios pés. À partir do momento em que o sensei me permitiu, me deu aquela oportunidade, então é a palavra de quem te guia dizendo que você é capaz. No meu caso, tive grandes exemplos,  senseis ali (incluindo o meu irmão) dizendo que sim, então, não passei um dia se quer até o exame, pensando que não fosse capaz. Acreditava neles e aprendia a acreditar também.

Esse caminho é sobre acreditar. Quem duvida não luta, quem duvida morre na luta. Acreditamos no dia de amanhã, mas lutamos sempre no presente. Não era fáciil e o ser humano é sempre estúpido ao achar que alguém lhe disse que vai ser, quando nnguém nunca disse nada a respeito. É o que é, e nós lutamos por isso.

Ser antes de ter. O tempo voa para os que são. Amanhã então, já era o dia de ter.

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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Treinando a ansiedade

Uma das coisas interessantes do Japão é que o moderno convive com o tradicional de forma passiva e até em certas vezes curiosas. Lembrar que em um país onde a alta tecnologia eletrônica esteja tão presente nas vidas das pessoas, no Honbu Dojo Shizuoka Goju-kan, na cidade de Sagara, ainda havia telefone de discar. Lembrar do Honbu Dojo traz sensações únicas. O chão e as paredes de madeira antiga faziam o Dojo ter um cheiro peculiar e a energia acumulada naquele interior era intensa, fruto do suor de muitos alunos que se dedicaram a treinos pesados para manterem as tradições e honrarem aquele local sagrado. Seus nomes estavam todos nas plaquetas penduradas na parede, destinados aos Faixas Pretas, onde estava também o meu e se o meu irmão fosse aprovado no exame, teria o nome dele também ali.

Procurava não lembrar ao Horácio da importância de tal exame, apenas para não causar-lhe mais pressão, afinal de contas Exame para Shodan-Ho ali, por si só já era motivo de pressão e nervosismo. Mas ao mesmo tempo também não deixava transparecer o motivo de orgulho, talvez ele não tivesse ideia de tal feito, por ser um jovem de apenas 13 anos, mas já orgulhava toda a família Saito.

Aquele Dojo havia se tornado meu segundo lar, foi onde aprendi os primeiros movimentos de Karate-do Goju-ryu, onde pude corrigir várias técnicas que já haviam se tornado maus hábitos, onde pude dormir quando viajava de outra Província para treinar. Um lugar onde quando cheguei por não dominar o idioma, falava muitas vezes por gestos e hoje muita coisa não necessitava de palavras, podia-se entender com o sentimento. Onde aprendi que humildade e simplicidade não se explica apenas com palavras, mas o mais importante, pelo exemplo de suas atitudes. Um lugar onde eu realmente me sentia em casa, mesmo estando tão longe de minha terra natal.

Assim me preparava com expectativa para o Exame do meu irmão. Controlando a ansiedade e esperando que ele pudesse por em prática tudo que ele havia aprendido.

Ele era um Saito, tinha que se superar......

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O tempo, o fogo e o silêncio

Com toda certza, o dom não foi o nosso forte até aqui.
Aquele ano de 1994, foi um ano de grandes lembranças. Disputei campeonatos imortantes e venci pela primeira vez um campeonato no Japão. Treinava todos os dias com o meu irmão e aprendia muito com todas as situações. Era muito treino, mas muito mesmo.

Não era sempre prazeroso. Sempre deixei bem claro isso. O grande prazer, sempre esteve ligado em me tornar melhor a cada dia, isso quase sempre estava diretamente ligado à trabalhar em cima de suas fraquezas ou seja, não existe zona de conforto, só zona de desconforto talvez.

Porém, ter o meu irmão comigo nos treinamentos sempre me ajudou a encarar isso tudo da forma certa. Afinal, eu queria ser como ele. Nele eu via o que eu devia ser.

Eu nunca vi o meu irmão reclamar de nada. Sempre o via fazendo as coisas e nunca falando a respeito delas. Eu nunca o se queixando sobre os problemas e as dificuldades do Karate, sempre o via agindo, tentando, sempre fazendo o melhor possível. Eu nunca vi o meu irmão desistir de uma luta, por mais forte que o adversário fosse e por mais doído que fossem os golpes. Eu nunca vi o meu irmão pensando sobre algo que não pudesse fazer e sim, sempre pensando em alguma forma de fazer. Foi olhando para ele sempre, que eu vi o que deveria ser feito.

Logo, naquele ritmo intenso de convivência e treino, eu aprendia também aos poucos a não falar das coisas, porque o tempo gasto falando, é muito mais valioso se gasto treinando. Assim como meus irmãos, eu tenho uma personalidade forte. Muitas vezes fiz as coisas a contra gosto e o meu irmão sabe disso, porém ele só sabe disso porque me conhece e não porque eu tenha dito algo na época.
É necessário calar-se, e deixar o fogo que existe dentro de si queimar com atitudes, o treino sempre foi a minha atitude e o silêncio meu companheiro nessas horas. Não há lugar para falas no meu modo de ver as coisas, não para quem segue adiante.

Para mim, o meu irmão significava "Faixa Preta" e eu, só queria ser como ele. Falei menos coisas que queria e com o silêncio fiz o que devia, logo compreendo então, porque merecia fazer o exame.

Não era dom e nunca foi. É só uma questão de tempo, fogo e silêncio, é a nossa alma.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Orgulho

A minha rotina de treino e trabalho era bem definida e pouca mudava de uma semana para outra. Era uma rotina cansativa confesso, mas ao mesmo tempo prazerosa. Era bom saber com toda certeza que era aquilo que eu queria para evoluir como ser humano.

No Dojo aprendia com o Sensei Konomoto e com o Sensei Nagatani que utilizar-se como exemplo é e sempre será a melhor forma de ensinar. Neste quesito olhava para o meu brother Horácio e sentia um certo orgulho. Sempre me mantive firme no caminho que havia escolhido e nunca havia deixado aberta a porta da desistência, nem como última opção e esta lição ele estava aprendendo, sem a necessidade de sermões ou discursos, apenas ali, trilhando comigo o caminho árduo do treino da sinceridade, o caminho que lhe mostra quem você é de verdade, sem palavras, sem pensamentos, apenas você.

Com um treinamento constante e duro, mais a vontade de também crescer, os resultados não demoraram a aparecer. Mas os resultados neste caso, tinham pouco a ver com "dom" ou "habilidade", a palavra correta era esforço mesmo.

Nesta mesma época Sensei Konomoto me informa que meu brother iria participar do próximo exame para Shodan-Ho. Isto realmente me deu muito orgulho, claro, ainda precisava passar no exame, provar que era digno de ser um "Kuro Obi" do Honbu Dojo Shizuoka Goju-kan, mas o fato de ser escolhido para prestar o exame já me fazia sentir orgulhoso.

Ser um Saito que um dia ainda na faixa branca sonhava em aprender a lutar como os grandes, depois, no Japão ser o primeiro brasileiro a treinar ali e ter que provar seu valor e ver as coisas acontecendo como estavam, era um motivo ainda maior de querer crescer ainda mais.

Ter o Karate não apenas como um esporte ou um Hobby, mas como filosofia de vida. Não apenas trilhar o Caminho, mas ser o Caminho. Ter o Caminho do Karate dentro de si.
Orgulho de ver mais um Saito trilhando o Caminho e prestes a iniciar a jornada como um Faixa Preta, orgulho, sim muito orgulho......


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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Forte

Crescer vendo meu irmão treinar, sempre se tratou de admiração. E sempre quando cito a palavra admiração, me refiro à admiração pelo resultado final, que se obtém através da soma entre vitórias e derrotas, multiplicadas pela experiência vivida. Algumas vezes tudo ia bem, os resultados estavam ali e tudo era muito fácil de ser admirado, em outras ocasiões porém, as coisas não iam bem, tudo era difícil e os resultados não eram os desejados.
Admirar e querer, se espelhar nos bons resultados de alguém, é um jeito óbvio de admirar, de fácil digestão que não requer muita coisa de quem admira.
Então acredito que para admirar alguém de verdade, é necessário admirar também esta pessoa nos seus piores momentos, admirar a essência da tentativa, da luta e não apenas os resultados.

Lidar com a dor. Por algumas vezes eu vi o meu irmão em má fase. Algumas vezes o trabalho na fábrica era duro e as condições de treino se tornavam horríveis pela própria condição do corpo cansado. Outras vezes, vi o treino ser feito da melhor forma possível e os resultados nos campeonatos não corresponderem. E algumas poucas vezes, lembro do meu irmão lidando com lesões que o impediam de treinar ou de treinar com o seu melhor estado físico. Eu vi as melhores e as piores fases.

Costumava pensar naquela época que ele era de ferro e que tudo que fazia era simples porque ele era forte, da mesma forma que costumava pensar que as dificuldades que eu tinha, ele não tinha, simplesmente porque era assim, forte por natureza. Não, não era.

Aí a verdadeira admiração, de quem sabe que ninguém é forte por natureza. A dor é a mesma para todos e o meu verdadeiro motivo de admiração, é saber disso e ver que a grandeza mora em fazer o que tem de ser feito. O melhor.

Então, a admiração cega daquela época foi se moldando, se tornando uma verdadeira admiração, respeito e acima de tudo uma lição que eu aprendia ali, para lidar com as minhas próprias derrotas e dores ao longo destes anos. Cai de pé, sempre o Budoka, ouvi um dia desses da boca do meu irmão numa das tantas conversas que temos hoje como parceiros de treino e de caminho. Até quando é ruim, eu me torno mais forte. Cai de pé.

Suava, cansava e doía. Com um olhar sempre duro, mas nunca distante, meu irmão dizia sempre, sem precisar abrir a boca que "o que dói em você, também dói em mim".

O que dói em você, dói em mim. Forte é quem sente, mas que vive acima de qualquer dor e este caminho é sobre isso, ser forte, só isso.

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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Caminho do Budo

Em todos os momentos, seja durante os treinamentos ou fora deles, estávamos sempre de alguma forma praticando Caminho do Budo. Não de forma metódica ou programada, mas sempre aplicando suas teorias em nossas práticas diárias. Conversávamos muito e em todo momento podíamos citar, ver e comprovar a eficácia de um povo onde a cultura respeita leis e regras. O que era certo e o que era errado era muito bem definido, não restando opções para conveniências onde o meio errado pode se tornar meio certo.
Nesta época, poder mostrar ao meu brother a importância de se seguir tais leis e regras era gratificante, mesmo não tendo a noção naquele instante que no futuro seria tão importante em nossa jornada este tipo de pensamento e conduta.
Como no Japão eu não dirigia, sempre caminhávamos. Íamos a todos os lugares de ônibus, trem e táxi. Isto não era problema algum, já que estávamos em um País do primeiro mundo. Primeiro pela segurança, já que não tínhamos que nos preocupar em andar seja de dia, de noite ou de madrugada, com assaltos, sequestros, ou qualquer outro tipo de violência de terceiro mundo. Segundo porque as autoridades se preocupavam com a população sim e por isso o transporte público funcionava e bem. Sempre me lembro de fatos interessantes como os horários dos ônibus serem pontuais (em qualquer ponto), do motorista falar sempre que virava à direita, esquerda ou que iria frear, de que não havia cobrador e fica à sua inteira responsabilidade e senso de honestidade pagar o valor correto pela viagem. Muitos brasileiros viveram nesta mesma sociedade, uns aprenderam e trouxeram na bagagem esta forma de melhorar a nossa sociedade aqui, outros pelo contrário reclamavam sempre de discriminação e de que no Brasil era diferente e teimavam em manter o que chamamos de "jeitinho brasileiro". Ainda bem que a educação de casa nos fez ser parte do primeiro grupo.
Caminhamos juntos, literalmente, para honrar nosso Mestre, o nome de nossa família e nosso "Caminho".....

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

No lugar certo, pelos lugares certos

Entre um treino aqui e ali, o tempo que eu tinha era gasto da melhor maneira possível. Tirando o tempo que passava na escola, havia o tempo que passava com meus amigos e também aquele, que passava com o meu irmão e os seus amigos.

Mais uma vez, eu era uma espécie de agregado, já que sempre ou quase sempre estive junto do meu irmão, para cima e para baixo.

Entre as lembranças desses amigos, eu lembro constantemente das voltas do Dojo de Sagara aos sábados quase de madrugada, quando passávamos em algum restarante para jantar depois do treino. Do restaurante Chinês "Hong Kong" ao Lamen-ya que chamávamos de porquinho por causa da higiene meio suspeita (que para nós era mais motivo de piada e risos do que preocupação em si).

Das conversas descontraídas, das risadas e até os pratos que comia, lembro de tudo como se fosse hoje. E essas lembranças são tão importantes, porque ali, aqueles lugares, também fizeram parte do meu caminho. Isso quer dizer que nada é feito só de sofrimento e sacrifício, existe sim no caminho os momentos em que pude rir e me divertir, momentos que hoje tem a mesma importância das horas que passei treinando naquela época. Enxergando essa importância, eu enxergo então Karate em tudo. Voltar do treino era sim parte do que tinha sido o treino.

Os treinos com o sensei Kodama, era um tipo de experiência muito diferente, que me tirava de uma rotina de treinos que eu estava acostumado. O estilo do sensei Kodama, era um estilo de Karate de contato, o que trazia para o treino diferenças principalmente na parte de Kumite.

Via meu irmão e o sensei Kodama treinando forte. Em um desses treinos eu vi pela primeira vez alguém quebrara um taco de baseball ao vivo com um chute. Porém o que eu guardo com mais respeito desses treinos, é a vontade que eu sentia naquela época de ser como eles.

Às vezes paro para pensar, vejo que hoje, eu devo estar naquele lugar onde eles estavam, fico feliz e isso me motiva a treinar cada vez mais, porque olhando para o lugar onde eles estão hoje, sei que estou indo para o lugar certo. Enfim, todos os lugares do meu caminho até aqui, soam na minha mente como os lugares mais certos para estar.

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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Na companhia de amigos


Graças à Deus sempre tive amigos, não apenas colegas que encontramos de vez em quando, amigos mesmo. Dentro da família e também fora dela, pessoas realmente de valor passaram pela minha vida no período em que vivi no Japão. Destes amigos, tinha também os que não compartilhavam o nosso Dojo, eram os nossos amigos do Karaokê...rsrsrs. Isso mesmo, do karaokê, Kiyoshi, Akira, Fábio, Yukio e o Betinho (este se tornou também nosso amigo dentro do Dojo).
Outro amigo era também do karate, mas não do nosso Dojo. Era o Sensei Kodama Tetsuyoshi que era representante da Shidokan em Shizuoka. Fazíamos muitos intercâmbios e treinamos várias vezes juntos. Correr 10km em volta da fábrica da Honda ou subirmos as escadarias do Templo em Hamakita fazia parte dos nossos treinos físicos constantes.

Isso, acredito que foi muito bom para meu brother Horácio também, afinal de contas ele participava de todos os nossos treinamentos. Poder ver outras formas de treinamento, outros estilos, outras técnicas. Saber que todas elas possuíam suas particularidades e méritos, cada qual com seu objetivo. Não crescer com o pensamento que seu método é único, melhor ou mais eficaz. Existem sim, Senseis que ensinam seriamente, treinos sérios e alunos que levam o treino a sério.

O tempo passou, mas as coisas fortes resistem. A amizade com estes amigos continua. Sei que o Sensei Kodama executa um belíssimo trabalho social junto à comunidade em Hamamatsu e mentemos contato até hoje. E, claro, a amizade com meu irmão se tornou ainda mais forte e nos tornamos parceiros.
Foi uma grande fase de minha vida e acredito que os frutos de hoje são sementes plantadas lá naquela época, há quinze, vinte anos atrás.

Esta foto foi do dia em que fomos treinar no Templo em Hamakita e fizemos um treinamento físico intenso, subimos os degraus da enorme escadaria do Templo ao estilo "canguru" e terminamos o dia fazendo o teste dos mil mawashi-geris.
Foi realmente um grande dia.....

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Discípulos

De Karate-Gi novo, como se ali fosse começar uma nova parte da jornada(de fato era uma nova parte). Ter aquele Karateg-Gi era uma aprovação e dentro do Budo, quando isso acontece, apenas significa que a partir daquele instante, a responsabilidade aumenta. Isso é bom,  pois quer dizer que é uma nova etapa vista com bons olhos pelo sensei, que é uma nova etapa onde o bem mais valioso conquistado se chama confiança. Não a sua confiança, mas a daqueles que te guiam.

A essa altura, o meu irmão não era mais um aluno, era um discípulo. Não, aluno e discípulo não são a mesma coisa. Todos são alunos, poucos são discípulos.  Para ser aluno, basta estar matriculado em algum Dojo e frequentar as aulas. Mas para ser discípulo, é necessário querer ser o que você vê ali, é necessário querer viver as coisas que você aprende ali, no Dojo? Não em todos os cantos da vida. Sucessão da técnica, sim, mas uma sucessão de ideais.

Então, apesar da pouca idade do meu irmão que ainda era jovem, eu via nele um discípulo de Sagara. Pouco a pouco, com meus passos dados no meu poprio caminho que na maioria das vezes era "o mesmo" do meu irmão, eu me tornava cada vez mais disípulo e cada vez menos aluno dele.

Claro que alunos tem o seu papel dentro do Dojo, mas o discípulo tem o seu papel diretamente ligado ao futuro do Dojo (os ideais de um Dojo, o futuro destes ideais, pois se não se trata-se disso, chamaria-se KarateJo e não Dojo) e consequentemente do Karate-Do que aquele ensina.
Nunca nada é mais fácil para niguém, muito menos para quem se coloca na condição de discípulo(sim porque cada um escolhe o que quer), então uma aprovação vinda de cima, sempre vai ser o maior motivo de orgulho, certeza e alegria para aquele se colocou ali como discípulo. Não é uma alegria sentida no ego, mas nos punhos e nos pés que fazem a coisa certa.

Para mim era só o começo, mas para o meu irmão era afirmação. Um começava sua jornada o outro, firmava os passos na estrada.

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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ser e Vencer

Por mais que penso em nossa história no Japão, todos os sacrifícios feitos, sempre vejo o quanto foi bom, o quanto me fez crescer com pessoa. Quando cheguei era mais um "garoto" em busca de um sonho. Tinha 19 anos e acreditava que poderia mudar o mundo. A vida me mostrou que às vezes não temos as respostas para tudo, que nos sentimos injustiçados, mas também que temos a chance sim de sermos o que queremos e vencermos, se assim acreditarmos.
Ali estava meu irmão, todo deslumbrado com seu kimono novo, começava ali uma nova etapa para ele, claro que não tinha nada a ver com o "externo" pois quem pratica sabe que o karate-gi não faz o karateka, mas no Honbu Dojo, era de costume o karate-gi de lona ser usado por mérito. E ele merecia. Muitas vezes se quisermos, conseguimos ver estes vislumbres de felicidade, podem ser por qualquer motivo, mas é aquele instante em que a luz interna brilha..... Para muitos isso pode parecer pouco, mas para mim são momentos assim que dão sentido à vida, aos sacrifícios, a tudo que de valor temos e mantemos.

Nosso Dojo era meu segundo lar, lá aprendi os valores do Budo, vi a simplicidade e a humildade e pude estar sob a tutela de um grande Mestre, um grande Sábio. Tive a oportunidade de não apenas trilhar o caminho, mas poder fazer parte dele, aprender a não apenas caminhar, mas "ser" o caminho. E melhor, não estava sozinho, havia conseguido transferir a minha devoção àquela arte para alguém em quem confiava e fazia parte do meu sangue, meu irmão.

Vendo e analisando o que havia vivido até então, podia dizer a mim mesmo que eu era naquele instante o que desejava ser, que havia muito ainda a crescer, aprender e melhorar, mas que tudo já fazia parte do meu ser.
E se perguntasse a mim mesmo na época se havia vencido, provavelmente a resposta seria: Sim, aquela etapa da minha vida eu havia Vencido. "Domou Arigatou Gozaimashita Sensei"

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Trocando de roupa, adeus Fuji Daruma

Chegou a hora. Ter um Kimono de lona no Dojo de Sagara, era uma espécie de sinal de reconhecimento. Como uma espécie de aprovação, que dali em diante você podia sim usar uma "roupa mais bonita" porque era merecido. Não que fosse uma questão de status ou coisa assim, mas simplesmente porque era um Dojo onde a humildade prevalecia e os Karate-Gis de lona, sendo mais caros, seriam considerados um certo desperdício de dinheiro para iniciantes ou coisa assim.

Como já era faixa marrom e cada vez mais o Karate-Do fazendo parte da minha vida, com o recente título estadual de Shizuoka, sim, era hora de dizer adeus ao vellho Fuji Daruma e investir um pouco mais no "traje do caminho".

Num sábado antes do treino, passamos na loja da Kondo-san para encomendar o meu novo Karate-Gi. Já era tradição dos alunos de Sagara, comprar os materiais utilizados no Karate ali, na Kondo Sports. Tradição que claro, também se consolidava pelo fato da loja ser a única da cidade com tais materiais, mas além disso, o fato da Kondo-san ser aluna lá do Dojo colaborava imensamente.

Na loja havia de tudo. Me espeta até hoje até, pois a cidade era pequena, mas a loja tinha desde Bogus de Kendo à modelos mais recentes de luvas de Baseball da Mizuno. Eu adorava estar ali, sempre me enchia os olhos estar ali, naquela lija simples, mas com tanta coisa legal para ver.

De Karate, haviam apenas os materiais baratos da Fuji Daruma e as luvas da Mizuno.
Naquele dia, entramos na loja e fomos direto para o balcão do caixa, no fundo da loja. Meu irmãp pediu para a Kondo-san o catálogo da Tokaido, ela então o pegou de onde costumava guardar outros tantos catálogos de marcas de materiais esportivos. Ali estava, nas mãos do meu irmão a foto do meu primeiro Karate-Gi de gente grande. Tokaido, Kyukyoku (Ultimate).

Da encomenda até  a chegada, deve ter demorado umas duas semanas, que dentro do meu padrão de ansiedade pareciam um ou dois anos. Lembro da cor, da textura e do cheiro como se fosse hoje. E com aquela pequena tradição de Sagara, eu aprendi que o dinheiro não vale nada se o que é comprado com este, não é honrado com a sua capacidade. Ou seja, boas chuteiras não fazem grandes jogadores e roupas bonitas não fazem pessoas bonitas.

Um grande material só ganha a vida necessária, se você for capaz de dar esta vida. Após dar vida a um material simples e exigir o máximo daquele mesmo, era hora de tentar fazer o mesmo com algo de outro nível. Aparentemenre agora, eu estava mais parecido com o meu irmão e os outros senpais do Dojo, mas antes disso foi necessário ser internamente mais parecido com eles.

Adeus Fuji Daruma.

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Um lugar chamado Lar

Me lembro de voltar por várias vezes para nossa casa com o gosto amargo da derrota. Lembro de saber que havia perdido e que precisava a partir daquele instante iniciar um enorme trabalho de melhorias. Chegava, via e revia aquelas fitas de vídeo à procura dos erros várias e várias vezes. Mas hoje era diferente. Chegamos e assistimos as fitas, mas para rever e comemorar. O gosto hoje era bom e a sensação de dever cumprido era confortante.
Ver o troféu do meu brother ao lado dos meus na estante metálica era para mim um motivo de orgulho tão grande quanto se eu mesmo o tivesse ganho.
Aquele lugar era onde por muitas vezes choramos juntos, mas hoje era o lugar onde todos compartilhavam da mesma alegria, como se aquela vitória fosse parte de cada de nós, e acho que na verdade era mesmo.
Nossa família posso dizer que era uma família comum, tínhamos nossas diferença, brigávamos de vez em quando, mas uma família unida. Tinha minhas diferenças com meu pai, ouvia muito a minha mãe, e protegia minhas irmãs e meu irmão como tudo que tinha de mais importante na vida. Estar ali era fruto de um pouco da minha história, mas sabia que devia muito de ser quem eu era graças aos meus pais.
Era um momento marcante, daqueles que temos a sensação que será congelado na memória, de que não acabará nunca. Isto, acredito que seja o que muitos chamam e buscam a vida toda, o que seria a verdadeira Felicidade, um momento que passa a ser eterno.
Por aquele instante a vida parou e esquecemos de todos os problemas, estávamos em companhia das pessoas que amávamos, curtindo um momento único.
Aquela era a nossa família, aquele era o meu irmão que então nos proporcionará aquele instante, e mesmo estando tão longe de casa, ali e naquele momento eu podia dizer que aquele era um lugar chamado Lar!!!!!

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aquela semana

Era boa aquela sensação, de olhar para estante da minha casa e ver aquele troféu ali. Pela primeira vez na vida eu entendi o verdadeiro valor de troféus e medalhas. Ao ficar ali, olhando para aquele troféu, eu podia viver ou reviver aquela sensação. Materialmente, esses prêmios pouco tem valor, já que o custo financeiro real de um troféu ou medalha não é alto. Daria perfeitamente para qualquer um ligar para uma loja ou fábrica e encomendar o seu sem problema algum, basta pagar o dinheiro. Mas todos sabem ou pelo menos deveriam saber que não é disso que se trata.

Um campeão há de merecer a sua condição de campeão. E qualquer troféu ou medalha, deve ter merecido parar ali na sua estante. Por mais que sejam objetos fabricados de forma industrial e entregues pelas mãos de outras pessoas, um troféu ganho é o reflexo de quem você foi até chegar ali.

Uns são mais bonitos que os outros, uns são bem concebidos, outros nem tanto, o que importa mesmo é o que você vê nestes objetos e ali, eu só via orgulho. Um orgulho meu por ter treinado duro, por não ter recuado quando senti medo, insegurança ou vontade de dar um passo para trás, um orgulho de ter sido forte nos dias em que me achava fraco e um orgulho enorme, por ter honrado a fé das pessoas que acreditavam em mim. O objeto era o orgulho do meu irmão e da minha família também, talvez esse tenha sido o maior dos orgulhos ao olhar para aquele troféu.

Na semana seguinte, lembro de ter levado para a escola, um recorte do jornal onde foi publicado o resultado do campeonato e foi uma semana muito feliz. Queria eu que aquela sensação durasse para sempre, mas não dura, e é exatamente por isso que no dia seguinte já é necessário fazer tudo de novo, em busca de outra conquista, em busca de outra "semana de campeão".

Desde então, competir é uma batalha pelo orulho, por esse mesmo velho orgulho, por esta mesma velha sensação, pela vontade de viver sempre aquela semana.

Olhando ali para aquele troféu na estante, de certa forma era olhar para todos os outros que vinham a seguir.

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Se tornar Campeão

Ser Campeão em um Campeonato Japonês de Karate já tem as suas dificuldades naturais, por se tratar de uma arte marcial altamente competitiva em sua terra natal. Ser Campeão sendo um estrangeiro, com certeza esta dificuldade aumenta consideravelmente. Aquele ginásio B&G sempre me trouxe boas lembranças, onde todo ano acontecia o Shizuoka Goju-kai Taikai (Campeonato da Província de Shizuoka de Karate-do Goju-kai) e agora lá estava meu irmão buscando trilhar seu caminho com seus próprios pés.
Vê-lo ali competindo com alguns atletas já conhecidos e mais experientes, por si só já era motivo de orgulho. Saber que todo o treinamento cobrado até então, seria posto em prática, torcer somente era pouco. Era como se eu estivesse lá dentro do koto também...

Passar o dia naquele ginásio era como uma festa em família, pois além do Horácio, nossa família ia também e os alunos e pais do nosso Dojo já faziam parte não apenas dos nossos treinos, mas também de nossas vidas. Comer obentou na hora do almoço, deixar os sapatos na entrada do Ginásio, ver as crianças levantarem a mão direita para anunciar o nome do kata, usar capacete da mizuno para lutar, coisas que só vemos e desfrutamos quando se compete no Japão.

Melhor ainda do que passar um dia agradável é ver o Horácio vencer a categoria dele, não pelo título ou troféu em si, mas por tudo que aquilo significava. Ver o esforço dele sendo de certa forma recompensado, dando início a uma carreira esportiva digna de histórias, era muito gratificante e também motivo de orgulho.
Aquela era a semente dos Saito Brothers no karate .....

Horácio Saito - Campeão

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Uma vez campeão, fechando a minha mão

Em 1994, no campeonato estadual de Shizuoka, eu obtive o meu primeiro título. Naquele mesmo ginásio B&G,  dessa vez com uma faixa marrom na cintura.
Entre os garotos da minha idade que ali sentados esperavam pela sua vez, olhava ao meu redor e ganhavam destaque os garotos da Seigo Dojo, que já tinham bem mais pinta de atletas de Karate, mais experientes, com seus Karate-gis impecáveis, bordados, com caimento perfeito. Era nítido que ali, entre todos nós, eles eram os favoritos. A postura e a aparência já diziam, traduziam o que tecnicamente eles representavam.

Porém uma vez ali, somos todos iguais. Ou melhor, para os que treinam duro, ali, são todos iguais. Independente de tamanho, nome, Dojo, postura ou aparência. Até então, até aquele campeonato, existiram outros campeonatos anteriormente, onde perdi e humildemente reconheci que era preciso voltar para casa, pegar o meu Karate-Gi e treinar mais, porque o que eu tinha, não era suficiente para ganhar.

Olhava ao meu redor, de alguma forma aquele favoritismo alheio não fazia a menor diferença. Não porque acreditava no título, mas por uma forma ingênua e pura que fazia com que eu apenas me preocupasse em bater de frente com as minhas expectativas de ser melhor, que o melhor já feito por mim mesmo. Talvez seja pessoal, talvez não seja nenhuma lição geral dentro do Karate-Do, mas desde que vesti aquele velho Karate-Gi pela primeira vez, o grande combustível que queima lá no núcleo da vontade de treinar sempre foi essa vontade. A vontade de ser melhor que o melhor de si a cada momento, a competição sempre foi apenas um lugar onde isso seria feito entre outras pessoas que teoricamente fariam o mesmo.

Naquele dia, Karate-Gis cheios de pompa, poses cheias de marra e até técnicas mais refinadas, não foram suficientes para vencer. O que foi suficiente, foi a minha vontade de fazer algo que eu nunca tinha feito, por mais que tivesse feito o mesmo Kata milhares de vezes anteriormente até estar ali naquele campeonato, aquele Kata representou para mim, naquela época, o que corredores chamariam de PB (Personal Best), uma marca que te leva sempre à outro patamar.
Eu acredito e essa tem sido a base do meu Karte-Do, talvez a base do nosso Karate-Do. Acredito que a nossa base vai além técnica e do desempenho físico, a nossa base está muito mais relacionada a transparência da nossa sinceridade. E isso, é o que realmente faz as coisas terem solidez.

Eu tenho certeza, que naquele dia os outros eram melhores do que eu em vários aspectos, mas a transparência daquela vontade fez mais efeito. Naquele simples ato de fechar a mão, como quem se agarra com tudo que pode naquele momento.

Após o término da categoria, com o resultado anunciado, um sensei que estavade árbitro na minha quadra(koto) veio me cumprimentar e disse "Sabe por que você ganhou hoje? Porque só você fechou a mão direito."

Talvez tenha demorado um bocado de tempo, até que essas palavras fizessem tanto sentido ou ganhassem um sentido maior. Mas hoje eu sei que só estou aqui, por sempre ter fechado a minha mão o mais firme que eu pude a cada dia.
Somos assim. E uma vez campeão, os adversários existem, mas eu sempre existi antes deles, sem pensar em nada a não ser fechar as minhas mãos.

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Saito com orgulho

Nos ensinamentos da cultura japonesa, na educação, por muitas vezes, quando somos crianças não entendemos várias situações. E como tudo em uma cultura milenar, é preciso de tempo, paciência e sabedoria para entender seus verdadeiros sentidos.
As conversas e as explicações não são o forte destes costumes e com a nossa família não seria diferente.
Por várias vezes via meu irmão no limite e sabendo que ele gostaria de estar fazendo outras coisas de sua idade. O fato de ele ser também um Saito, dava a ele, mesmo sem ele querer, uma responsabilidade extra, mas em todas as situações onde ele foi exposto, sempre honrou seu nome e por dentro me enchia de orgulho. Estava ali, sendo preparado não apenas para os obstáculos do caminho do karate, mas também para os grandes obstáculos da vida.
Não foram apenas os títulos que ele ganhou que nos deixava orgulhosos, mas também seus feitos diários, em seus treinos, em seus estudos, em como estava encarando o fato de estar deixando de ser criança.

Via meu brother e lembrava da educação que nosso pai sempre nos deu, rígida, sem muita explicação, mas digna, com moral e caráter.
Sempre tivemos que provar que éramos capazes e definitivamente nossa casa não era um lugar para perdedores. Mas foi exatamente este tipo de educação que nos preparou para os obstáculos da vida, nos mostrou que éramos mais fortes que imaginávamos e que nunca nos deixa abater pela situação.

Ele estava próximo do seu grande teste e isso para mim só podia dar mais orgulho de ser um Saito....



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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Galeria

Não há força sem fraqueza, não há perfeição sem imperfeição. Não existe ser imbatível. O que existe, são os poucos que nunca param de crescer.
Não é, nunca foi e nunca será uma questão de nunca ser abatido ou derrotado. Cada queda traz uma lição de humildade e cada porção de humildade traz consigo a honestidade de quem realmente quer ser melhor a cada dia naquilo que faz.
Somos invencíveis. Mas veja bem, não porque não perdemos, não porque não caímos, não porque não sentimos. Somos invencíveis. Porque estamos sempre nos levantando, dando o troco no dia seguinte.
O silêncio que me consome na derrota, mais afiado do que qualquer palavra que me repreende. Do gosto amargo, só é filtrado a essência que amanhã se torna base para o crescimento.

Revidar. Naquele dia, naquela luta, contra aquele mesmo faixa preta. Dei-lhe um ashibarai e soquei-lhe o estômago. Fez efeito e ali se consumava o meu revide. Eu não perco.  Eu caio e acham que eu perdi. Só não podem esquecer que eu sempre me levanto e volto melhor. Assim foi aquele revide.

A luta acaba e olho para o meu irmão, na mesma proporção daquele outro dia em que estava bravo, agora estava contendo o orgulho, eu sei, eu vi isso. Eu mesmo estava orgulhoso por ter feito por merecer aquela sensação de ter cuidado "dos meus próprios problemas". A volta para casa naquele dia, foi cheia de empolgação e falamos quase o tempo todo sobre a luta, uma pequena luta, num pequeno treino e uma pequena parte do que hoje se tornou o caminho do Karate-Do para mim, já faz algum tempo. Muito provávelmente neste dia, eu tenha inaugurado a minha galeria pessoal de vitórias.

Passados quase vinte anos, eu continuo caindo em alguns trechos deste caminho. São outros problemas, outras dimensões e situações. O caminho não para para quem não para e a galeria, só cresce para os que perseguem o topo da montanha. Lembro daquele dia e de tantos outros em que pude revidar e mostar para mim mesmo que somente eu posso escrever o "fim" das minhas histórias.

Só existe um final para cada luta na mninha vida, a galeria e o resto, é só uma questão de revide.

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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Família sempre Família

Na nossa rotina, eu tinha o trabalho na fábrica e os treinamentos e aulas do Karate. Por muitas vezes me sentia cansado e nessa hora ter uma estrutura familiar fazia toda a diferença. Sempre dizem que quando as coisas ficam ruins, no final é a família que lhe acode, acredito que isso seja realmente verdade.
No Japão, algumas leis são diferentes do Brasil. Algumas delas acho que são mais do que justas. Lá o seu salário é calculado por hora trabalhada e não um fixo mensal. Por isso se você faltar ou chegar atrasado, receberá menos no final do mês. A falta no caso é descontada, independente do motivo. A justificativa existe somente para que a empresa saiba o verdadeiro motivo da falta. O raciocínio é de que não se recebe por hora não trabalhada.

Nunca tive problemas com trabalho no Japão, em todos os lugares em que trabalhei sempre respeitei as regras da empresa. Estudava o japonês para além de entender, queria também poder escrever os relatórios. Isso com certeza fez toda a diferença em todos os anos em que vivi no Japão.

Apesar de todos em casa trabalharem e o Horácio estudar praticamente o dia todo, havia domingos que nos reuníamos todos. Nestas horas aproveitávamos o máximo, já que todos tínhamos provado a sensação de viver separado e sabíamos que não era bom aquela sensação de solidão.
Isto, acredito que fortaleceu demais o nosso conceito de família e partir de então, nos tornamos muito mais próximos.

Eu e o Horácio vivíamos praticamente juntos todos os dias em função dos treinos e aulas do Karate que de forma intercalada, acabava me tomando todos os dias da semana. O que era bom, pois de certa forma, a minha paixão pelo karate acabou nos unindo ainda mais como irmãos.

A família sempre está lá quando precisamos e só o fato de ser assim, já nos dá um conforto que não tem preço. O único problema é que quando tudo parecia estar bem, as aulas, os treinos, o trabalho, iríamos nos separar novamente......

Uma nova história iria começar....

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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Eu sempre estou aqui

Por muitas vezes por conta daquela rotina dentro do karate, tive que abrir mão de estar presente em muitos outros lugares em que eu gostaria de estar.
Festas que deixei de ir, filmes que deixei de ver no cinema, coisas que eu não comi e muito tempo que se contar até os dias de hoje, deixei de estar com os meus amigos, família e pessoas que gosto.

Por tantas vezes eu estive treinando, competindo ou viajando até aqui. Dentro disso, desde quando era criança, naqueles sete dias e sete treinos, eu de alguma forma mesmo estando totalmente entregue ao momento em que vivia, de alguma forma pensava nesses momentos paralelos, achava que os perdia.

Não vou negar que sempre fiquei dividido entre a sensação de estar e não estar presente. Porém, quando escolhas são feitas, acredito que não quer dizer que você não pensará em nenhum momento nos outros lugares e caminhos paralelos, mas sim que isso tem um espaço devido dentro daquilo que escolheu.
Todas as fraquezas levam á força. Todas as pessoas e situações nunca foram e nem serão dexadas para trás. Carrego tudo comigo, na minha forma de ser forte, na forma de afirmação dentro daquele caminho que escolhi.

Dentro de um caminho de afirmação, tudo e qualquer coisa que lhe serviria de motivo para duvidar, só serve para afirmar. Não é questão de não pensar em nada, nem ninguém, mas sim de dizer para si mesmo que num longo caminho solitário, tudo e todos estão exatamente aqui neste caminho de pura afirmação. O caminho, de só saber ganhar.
Só tenho aprendido mais um pouco que sou exatamente, o que carrego\comigo.

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Arte de Superar

Uma das coisas que considero importante que aprendi com meu Mestre no tempo em que vivi no Japão, foi o fato de que a teoria sem a prática, não tem valor significativo. Que nas Artes Marciais o bom exemplo é mais importante do que mil palavras.
Seguindo rigidamente este caminho e com a ideia fixa de que um dia queria ser igual ao meu Mestre, estava disposto a assumir os sacrifícios necessários para chegar até lá.
Claro que quando assumimos tamanha responsabilidade, na verdade nem sabemos ao certo o que nos espera e acredito que isso é que faz a vida ser interessante.

Sempre ouvi que Deus só nos dá uma cruz que podemos carregar. Confesso que em muitas vezes questionei isso em pensamento, mas também sempre obtive forças para não desistir e superar os obstáculos. Isso não nos faz melhor nem pior do que ninguém, apenas nos dá aquela sensação boa de superação e de que o caminho está sendo trilhado de forma correta.

O ano de 1994 pode-se dizer que foi coroado de forma boa, já que geralmente no mês de novembro havia anualmente o Shizuoka-Ken Taikai (campeonato da província de Shizuoka) que participamos e honramos o Dojo de nosso Mestre, conseguindo bons resultados. Neste ano pude ver meu irmão Horácio participar do nacional da JKF (Japan Karate Federation) no santuário das Artes Marciais Japonesas, o Nippon Budokan e também vê-lo receber no Campeonato Nacional da Goju-kai em Tokyo o Certificado entregue apenas aos vinte melhores atletas de todo o Japão. Um feito difícil e ainda mais se tratando de um estrangeiro.

Os obstáculos nunca desaparecem e nem devemos tentar nos esquivar, tudo acontece com um propósito e cabe a nós olharmos sempre como uma oportunidade de nos fortalecer e de melhorar.

O ano de 1994 foi bom, os obstáculos foram vencidos e estava conseguindo aprender na prática o que o meu Mestre ensinava: A Arte de Superar.......

Sensei domou arigatougozaimashita



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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Memorando das derrotas

Aquela segunda-feira era exatamente igual à todas as outras. A escola entre os perídos da manhã e da tarde, uma pequena folga até o sol baixar e o agora já rotineiro caminho de trem até Hamakita. Fisicamente, comparando com os meus dias de adulto, acho que posso dizer que naquela época o que eu sentia treinando todos os dias, estava bem longe de ser cansaço. Mas de alguma forma, eu pensava que estava cansado.

A pequena linha de trem, que ligava Hamamatsu à Hamakita, nos levava até o Dojo. Andando por cerca de 100 ou 150 metros, contando inúmeros pensamentos que vinham na minha cabeça, chegava então no Dojo.
O Dojo era antigo, quase no meio do nada. Perto da estação de trem, porém quase isolado num terreno onde ao lado havia apenas uma plantação de alguma coisa que não me lembro e mato, muito mato.

O Shihan dali, mais parecia da Yakuza. Era rígido com as crianças e era comum vê-lo com o Shinai na mão distribuindo algumas pancadas leves, nas pernas traseiras que ousavam permanecer dobradas nos zenkutsudachis do Kihon-Ido.

O treino geralmente era composto por Kihon, Kihon-Ido, Shiho-Ido, Kata e Kumite. Respeitando sempre o sensei do local, meu irmão estava ali colaborando com a padronização dos exercícios e técnicas, sempre me usando como exemplo do que ele estava explicando ou ensinando.

Porém nem sempre servi de exemplo ali. Por mais que tivesse uma técnica melhor, fosse irmão do "novo sensei", eu também estava ali para aprender e por muitas vezes eu me esquecia disso. No final das contas isso era bom, mas não necessariamente tinha de ser assim. Deve ser o sangue pendendo nas decisões, de sempre escolher o lado intenso das coisas. Os Saito são passionais.

Me custou um tempo até me acostumar com a luta. Mas penso que esse é o caminho normal. Afinal, lutar é bom, é desde que você esteja no controle da situação, caso contrário, é um pesadelo. Ali, o treino encontrava o seu ápice no Kumite. Sempre, sem excessão, meu irmão me colocava para lutar com aquele faixa preta (que não lembro o nome). Bom ou não, com forma técnica arcaica ou não, ele era faixa preta e eu não. E isso, ali no Japão só quer dizer uma coisa: Você mereceu aquele faixa.

Naquele dia, no decorrer da luta levei um gyakuzuki e quase dobrei. Após esse golpe, a vontade de vencer sumiu, o domínio da luta idem e a única coisa que eu conseguia controlar eram as lágrimas que acumulavam nos olhos. Só pensava no tempo e no fim da luta. A luta então termina e nessa hora eu tinha até medo de olhar para o meu irmão, pois sabia que depois daquele treino eu teria duas opções: Outro treino de portas fechadas só eu e ele logo após o fim daquela aula ou aquele silêncio na volta para casa, que me repreendia mais do que qualquer bronca que pudesse levar.


Naquele instante não me sentia exemplo de nada, digno de nada e envergonhado por tudo. De nada adianta ser citado como exemplo de alguma coisa, querer ser exemplo de alguma coisa, se na hora difícil você acabar agindo como todos os outros. Não lembro se neste dia teve uma hora extra de treino de portas fechadas com o meu irmão, talvez por conta daquela sensação gigante de fracasso e derrota. Mas lembro sim do silêncio voltando para casa. Esperando o trem chegar digerindo a própria vergonha, olhando pelo vidro do trem um exemplo do que não queria ser e enfim enfim em casa, fechando os olhos para esquecer aquele dia.


A força nasce da fraqueza.

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mente sempre aberta para aprender

Vivia no Japão desde 1990 e confesso que mesmo sendo descendente de japoneses, alguns costumes eram realmente diferentes. Confesso que no início demorei a entender alguns deles, mas o segredo é manter a mente sempre aberta a aprender, e não de forma resistente a achar que o nosso ponto de vista é único.

Enquanto dividia meu tempo em trabalhar à noite na fábrica Tokai, que fornecia peças para motos e barcos para Honda e Suzuki e treinos no Honbu Dojo e aulas nos Dojos de Hamamatsu e Hamakita, tentava estudar e aprender o máximo possível sobre a cultura e os costumes da terra dos meus avós.

Acredito que a maior riqueza que pude trazer do Japão foi o conhecimento, a forma de pensar que me ajudou a superar as dificuldades e ver tudo pelo lado positivo. A forma de pensar em agradecer a tudo, principalmente às coisas ruins que nos acontecem e que nos forçam a sair do lugar. Todos estes costumes fazem parte de uma cultura belíssima e que está intrínseca nos ensinamentos do Karate-do e que meu Mestre me ensinou através de seus exemplos.

O ano de 1994 foi importante para mim, já que me deu toda a experiência para começar a ensinar e sem esquecer de que é sempre preciso não parar de aprender. Este aprendizado é o que sempre me lembro, nunca acreditar que já se sabe o suficiente e que o treino pode ser desnecessário. Geralmente as pessoas depois de uma certa altura da vida, após se convencerem de que já possuem o conhecimento suficiente, deixam de aprender e se julgam superiores às outras, porém, continuam a utilizar o termo "humildade" em seus discursos. Aqueles que realmente sabem, nunca deixarão de aprender e a humildade se faz presente na prática. O conhecimento nunca será suficiente.



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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lar, amargo lar

Naquela jornada de treinos que era um ciclo semanal sem dias para descanso, eu vivia entre sonhos e pesadelos em intervalos curtos de tempo. Em artes marciais japonesas, o Ippon caracteriza o fim do combate, aquele que decide quem permanece vivo e quem é o morto da vez. Nos sete dias, sete treinos, todos os dias eu tinha desafios diferentes. Passando por outros três dojos diferentes além do Honbu Dojo de Sagara, sempre havia uma pedra pelo caminho, uma pedra dentro do meu sapato.

Em Sagara, no Dojo que era a nossa casa, o treino em si já era bem puxado e ali, a maior pedra no sapato era o próprio treino. É uma sensação estranha no início, que cabe dentro do grande paradoxo que é o Budo, era minha casa, mas ali dentro do treino eu nunca tive conforto. Com o tempo, sorrimos com esta situação, porque simplesmente é assim que funciona no Budo, não há conforto onde há sinceridade no treino, há sim realização, mas conforto não. Assim é a nossa casa, assim é o chamado lugar do caminho, o Dojo.

É claro que eu não entendi essas coisas de uma hora para outra e me custou muito entender tudo isso, pois na prática, passar por dificuldades nunca é agradável (ao paladar do ser humano e não do Budoka). Se em Sagara o treino era o gosto amargo, nos outros Dojos onde meu irmão agora ensinava, haviam outros tipos de pedras no meu sapato.

No Dojo de Hamakita, onde muito provavelmente eu era visto como "o irmão do sensei jovem que vem nos ensinar", havia um garoto, faixa preta que nos Kumites sempre tentava azedar as coisas. Claro, meu irmão percebia isso e via nisso uma oportunidade de sempre me colocar em teste. Dessa mesma forma, nos outros dois Dojos de Hamamatsu, existia uma outra pedra, chamada de Aoki. Apesar de eu ser mais graduado que ele, ele era mais velho que eu e bem maior, o que assim como em Hamakita, deixava tudo muito mais azedo.

Na segunda-feira, o faixa preta de Hamakita, na Terça o Aoki, na Quarta-feira Hamakita e faixa preta, na quinta-feira Aoki de novo... Na sexta-feira eu tinha o meu irmão e os treinos físicos pela frente, no sábado era o treino de Sagara. Domingo Deus descansou e eu tinha o Aoki de novo pela frente...

Vamos começar pela segunda-feira...

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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Caminho que nos une

Estar todos os dias juntos, pode ser para muitos, motivo para conflitos, discussões e desentendimentos. Mas, para mim era uma coisa especial. Por se tratar da minha família, sabia o quanto era ruim ficar longe deles, por ter tido como experiência dois anos sozinho no Japão. No caso do meu irmão caçula, além deste fato, tinha agora também a responsabilidade de mostrar a ele o Caminho certo, correto e justo do Karate-do Goju-ryu que estávamos trilhando. Nos dias em que tínhamos que ir ao Dojo de Hamakita, íamos sempre conversando sobre vários assuntos no táxi, depois no trem e depois andando, até chegar no Dojo. Sempre penso na sabedoria das atitudes do meu Mestre, mesmo que na verdade não sabia os verdadeiros porquês, vindo a entendê-los muito tempo depois.

Poder conversar com o Horácio praticamente em tempo integral, nos fez unir ainda mais, não apenas como irmãos, mas como parceiros de treino, o ato de aprender e ensinar era constante e por muitas vezes, não se sabia ao certo quem estava assumindo qual papel. O ato de ensinar requer muita humildade para que sua opinião não se torne única e que não se convença de que se sabe tudo, para não perder a oportunidade de aprender sempre e com qualquer pessoa.

Nosso Caminho se tornou um só, mesmo sendo trilhado por duas pessoas. O Caminho do Karate-do, o Caminho da família, o Caminho dos irmãos de sangue e da amizade.

Várias foram as ocasiões em que a dor e o sacrifício, forçaram uma lágrima a escorrer pelo rosto marcado. Mas com certeza, também foram várias as ocasiões onde o sorriso era a demonstração de uma meta alcançada, de um obstáculo transposto ou um sentimento real de felicidade.

Nenhum Caminho pode ser completo, se não houver como objetivo final a busca pela Felicidade e pelo aperfeiçoamento do ser humano como um todo. Sendo assim, nada seria de utilidade se não fosse um Caminho para ser percorrido por mais pessoas e não por uma única somente.

Este é o nosso Caminho.....

SAITO KYODAI

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um trajeto mental

Durante esse período, onde tudo era mais intenso, eu tive que lidar com muitas pedras no sapato. Treinando sete dias por semana em três lugares diferentes, não havia lugar para me esconder ou fugir. Talvez eu possa dizer que este período foi o mais desconfortável de todos, porque tinha que provar alguma coisa todos os dias.

Treinando no Dojo de Sagara, basicamente era sempre uma questão de provar para si mesmo. O Dojo era longe, o caminho de carro(quando iamos de carro de carona) ou de trem tinha tempo necessário para que sempre hovesse um conflito entre as minhas razões mundanas para não querer ir e a minha vontade de treinar. Durante este trajeto muitas vezes na minha cabeça as razões mundanas falavam alto e a vontade de ir treinar só aparecia quando estavamos parando o carro, chegando no Dojo.

Independente da condição mental e dos conflitos de "fazer ou não fazer", uma vez estando ali, rumando para algum lugar, não há como não fazer. Estar indo para algum lugar já é uma decisão, logo essa batalha mental acaba não fazendo o menor sentido. Uma vez estando em movimento, percorrendo um caminho para algum lugar, quer dizer que não é hora de decisões porque isso já foi decidido antes de você iniciar o movimento. O início é a decisão, percorrer a distância é uma constante afirmação.

Creio que por muitas vezes as pessoas deixam de viver, colher muitas coisas para premeditar o que lhes espera adiante. Algumas vezes estas pessoas são movidas pela sensatez, mas em muitas outras são movidas apenas por esse conflito mental. Fazendo escolhas onde não cabem escolhas, só afirmações.

Claro, se há um desafio adiante, onde você sabe que algo difícil lhe espera, é natural temer, duvidar ou questionar, pois acredito que a grande vitória está no fato de entrar em choque e vencer tudo isso de fato. Mas a questão mora em quantas imersões você teve nesses conflitos de verdade ao longo dos anos. A tentativa é o que molda as pessoas. O teste é a tentativa, então só perde realmente quem não tenta. Quem na mente, já perdeu.

O carro para, são sete e meia da noite. Sagara Dojo, até o fim.

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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sagara Dojo


Carregar um nome em seu karate-gi, tem todo um significado. Claro que para muitos, é um mero adorno, principalmente se estiver escrito em Kanji (ideograma japonês), geralmente pensando mais na sua própria vaidade, do que no verdadeiro sentido em si. Quando carregamos o nome de nossa família (sobrenome) estamos pondo ali toda uma história, todo um legado. Ali está a nossa responsabilidade de não mancharmos e de não envergonharmos o nome de nossa família. Quando carregamos o nome do nosso Dojo, aí não se trata apenas de nós. Envolve toda uma confiança depositada por nosso Mestre em sermos um bom exemplo, para toda uma sociedade. Carregar uma responsabilidade de que fazemos parte de um Dojo que mantém as tradições e que devemos honrar a todo custo.
Assim eram os dias (os sete) da nossa semana no Japão. Carregar no Karate-gi a responsabilidade de que um brasileiro poderia ajudar o desenvolvimento técnico de alunos japoneses e também ensiná-los.
Quando nos perfilávamos no Honbu Dojo da Shizuoka Goju-kan (Sagara Dojo) era para mim, um grande orgulho poder fazer parte dos "Shidoins" (instrutores), não pelo status, mas pela confiança dada a mim, de que eu podia levar o nome do meu Mestre, de que eu era uma pessoa que honraria tal responsabilidade.
E exatamente era esta a cobrança que eu fazia do meu irmão, que suas atitudes fossem merecedoras de orgulho, que o nome da nossa família e do nosso Mestre fossem sempre honrados. Assim, quando ele recebeu o seu primeiro Karate-gi da marca TOKAIDO, sabia que aqueles kanjis não eram meros adornos e sabia também que o nível de exigência de seus treinamentos e sua responsabilidade iriam aumentar na mesma proporção.
Shizuoka Goju-kan Honbu Dojo ou Sagara Dojo, um lugar que aprendi a respeitar, um lugar que me serviu de lar, um lugar para honrar até os últimos dias da minha vida.....

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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Irmãos por merecimento

A nova rotina era puxada. A esta altura do campeonato, já não era mais faixa branca. Isso na prática além de representar o seu nível técnico, quer dizer que além de tudo existe a responsabilidade de ser "melhor" que alguém, saber mais que alguém e por consequência, tratando-se de Karate-Do significa que, de nada adianta ter uma faixa colorida, seja ela qual for se esta mesma não for justificada pelo seu empenho prático.

Além disso, nesta época eu era uma espécie de agregado do meu irmão. Indo para cima e para baixo, o acompanhando na sua nova empreitada dentro desses outros Dojos. Carinhosamente chamo essa época de sete dias, sete treinos. Não havia dia de folga, a não ser por algum tipo de impossibilidade maior do meu irmão, que nesse caso significava estar doente e assim como hoje em dia, isso quase nunca acontecia(ele é um X-Men).

Quando tudo isso começou, sinceramente não lembro se eu já tinha um Karate-Gi de lona ou se ainda usava o vellho Fuji Daruma mais simples de todos. Mas lembro-me muito bem, de quando já vestia um Tokaido, de tirar o Kartae-Gi da mala e colocá-lo direto no varal do apartamento, para que este secasse ao vento, estando pronto assim no dia seguinte para um novo treino. Uma vez por semana, era quando minha mãe(que também trabalhava numa fábrica) tinha disponibilidade de lavá-los(o do meu irmão também) e assim seguíamos com um único Karate-Gi cada nessa jornada de sete dias de treino.

Eu não tenho vergonha nenhuma de dizer que em muitas coisas, incluindo o Karate eu nunca fui o melhor. Sempre tive que me esforçar muito para ser bom em algo. Dentro destes dojos, eu me esforçava sempre além do que podia, na maioria das vezes por imposição do meu irmão, mas sempre indo além daquilo que era confortável fazer. Nos sete dias, sete treinos, eu tenho dentro da minha história no Karte-Do, a parte mais intensa, por vezes divertida e por outras tantas, as mais difíceis.

E foi ali, naqueles Dojos que eu comecei a aprender que ser irmão de Akira Saito, ali dentro não era uma questão de sangue ou DNA, era uma condição que eu tinha que provar dia após dia. Quando se é irmão de alguém que é bom em alguma coisa, é comum as pessoas lembrarem de você como "o irmão de".

Na prática isso possui dois sentidos distintos. No primeiro, quer dizer que você é exatamente apenas um agregado e ninguém lembra do seu nome. Irmão, apenas na ligação de sangue. No outro sentido, quer dizer que você é "O Irmão", querendo dizer que você é aquele que honra o nome, a carreira, o caráter e tudo que o seu antecessor tem ou teve, da forma mais digna possível.

Nos sete dias, sete treinos, eu vivi para ser "O irmão". Mais do que campeonatos vencidos, entre dias difíceis e surras levadas no treino, em alguns dias eu obtinha minhas vitórias pessoais quando os senseis me elogiavam pelo nome e quando eu via nos olhos do meu irmão que ele sentia orgulho daquilo. Eram sete dias da semana, que eu lutava para vencer e crescer, mas acima de tudo eram dias em que eu lutava por aprovação.

Tinha dias em que não ia bem, fazia tudo errado no treino e me sentia envergonhado por naquele dia ter falhado com o meu nome. Porém quando se vive sete dias por semana, respirando e querendo alguma coisa, é possível dar o troco logo em seguida, porque a intensidade lhe permite isso.

Um dos maiores orgulhos que tenho na minha vida no Karate-Do, é hoje dizerem que o Horácio é irmão do Akira e em alguns casos pelo caminho que trilhei com os meus próprios pés, eles até dizem que o Akira é irmão do Horácio.

Nós somos os irmãos Saito do Karate, não apenas pelo sangue, mas sim pelo significado do nosso caminho que nos une em nossas vidas. Somos irmãos, de sangue e por merecimento.

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