segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nosso Caminho

O avião taxia na pista do aeroporto Internacional de Cumbica em Guarulhos e eu espero ansioso para descer e reencontrar minha família. Penso que deste dia em diante é uma nova etapa, um novo caminho a percorrer. Iniciar no Brasil um trabalho que iria exigir muita responsabilidade, mas também seria uma grande honra.
Passo pela alfândega e logo vejo o portão que separa os viajantes das pessoas que aguardam ansiosas. É uma sensação muito engraçada, diferente em todas as vezes que você passa por aquele portão. É muito bom viajar, mas é muito melhor voltar para casa.

Abraço a todos que estão ali, e desta vez quando abraço meu irmão, é como se tivesse voltado a ter o meu braço direito. Aquela era uma sensação realmente boa. Felicidade é saber aproveitar estes pequenos momentos de nossa vida e poder levá-los para todos os outros momentos.

Retornar à nossa casa, só que nova, reformada, graças ao meu pai que retornará antes ao Brasil e tinha reconstruído o que sempre chamamos de lar. Era bom estar de novo aqui.
Já no dia seguinte enviei ao Mestre Watanabe a carta de recomendação do meu Mestre por fax e falei com ele ao telefone. Imediatamente nos deu as boas vindas, o que fazia parte do caráter do grande homem que sempre foi o Mestre Watanabe e nos convidou para participar do campeonato Brasileiro de Karate-do Goju-ryu que aconteceria na cidade de Serra Negra já no final de semana.

Ali sentados na van em direção à Serra Negra, começávamos a trilhar o nosso Caminho aqui no Brasil, eu e meu irmão Horácio, irmãos de sangue, amigos  de verdade.....



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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Irmão de sangue

Buscar o meu no aeroporto era algo que me causava euforia e alegria, porém ao mesmo tempo havia uma sensação estranha. No caminho do aeroporto, um misto de sensações. Entre aquela alegria pelo reencontro e a certa estranheza.

Num período curto de tempo talvez eu tenha mudado muito, ou pelo menos achava que tinha mudado muito e de certa forma eu não sabia muito bem se mesmo assim tudo continuava a mesma coisa.

É claro que hoje, eu sei que certas coisas e nesse caso, as mais importantes, nunca mudam. Nem com o tempo, nem com outras circunstâncias da vida. O sangue permanece sangue, o caminho permanece o mesmo caminho e estes dois fatores se cruzam, se confundem entre si ao longo dos anos, então além do sangue, o caminho nos faz irmãos.

Um silêncio pairava nos meus pensamentos. Em mais desses dias que definem o que é a nossa história. Vejo o meu irmão no portão de desembarque e era simples como é hoje, irmão de sangue, amigos de verdade.

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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Aguardando o retorno

Em agosto tinha participado do Campeonato Nacional da Goju-kai em Tokyo, mas infelizmente esta era minha última participação e não consegui trazer para casa uma medalha. Voltei um pouco frustrado confesso, mas torneios no Japão são assim mesmo, o nível além de ser alto e competitivo, é também volumoso. Uma chave de uma categoria ter mais de 50 participantes é comum e conquistar uma medalha é realmente um fato difícil.
Mas por outro lado, tinha prestado o exame para o 3 Dan e havia passado, o que me deixou feliz. Meu Sensei já havia me entregue também uma carta de recomendação para o Mestre Watanabe para quando eu chegasse ao Brasil. Nela, dizia que eu estava autorizado também a utilizar o nome da Associação Shizuoka Goju-kan no Brasil, fato de muito orgulho, mas também de muita responsabilidade.

Arrumava as malas, nelas, além da bagunça, muitas lembranças de todo aquele tempo em que passei no Japão. Com certeza não há preço que pague a vivência e a experiência de ter convivido com grandes Senseis nos Dojos de Hamakita, Hamamatsu e claro, do Honbu Dojo de Shizuoka em Sagara. Com cada Sensei aprendi uma coisa diferente e marcante, mas uma coisa era muito clara. Todos eles ensinam Budo pelo exemplo, pela conduta correta, pela honra e dignidade empregada em seus dias de vida, pelos atos moldados e forjados por ensinamentos da Arte Marcial Japonesa.

Passagem comprada, estava ansioso para voltar à minha terra natal, reencontrar minha família, não apenas para visitar, mas agora para pensar em não mais se separar.
No Brasil iríamos iniciar um novo legado, levar o nome do nosso Mestre e sua técnica. No Brasil um Saito já estava fazendo o seu trabalho e já se destacando em algumas competições. O Horácio apesar de estar treinando no Dojo do Sensei Wagner que era Shotokan, estava mantendo as características do estilo nos seus treinamentos de kata.

Esperando o dia do embarque, esperando para os Saito Brothers estarem juntos novamente......


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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Todo presente, se faz presente

Generosidade e humildade são palavras que para mim,. definem grande parte do que significa a palavra Mestre, quando o assunto é Karate-Do.

Por trás de todo conhecimento, de anos de vivência percorrendo um longo caminho, sempre há uma base gigante que expressa tais qualidades.

O Konomoto sensei não era diferente. Ou melhor, ele é a definição da palavra Mestre. Em cada gesto, eu nunca vi um sinal que mostrasse qualquer falta de humildade. E acredito, que o caminho natural do Nagatani sensei seguia pelo mesmo destino.

Os presentes, vindos destes senseis, se contar com os pães de sua padaria, que o sensei Nagatani nos dava sempre após os treinos do sábado para que não gastássemos dinheiro com comida na volta para casa, eram presentes frequentes.

Os pães do sensei Nagatani, a luva da Mizuno que ganhei da Kondo-san, o dinheiro que recebi do sensei de Hamakita, a medalha que um dia foi do sensei Konomoto e que num dia, em uma lição sobre desapego, simplesmente me deu. Tudo isso, todos estes presentes continuam presente na minha vida.

Para mim, mais do que agrado, estes presentes significam confiança e esperança depositadas em nós naquela época. O engraçado disso tudo é que hoje, ao lembrar destas coisas e ao pegar em mãos alguns destes objetos, eu sinto o que eles depositaram nestes presentes. Confiança e esperança.

Existem presentes que só tem como função agradar. Nada de errado com isso, se este for o propósito. Mas existem outros presentes que acredito que poucas pessoas tem a honra de receber na vida, presentes que se fazem presentes, porque você honra, sua, chora e sorri para manter os valores daqueles objetos e memórias intactos.

O valor de cada presente, permanece aqui. Nós estamos presentes.

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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Presente Especial

O dia do exame para San Dan se aproximava, o Campeonato Nacional Goju-kai se aproximava e o meu retorno para o Brasil também se aproximava. Era um misto de alegria, medo, ansiedade e preocupação. Nestes dias era sempre bom conversar tanto com o Sensei Nagatani (Shihan-dai do Dojo) como com o Hanshi Konomoto. As coisas pareciam sempre bem mais fáceis quando ditas por suas palavras. E desta época acredito que consegui trazer uma das mais importantes lições, que é de sempre pensar, independentemente de quanto a situação esteja ruim, pensar no que o meu Sensei faria, o que ele diria. Tento pensar em como um grande Mestre, como é o meu Sensei resolveria aquela situação. Confesso que esta lição tem sido muito útil desde que retornei do Japão.

Em um dia normal de treinamento, após terminarmos, quando estávamos limpando o Dojo, o Hanshi Konomoto me chamou e disse que gostaria de me entregar algo. Pediu para que eu olhasse dentro de uma caixa que estava no chão, próximo à estante. Olhei curioso e dentro tinha um protetor antigo de karate (bogu), estava completo com o Men (capacete) o Do (protetor de tórax e virilha) e o kote (protetor de mão e antebraço). Achei o máximo, pois nunca tinha visto um ao vivo, apenas em fotos antigas. Fiquei ali admirado, reparando nos detalhes, imaginando de como eram os treinamentos de kumite antigamente, quando utilizavam aqueles protetores. Após ficar um tempão ali admirando, coloquei-os de volta na caixa. Então o Hanshi se vira para mim e diz: É seu! Para você levar ao Brasil.
Na hora nem acreditei, pensei até ter entendido errado. Fiquei sem saber o que fazer, agradeci e agradeci de novo. Peguei a caixa com todo cuidado para guardar no porta mala do carro, não sabia o que dizer e fazer ao certo. Apenas agradeci com toda sinceridade, era um presente sem igual.

Passaram-se quinze anos e olhando para o bogu hoje, continuo ainda com aquela mesma sensação, realmente foi um presente Especial......

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quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Bastante

Ganhava finalmente altura e perdia peso, ou melhor, não perdia peso e só crescia mesmo. Dos doze ao início dos meus quatorze anos, posso dizer que fui gordinho e baixinho. Tudo que alguém pode desejar(ao contrário) nesta fase da vida. Mas os dias de pouca estatura e peso a mais, ficava para trás naquele ano em que finalmente chegava o meu estirão.

A falta de altura já me causava muitos problemas desde o último ano em que morei no Japão. Já estava difícil competir com a diferença de altura.

Da mesma forma também que era dureza perder tais competições e ainda ter que "aturar" o meu irmão nos treinos de portas fechadas. Eu queria ser maior que aquele pouco mais que um metro e meio.

Porém agora as coisas estavam mudando. Naquele ano ganhei uns centímetros a mais que de certa forma me moldavam, talvez a vida e o tempo me preparava para a volta do meu irmão.

Nesta época, influenciado pelos novos moldes em que o meu corpo se ajeitava, eu peguei gosto pelos exercícios abdominais, talvz até por um certo trauma de nunca mais querer ser o gordinho de novo.

Fazia então meus treinos de Karate e tomava gosto pelo que se pode fazer de bônus quando ninguém estava me cobrando. Talvez esta tenha sido a minha primeira experiência de fato com o fator "treinar sozinho", por conta própria, por gosto próprio e pelas próprias metas.

Porém com toda a ingenuidade do mundo eu cometia um erro grave que mais tarde colocaria todo este prazer que eu sentia naquele momento no chão.

Eu achava que era o bastante, me satisfazia crendo que era o bastante e é aí que eu me enganava.

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Japan Karate-do Federation

Participar da etapa estadual classificatória da Província de Shizuoka da JKF (Japan Karate-do Federation) era uma experiência e tanto. Ali estavam todos os melhores atletas da província buscado uma vaga para disputar o Campeonato Nacional.

Eventos no Japão são famosos por sua pontualidade e organização perfeita. Poder acompanhar estes campeonatos de perto foi muito valioso para meu aprendizado sobre organização de eventos.

Tinha conseguido baixar meu peso, graças à uma dieta de maçã e chá verde e corridas todos os dias de manhã. Estava abaixo dos 65kg, importante para a categoria.

Confesso que não gostei da minha participação, venci apenas a primeira luta, não sendo suficiente para avançar na categoria. Perdi a segunda luta por uma diferença de um "wazari".
No kata passei pelas eliminatórias, ficando entre os oito e na rodada final (que ainda era por notas) acabei ficando em quinto lugar.
A competição aconteceu no mês de junho e queria muito ter conseguido uma classificação melhor, para poder voltar ao Brasil com aquele título. A viagem de volta já estava marcada para Setembro e agora só havia o nacional da Goju-kai e o exame para Sandan em Agosto.

Um dia que tive que voltar para casa sem meu objetivo.....

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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A ordem das coisas

Era hora de consumir as próprias vontades. O início talvez, de algo que pode ser definido como "as primeiras verdades".
Muitas sementes são plantadas, muitas vezes sem que realmente se saiba sobre o que está sendo plantado e consequentemente, sobre todos os frutos que futuramente serão colhidos. Nem tudo se trata de controle na vida e exatamente por isso é o controle que sempre buscamos.

Eu nunca treinei Karate pensando em me tornar um mestre ou coisa assim. Não comecei a treinar porque queria alguma coisa em troca, esperando por frutos de sucesso ou coisa do tipo. Mas por mais que eu não soubesse, pensasse nisso naquela época em que comecei a treinar, Karate é uma semente, que em solo fértil se transforma em algo para a vida toda. Uns o cultivam a vida toda, outros desistem e os desistentes, eu apenas considero como solo infértil para o Karate.

Só o tempo diz o que é fértil e o que não é. É necessário seguir, insistir, aprender com o tempo. Num belo dia, você acorda e faz, sem ninguém mandar, sem ninguém cobrar e aí, você de repente pode notar que existe algo brotando daquela semente.

Nada é garantido se você não der suas garantias e dentro do Karate-Do, toda garantia só existe através de provas, que muito provavelmente sejam a água necessária todos os dias, para a "mágica" acontecer.

Então era hora de ver algo brotando daquela semente. Ver por si só. Esse era o caminho natural das coisas. Hoje regando a minha árvore com treino, eu lembro daquela época sem o meu irmão por perto e vejo que tudo estava no seu devido lugar.

Meu irmão estava longe, mas de alguma forma acho que estávamos muito perto e talvez poucos entendam até hoje a nossa relação e sinceramente eu não espero que todos entendam. O que era de sangue, era de sangue, mas mais do que sangue, nós tinhamos a mesma verdade.

Só a verdade interessa e só cresce de verdade, quem cresce da verdade.

Neste solo, eu planto, colho e continuo a plantar.

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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Contando os dias

Voltar ao Japão, para falar a verdade, apenas o fato de estar longe da minha família é que realmente pesava. Voltar a um país que tem infra-estrutura, transporte público que funciona de verdade, povo educado, e que o seu trabalho é valorizado a ponto de não ter que ficar calculando se o dinheiro irá dar até o final do mês. Coisas de países de primeiro mundo e que infelizmente o Brasil está a anos luz disso tudo.

Retornar ao Dojo do meu Sensei e nos Dojos onde eu dava aulas foi muito bom, pois ali eu tinha conquistado uma das coisas mais importantes que um ser humano pode ter: a Confiança. Ali eu já não era um estrangeiro, um brasileiro, ali eu era um Karate-ka e todos me respeitavam por isso, era muito bom estar ali novamente.

Contei ao meu Sensei sobre os planos de voltar definitivamente ao Brasil e se ele me permitiria utilizar o nome da Associação Shizuoka Goju-kan. Prontamente ele disse que sim e que escreveria uma carta de recomendação ao representante do estilo Goju-ryu no Brasil, Hanshi Ryuzo Watanabe. Hanshi Ryuzo Watanabe era amigo pessoal do meu avô, pois ambos eram da Província de Fukushima e no Brasil participavam da mesma Associação. Meu Sensei disse que quando ele e o Hanshi Watanabe se encontravam, eles conversavam, mas que era bem difícil o entendimento, disse ele rindo. É que o japonês falado em Fukushima tem um tom carregado e com vários verbetes próprios da Província, quase se tornando um dialeto.

O Sensei disse também que eu faria o exame para San Dan em Agosto, um mês antes de eu retornar ao Brasil.

Mais do que nunca, agora eu estava contando os dias......


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