segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mente sempre aberta para aprender

Vivia no Japão desde 1990 e confesso que mesmo sendo descendente de japoneses, alguns costumes eram realmente diferentes. Confesso que no início demorei a entender alguns deles, mas o segredo é manter a mente sempre aberta a aprender, e não de forma resistente a achar que o nosso ponto de vista é único.

Enquanto dividia meu tempo em trabalhar à noite na fábrica Tokai, que fornecia peças para motos e barcos para Honda e Suzuki e treinos no Honbu Dojo e aulas nos Dojos de Hamamatsu e Hamakita, tentava estudar e aprender o máximo possível sobre a cultura e os costumes da terra dos meus avós.

Acredito que a maior riqueza que pude trazer do Japão foi o conhecimento, a forma de pensar que me ajudou a superar as dificuldades e ver tudo pelo lado positivo. A forma de pensar em agradecer a tudo, principalmente às coisas ruins que nos acontecem e que nos forçam a sair do lugar. Todos estes costumes fazem parte de uma cultura belíssima e que está intrínseca nos ensinamentos do Karate-do e que meu Mestre me ensinou através de seus exemplos.

O ano de 1994 foi importante para mim, já que me deu toda a experiência para começar a ensinar e sem esquecer de que é sempre preciso não parar de aprender. Este aprendizado é o que sempre me lembro, nunca acreditar que já se sabe o suficiente e que o treino pode ser desnecessário. Geralmente as pessoas depois de uma certa altura da vida, após se convencerem de que já possuem o conhecimento suficiente, deixam de aprender e se julgam superiores às outras, porém, continuam a utilizar o termo "humildade" em seus discursos. Aqueles que realmente sabem, nunca deixarão de aprender e a humildade se faz presente na prática. O conhecimento nunca será suficiente.



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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lar, amargo lar

Naquela jornada de treinos que era um ciclo semanal sem dias para descanso, eu vivia entre sonhos e pesadelos em intervalos curtos de tempo. Em artes marciais japonesas, o Ippon caracteriza o fim do combate, aquele que decide quem permanece vivo e quem é o morto da vez. Nos sete dias, sete treinos, todos os dias eu tinha desafios diferentes. Passando por outros três dojos diferentes além do Honbu Dojo de Sagara, sempre havia uma pedra pelo caminho, uma pedra dentro do meu sapato.

Em Sagara, no Dojo que era a nossa casa, o treino em si já era bem puxado e ali, a maior pedra no sapato era o próprio treino. É uma sensação estranha no início, que cabe dentro do grande paradoxo que é o Budo, era minha casa, mas ali dentro do treino eu nunca tive conforto. Com o tempo, sorrimos com esta situação, porque simplesmente é assim que funciona no Budo, não há conforto onde há sinceridade no treino, há sim realização, mas conforto não. Assim é a nossa casa, assim é o chamado lugar do caminho, o Dojo.

É claro que eu não entendi essas coisas de uma hora para outra e me custou muito entender tudo isso, pois na prática, passar por dificuldades nunca é agradável (ao paladar do ser humano e não do Budoka). Se em Sagara o treino era o gosto amargo, nos outros Dojos onde meu irmão agora ensinava, haviam outros tipos de pedras no meu sapato.

No Dojo de Hamakita, onde muito provavelmente eu era visto como "o irmão do sensei jovem que vem nos ensinar", havia um garoto, faixa preta que nos Kumites sempre tentava azedar as coisas. Claro, meu irmão percebia isso e via nisso uma oportunidade de sempre me colocar em teste. Dessa mesma forma, nos outros dois Dojos de Hamamatsu, existia uma outra pedra, chamada de Aoki. Apesar de eu ser mais graduado que ele, ele era mais velho que eu e bem maior, o que assim como em Hamakita, deixava tudo muito mais azedo.

Na segunda-feira, o faixa preta de Hamakita, na Terça o Aoki, na Quarta-feira Hamakita e faixa preta, na quinta-feira Aoki de novo... Na sexta-feira eu tinha o meu irmão e os treinos físicos pela frente, no sábado era o treino de Sagara. Domingo Deus descansou e eu tinha o Aoki de novo pela frente...

Vamos começar pela segunda-feira...

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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Caminho que nos une

Estar todos os dias juntos, pode ser para muitos, motivo para conflitos, discussões e desentendimentos. Mas, para mim era uma coisa especial. Por se tratar da minha família, sabia o quanto era ruim ficar longe deles, por ter tido como experiência dois anos sozinho no Japão. No caso do meu irmão caçula, além deste fato, tinha agora também a responsabilidade de mostrar a ele o Caminho certo, correto e justo do Karate-do Goju-ryu que estávamos trilhando. Nos dias em que tínhamos que ir ao Dojo de Hamakita, íamos sempre conversando sobre vários assuntos no táxi, depois no trem e depois andando, até chegar no Dojo. Sempre penso na sabedoria das atitudes do meu Mestre, mesmo que na verdade não sabia os verdadeiros porquês, vindo a entendê-los muito tempo depois.

Poder conversar com o Horácio praticamente em tempo integral, nos fez unir ainda mais, não apenas como irmãos, mas como parceiros de treino, o ato de aprender e ensinar era constante e por muitas vezes, não se sabia ao certo quem estava assumindo qual papel. O ato de ensinar requer muita humildade para que sua opinião não se torne única e que não se convença de que se sabe tudo, para não perder a oportunidade de aprender sempre e com qualquer pessoa.

Nosso Caminho se tornou um só, mesmo sendo trilhado por duas pessoas. O Caminho do Karate-do, o Caminho da família, o Caminho dos irmãos de sangue e da amizade.

Várias foram as ocasiões em que a dor e o sacrifício, forçaram uma lágrima a escorrer pelo rosto marcado. Mas com certeza, também foram várias as ocasiões onde o sorriso era a demonstração de uma meta alcançada, de um obstáculo transposto ou um sentimento real de felicidade.

Nenhum Caminho pode ser completo, se não houver como objetivo final a busca pela Felicidade e pelo aperfeiçoamento do ser humano como um todo. Sendo assim, nada seria de utilidade se não fosse um Caminho para ser percorrido por mais pessoas e não por uma única somente.

Este é o nosso Caminho.....

SAITO KYODAI

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um trajeto mental

Durante esse período, onde tudo era mais intenso, eu tive que lidar com muitas pedras no sapato. Treinando sete dias por semana em três lugares diferentes, não havia lugar para me esconder ou fugir. Talvez eu possa dizer que este período foi o mais desconfortável de todos, porque tinha que provar alguma coisa todos os dias.

Treinando no Dojo de Sagara, basicamente era sempre uma questão de provar para si mesmo. O Dojo era longe, o caminho de carro(quando iamos de carro de carona) ou de trem tinha tempo necessário para que sempre hovesse um conflito entre as minhas razões mundanas para não querer ir e a minha vontade de treinar. Durante este trajeto muitas vezes na minha cabeça as razões mundanas falavam alto e a vontade de ir treinar só aparecia quando estavamos parando o carro, chegando no Dojo.

Independente da condição mental e dos conflitos de "fazer ou não fazer", uma vez estando ali, rumando para algum lugar, não há como não fazer. Estar indo para algum lugar já é uma decisão, logo essa batalha mental acaba não fazendo o menor sentido. Uma vez estando em movimento, percorrendo um caminho para algum lugar, quer dizer que não é hora de decisões porque isso já foi decidido antes de você iniciar o movimento. O início é a decisão, percorrer a distância é uma constante afirmação.

Creio que por muitas vezes as pessoas deixam de viver, colher muitas coisas para premeditar o que lhes espera adiante. Algumas vezes estas pessoas são movidas pela sensatez, mas em muitas outras são movidas apenas por esse conflito mental. Fazendo escolhas onde não cabem escolhas, só afirmações.

Claro, se há um desafio adiante, onde você sabe que algo difícil lhe espera, é natural temer, duvidar ou questionar, pois acredito que a grande vitória está no fato de entrar em choque e vencer tudo isso de fato. Mas a questão mora em quantas imersões você teve nesses conflitos de verdade ao longo dos anos. A tentativa é o que molda as pessoas. O teste é a tentativa, então só perde realmente quem não tenta. Quem na mente, já perdeu.

O carro para, são sete e meia da noite. Sagara Dojo, até o fim.

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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sagara Dojo


Carregar um nome em seu karate-gi, tem todo um significado. Claro que para muitos, é um mero adorno, principalmente se estiver escrito em Kanji (ideograma japonês), geralmente pensando mais na sua própria vaidade, do que no verdadeiro sentido em si. Quando carregamos o nome de nossa família (sobrenome) estamos pondo ali toda uma história, todo um legado. Ali está a nossa responsabilidade de não mancharmos e de não envergonharmos o nome de nossa família. Quando carregamos o nome do nosso Dojo, aí não se trata apenas de nós. Envolve toda uma confiança depositada por nosso Mestre em sermos um bom exemplo, para toda uma sociedade. Carregar uma responsabilidade de que fazemos parte de um Dojo que mantém as tradições e que devemos honrar a todo custo.
Assim eram os dias (os sete) da nossa semana no Japão. Carregar no Karate-gi a responsabilidade de que um brasileiro poderia ajudar o desenvolvimento técnico de alunos japoneses e também ensiná-los.
Quando nos perfilávamos no Honbu Dojo da Shizuoka Goju-kan (Sagara Dojo) era para mim, um grande orgulho poder fazer parte dos "Shidoins" (instrutores), não pelo status, mas pela confiança dada a mim, de que eu podia levar o nome do meu Mestre, de que eu era uma pessoa que honraria tal responsabilidade.
E exatamente era esta a cobrança que eu fazia do meu irmão, que suas atitudes fossem merecedoras de orgulho, que o nome da nossa família e do nosso Mestre fossem sempre honrados. Assim, quando ele recebeu o seu primeiro Karate-gi da marca TOKAIDO, sabia que aqueles kanjis não eram meros adornos e sabia também que o nível de exigência de seus treinamentos e sua responsabilidade iriam aumentar na mesma proporção.
Shizuoka Goju-kan Honbu Dojo ou Sagara Dojo, um lugar que aprendi a respeitar, um lugar que me serviu de lar, um lugar para honrar até os últimos dias da minha vida.....

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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Irmãos por merecimento

A nova rotina era puxada. A esta altura do campeonato, já não era mais faixa branca. Isso na prática além de representar o seu nível técnico, quer dizer que além de tudo existe a responsabilidade de ser "melhor" que alguém, saber mais que alguém e por consequência, tratando-se de Karate-Do significa que, de nada adianta ter uma faixa colorida, seja ela qual for se esta mesma não for justificada pelo seu empenho prático.

Além disso, nesta época eu era uma espécie de agregado do meu irmão. Indo para cima e para baixo, o acompanhando na sua nova empreitada dentro desses outros Dojos. Carinhosamente chamo essa época de sete dias, sete treinos. Não havia dia de folga, a não ser por algum tipo de impossibilidade maior do meu irmão, que nesse caso significava estar doente e assim como hoje em dia, isso quase nunca acontecia(ele é um X-Men).

Quando tudo isso começou, sinceramente não lembro se eu já tinha um Karate-Gi de lona ou se ainda usava o vellho Fuji Daruma mais simples de todos. Mas lembro-me muito bem, de quando já vestia um Tokaido, de tirar o Kartae-Gi da mala e colocá-lo direto no varal do apartamento, para que este secasse ao vento, estando pronto assim no dia seguinte para um novo treino. Uma vez por semana, era quando minha mãe(que também trabalhava numa fábrica) tinha disponibilidade de lavá-los(o do meu irmão também) e assim seguíamos com um único Karate-Gi cada nessa jornada de sete dias de treino.

Eu não tenho vergonha nenhuma de dizer que em muitas coisas, incluindo o Karate eu nunca fui o melhor. Sempre tive que me esforçar muito para ser bom em algo. Dentro destes dojos, eu me esforçava sempre além do que podia, na maioria das vezes por imposição do meu irmão, mas sempre indo além daquilo que era confortável fazer. Nos sete dias, sete treinos, eu tenho dentro da minha história no Karte-Do, a parte mais intensa, por vezes divertida e por outras tantas, as mais difíceis.

E foi ali, naqueles Dojos que eu comecei a aprender que ser irmão de Akira Saito, ali dentro não era uma questão de sangue ou DNA, era uma condição que eu tinha que provar dia após dia. Quando se é irmão de alguém que é bom em alguma coisa, é comum as pessoas lembrarem de você como "o irmão de".

Na prática isso possui dois sentidos distintos. No primeiro, quer dizer que você é exatamente apenas um agregado e ninguém lembra do seu nome. Irmão, apenas na ligação de sangue. No outro sentido, quer dizer que você é "O Irmão", querendo dizer que você é aquele que honra o nome, a carreira, o caráter e tudo que o seu antecessor tem ou teve, da forma mais digna possível.

Nos sete dias, sete treinos, eu vivi para ser "O irmão". Mais do que campeonatos vencidos, entre dias difíceis e surras levadas no treino, em alguns dias eu obtinha minhas vitórias pessoais quando os senseis me elogiavam pelo nome e quando eu via nos olhos do meu irmão que ele sentia orgulho daquilo. Eram sete dias da semana, que eu lutava para vencer e crescer, mas acima de tudo eram dias em que eu lutava por aprovação.

Tinha dias em que não ia bem, fazia tudo errado no treino e me sentia envergonhado por naquele dia ter falhado com o meu nome. Porém quando se vive sete dias por semana, respirando e querendo alguma coisa, é possível dar o troco logo em seguida, porque a intensidade lhe permite isso.

Um dos maiores orgulhos que tenho na minha vida no Karate-Do, é hoje dizerem que o Horácio é irmão do Akira e em alguns casos pelo caminho que trilhei com os meus próprios pés, eles até dizem que o Akira é irmão do Horácio.

Nós somos os irmãos Saito do Karate, não apenas pelo sangue, mas sim pelo significado do nosso caminho que nos une em nossas vidas. Somos irmãos, de sangue e por merecimento.

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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Saito Kyodai

Com os treinos aos sábados à noite no Honbu Dojo de Shizuoka e com os outros três Dojos para ajudar a ministrar aulas, confesso que o ritmo ficou muito mais intenso e claro, mais cansativo. Eu estava com 23 anos e como qualquer ser humano, às vezes eu sentia preguiça e por muitas vezes queria ficar um pouco mais dormindo. Motivos não faltavam para que eu não fosse ao treino no Honbu ou ligasse para os Senseis dos outros Dojos dizendo que tinha feito horas extras no serviço na noite anterior (o que era verdade) e que por causa do cansaço não poderia ir. Afinal de contas, eu estava ali para ajudar, não cabia à mim a responsabilidade do Dojo, certo? Errado! Cabia à mim honrar a minha palavra, honrar a oportunidade e a confiança que estavam me dando. Então, precisava superar estes "pequenos" obstáculos, transformar um dia de 24h em 30h ou mais, esquecer que sentia cansaço, dor, preguiça ou qualquer outra coisa que pudesse se transformar em "motivo" ou "desculpa".
Esta época foi essencial para que pudesse entender as diferenças entre "estar no treino" ou "não estar no treino", entender a diferença entre Sensei e aluno, já que o aluno quando falta tem um motivo e acha que sua não presença não afetará diretamente o desenvolvimento da aula, já o Sensei sabe que não existe motivos para não ir e sabe que sua presença ali é de suma importância. Na verdade o bom treino seria se todos pensassem igual, já que o que difere o Sensei do aluno, são os anos de treino, nada mais, as atitudes na verdade deveriam ser as mesmas.
Nesta época também, se intensificava mesmo sem saber, uma grande parceria que no futuro traria grandes frutos. A parceria com o Horácio, já que ele me acompanhava em todos os treinos e aulas. Nas aulas nos Dojos de Hamamatsu e Hamakita além dos Senseis terem me dado total liberdade para ensinar e corrigir os alunos, era muito legal ter o meu irmão como exemplo para as demais crianças e jovens. Ele já havia conquistado alguns títulos importantes e por isso os alunos se espelhavam bastante nele.
Foi uma época de muito aprendizado e de conquistas, mas acima de tudo, uma época de unir o sangue, amizade e família.....



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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Lei da Intensidade

Depois daquele ano, o conceito de treinar nunca mais seria o mesmo. Naquele ano, acompanhando mais do que nunca o meu irmão para cima e para baixo em outros três Dojos de Karate, o que já era puxado, se tornou de vez muito mais intenso do que eu podia imaginar.

A semana tem 168 horas. E intensidade nesse caso quer dizer, quanto tempo você gasta fazendo de fato alguma coisa que faz sentido nesse espaço de tempo. Nessa época, na verdade o que mudou foram os locais de treino e a vestimenta. Antes do meu irmão ser promovido para Nidan e assumir a responsabilidade de ajudar outros senseis em outros Dojos, nós cobríamos os dias sem treino de Karate-Do no Dojo, com treinos físicos de Karate-Do fora dele. Agora eram sete dias da semana, sete dias de Karate-Gi.

A intensidade do meu treino sempre foi muito vigiada de perto pelo meu irmão, sempre fui colocado diante de números, situações e adversários difíceis, que sempre, sem excessão ou folga tinham algo que ia além do que eu possuia no momento. A tendência então, foi isso tudo piorar. E foi de fato o que aconteceu.

Agora quase não havia mais tempo para digerir as derrotas nos treinos, os fracassos nos exercícios ou as broncas frequentemente recebidas, ser intenso significa entre tantas coisas "ter uma digestão rápida".

A verdade das coisas caminha lado a lado com a intensidade. Não existe maneira de ser bom em algo se não investir na intensidade. Há de se ter uma prática intensa e neste caso nem estou citando o número de horas gastas ou o número de repetições necessárias pois isso tudo é muito subjetivo e pode mudar de acordo com a situação vivida por cada um. Claro que para mim naquela época, significava sim horas de prática e número de repetições, mas na vida adulta, nos sonhos adultos, mais do que tudo isso é necessário ter uma visão intensa sobre os objetivos, ser sempre sincero ao extremo com aquilo que você faz. Ser o melhor e mais um pouco, naquilo que você se dispôs à fazer. Falhas não são aceitas, são digeridas como lições e amanhã é um outro dia, com uma nova verdade em jogo, no mesmo além do limite, além da intensidade.

Niguém aprende isso nos livros, nas conversas e muito menos nestas palavras ditas aqui. A lei da intensidade é a lei da prática.

Não há justificativas para o não ser intenso e se há, então não há sinceridade na sua escolha. A intensidade é a mais pura sinceridade.

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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Aprender Ensinando

O ano de 1994 foi marcado por novos desafios. Fiz o exame para Nidan pela Japan Karate-do Goju-kai Association e também pela Japan Karate-do Federation. Foi então que meu Mestre Konomoto Takashi me promoveu a Shidoin (instrutor) para ajudar com os alunos mais novos do Honbu Dojo de Shizuoka, apesar das minhas dúvidas sobre se eu poderia realmente ensinar alguma coisa. Mas ali no Honbu eu contava com o Nagatani Sensei, que era o Shihan-dai (instrutor chefe) do Dojo e também os outros Shidoins, então eu mesmo ensinava muito pouco. Foi quando meu Mestre me disse que como eu morava na cidade de Hamamatsu, eu poderia ajudar três Dojos da região. Foi então que comecei a ensinar o pouco que sabia a alunos japoneses. Às segundas e quartas-feiras ajudava o Sensei no Dojo no centro de Hamamatsu, às terças e quintas-feiras ajudava no Dojo de Hamakita, aos domingos ajudava no Dojo em Hamamatsu que ficava dentro de um shopping center e aos sábados ia até o Dojo do meu Mestre. Confesso que no início fiquei meio apreensivo, pois além do fato de ser "apenas Nidan", eu era um brasileiro tentando ensinar a arte dos japoneses, aos japoneses. Mas, ensinar na língua japonesa, corrigir os erros, e cumprir todos os procedimentos tradicionais, fez com que qualquer barreira deixasse de existir. Tinha a confiança dos Senseis dos Dojos, em função de eu ter sido enviado pelo meu Mestre, e o convívio com estes Senseis também me fez parte de suas famílias.
Minha rotina, claro, aumentou bastante, mas, uma vez assumido o compromisso, não há desculpas para não cumprir. Durante a semana, quando trabalhava durante o dia, ia aos Dojos após o trabalho e quando estava trabalhando a noite, ia aos Dojos dar o treino e depois ia trabalhar. Aos sábados ia para o Dojo do meu Mestre treinava até às 22h30, voltava para casa e ia trabalhar até às 8h da manhã do domingo, voltava para casa, tomava um café reforçado e ia para o Dojo que ficava dentro do Shopping center. O treino com os alunos mais novos começava às 9h30 e ia até às 12h, depois treinava com o Sensei do Dojo até às 14h. Voltava para casa às 15h, almoçava e ia dormir.
Essa rotina semanal sempre era acompanhada pelo meu irmão Horácio, e isto nos aproximou ainda mais. Conversávamos sempre no trem, no táxi, na estação enquanto esperávamos o trem, no caminho a pé até chegar no Dojo.
Este fato de eu ter que ensinar, na verdade, me fez aprender muita coisa. Meu Mestre "é realmente um Mestre" e claro, tudo isso foi premeditado. Eu tinha que aprender muita coisa na prática, e ele mais uma vez, me pôs em teste.
Sou muito grato a estes ensinamentos, e me fez entender que se queremos progredir dentro do Karate-DO, todos nós, independentemente de sua idade ou graduação, temos sempre muito mais a aprender do que a ensinar, princípio básico da humildade.......

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