quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Deixando tudo para trás


O ano vai virando e está quase na hora de jogar o atual calendário fora. Sempre nessa época do ano eu lembro de tudo que vivi até aqui, não só deste ano que passou, mas de todos os anos que se passaram + este que agora se passa.

Olho para os objetos na minha mesa, desde os mais antigos até os mais recentes, lembro do dia em que foram parar ali e de qual era a sensação que tive no dia em que os avistei pela primeira vez.
Todo fim de ano eu faço exatamente a mesma coisa com as lembranças que guardo dentro da minha cabeça. Tiro a poeira, pego na mão e dou uma bela encarada.

Não há tempo que pare ou que volte.
Faz tanto tempo que vivi no Japão e tanta coisa já ficou para trás. Mas não estou dizendo isso(ficou para trás) no sentido de largar ou abandonar, mas sim de ter vivido tantos bons momentos, um atrás do outro que ao analisar mais um ano que termina, dá orgulho e saudade de tanta coisa boa que já está tão distante na linha do tempo.

É uma sensação boa. Deixar tudo para trás é bom, para aqueles que continuam vivendo, sentindo, trabalhando e sendo a mesma pessoa em sua essência, a mesma daquele tempo já longínquo. É bom olhar para trás se você continua o mesmo, da mesma forma que é inspirador olhar para frente e sentir que muitos outros bons momentos estão logo ali adiante.

Penso que esse é o jeito correto de passar pela vida. Se existe o passado, é honrando com o presente, se existe saudade, é uma saudade boa e se o futuro promete, só promete porque você está fazendo a coisa certa.

Então respiro fundo e mesmo hoje não tendo uma história bacana para contar da época em que era apenas um menino aprendendo sobre Karate ou sobre a vida com o meu irmão, no Japão, sei que é um bom dia para contar para mim mesmo que tudo é bom, porque fizemos com que fosse bom até aqui.

Deixo tudo para trás então mais uma vez em busca de algo logo ali, algo que sempre faz os meus olhos brilharem. Pensar sobre o ano  novo que se aproxima é entender que tudo foi tão divertido até aqui. Sim, divertido. Os dias bons, os ruins, o que aprendi, enfim, tudo!
Não faz sentindo, se não ver Graça. Não faz sentido se não gostar. Gostar de criar, gostar de praticar, gostar de trabalhar para crescer!! Gostar de caminhar!!

Então, deixo tudo para trás!! Nos vemos no ano que vem! Os Saito Brothers desejam à todos um FELIZ ANO NOVO!!!

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Família acima de tudo

Quando não estávamos treinando, passávamos nossos dias em família. Comemorarmos aniversários, Natal, Ano Novo, tinha um sabor especial, já que alguns anos atrás, tive a experiência de passar estas datas sozinho e pude comprovar que a solidão não é boa para ninguém. Por isso, a família tem um valor essencial para mim.
Viver em harmonia, buscando trilhar o caminho, ao lado da família, isso era além de estimulador, uma forma de poder cumprir também o papel de quem queria honrar o nome dos antepassados.

Nosso vida diária era corrida, nossos treinos eram pesados, mas era sempre descontraído estar sempre ao lado da família. O conceito do karate-do em relação à família tinha todo o propósito de melhoria do ser humano através de sua prática, e por isso era também uma ferramenta importante no meu aprendizado.

Minhas lembranças desta época são sempre muito boas e me trazem flashs de alegria e felicidade. Compartilhar esta alegria com meu brother Horácio era uma coisa que fazíamos sempre, seja conversando durante um treino, ou logo após seu término na volta para casa, de ônibus, táxi, trem ou mesmo a pé. Realmente o que faz um caminho valer a pena é o seu percurso e o valor que tudo isso representa, o nosso era, é e acredito que sempre será isso......

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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Naturalmente um mundo pela frente

Com treze anos de idade eu tinha a minha faixa preta. Aquela, que geralmente no Ocidente as pessoas cobiçam tanto desde o primeiro dia em que pisam num Dojo de Karate. Sim eu digo no Ocidente, porque eu nunca vi coisa do tipo lá naquele canto do mundo.

No Japão, era muito mais comum, e é muito mais comum a palavra naturalidade do que a palavra cobiça. De uma forma bem geral, os japoneses vivem a vida com fluidez e naturalidade. Existem metas, desafios e ambições sim, mas sempre tudo parece estar de acordo com um plano muito maior, sempre organizado pela disciplina e dedicação nos afazeres. Então sempre o que se vê é uma naturalidade nas coisas, pois sempre a cabeça está focada no trabalho do dia de hoje. Amanhã é importante, mas os pensamentos no agora, é o que tem para o dia de hoje.
Se eu for colocar isso como Karate-Do, que é uma arte criada para a Defesa, direi o que sempre digo. Contragolpe não existe sem defesa.

Todo mundo vai chegar onde quer. É o que transparece no trabalho silencioso daquele povo, que nunca reclama das coisas. É como se todos compreendessem muito bem que se o trabalho é bem feito, não há porque os resultados não aparecerem. Parece bem óbvia essa mentalidade, mas pelo menos por aqui no Ocidente, eu vejo isso sendo óbvio somente na teoria e para alguns casos, nem na teoria, o que muitas vezes acabam resultado na cobiça pelas coisas de uma forma errada.

O tempo é precioso, nunca volta atrás e muitas vezes as pessoas iniciam alguma coisa, já pensando no dia em que chegarão ao fim, algumas vezes até procurando "atalhos" para este "fim".

Como Karate, é Do, que também se lê como Michi(caminho), creio que existe a extrema importância de se prestar muito mais antenção e captar os detalhes do caminho, tentando captar e absorver o máximo possível de todo o trajeto pelo qual seus pés caminham. Para onde vai interessa, mas por onde anda conta muito mais.

Ser faixa preta para mim era divertido e óbvio. Eu fiz o necessário para estar ali e nunca naquela época, me via andando pelos caminhos de hoje portando um terceiro Dan. De trecho em trecho, treinando(caminhando), prestando o máximo de antenção nos detalhes o tempo voa e quando menos se percebe, um bom tempo se passou e o mais interessante de tudo, sempre existe um mundo imenso pela frente!

Um mundo tão grande, que ao programar o próximo passo, se olhar demais até assusta um pouco, mas volto a olhar para os meus pés, respirar fundo, olhar ao redor, sorrir e agradecer.

Treze anos de idade, respira fundo e segue adiante. Era assim naquela época, é assim nos dias de hoje. Naturalmente, existe um mundo pela frente.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um nome, um ideal, honra e história

No Japão, o nome da família tem um valor incalculável. O nome da família conta com um registro em sua Prefeitura de origem, onde consta a árvore genealógica com todos os antepassados. Por isso é ensinado que nunca se deve envergonhar e desonrar o nome da família, uma herança da época dos samurais e motivo real de valor. Por isso em nossos karate-gis estão bordados os kanjis de nossa família e não de nosso nome próprio.

No Honbu Dojo de Shizuoka, lá estavam nossos sobrenomes em plaquetas na parede. Isto significava que estávamos ali para termos responsabilidade e para honrar o Dojo e nossa família. Agora a família Saito tinha dois representantes que deveriam honrar com dignidade o Dojo e também a família.

Ser um faixa preta significa ter a responsabilidade e cumprimento do caminho acima de qualquer ambição pessoal. E ali estávamos agora, trilhando o nosso caminho, buscando o cumprimento de um ideal.
Treinar com afinco, buscar a superação dos próprios limites, ter em mente que agora não se trata apenas de si mesmo, mas de todo um legado.

Honrar nosso Mestre, honrar nosso Dojo, honrar o nome de nossa família e buscar com isso um lugar no história do Karate-do Goju-ryu.

O ano era de 1995 e se queríamos algo era preciso trabalhar duro, trabalhar muito.

Saito Brothers, Karate-do Goju-ryu, família e honra.....

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

50% e Karate-Do antes de tudo!

Sempre quando competi, tive o meu irmão do meu lado. Enquanto aguardava sentado, vendo os outtos garotos lutarem ou fazerem seus Katas, meu irmão sempre estava ali comigo, me falando coisas sobre as lutas que aconteciam, me orientando sobre possíveis adversários, dando conselhos sobre como eu devia me comportar durante a luta ou anotando as notas dos Katas numa folha de papel.

No Japão, além de na maioria das vezes as categorias terem muitos participantes, o que já aumentava a dificuldade das coisas, sempre a competitividade entre estes era muito grande. Era tudo muito equilibrado, onde lutas se decidiam sempre em detalhes, e décimos de ponto dividiam as colocações na competição de Kata.

Hoje, lembro de coisas que agora são engraçadas, mas que na época eram um tanto quanto frustrantes. Lembro de algumas vezes na competição de Kata, onde tirava notas boas, lá pela apresentação do atleta número 30, estar perfeitamente no páreo para passar para a final ou até mesmo conseguir uma boa colocação e ganhar um troféu. Porém, na medida que os atletas se apresentavam, Kata após Kata, meu irmão me dizia "ah, esse te passou por um décimo", "ah esse te passou por dois" e quando a categoria chegava ao seu fim, lá no atleta de número 100, eu já não estava tão no páreo assim.

Estar entre aqueles 50% que tinham chance de brigar pelo título, para mim já era motivo de alegria pois o nível é muito alto e parecido entre os atletas que compõe essa fatia. Mas é claro que só isso não era nem de longe o bastante, o interessante mesmo era ganhar!

E um fator muito curioso, é que por mais competitivo que fosse, por mais que o número de atletas fosse grande, eu nunca vi nenhum atleta questionar a decisão de árbitro algum. Nunca vi o meu irmão duvidar de resultados e voltar reclamando para casa. Sempre o vi dizendo que tinha que treinar mais. Isso sempre serviu para mim também.

Além do respeito de quem compete, acredito que no Karate Japonês, assim como no Japão em todas as áreas, cada um faz o seu papel com muito orgulho, amor e competência. Antes de atletas eu via alunos de Karate-Do, antes de técnicos eu via Senseis de Karate-Do, antes de árbitros eu via ali sentados Senseis e Mestres de Karate-Do. É claro que o erro faz parte da condição humana e muitas vezes por mais perfeito que fosse, algum erro acontecia, mas quando se sabe que todos ali fazem devidamente a sua parte sempre, literalmente não há nunca do que reclamar.

Muitas coisas no mundo da competição hoje em dia(no Ocidente), não dão certo justamente porque as pessoas não fazem a sua parte e tudo vira uma bola de neve. Antes de tudo, há o Karate-Do, caso contrário nada faz sentido.

Antes de tudo, há sempre o Karate-Do e sua filosofia.

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Treinar como Budoka competir como atleta

Uma das coisas que admiro no Japão é a capacidade que as pessoas tem em assimilar e conviver com o que há de mais tradicional com o super moderno em perfeita harmonia e sem conflitos. Nos treinamentos em nosso Dojo era exatamente desta forma que os Senseis conduziam os ensinamentos. A tradição se mostrava presente em tudo que fazíamos, etiqueta, cerimonial, hierarquia, formas de treinamento, etc. Porém, éramos estimulados a competir, e com isso, aprendíamos as regras da competição e as características "modernas" do Karate-do.

Na competição tínhamos a chance de colocar alguns fatores em prática e nos colocar também em teste, a principio contra os adversários, depois contra nós mesmos.

Com este ensinamento, pude aprender a não ser "radical" e aproveitar o que há de melhor tanto dos treinamentos tradicionais e também da competição.
Como este pensamento no nosso Dojo era praticado por todos, o Horácio também fazia parte disso, por isso quando ele se formou faixa preta, já era parte da equipe que representava o Honbu Dojo em várias competições.
O treinamento sempre foi muito intenso, muito detalhista e perfeccionista. Pensando assim não é difícil de imaginar que na competição seria fácil de se destacar, certo? No caso do Japão, não. Porque todos os Dojos também pensam assim. Então em uma categoria onde haviam cerca de cem competidores, dava para se afirmar com certeza que, pelo menos 50% eram fortes candidatos ao título de Campeão, era portanto, uma competição muito acirrada.

Aprendemos sempre com nossas derrotas e este ensinamento de saber perder é muito importante. Mas, por outro lado, é necessário também saber "ganhar", pois ganhar uma vez pode ser difícil, mas se manter, pode ser ainda mais. A competição pode ser que tenha uma data de validade, mas quem pratica como Budoka sabe que o karate tem que ser para a vida toda, por isso os ensinamentos do Hanshi Konomoto são para mim um verdadeiro tesouro.

O Horácio estava aprendendo a se tornar um Budoka e com grande mérito iniciando sua carreira de atleta e de suas conquistas......

Horácio Saito - Campeão Estadual Shobukan Aichi-ken


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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Só existe 1995

O ano de 1995 deve ter sido um dos anos mais marcantes da minha vida. Um dia após completar treze anos de idade, recebo pelas mãos do sensei a minha faixa preta. Estava me destacando bem nos campeonatos e sempre indo para cima e para baixo com o meu irmão, fosse nos treinos, fosse nas horas de lazer.

Um ano em que era muito fácil descrever o que era ser feliz. Continuava sendo o mesmo garoto de sempre, com meus amigos japoneses, me divertindo como nunca e aproveitando os meus dias ali como se não existisse mais nada no mundo, provavelmente não existia mesmo.

Os Saito sempre foram e sempre serão passionais e intensos. E com toda a nossa história, nunca foi diferente.
É o que é e por mais que novos desafios e responsabilidades surgissem pela frente, nada mudou, muda ou irá mudar a nossa maneira de encarar todos os momentos da vida. Talvez essa característica nossa, seja também uma das características únicas que faz o nosso caminho ser do jeito que é.

Frequentar diferentes Dojos, nos sete dias da semana junto com o meu irmão, agora como faixa preta. Se a disputa com os "rivais" locais já era intensa quando eu era faixa marrom, não seria agora sendo faixa preta que isso ficaria mais fácil.

Talvez esta tenha sido a demonstração mais prática possível de que nada muda com a cor da sua faixa, só a responsabilidade de ter que fazer tudo melhor, inclusive, lidar com as mesmas dificuldades de antes, mas procurando atingir um patamar condizente com o que é expresso pela cor daquilo que é amarrado na cintura.

Mais treino, mais intensidade e assim segue 1995, sem mais nada no mundo.

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ser Faixa Preta

Nossos treinos, sejam eles no Honbu Dojo da Shizuoka Goju-kan na cidade de Sagara, no Dojo de Hamakita ou nos Dojos de Hamamatsu, eram sempre marcados por um fator importante: A sinceridade dos praticantes. Treinar karate ali não era um passatempo, uma diversão ou uma mera atividade física. Todos tinham um compromisso com o Sensei e com o Dojo. Os alunos não faltavam e dificilmente chegavam atrasados, sabiam da importância de não apenas estar, mas de "ser" parte do Dojo e do Karate-do. Pensando assim, os alunos desde os iniciantes aprendiam que o mais importante do que apenas estar ali, era preciso assumir o verdadeiro papel de um karate-ka.

Se tornar um faixa preta era o cumprimento de um estágio importante, o de começar a trilhar o caminho da responsabilidade, da lealdade, do respeito e de começar a aplicar tais ensinamentos. Muitas pessoas dão importância ao fato de "ter" a Faixa preta, o que não é correto. O mais importante é "ser" Faixa Preta o que significa não apenas saber as técnicas e o código de conduta, o Budo, mas segui-las à risca. Ter o karate-do não apenas como uma forma de defesa pessoal ou uma forma de se manter saudável, mas como uma filosofia de vida mesmo.

Quando se começa a caminhada de "ser" um faixa preta, tem que se ter em mente que o caminho será longo, árduo, de aprendizado e de aplicação. Assim como o símbolo do Yin e Yang, o que era um dia branco, se tornará preto para depois poder retornar a ser branco.

Assim a partir de então era o caminho dos Saito Brothers:

"Serem Faixas Pretas"......

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Desafios sinceros

Lembro daquele dia do primeiro Tameshiwari. Sentando aqui escrevendo sobre isso, lembro de como aquilo foi imprevisto e de como tudo deu certo.
Muitas vezes, não existe ensaio. A realidade é que dentro do Karate-Do, não existe ensaio. Existe treino, existe aperfeiçoamento técnico, físico, mas nunca vai existir treino capaz de reproduzir, situações onde essas técnicas serão exigidas, não só técnicas, mas situações onde você será exigido no auge da sua sinceridade.
Quando as situações te pegam de surpresa, não há nada que possa ser feito, a não ser, ser sincero. E o resultado, o rumo, o caminho para o desfecho destas situações sempre vai depender de quão em dia está a sua sinceridade. Tameshi é sobre sinceridade.

Tive medo de falhar, pois nunca havia feito qualquer coisa parecida com aquilo. Porém com o tempo, aprende-se que a coragem mora no domínio do medo e não na ausência deste, essa é a grande virtude da coragem. Meu irmão sabia, que eu não falharia, que eu podia quebrar aquelas madeiras. Naquele momento, nem eu podia afirmar com certeza se isso era possível, mas os olhos de quem ensina sabem. A árvore sempre sabe onde exatamente caem os seus frutos.

Cada vez mais, com o passar dos anos o caminho fica estreito. Os muitos que iniciaram já não se fazem presentes, você segue encarando as situações imprevisíveis que aparecem, sempre levando consigo a sinceridade para seguir adiante. Talvez sejam poucas as madeiras à serem quebradas, mas são muitos os Tameshis pela frente.

Praticar a sinceridade, para que esta sempre guie os passos nos momentos difíceis. Ser sincero, é a maior recompensa do caminho.

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