quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aquela semana

Era boa aquela sensação, de olhar para estante da minha casa e ver aquele troféu ali. Pela primeira vez na vida eu entendi o verdadeiro valor de troféus e medalhas. Ao ficar ali, olhando para aquele troféu, eu podia viver ou reviver aquela sensação. Materialmente, esses prêmios pouco tem valor, já que o custo financeiro real de um troféu ou medalha não é alto. Daria perfeitamente para qualquer um ligar para uma loja ou fábrica e encomendar o seu sem problema algum, basta pagar o dinheiro. Mas todos sabem ou pelo menos deveriam saber que não é disso que se trata.

Um campeão há de merecer a sua condição de campeão. E qualquer troféu ou medalha, deve ter merecido parar ali na sua estante. Por mais que sejam objetos fabricados de forma industrial e entregues pelas mãos de outras pessoas, um troféu ganho é o reflexo de quem você foi até chegar ali.

Uns são mais bonitos que os outros, uns são bem concebidos, outros nem tanto, o que importa mesmo é o que você vê nestes objetos e ali, eu só via orgulho. Um orgulho meu por ter treinado duro, por não ter recuado quando senti medo, insegurança ou vontade de dar um passo para trás, um orgulho de ter sido forte nos dias em que me achava fraco e um orgulho enorme, por ter honrado a fé das pessoas que acreditavam em mim. O objeto era o orgulho do meu irmão e da minha família também, talvez esse tenha sido o maior dos orgulhos ao olhar para aquele troféu.

Na semana seguinte, lembro de ter levado para a escola, um recorte do jornal onde foi publicado o resultado do campeonato e foi uma semana muito feliz. Queria eu que aquela sensação durasse para sempre, mas não dura, e é exatamente por isso que no dia seguinte já é necessário fazer tudo de novo, em busca de outra conquista, em busca de outra "semana de campeão".

Desde então, competir é uma batalha pelo orulho, por esse mesmo velho orgulho, por esta mesma velha sensação, pela vontade de viver sempre aquela semana.

Olhando ali para aquele troféu na estante, de certa forma era olhar para todos os outros que vinham a seguir.

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Se tornar Campeão

Ser Campeão em um Campeonato Japonês de Karate já tem as suas dificuldades naturais, por se tratar de uma arte marcial altamente competitiva em sua terra natal. Ser Campeão sendo um estrangeiro, com certeza esta dificuldade aumenta consideravelmente. Aquele ginásio B&G sempre me trouxe boas lembranças, onde todo ano acontecia o Shizuoka Goju-kai Taikai (Campeonato da Província de Shizuoka de Karate-do Goju-kai) e agora lá estava meu irmão buscando trilhar seu caminho com seus próprios pés.
Vê-lo ali competindo com alguns atletas já conhecidos e mais experientes, por si só já era motivo de orgulho. Saber que todo o treinamento cobrado até então, seria posto em prática, torcer somente era pouco. Era como se eu estivesse lá dentro do koto também...

Passar o dia naquele ginásio era como uma festa em família, pois além do Horácio, nossa família ia também e os alunos e pais do nosso Dojo já faziam parte não apenas dos nossos treinos, mas também de nossas vidas. Comer obentou na hora do almoço, deixar os sapatos na entrada do Ginásio, ver as crianças levantarem a mão direita para anunciar o nome do kata, usar capacete da mizuno para lutar, coisas que só vemos e desfrutamos quando se compete no Japão.

Melhor ainda do que passar um dia agradável é ver o Horácio vencer a categoria dele, não pelo título ou troféu em si, mas por tudo que aquilo significava. Ver o esforço dele sendo de certa forma recompensado, dando início a uma carreira esportiva digna de histórias, era muito gratificante e também motivo de orgulho.
Aquela era a semente dos Saito Brothers no karate .....

Horácio Saito - Campeão

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Uma vez campeão, fechando a minha mão

Em 1994, no campeonato estadual de Shizuoka, eu obtive o meu primeiro título. Naquele mesmo ginásio B&G,  dessa vez com uma faixa marrom na cintura.
Entre os garotos da minha idade que ali sentados esperavam pela sua vez, olhava ao meu redor e ganhavam destaque os garotos da Seigo Dojo, que já tinham bem mais pinta de atletas de Karate, mais experientes, com seus Karate-gis impecáveis, bordados, com caimento perfeito. Era nítido que ali, entre todos nós, eles eram os favoritos. A postura e a aparência já diziam, traduziam o que tecnicamente eles representavam.

Porém uma vez ali, somos todos iguais. Ou melhor, para os que treinam duro, ali, são todos iguais. Independente de tamanho, nome, Dojo, postura ou aparência. Até então, até aquele campeonato, existiram outros campeonatos anteriormente, onde perdi e humildemente reconheci que era preciso voltar para casa, pegar o meu Karate-Gi e treinar mais, porque o que eu tinha, não era suficiente para ganhar.

Olhava ao meu redor, de alguma forma aquele favoritismo alheio não fazia a menor diferença. Não porque acreditava no título, mas por uma forma ingênua e pura que fazia com que eu apenas me preocupasse em bater de frente com as minhas expectativas de ser melhor, que o melhor já feito por mim mesmo. Talvez seja pessoal, talvez não seja nenhuma lição geral dentro do Karate-Do, mas desde que vesti aquele velho Karate-Gi pela primeira vez, o grande combustível que queima lá no núcleo da vontade de treinar sempre foi essa vontade. A vontade de ser melhor que o melhor de si a cada momento, a competição sempre foi apenas um lugar onde isso seria feito entre outras pessoas que teoricamente fariam o mesmo.

Naquele dia, Karate-Gis cheios de pompa, poses cheias de marra e até técnicas mais refinadas, não foram suficientes para vencer. O que foi suficiente, foi a minha vontade de fazer algo que eu nunca tinha feito, por mais que tivesse feito o mesmo Kata milhares de vezes anteriormente até estar ali naquele campeonato, aquele Kata representou para mim, naquela época, o que corredores chamariam de PB (Personal Best), uma marca que te leva sempre à outro patamar.
Eu acredito e essa tem sido a base do meu Karte-Do, talvez a base do nosso Karate-Do. Acredito que a nossa base vai além técnica e do desempenho físico, a nossa base está muito mais relacionada a transparência da nossa sinceridade. E isso, é o que realmente faz as coisas terem solidez.

Eu tenho certeza, que naquele dia os outros eram melhores do que eu em vários aspectos, mas a transparência daquela vontade fez mais efeito. Naquele simples ato de fechar a mão, como quem se agarra com tudo que pode naquele momento.

Após o término da categoria, com o resultado anunciado, um sensei que estavade árbitro na minha quadra(koto) veio me cumprimentar e disse "Sabe por que você ganhou hoje? Porque só você fechou a mão direito."

Talvez tenha demorado um bocado de tempo, até que essas palavras fizessem tanto sentido ou ganhassem um sentido maior. Mas hoje eu sei que só estou aqui, por sempre ter fechado a minha mão o mais firme que eu pude a cada dia.
Somos assim. E uma vez campeão, os adversários existem, mas eu sempre existi antes deles, sem pensar em nada a não ser fechar as minhas mãos.

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Saito com orgulho

Nos ensinamentos da cultura japonesa, na educação, por muitas vezes, quando somos crianças não entendemos várias situações. E como tudo em uma cultura milenar, é preciso de tempo, paciência e sabedoria para entender seus verdadeiros sentidos.
As conversas e as explicações não são o forte destes costumes e com a nossa família não seria diferente.
Por várias vezes via meu irmão no limite e sabendo que ele gostaria de estar fazendo outras coisas de sua idade. O fato de ele ser também um Saito, dava a ele, mesmo sem ele querer, uma responsabilidade extra, mas em todas as situações onde ele foi exposto, sempre honrou seu nome e por dentro me enchia de orgulho. Estava ali, sendo preparado não apenas para os obstáculos do caminho do karate, mas também para os grandes obstáculos da vida.
Não foram apenas os títulos que ele ganhou que nos deixava orgulhosos, mas também seus feitos diários, em seus treinos, em seus estudos, em como estava encarando o fato de estar deixando de ser criança.

Via meu brother e lembrava da educação que nosso pai sempre nos deu, rígida, sem muita explicação, mas digna, com moral e caráter.
Sempre tivemos que provar que éramos capazes e definitivamente nossa casa não era um lugar para perdedores. Mas foi exatamente este tipo de educação que nos preparou para os obstáculos da vida, nos mostrou que éramos mais fortes que imaginávamos e que nunca nos deixa abater pela situação.

Ele estava próximo do seu grande teste e isso para mim só podia dar mais orgulho de ser um Saito....



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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Galeria

Não há força sem fraqueza, não há perfeição sem imperfeição. Não existe ser imbatível. O que existe, são os poucos que nunca param de crescer.
Não é, nunca foi e nunca será uma questão de nunca ser abatido ou derrotado. Cada queda traz uma lição de humildade e cada porção de humildade traz consigo a honestidade de quem realmente quer ser melhor a cada dia naquilo que faz.
Somos invencíveis. Mas veja bem, não porque não perdemos, não porque não caímos, não porque não sentimos. Somos invencíveis. Porque estamos sempre nos levantando, dando o troco no dia seguinte.
O silêncio que me consome na derrota, mais afiado do que qualquer palavra que me repreende. Do gosto amargo, só é filtrado a essência que amanhã se torna base para o crescimento.

Revidar. Naquele dia, naquela luta, contra aquele mesmo faixa preta. Dei-lhe um ashibarai e soquei-lhe o estômago. Fez efeito e ali se consumava o meu revide. Eu não perco.  Eu caio e acham que eu perdi. Só não podem esquecer que eu sempre me levanto e volto melhor. Assim foi aquele revide.

A luta acaba e olho para o meu irmão, na mesma proporção daquele outro dia em que estava bravo, agora estava contendo o orgulho, eu sei, eu vi isso. Eu mesmo estava orgulhoso por ter feito por merecer aquela sensação de ter cuidado "dos meus próprios problemas". A volta para casa naquele dia, foi cheia de empolgação e falamos quase o tempo todo sobre a luta, uma pequena luta, num pequeno treino e uma pequena parte do que hoje se tornou o caminho do Karate-Do para mim, já faz algum tempo. Muito provávelmente neste dia, eu tenha inaugurado a minha galeria pessoal de vitórias.

Passados quase vinte anos, eu continuo caindo em alguns trechos deste caminho. São outros problemas, outras dimensões e situações. O caminho não para para quem não para e a galeria, só cresce para os que perseguem o topo da montanha. Lembro daquele dia e de tantos outros em que pude revidar e mostar para mim mesmo que somente eu posso escrever o "fim" das minhas histórias.

Só existe um final para cada luta na mninha vida, a galeria e o resto, é só uma questão de revide.

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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Família sempre Família

Na nossa rotina, eu tinha o trabalho na fábrica e os treinamentos e aulas do Karate. Por muitas vezes me sentia cansado e nessa hora ter uma estrutura familiar fazia toda a diferença. Sempre dizem que quando as coisas ficam ruins, no final é a família que lhe acode, acredito que isso seja realmente verdade.
No Japão, algumas leis são diferentes do Brasil. Algumas delas acho que são mais do que justas. Lá o seu salário é calculado por hora trabalhada e não um fixo mensal. Por isso se você faltar ou chegar atrasado, receberá menos no final do mês. A falta no caso é descontada, independente do motivo. A justificativa existe somente para que a empresa saiba o verdadeiro motivo da falta. O raciocínio é de que não se recebe por hora não trabalhada.

Nunca tive problemas com trabalho no Japão, em todos os lugares em que trabalhei sempre respeitei as regras da empresa. Estudava o japonês para além de entender, queria também poder escrever os relatórios. Isso com certeza fez toda a diferença em todos os anos em que vivi no Japão.

Apesar de todos em casa trabalharem e o Horácio estudar praticamente o dia todo, havia domingos que nos reuníamos todos. Nestas horas aproveitávamos o máximo, já que todos tínhamos provado a sensação de viver separado e sabíamos que não era bom aquela sensação de solidão.
Isto, acredito que fortaleceu demais o nosso conceito de família e partir de então, nos tornamos muito mais próximos.

Eu e o Horácio vivíamos praticamente juntos todos os dias em função dos treinos e aulas do Karate que de forma intercalada, acabava me tomando todos os dias da semana. O que era bom, pois de certa forma, a minha paixão pelo karate acabou nos unindo ainda mais como irmãos.

A família sempre está lá quando precisamos e só o fato de ser assim, já nos dá um conforto que não tem preço. O único problema é que quando tudo parecia estar bem, as aulas, os treinos, o trabalho, iríamos nos separar novamente......

Uma nova história iria começar....

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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Eu sempre estou aqui

Por muitas vezes por conta daquela rotina dentro do karate, tive que abrir mão de estar presente em muitos outros lugares em que eu gostaria de estar.
Festas que deixei de ir, filmes que deixei de ver no cinema, coisas que eu não comi e muito tempo que se contar até os dias de hoje, deixei de estar com os meus amigos, família e pessoas que gosto.

Por tantas vezes eu estive treinando, competindo ou viajando até aqui. Dentro disso, desde quando era criança, naqueles sete dias e sete treinos, eu de alguma forma mesmo estando totalmente entregue ao momento em que vivia, de alguma forma pensava nesses momentos paralelos, achava que os perdia.

Não vou negar que sempre fiquei dividido entre a sensação de estar e não estar presente. Porém, quando escolhas são feitas, acredito que não quer dizer que você não pensará em nenhum momento nos outros lugares e caminhos paralelos, mas sim que isso tem um espaço devido dentro daquilo que escolheu.
Todas as fraquezas levam á força. Todas as pessoas e situações nunca foram e nem serão dexadas para trás. Carrego tudo comigo, na minha forma de ser forte, na forma de afirmação dentro daquele caminho que escolhi.

Dentro de um caminho de afirmação, tudo e qualquer coisa que lhe serviria de motivo para duvidar, só serve para afirmar. Não é questão de não pensar em nada, nem ninguém, mas sim de dizer para si mesmo que num longo caminho solitário, tudo e todos estão exatamente aqui neste caminho de pura afirmação. O caminho, de só saber ganhar.
Só tenho aprendido mais um pouco que sou exatamente, o que carrego\comigo.

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Arte de Superar

Uma das coisas que considero importante que aprendi com meu Mestre no tempo em que vivi no Japão, foi o fato de que a teoria sem a prática, não tem valor significativo. Que nas Artes Marciais o bom exemplo é mais importante do que mil palavras.
Seguindo rigidamente este caminho e com a ideia fixa de que um dia queria ser igual ao meu Mestre, estava disposto a assumir os sacrifícios necessários para chegar até lá.
Claro que quando assumimos tamanha responsabilidade, na verdade nem sabemos ao certo o que nos espera e acredito que isso é que faz a vida ser interessante.

Sempre ouvi que Deus só nos dá uma cruz que podemos carregar. Confesso que em muitas vezes questionei isso em pensamento, mas também sempre obtive forças para não desistir e superar os obstáculos. Isso não nos faz melhor nem pior do que ninguém, apenas nos dá aquela sensação boa de superação e de que o caminho está sendo trilhado de forma correta.

O ano de 1994 pode-se dizer que foi coroado de forma boa, já que geralmente no mês de novembro havia anualmente o Shizuoka-Ken Taikai (campeonato da província de Shizuoka) que participamos e honramos o Dojo de nosso Mestre, conseguindo bons resultados. Neste ano pude ver meu irmão Horácio participar do nacional da JKF (Japan Karate Federation) no santuário das Artes Marciais Japonesas, o Nippon Budokan e também vê-lo receber no Campeonato Nacional da Goju-kai em Tokyo o Certificado entregue apenas aos vinte melhores atletas de todo o Japão. Um feito difícil e ainda mais se tratando de um estrangeiro.

Os obstáculos nunca desaparecem e nem devemos tentar nos esquivar, tudo acontece com um propósito e cabe a nós olharmos sempre como uma oportunidade de nos fortalecer e de melhorar.

O ano de 1994 foi bom, os obstáculos foram vencidos e estava conseguindo aprender na prática o que o meu Mestre ensinava: A Arte de Superar.......

Sensei domou arigatougozaimashita



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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Memorando das derrotas

Aquela segunda-feira era exatamente igual à todas as outras. A escola entre os perídos da manhã e da tarde, uma pequena folga até o sol baixar e o agora já rotineiro caminho de trem até Hamakita. Fisicamente, comparando com os meus dias de adulto, acho que posso dizer que naquela época o que eu sentia treinando todos os dias, estava bem longe de ser cansaço. Mas de alguma forma, eu pensava que estava cansado.

A pequena linha de trem, que ligava Hamamatsu à Hamakita, nos levava até o Dojo. Andando por cerca de 100 ou 150 metros, contando inúmeros pensamentos que vinham na minha cabeça, chegava então no Dojo.
O Dojo era antigo, quase no meio do nada. Perto da estação de trem, porém quase isolado num terreno onde ao lado havia apenas uma plantação de alguma coisa que não me lembro e mato, muito mato.

O Shihan dali, mais parecia da Yakuza. Era rígido com as crianças e era comum vê-lo com o Shinai na mão distribuindo algumas pancadas leves, nas pernas traseiras que ousavam permanecer dobradas nos zenkutsudachis do Kihon-Ido.

O treino geralmente era composto por Kihon, Kihon-Ido, Shiho-Ido, Kata e Kumite. Respeitando sempre o sensei do local, meu irmão estava ali colaborando com a padronização dos exercícios e técnicas, sempre me usando como exemplo do que ele estava explicando ou ensinando.

Porém nem sempre servi de exemplo ali. Por mais que tivesse uma técnica melhor, fosse irmão do "novo sensei", eu também estava ali para aprender e por muitas vezes eu me esquecia disso. No final das contas isso era bom, mas não necessariamente tinha de ser assim. Deve ser o sangue pendendo nas decisões, de sempre escolher o lado intenso das coisas. Os Saito são passionais.

Me custou um tempo até me acostumar com a luta. Mas penso que esse é o caminho normal. Afinal, lutar é bom, é desde que você esteja no controle da situação, caso contrário, é um pesadelo. Ali, o treino encontrava o seu ápice no Kumite. Sempre, sem excessão, meu irmão me colocava para lutar com aquele faixa preta (que não lembro o nome). Bom ou não, com forma técnica arcaica ou não, ele era faixa preta e eu não. E isso, ali no Japão só quer dizer uma coisa: Você mereceu aquele faixa.

Naquele dia, no decorrer da luta levei um gyakuzuki e quase dobrei. Após esse golpe, a vontade de vencer sumiu, o domínio da luta idem e a única coisa que eu conseguia controlar eram as lágrimas que acumulavam nos olhos. Só pensava no tempo e no fim da luta. A luta então termina e nessa hora eu tinha até medo de olhar para o meu irmão, pois sabia que depois daquele treino eu teria duas opções: Outro treino de portas fechadas só eu e ele logo após o fim daquela aula ou aquele silêncio na volta para casa, que me repreendia mais do que qualquer bronca que pudesse levar.


Naquele instante não me sentia exemplo de nada, digno de nada e envergonhado por tudo. De nada adianta ser citado como exemplo de alguma coisa, querer ser exemplo de alguma coisa, se na hora difícil você acabar agindo como todos os outros. Não lembro se neste dia teve uma hora extra de treino de portas fechadas com o meu irmão, talvez por conta daquela sensação gigante de fracasso e derrota. Mas lembro sim do silêncio voltando para casa. Esperando o trem chegar digerindo a própria vergonha, olhando pelo vidro do trem um exemplo do que não queria ser e enfim enfim em casa, fechando os olhos para esquecer aquele dia.


A força nasce da fraqueza.

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