quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Só honra quem carrega

Mais do que medalhas e fotografias, fica o aprendizado.
Aquela era a nossa primeira competição internacional de Bunkai. A primeira competição fora de casa, como Saito Brothers.

Mais do que os títulos como o daquele dia, ficam para sempre os laços que se fortalecem a cada disputa, cada vitória ou derrota. Toda vitória, toda historia é construída com a vivência intensa destes momentos. Tudo tem de valer à pena. Da dor à alegria, tudo tem de servir como alicerce de uma grande fortaleza. Esse é o caminho e é o nosso caminho.

Com o tempo, há de se aprender que quem não coloca tudo em jogo, não serve para o jogo. Porque ali só vence quem é sincero. Não existe sinceridade com o pé atrás. Só conta se for 100%. A sinceridade nunca perde, sempre vence, embora algumas vitórias só o tempo revele.

Com o tempo, há de se aprender também, que aquele que quer honrar a confiança das pessoas, sempre luta com 100% do que tem e além disso, leva todas estas pessoas à serem honradas nos ombros, nas costas, na mente, no pensamento. Quem luta por muitos, tem a força de muitos.

O juvenil, aprende a lutar por si. O homem luta por si e pelos outros. Seja pela memória destes, pela gratidão ou pelo apoio recebido. Os homens honram o(s) nome(s) que carregam.

Naquele dia, aprendi a carregar as coisas nas costas. Para honrar o nome de quem um dia fez o mesmo caminho. Tinha dezesseis anos, muita coisa pela frente, mas sabia que estava no lugar certo.


Estava no caminho.

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

O ÚLTIMO POST

Hoje é o último post desta temporada. Em breve estaremos de volta com novidades, algumas bem legais mas que não podemos contar por enquanto..... e claro, com novas histórias do SAITO BROTHERS.

Tínhamos tomado a decisão de viajar a Santiago para representar o nosso País, mas principalmente para representarmos o Mestre Ryuzo Watanabe. Fora uma perda imensurável, mas queríamos lembrar sempre do Mestre Watanabe com alegria e da forma que ele sempre nos ensinou, de karate-gi.
Neste Sul-Americano, eu e o brother Horácio não estávamos mais sozinhos, alguns dos nossos alunos também estavam ali defendendo as cores do nosso país, o que me deixava bastante orgulhoso. 


Iria competir no Kata adulto acima de Sandan, no Kumite Individual até 65 kg, no Kata Equipe, no Kumite Equipe e no Bunkai-Kumite-Kata. Era uma grande responsabilidade, mas o clima era de alegria. Os alunos, viajando pela primeira vez para fora do País, faziam uma grande festa. Apesar de alguns sustos que os alunos me deram (um deles é ao chegarmos em Santiago e ao descer do avião, um dos alunos me diz que perdeu seu passaporte, só depois de muito procurar no aeroporto e quase buscar ajuda ao consulado, ele percebe que o que ele perdeu não era o passaporte, pois ele nem tinha, o que perdera era o ticket de embarque), a viagem foi tranquila e fomos enfim para o hotel. 

Já no Ginásio para a competição, tivemos uma grande homenagem ao Mestre Watanabe e que emocionou a todos os presentes. Um Grande Mestre e todos sem exceção sentiram sua partida.
Mas o clima logo saiu da tristeza para o de competição, começaram pelas crianças e os nosso alunos já começaram também a se destacar.

Competi no kata individual acima de San Dan e consegui me consagrar Vice-Campeão, logo depois fomos competir o Kata Equipe (eu, o brother Horácio e nosso primo Felipe) e ficamos também com a segunda colocação. Eu e o brother Horácio fomos então competir o Bunkai-Kumite-Kata e conseguimos nos consagrar Campeões da categoria, para a nossa alegria. Competi ainda no kumite até 65 kg e no kumite equipe e consegui em ambas a medalha de bronze.

Mais do que as minhas conquistas em si, era muito gratificante ver o resultado também do meu brother Horácio e de todos os nossos alunos, não pelas medalhas apenas, mas por tudo que havia acontecido e pela postura que todos da Associação Shizuoka Goju-kan tinham tomado.

A de honrar o Mestre Watanabe, 

Sentia a sensação de que tínhamos cumprido o nosso dever.....



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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Pelo nome e não com o nome

Um dia todos vamos embora. Não existe maior certeza do que a morte. O que acontece, é que nos maravilhamos com a vida e passamos os dias sem se quer pensar(corretamente até) nesta única certeza. Um dia, todos vamos morrer.

Nós nunca imaginamos a vida sem aquelas pessoas que fazem dela um lugar seguro. Ninguém nunca pensa em perder um pai, uma mãe, por mais que essa seja a ordem natural das coisas.

Com os mestres acontece a mesma coisa. Eles são pais de muitos. São as figuras centrais de contos, histórias e até lendas dentro de suas artes. Representam sempre em carne e osso, as lições de um caminho que abriga muitos peregrinos. Eles são o caminho.

A perda do mestre Ryuzo Watanabe, significava para nós da Goju-Kai, perder o caminho. Pois assim como outros grandes mestres, ele era o desde o ar que respirava, até o último batimento do seu coração, puro Karate-Do.

Foi um momento de muita tristeza. Lembro-me do dia do enterro do sensei até hoje com muita clareza. Se lembrar demais, talvez comece a sentir que é muito mais triste do que já é, porque sei, que ele faz muita falta neste mundo. Porém creio que pensar nisso seria de certo modo egoísmo meu, já que certamente hoje em dia ele deve estar muito mais feliz no lugar em que se encontra (provavelmente com outros grandes mestres).

Muitos se perderam depois daquele dia, muitos, decidiram levar o caminho adiante honrando a memória de alguém que viveu pelo caminho do Karate.

Todos temos a opção de escolher o que fazer com a memória das pessoas que se foram, o que fazer com os bons dias vividos ao lado de quem se foi, o que fazer com os ensinamentos, as lições de quem viveu para passar um ideal adiante e liderar um grupo, uma família.

Tenho orgulho e gratidão pelos senseis que tive, tenho orgulho de ser irmão de um grande Budoka que sempre optou por seguir os exemplos, fazendo como eles, liderando, desbravando rumo àquilo que é certo.

Depois de tantos anos, eu olho para todos estes dias que ficaram para trás desde o falecimento do sensei Watanabe e vejo que o meu irmão me(nos) guiou para o caminho certo.

Por onde se honra a memória das pessoas com a nossa própria maneira de viver. Não nos agarramos, nos escoramos no nome de ninguém, não usamos a imagem de ninguém. Nós somos aquilo que aprendemos, somos o que passamos adiante. É assim que um legado, uma memória se matém viva.  Os mestres vivem no caminho e na transmissão dos ensinamentos deste. De nada adianta ficar citando nomes se as atitudes não falarem por estes nomes citados.

Temos MUITO ORGULHO das nossas raízes, de ter aprendido com quem aprendemos e é exatamente por isso que damos o nosso melhor todos os dias. Para honrar o nome das pessoas com atitudes, porque Karate-Do é feito muito mais de luta, do que nomes à serem citados na primeira oportunidade.

Tínhamos um campeonao para vencer, por nós, pela memória do sensei e acima de tudo... Por honra e gratidão.

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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Próximo de um final

Na próxima semana postaremos a última história desta etapa do Saito Brothers, que retornará com novo visual, novidades e novas histórias, claro. Aguardem!!!!!

O ano de 1998 estava começando a dar seus frutos. Nossos alunos disputaram o Campeonato Paulista e se classificaram para o Campeonato Brasileiro. No Brasileiro, conseguiram resultados além do esperado e conquistaram a vaga para a Seleção Brasileira para disputarmos o Campeonato Sul-Americano que seria disputado em Santiago, no Chile, no mês de dezembro.

Em apenas dois anos de trabalho com aqueles garotos e garotas já tínhamos conseguido classificar, além de mim e o brother Horácio, mais cinco alunos. Isto era muito gratificante, pois ali estavam os frutos de muita confiança depositada no meu trabalho, pelo meu Mestre no Japão e pelo Mestre Watanabe aqui no Brasil. 

Infelizmente acontecem coisas em nossas vidas que não temos controle e que imaginamos intimamente não acontecer. 
Após o Mestre Watanabe retornar do Chile, viagem que fez para visitar e acompanhar a organização do Campeonato Sul-Americano, é internado às pressas com uma suspeita de infecção intestinal. Mas, após diversos exames foi constatado que era um câncer de estômago que derrubara o nosso grande guerreiro, líder e exemplo de milhares de pessoas que o acompanhavam em sua jornada de vida, que era o Karate. 
Não deu tempo de assimilarmos a situação e quão grave era, e o Grande Mestre Ryuzo Watanabe veio a falecer no dia 05 de Dezembro de 1998. Uma grande tristeza assolou a todos, lágrimas não eram suficientes para expressar a dor que estávamos sentido. Um líder, um Mestre, um pai para muitos. Ninguém queria acreditar e era difícil conter os sentimentos de uma perda como esta. 
Em seu velório, pessoas de todos os lugares vinham prestar suas homenagens. Não apenas pessoas ligadas ao Karate, mas também da colônia japonesa e de diversos amigos que o Mestre galgara também como pessoa pública. 

O Mestre Ryuzo Watanabe foi enterrado no Cemitério da cidade de Suzano e a nós restou a dúvida agora a respeito do Campeonato Sul-Americano que aconteceria na semana seguinte.
Nos reunimos e decidimos que a melhor forma de honrar o nome do nosso querido Mestre e que amava tanto o Karate-do Goju-ryu, era vestindo o Karate-gi e lutando. Iríamos sim ao Chile e lá prestaríamos nossas homenagens, da forma que o Mestre Watanabe sempre nos ensinou,

Com honra!!!!!


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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Pescando na chuva

Meu irmão sempre gostou de pescar.
Todas às segundas, meu irmão pegava na escola depois da aula, eu trocava de roupa no caminho, dentro do carro e íamos pescar. Essa era mais uma das "nossas coisas", momentos, como aqueles vividos no Japão, nas viagens de trem, quando passávamos na livraria, líamos o que queríamos, meu irmão pegava uma revista de Karate, eu pegava a nova edição do mangá preferido e pegávamos um taxi para casa.
Entre essas coisas que fazíamos juntos, lembro também das manhãs já aqui no Brasil, quando acordava cedo e íamos correr no parque antes da escola. Voltava para casa, tomava um banho, vestia o uniforme e ia estudar.

Pescar, naquela época era a "nossa coisa"do momento. Apesar de eu ir muito mais pela diversão de fisgar o peixe e por acompanhar sempre o meu irmão em todos os lugares, gostava muito desta época. Mas nunca fui um pescador como o meu irmão.

Meu irmão se divertia pescando, mas também se divertia com as minhas trapalhadas com a "tralha" de pesca, quando eu gastava mais tempo desembaraçando a linha do que pescando em si. Eu ficava bravo e ele ria e quando os nós eram cegos demais, ele montava outra vara para mim.

A maioria das pessoas gosta de fisgar o peixe. E acho que isso se encaixa muito bem no que é a vida. As pessoas sempre querer ter algo, ter o prazer de ter algo, mas quem aqui gosta de pescar na chuva sem pegar nada?
Bom, o meu irmão gosta.

Lembro-me de um dia, que estava frio e chovia muito. Fomos pescar, porque o meu irmão sempre seguia em frentre com os seus planos, fosse com sol, fosse com chuva. Chovia tanto naquele dia, que eu mal podia ver o que se passava lá na ponta da linha lançada no lago, quase não via a bóia. Não dava para diferenciar o que era a chuva balançando a água e o que era o peixe tentando morder a isca. Tudo que eu via, era o meu irmão. Parado, quieto, atento, coberto com uma capa de chuva, olhando para a água.

Nesse dia, do quiosque, observando o meu irmão pescando na chuva eu entendi muita coisa sobre pescar, aprendi o que é gostar de pescar. E quem sabe até, tenha aprendido muita coisa sobre a própria vida. A verdadeira pescaria, mora em quem gosta de pescar independente de tudo.

É preciso estar lá. Com sol ou com chuva. Enxergando o que há adiante ou não, é preciso estar lá.
O que essas lembranças tem a ver com o nosso Karate? Bom, só entende, quem está na chuva. Para se molhar? Sim. Mas mais do que isso, para pescar.

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um ideal

Iniciávamos o ano de 1998 e agora o pensamento era Campeonato Paulista, se classificar para o Campeonato Brasileiro e depois se classificar para o Campeonato Sul-Americano de Karate-do Goju-ryu IKGA. Os treinamentos continuavam intensos e cada vez mais nossos ideais, meu e do meu brother Horácio pareciam estar se unificando. Isso me deixava bastante orgulhoso, pois apesar dele ser o irmão mais novo e ter que arcar com a exigência de ser um Saito, sua responsabilidade crescia juntamente com sua experiência. 

Apesar de nossa diferença de idade (11 anos) sempre estávamos juntos. Seja em treinamento, competição ou mesmo em lazer, ele sempre foi uma grande companhia para mim. Gosto muito de pescar e naquela época, íamos todas as segundas-feiras, que era o meu dia de folga. Eu o pegava na saída do colégio na hora do almoço e íamos pescar, voltando só tarde da noite. Sempre gostei muito de carros também, desde muito jovem e nessa época os carros turbo eram a minha outra paixão, depois do karate. Partíamos então no meu carro turbo para a pescaria e fazia parte da diversão também o trajeto de 100 km até o pesqueiro.

Trilhava o caminho do Karate-do Goju-ryu e tinha a responsabilidade de no Brasil, honrar o que me tinha sido ensinado no Japão, fazendo o nome da Associação Shizuoka Goju-kan crescer e prosperar aqui. Não tinha muita ideia de quão grande isso poderia se tornar, pensava mesmo em um dia de cada vez. 
Começamos a treinar o Bunkai-kumite-kata para competir e para quem sabe um dia, podermos representar o Brasil em uma competição internacional. Precisávamos passar pelo Campeonato Paulista e Brasileiro para assim podermos ir ao Chile com a Seleção Brasileira no Campeonato Sul-Americano, isto exigia um grande trabalho pela frente.

Um Sobrenome, Um Mestre, Um Ideal......



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quinta-feira, 12 de julho de 2012

O que você não imagina e o que você imagina

Nunca esperei receber aquela graduação, mas honrei-a até o seu último dia.

Naquela época, mal passava pela minha cabeça ser algo além de Shodan. Me focava apenas em treinar, ser melhor e a busca era apenas isso, por melhora. Graduações vem com o tempo, desde que o foco do presente seja melhorar sempre, hoje mais do que ontem, amanhã mais do que hoje...
Porém, uma vez que possuir a graduação, é necessário mais do que nunca ser a graduação e justificar o pedaço de papel, principalmente a assinatura e a confiança de quem assinou aquele certificado.
Tem de ser a graduação todos os dias. Sem desculpas, sem justificativas, porque só assim a graduação vale alguma coisa.

Muitas vezes lhe é dado algo que você nem imaginava poder ter. Eu acredito que quando isso acontece, pessoas boas farão o bem com isso, pessoas más fão o mal com isso e pessoas sem caráter vão transitar entre o bem e o mal, sempre de acordo com o que for mais vantajoso para o próprio ego. Ter é importante, ser também é, mas no final das contas, o que faz realmente a diferença, é o que você faz com o que você tem, com o que você é.

Não me imaginava Nidan, da mesma forma que eu sei que o meu irmão não se imaginava Yondan. Não porque ele escreveu esta semana, nem porque ele me disse algum dia, porque não disse. Mas porque viemos do mesmo lugar e eu sei que ele não se imaginava.

Quem você é hoje e quem você quer ser amanhã sempre vai depender diretamente das coisas que você recebe da vida sem nem imaginar. Logo adiante, vai depender do que você imagina e da sua capacidade de ser fiel aos princípios e caminhos que te levam a esta imaginação.

Não existe enganação com esta imaginação, porque ela é sua. Não existem atalhos, nem "cheat codes", só existe o seu caráter dizendo verdades para si mesmo.

Treinar mais, para honrar as coisas que você mal podia imaginar. Ser melhor, para ter o que imaginar.

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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Jokyo - Yon Dan

Quando retornei do Japão, sabia que tinha muito trabalho a ser feito aqui para conquistar o meu espaço. E o ano de 1997 foi uma grande prova. Novos alunos, novos locais de aula, Mundial, era tudo muito fascinante e assustador ao mesmo tempo. Sempre aprendi que a coragem nunca tinha nada a ver com a ausência do medo, muito pelo contrário, era nas horas de real sentimento de medo que precisávamos demonstrar muita coragem para conseguir seguir em frente. E assim foi, sempre acreditei que me sairia bem em situações de pressão e onde todos desistiriam, eu deveria progredir. Naquele ano o Mestre Ryuzo Watanabe, que já se tornara também um grande mentor (afinal de contas o Mestre Watanabe era amigo pessoal do meu avô e pertencíamos à mesma Associação Fukushima Kenjinkai) me disse que gostaria que eu fosse promovido para Yon Dan. Na minha concepção, um Yon Dan era algo ainda distante. Me lembrava do Shihan-Dai da matriz da Shizuoka Goju-kan, Nagatani Sensei e das inúmeras surras que eu levava dele quando treinávamos Jyu-Kumite e me perguntava se eu estaria pronto para ocupar tal graduação. 

Mestre Watanabe sempre era muito prestativo nos treinamentos que fazíamos todos os últimos domingos do mês em seu Dojo na Móoca, onde se reuniam vários faixas pretas vindos de diversos lugares, inclusive de outros estados e algumas vezes de outros países. Eram nestes treinamentos que podíamos observar as técnicas do Karate-do Goju-ryu sendo aplicadas pelo Mestre Watanabe. Sempre estávamos presentes, eu e o Horácio, que na época era Shodan e que também ouviu do Mestre Watanabe que gostaria de vê-lo como Ni Dan. Não almejávamos tal promoção, já que havíamos aprendido com nosso Mestre que o reconhecimento sempre vem, não é necessário que se peça, o Mestre lhe dirá quando estiver pronto. 

Em um destes treinamentos, Mestre Watanabe disse que gostaria de marcar nosso exame, e eu prontamente lhe respondi que ainda não me sentia pronto para ser um Yon Dan, achava que ainda me faltava muita experiência. Ele riu e disse que conversaríamos depois para marcar. Alguns meses depois, no final de um destes treinamentos de domingo, o Mestre Watanabe me chama para conversar e diz que eu havia passado no exame. Eu, meio sem reação, lhe pergunto: "Mas Sensei, eu não fiz nenhum exame". - E ele me responde: "Você e o Horácio estavam sendo examinados por mim a algum tempo e dentro do que vocês demonstram pelo karate, tanto em treinamento quanto fora dele, eu graduo o Horácio para Ni Dan e você para Yon Dan Jokyo." - me entregando um envelope grande com os certificados dentro, com um grande sorriso.

Fiquei nesta graduação por onze anos, sempre pensando em evoluir tecnicamente e também adquirir maturidade, para crescer como ser humano. Pois para passar para a próxima graduação eu precisaria ser o melhor Yon Dan que podia ser e com o título de Jokyo, era preciso trabalhar muito pela arte em si. Tinha muito trabalho pela frente......


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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Mais "Sen"

Para a Shizuoka Goju-Kan do Brasil, ter mais alunos significava um certo sucesso na empreitada. Para o meu irmão, significava mais trabalho. E para mim, significava mais olhos me observando. Era preciso ser o exemplo.

Talvez tenha sido a época de mais cobrança na minha vida. Meu irmão não me cobrava abertamente, mas com os seus olhares de reprovação em cada falha ou com os socos e chutes que vinham quando lutávamos nos treinos de portas fechadas, não era necessário dizer muita coisa. A mensagem sempre vinha e eu absorvia como dava, bem ou mal.

Essa época de acúmulo de responsabilidades, veio justamente na minha adolescência e certamente influenciou muito na minha formação não só como atleta, praticante ou sensei de Karate-Do, mas também como adulto.

Era a questão de chegar mais cedo, de sair mais tarde, de fazer dez a mais que os outros, de parar depois que os outros e sempre justificar a minha posição ali dentro. Todos mereciam uma vírgula, um porém, eu não. Pelo menos para mim, era isso. Ser o exemplo.

Falhei muitas vezes, vi algumas vezes resultados escaparem em campeonatos enquanto outros alunos mais novos se destacavam. Mas sempre voltei calado de cada uma dessas derrotas. Devia para mim mesmo.

Eu acreditava que um bom senpai, se fazia só com números e a cada derrota, me frustrava por não corresponder com as minhas obrigações perante os mais novos e o meu irmão.

Hoje, não tenho apenas a condição de senpai, mas também de sensei. Os anos se passam e entendo que ser um bom exemplo, se trata muito mais de quantos anos você passa querendo mais, fazendo mais, mas principalmente os anos que você acumula caindo e levantando logo em seguida, não importando a altura da queda. é preciso muito mais do que vitórias para continuar no mesmo caminho.

Ser exemplo, nada tem a ver com nunca cair ou ser invencível. Tem a ver com ser mais forte dia após dia, seja com vitórias ou derrotas. Tudo tem que te fazer melhor amanhã. Muitos, ficam pelo caminho.

A margem de erro diminui com o tempo, mas ainda sim é uma luta por vez. Continuo lutando para ser um exemplo. E é assim tem de ser. "Sen", vai adiante, toma a dianteira e segue o caminho.

Luatava então, para ser um bom exemplo.

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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Aprender e Ensinar

Passado o mundial, os treinos voltaram ao normal e as aulas também. Um fato que sempre percebi é que nem sempre quem tem o conhecimento está apto a ensinar. Óbvio que aquele que não detém tal conhecimento não deve nem cogitar o fato de ensinar, mas muitas pessoas tem o conhecimento para si, mas não conseguem expandir de forma didática seus ensinamentos. No tempo em que fiquei no Japão, aprendi além das técnicas, também os fatores didáticos para se ensinar, tanto adultos e também as crianças, o que realmente foi de grande valia no meu aprendizado. 

Alguns alunos já estavam treinando a mais de um ano e com isso os campeonatos tinham um outro significado para mim, o de ensinar àqueles meninos o valor da conquista, o valor de vencer. Claro que do ponto de vista teórico, tudo é lindo e maravilhoso. Mas na prática é muito mais complicado. Ensiná-los a serem pessoas do bem, com caráter, honrados, humildes e vencedores, de modo exemplar, era o que valia verdadeiramente a pena.

Dos alunos de hoje que se tornaram adultos e vencedores, naquela época eram crianças bem novas. Penso naquela época com bastante carinho. Alunos realmente especiais fizeram parte da minha vida. Além do meu braço direito de sempre que é o meu brother Horácio, nosso primeiro aluno foi o Felipe, nosso primo e o segundo foi o Eric, que sempre foi o nosso mascotinho, o aluno querido de todos. Bruno, Jean e Cláudia vieram do Colégio JM e o Philipe, Vinicius, Jacqueline e Victória do Clube Uceg. Infelizmente a vida escreve por linhas que não temos poder nem conhecimento e nosso Eric partiu para uma nova missão. Gosto de pensar que tudo tem um sentido e mesmo que muitas vezes não entendemos os porquês, o certo sempre será o certo. 

Gosto de pensar que preciso sempre aprender e que para eu ensinar, preciso que meus conhecimentos tenham passado pela prova prática, pela vivência. Dou graças a Deus de ser um bom aprendiz e quando a vida resolve me ensinar, consigo absorver pelo menos um pouco deste conhecimento. 

Estava feliz naquele ano, pois conseguia ver ali, que o que eu havia aprendido um dia no Japão, estava conseguindo ensinar para aquelas crianças aqui no Brasil, quem sabe um dia conseguiria deixar meu Mestre orgulhoso. 

Aprender sempre, ensinar só aquilo que se sabe......


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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Tudo no seu devido lugar

O Destino se constrói. Não, não é uma forma cética de ver a vida. Na verdade, é ter mais fé do que se possa imaginar. Não existe Destino sem trabalho.

Todas as coisas boas e ruins estão sempre no lugar certo e na hora certa, mas somente onde há alguém que trabalha duro todos os dias para construir a própria história. Nada cai do céu, Destino não é isso.

Ninguém entra numa competição de nível internacional(ou em qualquer outra que seja) para dizer "o importante é competir". Se existe alguém que entra com esta mentalidade, me desculpe mas esse alguém deveria ficar em casa vendo TV. A esta altura do campeonato, se você não entender que "o importante é competir" é só o que você ensina para criancinhas quando elas estão iniciando no esporte, meu amigo, tenho que dizer que você não serve para a coisa.

Existem resultados que acontecem por acaso, sim, de certa forma existem. Já vi gente que trabalha muito não vencer no dia do campeonato e gente que passa a vida tomando suco vencer. Essas vitórias do acaso não se repetem e os frutos(se é que dá para chamar assim, porque só há fruto onde há algo plantado e cultivado) não duram por muito tempo. E aí se explica o "de certa forma", pois pela minha maneira de ver as coisas, a vitória por acaso de um é irrelevante, porque o que conta para o Destino é derrota na hora e no lugar certo, daquele precisa aprender algo ali, para ser um verdadeiro campeão, com raízes, tronco e frutos para a vida toda.

Quem sabe o meu irmão tivesse que aprender alguma coisa ali, assim como um dia eu mesmo teria que aprender outras coisas experimentando sensações ruins. Ver um ídolo, um líder perder nunca é bom, mas é isso que na minha opinião é a verdadeira admiração. Carne, osso e trajetória de grandeza.

Costumo dizer que ninguém sabe o que vai acontecer daqui a cinco anos. Há sempre uma meta, uma expectativa, mas fato é que ninguém sabe, nem daqui cinco, muito menos dez. Em dias normais, ninguém sabe dizer, num dia onde o sabor da derrota é o que há então...

Então volto para o Destino. Tudo certo, no seu devido lugar. Existe hora para tudo, tempo para tudo para aqueles que carregam o próprio mundo nas costas todos os dias. Conheci gente, que há dez anos atrás vencia algum campeonato por acaso. Mas onde estão essas pessoas hoje? Não faço a mínima idéia... Talvez em outro lugar, fazendo outra coisa que realmente seja o "Destino" delas. Mas aqui? Aqui não.

Não é entender as derrotas de bate pronto, não é esperar que elas aconteçam, muito menos esperar que elas não aconteçam. Mas sim viver tudo que for necessário, para ser um campeão, de raíz, tronco e frutos.

Meu irmão viveu aquela frustração, mas a vida, o Destino e ele mesmo(batalhando todos os dias), reservaram algo especial para o futuro.

Sempre fui o braço direito do meu irmão e naquele dia, eu perdi junto também...

Porém tudo estava no seu devido lugar. Tudo está no seu devido lugar.

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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Aprendendo com as derrotas

Este era meu segundo mundial. Não podia dizer que isso me dava segurança e nem que já tinha experiência. Afinal de contas, ali estariam os melhores do mundo.
O fato do Mundial ser no Brasil dava uma certa facilidade no quesito de não termos que viajar, logística, hospedagem e alimentação.
O Campeonato aconteceu no Ginásio Mauro Pinheiro, no Ibirapuera e estar ali representando o Brasil dava uma grande sensação de responsabilidade, de nervosismo e ansiedade. 
Havia treinado muito, queria estar ali e sabia que tinha condições. Tive apoio da família, dos amigos, dos alunos e claro, do meu parceiro de treino, o Horácio. Queria dar o meu melhor, não só por mim, mas por eles também.

Tivemos muitos treinos com a Seleção Brasileira, principalmente para o Shiai-kumite. O técnico na época era o sensei Wagner Piconez Angeloni, que por coincidência também fora meu primeiro Sensei. Os treinos eram duros e literalmente algumas vezes dávamos nosso sangue.

No kata, tínhamos a supervisão do Mestre Watanabe uma vez por mês no último domingo. O restante do treinamento era feito por conta. Treinar sozinho sempre é duro, ainda mais quando precisamos que alguém nos corrija. 

O dia tão esperado havia chegado, é difícil de mensurar a emoção de entrar no Ginásio e saber que em seu karate-gi está a bandeira do seu país, o suor de se empenho e em sua alma a confiança da pessoas que o apoiam. Não me lembro de todos os detalhes, acho que é porque a sensação toma conta de sua mente e que você vive aquele instante de forma muito intensa. Todos perfilados, todas as delegações, a abertura com o Mestre Yamaguchi Goshi e com o Mestre Watanabe Ryuzo, cena histórica para nós. 
Começara a categoria do kata acima de San Dan e na contagem por pontos, não consegui me classificar para as finais. Me decepcionei um pouco porque acreditava que conseguiria pelo menos chegar às finais.

No dia seguinte começou a categoria de kumite até 65 kg e consegui passar pelas duas primeiras lutas. A terceira luta era decisiva pois uma vitória poderia me levar até a semifinal. Consegui passar e na semifinal iria enfrentar outro brasileiro. Nunca estivera tão próximo de conseguir um resultado expressivo no mundial. Infelizmente não fiz uma boa luta e acabei perdendo por uma diferença de dois pontos. Teria que ir agora para a repescagem para pelo menos conseguir um terceiro lugar. Mas na disputa para o terceiro lugar, novamente não consegui encaixar os golpes e perdi por uma diferença de um ponto. Encerravam-se ali as minhas esperanças de medalhas e com tristeza via as minhas chances que estiveram tão próximas se esvaindo. 

Nos dois dias seguintes houve o Seminário com o o Saiko-Shihan Yamaguchi Goshi, onde pudemos aprender o bunkai-kumite-kata do Kururunfa. Estar ali para aprender com os Mestres era sempre motivador, me lembro de ver ali naquele seminário pela primeira vez uma faixa de Renshi-Shihan. 

Sempre digo que aprendi muito mais nas vezes em que perdi do que nas que venci, e acredito que este resultado do mundial me ensinou muito. 

Ali nascia a dupla de Bunkai Saito Brothers para ganhar o mundo.....



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quinta-feira, 21 de junho de 2012

A óbvia evolução de 1997

Sempre que contei algo por aqui, deixei bem claro que nada veio de graça. Sempre frisei bem que tudo se tratou de passar por maus bocados na verdade, superar as deficiências e dificuldades à curto, médio e longo prazo.

1997 foi não apenas mais um desses anos, mas sim, um ano especial, onde pude aprender muito sobre o que é trabalhar duro pelas coisas e acima de tudo, fechar a boca, engolir as eventuais derrotas e seguir trabalhando mais.

A grandeza mora nos grandes. Parece óbvio não? Conversando num boteco na esquina, numa roda de amigos, sim, é óbvio, como meu irmão sempre diz "falar de Budo é muito fácil numa rodinha de amigos, fazer Budo é outra história". Não é óbvio, pelo menos para os fracos.

A grandeza está no que há de grande, coisas como a glória, a honra e o orgulho, que só os grandes possuem, porque trata-se basicamente de experiências acumuladas, de histórias sobre alegria, realização, mas acima de tudo, cicatrizes de uma trajetória de superação, "sem" dor, sem "última vez", sem nunca desistir daquilo que você acredita.

A grandeza mora nas tradições. Não é costume em tempos modernos as próximas gerações cantarem antes de uma Guerra, canções sobre as vitórias dos guerreiros do passado. Não é costume lutar e sonhar com um futuro, onde outros guerreiros cantem sobre a sua batalha. Não faz parte do nosso tempo.
Porém, grande é aquele quer quer o que ninguém tem, que sonha com o que ninguém sonha e nós vivemos lutando, sonhando com essas canções que nunca serão cantadas.

A grandeza mora nos grandes e não é óbvio nos dias de hoje. Engolir a sensação amarga faz parte do processo de evolução de quem entende e aprende o que é ser grande, olhando para quem é grande.

Olhava para o meu irmão e às vezes sentia raiva por não corresponder à altura. Os grandes vivem de honra, mas pagam suas contas com luta e sacrifício. 1997 era o ano de falar menos, contestar mais(a si) e treinar com tudo que eu tinha.

Os fracos não evoluem, só sofrem as cações do tempo. Os grandes fazem do tempo o que bem entendem.  Para os grandes sempre se trata de levantar todos os dias dizendo a mesma coisa.

Eu quero, eu preciso.

Então, a evolução é só uma consequêcia.

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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Pronto para as Seletivas

Aquele ano estava intenso, preparação para as Seletivas do Mundial Goju-kai, novas turmas de alunos em novos locais, estava realmente tudo indo de vento em popa. Era uma grande responsabilidade ver que a Shizuoka Goju-kan estava tomando corpo no Brasil, mas ao mesmo tempo era gratificante e estimulante. Nossos atletas de ponta de hoje, vieram em sua grande maioria desta época e o mais importante é saber que além dos conceitos esportivos e dos benefícios físicos, eles também aprenderam o valor do Budo em suas vidas.

Naquele ritmo intenso de treinamento, meu brother Horácio se tornava cada vez mais meu parceiro de treino. O fato dele ser um Saito e de ser meu irmão, tornava a vida muito mais difícil para ele. Afinal de contas, a cobrança era feita para que os obstáculos fossem superados e para que o único objetivo que importasse era de ser cada vez melhor. Pois como o meu pai sempre dizia: "Em tudo que se vai fazer, tem que ser bom, porque de mais ou menos o mundo está cheio". 

E assim parti para as Seletivas. Consegui a vaga para o kata masculino acima de 3 Dan vencendo a Seletiva,   depois em abril consegui a vaga para o kumite masculino até 65 kg ficando em segundo lugar na seletiva e não consegui a vaga para o Jyu-kumite pois fiquei em segundo lugar e era apenas uma vaga.

Foi duro, foi difícil, mas a primeira etapa estava cumprida. Estava na Seleção Brasileira que disputaria o mundial Goju-kai no Brasil. Agora era renovar as energias e focar nos treinamentos da Seleção. Já tinha visto o mundial passado no Japão e sabia que conseguir se destacar ali seria uma batalha e tanto. Mais do que apenas querer, era preciso compromisso. Compromisso consigo mesmo, com suas metas e objetivos. Era preciso muito mais disciplina e sacrificar muito mais coisas consideradas "normais" para fazer parte de um grupo seleto.

Agora era focar as forças no Campeonato Mundial Goju-kai.

1997 - Um ano de grande aprendizado.....


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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Crescendo no silêncio

Naquele ano do mundial da IKGA, lembro de ter visto meu irmão suar como nunca. Era um ano intenso, o Campeonato Mundial por si só, já era algo que requeria muita dedicação, responsabilidade, além disso, ainda existia o desafio de fazer a Shizuoka Goju-Kan crescer e plantar novas sementes com novas turmas, novos alunos, novas pessoas interessadas no caminho do Karate-Do.

Dos faixas pretas que atualmente continuam firmes e fortes com o Karate-Do e a Shizuoka Goju-Kan nos dias de hoje, a maioria deu seus primeiros passos, socos e chutes exatamente nesta época.

A época era dura, o terreno talvez aparentasse incerto na época, mas julgando pelo que se vê hoje, tudo indica que era sim um terreno fértil.

Não foi uma vez, nem duas vezes que vi dentro de casa o meu irmão sobrecarregado de coisas naquele ano. Acredito que esta imagem que sempre tive, dos "bastidores" faz muita diferenteça sobre a imagem que eu tenho do meu irmão como Sensei e exemplo à ser seguido. É fácil ver só o que você quer ver, o difícil é ver e conhcer o que se vê.

Nunca fui muito de falar nos treinos. Nunca fui muito de falar e comentar sobre os treinos em casa, nem mesmo com o meu irmão. Sempre aprendi mais observando os exemplos e fazendo perguntas para mim mesmo, sobre o que estava fazendo para ser grande, spbre o que eu estava fazendo para ser um exemplo. Ver os "bastidores", me fez entender muito e até hoje às vezes me pego lembrando das cenas daqiela época e penso comigo mesmo, que exatamente tudo que o meu irmão conseguiu até hoje, foi fruto de muito suor e trabalho. Não devia ser nada fácil e hoje, muitas vezes passando por situações parecidas, dou uma risada por entender situações de anos atrás.

A questão é que tudo na vida realmente tem um preço. Entretanto o que as pessoas esquecem, é que geralmente é necessário pagar antes de ter as coisas. Isso é como assinar um contrato sem ler e depois reclamar.

Com  o volume de responsabilidades, número de aulas e treinamentos do meu irmão para o Mundial daquele ano, aumentaram por tabela, as minhas responsabilidades e treinamentos, mais bagagem para carregar nas costas, mais pedras no sapato e muitos kimonos para a minha querida mãe lavar.

Mais do que nunca, agora eu era "o irmão", mas tinha plena consciência de que tinha de ser "O" irmão. Com novos alunos entrando, eu tinha de me tornar um exemplo. Não tinha direito de falhar, não tinha direito de fracassar e não tinha direito de desapontar o meu irmão. Ter o direito, significava desapontar a si mesmo, esse era o ponto de vista que fazia com que eu me cobrasse em silêncio em cada treino. Se era para ser forte, eu tinha de ser o mais forte, se era para ser rápido, eu tinha de ser o mais rápido, assim como meu irmão fez comigo, eu nunca peguei leve com niguém e creio que os que ficaram, entendem o porque de tudo isso.

A responsailidade só mora no silêncio e as respostas são sempre pelas atitudes. No silêncio de quem se cobra, é só assim que nasce, cresce e evolui a consciência de que você mais do que ninguém precisa ser melhor, precisa fazer melhor.  E treinar não é isso? Eu penso que é.

De nada adianta ter exemplos se você não seguí-los. No silêncio, da sua responsabilidade.

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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Seletiva para o Mundial 1997

Nossos treinamentos sempre foram intensos, porém, como dizia sempre nosso Sensei: "Não importa o quanto você treine, sempre haverá alguém que estará treinando mais....." Era ano de mundial da Goju-kai e este seria realizado no Brasil, na cidade de São Paulo. Começava o ano já pensando nas tantas seletivas que seriam realizadas para compor a Seleção Brasileira, afinal de contas, com o Campeonato Mundial sendo realizado em casa, tínhamos a obrigação de conseguir um bom resultado.
Tinha que conciliar agora os treinos com as aulas. A Shizuoka Goju-kan do Brasil estava crescendo e havia aulas em Guarulhos no Clube UCEG, na Academia SANCHEZ e no Colégio JÚLIO MESQUITA.

Minha preparação física estava intensa, com os treinos normais de karate mais musculação, mas os treinos específicos para Kata e Kumite. Estava na época com 26 anos e acreditava que poderia conseguir uma vaga em uma das modalidades que escolhi: Kata acima de 3º Dan, Kumite até 65 kg e Jyu-Kumite. Estava realmente disposto a conseguir uma das vagas para fazer parte da Seleção Brasileira e lutar por um bom resultado para o nosso país. 

As seletivas teriam início no mês de março e a primeira etapa seria o kata. Vinha de um bom resultado conquistado no Sul-Americano na Argentina, então isto me motivava a treinar forte e dava a segurança necessária para poder demonstrar o que estava sendo treinado.

Treinávamos também sempre no último domingo do mês no Dojo do Mestre Watanabe, juntamente com outros Faixas Pretas. Era um treino bastante técnico, onde o Mestre Watanabe tinha a oportunidade de explicar as técnicas e também padronizá-las. Sempre era um bom treino, técnico e muito físico. Ao final tinha sempre a reunião para discutir assuntos relacionados às diretrizes do Karate-do Goju-ryu no Brasil e na América do Sul e naquele ano em especial, a realização e organização do Campeonato Mundial.

Acabando a reunião, o Mestre Watanabe sempre reunia todos os participantes para comermos algo no restaurante/padaria próximo ao Dojo. Vê-lo descontraído, alegre, sempre contando uma história, são coisas que ficam marcadas na lembrança.

A Seletiva estava chegando, mas naquele instante tudo se resumia em ouvir as histórias do Mestre Watanabe, bons tempos......



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quinta-feira, 7 de junho de 2012

O certo e o certo

Ganhar era bom e continua sendo. Vencer é ter o seu mérito reconhecido, ter todo sacrifício coroado com troféus e medalhas. Porém o que vale mesmo, é o valor que você para os próprios sacrifícios feitos e é somente isso que tem valor numa medalha, você dá o seu valor.
Vencer era bom, mas sempre aprendi que o mérito constrói além de medalhas, o caráter de um homem.

O treino constrói o caráter de um homem. Só existe sinceridade e humildade naqueles que buscam merecer suas medalhas e graduações. O caráter mora no mérito e este sempre depende de trabalho.

Trabalhar em cima dos seus deveres sempre em primeiro lugar, antes de questionar sobre os seus direitos. Um homem que não é direito, não possui direito. Quem deve, nunca merece.

Havia aquela boa sensaçãode ser recompensando, ganhando uma bolsa de estudos, deixando minha família toda orgulhosa, vendo as coisas caminhando bem para o meu irmão e a Shizuoka Goju-Kan. Tudo porque trabalhamos e merecemos. Somente isso nos satisfaz até hoje. Mérito.

Costumamos dizer, o que ouvimos de nossos senseis. Que Karate não possui meio termo, que não existe Karate mais ou menos. Ou é ou não é. Não existe meio Sanchin-dachi ou meio Jodan-zuki. O que existe é o certo e o errado. sendo que se a busca pelo que é correto for o maior objetivo prático e moral do treino, nunca haverá o errado, haverá sim sempre a busca pelo certo. A sinceridade mora nesta busca e a humildade só existe nesta busca.

A Shizuoka Goju-Kan estava começando no Brasil e com elas novas sementes eram plantadas. Hoje, com o passar do tempo temos muito mais do que frutos, temos um ideal sólido que traduz o treinamento do Dojo com três palavras: Sinceridade, humildade e mérito.

Num Dojo, se constrói um ideal, criando coisas boas para o mundo através do caráter. Cria-se para o mundo e quem não pratica tal sinceridade, num local chamado de "local do caminho", não creio que esteja pisando no lugar certo. 

O certo e o certo. É só o que existe, para aqueles que criam algo, deixam algo que faça a diferença no mundo.

E lembro então da educação  que meu pai e  meu irmão me deram: De mais ou menos, o mundo está cheio.

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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Oportunidades

Voltamos da Argentina e a sensação de vitória era boa. A sensação também de dever cumprido perante a família e amigos, estávamos iniciando um caminho de vitórias e conquistas da Shizuoka Goju-kan no Brasil.
No ano seguinte (1997) aconteceria o II Campeonato Mundial de Karate-do Goju-kai e o Brasil havia sido escolhido para ser o país sede. Seria uma grande honra fazer parte da Seleção Brasileira, mas primeiro precisava passar pela seletiva e conquistar esta vaga.

A história da Shizuoka Goju-kan no Brasil estava começando a tomar forma e consequentemente a história do Saito Brothers também. Confesso que naquela época nem pensava nisso, o foco era único e exclusivamente treinar e treinar mais. Aprendi no período em que vivi no Japão que não importa o quanto você treina, se quiser melhorar, tem que pensar que existe sempre alguém que está treinando mais. Penso que isto serve não somente para os treinos físicos e técnicos, mas para tudo que fazemos nesta vida. Achar que você é bom ou que sabe tudo sobre algo, é dar o primeiro passo rumo à estagnação. 

O ano de 1996 estava terminando, eu estava de volta ao Brasil, de volta à minha família, iniciando um caminho de vitórias no Brasil e iniciando o caminho da Shizuoka Goju-kan aqui. Estava orgulhoso também com os resultados do Horácio, além do título Sul-Americano recém conquistado, havia conseguido também uma bolsa de estudo em um grande colégio por conta de seu desempenho. 

O ano estava terminando, mas não as oportunidades. O departamento de karate do clube estava crescendo e os alunos estavam aumentando. Meu tio Tadao havia também me indicado para iniciar o Karate como atividade extra curricular em um grande colégio e após tudo acertado, o Karate iniciaria já em fevereiro de 1997.

As oportunidades estavam aparecendo e era preciso acreditar nelas......



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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um talento, um desejo

Nunca fui o melhor dos alunos. Nunca fui o melhor dos atletas e até hoje me vejo desta forma. Muitas vezes penso no que sobra de talento nato em mim, se eu tirar toda quantidade de treino e dedicação exigida até hoje. A resposta que encontro é sempre a mesma: Nenhum.

Vencer naquele dia, foi um passo importante dentro do meu caminho.

Eu nunca fui como o meu irmão. Nunca fui o mais confiante, nem o mais otimista. Mas eu aprendi.

Vencer em um terreno onde as pessoas não te conhecem, é provar a sua capacidade pela capacidade. Não existe "nome", não existe política, não existe nada a não ser a prova do seu merecimento. Então é o que vale.
Merecer é o que conta no travesseiro.

Naquele ginásio velho, a jornada se tornava mais sólida e um desejo era moldado com aquela vitória. À partir daquele dia, eu comecei a acreditar que realmente existia algum talento em mim, ali eu comecei a acreditar de verdade que eu podia fazer coisas que só eu podia. Ver coisas que ninguém vê, fazer coisas que ninguém faz, ser o que ninguém é.

Ser um campeão, que nasce, que se cria muito antes de qualquer título, resultado, medalha, dinheiro ou qualquer outra coisa do tipo. Ninguém nasce com uma coroa no meu modo de ver o mundo, você conquista.

De lá para cá, enfrentei atletas de diversos tipos, tamanhos e nacionalidades. Uns melhores que eu, outros não. Foram muitas derrotas e vitórias até aqui, eu continuo olhando para algo que eu ainda não consegui, para um lugar onde nunca estive, sempre com base naquele mesmo desejo moldado naquele dia.

Perdi a conta de quantas manhãs de inverno acordei às 5h da manhã para correr, de quantos golpes dei treinando sozinho, de quantas repetições eu fiz a mais quando na verdade o que eu queria era vomitar e cair.

Tive lesões que me acordaram no meio da noite e já pensei que não poderia mais fazer o que mais amo no dia seguinte, tenho lesões e não as uso como desculpa para justificar as minhas falhas. Eu treino com dor. Eu ignoro a dor.

Não há desculpas. Só um desejo e esse, talvez seja o meu talento.

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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mendoza - Argentina

Lá estávamos nós naquele país, disputando o Sul-Americano representando o Brasil pela primeira vez. Chegamos no Ginásio, nos instalamos e esperamos pelo desfile das delegações. Estar ali é sempre mais do que somente competir, é representar o seu país, seus pais, amigos, seu Mestre e sua escola.
Eu ia disputar a categoria de Kata Adulto Faixa Preta acima de 3º Dan e fui me aquecer.
O fato de não conhecer os meus adversários me dava uma certa tranquilidade e eu queria apenas dar o meu melhor.
Na primeira rodada todos fizeram o kata Seienchin e eu me classifiquei entre os oito com as melhores notas.
Estava agora com a sensação de que poderia vencer e começava a ter que controlar um pouco a ansiedade. Chamaram então meu nome, e com certeza, até aquele momento, ninguém na América do Sul sabia quem eu era. Entrei no koto, fiz o cumprimento e gritei bem alto "Suparinpei". Comecei o kata como que em transe e nem percebi que o tempo passava, pensava apenas no movimento sendo executado, pensando em executá-lo da melhor forma possível, com força, com velocidade, com técnica, mas acima de tudo, com espírito, com significado.
Ao término da categoria, chamaram os nomes e ouvi chamarem o meu como campeão da categoria.

Meu irmão Horácio também competiria na categoria Kata e também no Kumite, só que no juvenil, 15 a 17 anos. O resultado foi: Campeão no Kata e Vice-Campeão no Kumite.
Ali naquele Ginásio, em Mendoza, na Argentina, no ano de 1996, os Saito Brothers começava sua jornada em Sul-Americanos. De lá para cá muita coisa mudou, nós mudamos. O que nunca mudou foi a nossa vontade de aprender, aperfeiçoar e treinar. Assim como algumas pessoas que conhecemos naquela época. Do William do Rio de Janeiro, que foi um dos primeiros amigos que fiz quando cheguei no Campeonato Brasileiro em Serra Negra, assim como o Julio Galdino. Do "Jordan" (Allan) que teve seu tênis roubado no alojamento e teve que voltar de chinelo no avião. São muitas histórias e o que nos deixa feliz é que muitos destes continuam também seus caminhos no karate.

Este ano acontece novamente o Campeonato Sul-Americano em Mendoza e nós iremos lá representar o nosso país com orgulho. Após dezesseis anos, estaremos novamente naquela cidade onde vencemos o Campeonato Sul-Americano pela primeira vez.....

Shizuoka Goju-kan saigo made ni



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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Que comece a viagem

Competir nunca fez de mim um astro de propaganda de marcas de material esportivo, nem muito menos um milionário astro como no basquete americano.

Competir, com excessão de pouquíssimas vezes ou fazes da vidade atleta, sempre me trouxe muito mais prejuízo financeiro do que outra coisa. Mas se por um lado gastei muito dinheiro, se fiz a minha família gastar dinheiro, não posso dizer que eu não tenha aproveitado cada momento de cada viagem.

Para este campeonato na Argentina, acabei recebendo uma pequena ajuda da escola onde estudava naquela época, o que mais tarde acabou me rendendo uma bolsa de estudos integral e aí, pode-se dizer que quitei a dívida(em partes) com o meu pai, pagando assim pelo menos os meus estudos.

Mas isso é uma outra história, porque eu nem se quer tinha ido para a Argentina e as contas se pagaram na escola depois que eu voltei, então voltemos ao assunto da pré viagem.

Tirando a viagem feita para oa Japão, eu nunca tinha visitado outro país. Está certo que par quem viaja para o Japão, qualquer viagem se torna curta e sem muito mistério, mas conhecer outro país era algo que eu ganhava como bônus por competir(assim continua até hoje).

Se não trouxe financeira muito mais do que algumas dívidas adquiridas e pagas ao longo do tempo, culturamente é sempre enriquecedora a experiência de ter contato com outros povos, suas culturas e costumes. E talvez mais importante ainda, é o fato de ter dividido tantas vezes esses momentos fora do país com amigos e parceiros de jornada. Conheci novas culturas, respirei ares diferentes e agradeço ao Karate por ter ganho amigos que podem contar as mesmas histórias que eu conto das minhas jornadas.

Competir é uma viagem, que você tem que curtir. Principalmente sendo atleta de Karate. E eu acredito que ali, naquela terra, naquele ginásio gringo, depois de alguns apuros em terra Argentina,lá estávamos nós, eu e o meu irmão.

Começava então a minha viagem.

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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Shizuoka Goju-kan na Argentina

Estávamos a caminho de Mendoza, na Argentina. Confesso que naquela época era difícil imaginar que éramos a Shizuoka Goju-kan, já que éramos apenas eu e meu irmão. Nem pensar sequer nisso eu pensava.
Estávamos lá pela primeira vez defendendo as cores da bandeira do nosso querido Brasil pela primeira vez, já que no mundial de 1993 em Tokyo, estávamos como parte do grupo que representava o Japão, pelo Dojo do nosso Mestre Konomoto Takashi.
Estar ali representava uma grande responsabilidade, a de conquistar espaço em lugar totalmente desconhecido para nós.

Viajamos de avião de Guarulhos até Buenos Aires e de lá para um aeroporto menor de ônibus para poder então embarcar rumo a Mendoza. Fiquei espantado com Buenos Aires à primeira vista, era uma cidade moderna, com seus traços tradicionais e um certo romantismo em sua arquitetura, mas ao mesmo tempo, acompanhando a modernidade de uma grande metrópole. O ônibus atravessou toda a cidade de Buenos Aires por um elevado, sem pegar trânsito nem farol e nessa hora fiquei imaginando a mesma situação no Brasil, descendo em Cumbica-Guarulhos e tendo que se deslocar até Congonhas, iria perder o vôo com certeza. 

Chegando lá, ficamos em um tipo de albergue, junto com outros atletas. Confesso que as condições de hospedagem tanto no Brasil como na Argentina me causavam uma certa estranheza, afinal de contas havia praticamente acabado de voltar do Japão, e lá, sempre que viajei para competir as acomodações eram bem diferentes. Mas somos brasileiros e neste ponto é muito bom, pois nos adaptamos a qualquer circunstância, não é mesmo? Era o suficiente para dormirmos, tomarmos banho e descansarmos, então estava muito bom. 

O que sempre é diferente e no meu caso, gosto bastante, é o fator comida. Gosto de ir a lugares diferentes e experimentar a culinária local e seus pratos típicos. Claro que nem sempre esta é uma situação agradável, mas na maioria das vezes é sempre bom e de valor explorativo, gastronomicamente falando.

Estávamos prestes a competir, mas não me lembro de ter tido ansiedade ou nervosismo, estava tranquilo e o fato de ser tudo novo e diferente de como era no Japão, acho que ajudava a não pensar tanto no campeonato em si.

No dia seguinte iríamos iniciar o caminho da Shizuoka Goju-kan do Brasil em terras internacionais, era o início dos Saito Brohters no Campeonato Sul-Americano.....


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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Moldando o merecimento

Com um kimono a menos e uma faixa preta, um objeto muito pessoal e significativo a menos, voltei para casa. Com algumas histórias novas, umas boas,  outras nem tanto, mas com uma nova experiência adquirida que sem dúvida me serviu muito bem como cartão de visitas, de como as coisas funcionavam por aqui.

Trouxe comigo também novas amizades que naquela época eu mal imaginava que seriam tão duradouras. Se existe uma coisa dentro da vida de atleta de Karate que posso dizer que ganhamos de verdade, já que não há glamour nenhum, não há salários milinoários, mídia nem nada do tipo é a amizade daqueles que lutam muitas vezes como adversários, mas que ao longo dos anos acabam se tornando grandes parceiros de uma parte do caminho do Karate-Do que é a competição.

Dentro de alguns meses, o Sul-Americano da Goju-Kai nos esperava lá na Argentina. O primeiro como Brasil, o primeiro como Shizuoka Goju-Kan do Brasil, fora do Brasil.

Treinar duro não era novidade. Novos desafios para o meu irmão, só funcionavam como lenha nova jogada na fornalha e eu, ia nesse embalo como parceiro de treino.

Treinar Karate se trata sempre de sinceridade. Aquele que não traz a sinceridade para o treino, que fique em casa. O treino é duro e mesmo maior, mesmo um pouco mais velho, eu ainda penava e muito para acompanhar o ritmo do meu irmão. Nunca teve um dia sequer que o nosso treino não tenha sido sincero. Dos acertos aos erros, das defesas aos ataques, tudo tinha a marca da verdade de cada um.

Quem quer competir, precisa querer merecer. Não existem títulos, medalhas e resultados construídos somente com a sorte. A sorte, a oportunidade existe, mas quem nãoestá preparado, simplesmente não aproveita e acaba dependendo de mais sorte, que neste caso dá para dizer que é cuspir na sorte anterior.

Nós sempre treinamos, lutamos e trabalhos muito duro correndo atrás do merecimento. Sem merecimento, não importa o que for, não tem valor.

Você é muito antes de ter as coisas e nós contruíamos e continuamos construindo o que nós somos ali, dentro daquele Karate-Gi surrado de treino, encharcado de suor.

E no final do treino, só existe uma pergunta:
Você foi sincero com o melhor e o pior de você?
A resposta é o que você leva, em busca do seu merecimento. Naquele ano, naqueles treinos, eu tenho a maior certeza do mundo, que merecimento nunca nos faltou.

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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Saito Brothers - Shizuoka Goju-kan do Brasil

Voltamos do Campeonato Brasileiro de Serra Negra com as vagas garantidas na Seleção Brasileira para o Campeonato Sul-Americano em Mendoza, na Argentina. Eu começava agora um novo desafio. 
Graças ao meu tio Tadao, que na época era diretor de um clube da colônia japonesa em Guarulhos, iniciei o Departamento de Karate. Na primeira aula, estávamos eu, o Horácio e o nosso primo Felipe, que foi nosso primeiro aluno. Isso foi em Setembro de 1996. De lá para cá, podemos dizer que "evoluímos" já que hoje não são apenas eu e o Horácio que fazemos parte da Seleção Brasileira, mas sim, vários alunos de diversas categorias e idades.
Neste sentido, posso dizer que um dos mais valiosos ensinamentos que nosso Sensei nos transmitiu e que todos os dias tentamos demonstrar a nossos alunos é que todo conceito e teoria deve ser comprovada na prática, karate só se entenderá e compreenderá, se for praticado e treinado todos os dias, com suor, com dedicação, com honra. 

Treino, isso é o que sempre se baseou a minha amizade com meu irmão. Podemos dizer que nosso sentimento é sincero porque estávamos constantemente em treino, e nessa hora, quando se está frente a frente com seu companheiro, todo sentimento tem que ser verdadeiro, quem é o atacante ataca e quem é o defensor defende, simples assim. Só existirá uma defesa verdadeira, se for fruto de um ataque verdadeiro. Nossa cumplicidade se baseia na veracidade de nossos treinos. 

Assim, portanto era o nosso dia a dia depois que retornamos do Campeonato Brasileiro em Serra Negra, treino, muito treino. Buscar o título Sul-Americano era muito importante, representar o nosso País com orgulho. 
Claro que a vida de atleta e professor no Brasil não é fácil e conseguir patrocínio é sempre um ato de fé. Acreditar sempre que irá conseguir tem que estar até o último segundo. Para a Argentina não seria diferente e então começamos a nossa peregrinação atrás de recursos para pagar nossas despesas com a viagem e hospedagem. 

Mas quem acredita sempre alcança, já dizia o velho ditado, a nossa viagem para a Argentina estava garantida, então nos restava o que mais nos agradava em fazer: Treinar.

Saito Brothers - irmãos de sangue, amigos de verdade!!!!!


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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Realidades e Guerreiros que dizem sim

Desde a minha volta, tinha competido apenas uma vez em solo nacional. Em tal experiência fui bem, ganhando medalha e tudo mais. Mas acredito que aquela experiência não conta muito como "dia de campeonato no Brasil". Isso porque naquele dia, eu fui acompanhado dos meus pais e logo após ter cumprido com o meu dever ao competir, fui embora e nem vi a competição msmo, o evento todo em si.

Se você é atleta de Karate, se você já foi atleta de Karate, você sabe do que estou falando quando digo "o evento todo em si". Passar o dia todo num ginásio, quando a competição é relativamente bem organizada para os padrões brasileiros, já não é lá um dos programas mais agradáveis para levar a família toda(deveria, mas não é).

Pois bem, até aquele momento na van, eu não conhecia essa realidade.

Talvez eu me lembre daquele campeonato como um dos mais terríveis em que já estive. Não sei se é por conta do choque ou se de fato foi tão ruim assim. O ginásio, bem, não era um ginásio. Era algo como um centro de convenções ou coisa assim, com uma espécie de piso frio, totalmente adequado para competições esportivas(ironia). Olhava ao redor daquel ginásio e não sabia muito o que pensar a respeito. Passamos um tremendo frio dormindo no chão do "alojamento" ou melhor, passamos a noite, porque o pessoal não colaborava muito e era uma zona que só.

Pouco a pouco na competição, conhecíamos as pessoas dali daquele meio. Mesmo passado tanto tempo, algumas dessas pessoas continuam na ativa e treinando o bom e velho Karate-Do como nós, tenho orgulho de conhecê-las, outras porém já não estão trilhando o mesmo caminho. São escolhas da vida, onde sempre há a opção de ficar ou partir. Eu sinto orgulho por todo dia ser aquele que fica, assim como tenho orgulhod o meu irmão e também dests amigos que até hoje continuam dizendo sim para o Karate-Do.

Uma lembrança que beira o bizzaro neste campeonato, foi ver um sujeito fazer o Kata na categoria do meu irmão logo apoós terminar sua apresentação, se ajoelhar em seiza e esperar a nota, enquanto os juízes levantavam seus caderninhos com as notas anotadas, mas todos sentados em cadeiras normais e o sujeito ali, ajoelhado, como se aquilo fosse um sinal de respeito a mais que lhe fosse dar algum ponto extra.

Quando vi aquilo pensei comigo: Mas o que diabos é isso? Será que é assim que as coisas funcionam aqui? Nunca vi isso no Japão! No Japão! A Terra do Karate!
Para o meu alívio, não, não eram. Se tratava apenas de uma melância no pescoço.

A missão foi cumprida, mas tudo era muito diferente e por hora, eu e o meu irmão eramos só dois forasteiros naquele meio. Tão forasteiro talvez que alguém decidiu roubar a minha mala! Com Karate-Gi e faixa preta dada pelo meu sensei no Japão(alguém viu por aí? Ainda está em tempo de devolver).

Dizem que a primeira impressão é a que fica. Mas nesse caso, o tempo levou ela embora junto com um bocado de coisas e o que fica na verdade, são aqueles que sempre estão dizendo sim ao Karate.

Se hoje escrevemos essa história, é porque o sim, sempre foi a nossa resposta.

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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Saito Brothers Brasil

A caminho do Campeonato Brasileiro de Karate-do Goju-ryu que seria realizado em Serra Negra no final de semana, conversávamos sobre várias coisas naquela van apertada. Viajar com o Mestre Watanabe era uma grande honra, mas também era possível ver o quanto um Mestre é grande não apenas em sua técnica ou graduação, mas sim no exemplo como ser humano, dos valores que regem esta arte marcial aplicados na prática.
Mas, uma outra coisa fazia daquela viagem especial. Era também a volta dos irmãos Saito competindo juntos, para mim era muito bom poder voltar ao Brasil, mas principalmente voltar para perto da minha família. Era o primeiro campeonato Brasileiro da Shizuoka Goju-kan no Brasil e o primeiro campeonato Brasileiro dos Saito Brothers.

Confesso que estranhei o campeonato, principalmente a organização. Estava acostumado com os campeonatos no Japão, onde se tem o koto, a categoria e o horário onde se irá fazer kata e kumite, já com as chaves, no livreto da programação que você recebe na porta do Ginásio, no início da competição. Aqui era um verdadeiro caos...rsrsrs. e não se sabia qual seria a próxima categoria que iria ser chamada. O campeonato era em dois dias e dormimos no Ginásio, quer dizer, tentamos dormir, por causa do frio e do barulho. Posso dizer que aquele campeonato me deu uma noção exata do trabalho que teríamos pela frente aqui no Brasil. 
O bom do campeonato é que agora fazíamos parte da União Sul-Americana de Karate-do Goju-ryu, presidida pelo Mestre Watanabe e com o resultado do campeonato Brasileiro, havíamos conquistado as vagas para representar o Brasil na Argentina no Campeonato Sul-Americano de Karate-do Goju-ryu. 
Dever cumprido!!!!!

De lá para cá muita coisa mudou, trabalhamos duro para fazer com que a Shizuoka Goju-kan crescesse e ensinar a nossos alunos os valores que aprendemos com o nosso Mestre Konomoto no Japão. Quando cheguei aqui no Brasil, havia acabado de conquistar meu San Dan e com isso uma grande responsabilidade de ensinar o Karate-do Goju-ryu de acordo com as diretrizes da matriz da IKGA em Tokyo. 

Saito Brothers rumo à Argentina!!!!!


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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Os Mestres de uma viagem

Mal tinha voltado do Japão e lá estava o meu irmão já engajado naquilo que seria a nossa nova jornada juntos pelo Karate. O destino era a cidade de Serra Negra.

A van era apertada e eu não conhecia as pessoas. Porém, tinha de novo o meu irmão ao meu lado e isso bastava para que eu fosse para qualquer canto sem saber muito bem o destino.

Foi neste dia que eu conheci o mestre Ryuzo Watanabe e logo de cara eu já tive a mesma impressão que carrego ate hoje do sensei. Alegre, receptivo e de bom coração. Esta primeira imagem que tive do sensei naquele dia dentro daquela van apertada,  foi a imagem que eu vi durante os anos que pude ter contato com ele e é sem dúvida alguma a imagem que eu guardo hoje, mesmo após sua morte ocorrida anos atrás.

É engraçado, porque uma vez mestre, sempre mestre e estes, parecem todos iguais.
Como brasileiro, posso dizer que sou uma pessoa de sorte. Pois conheci vários sujeitos que se enquadram nesta categoria acima dos seres comuns.

A sabedoria, a humildade e a sensação transmitida de que tudo, não importa o que seja, vai ficar bem. Em palavras, seria mais ou menos esta a sensação de estar junto de uma pessoa do meio do Budo, chamada de mestre. E essa era a sensação que eu tinha, treinando com o sensei Konomoto e ali, naquele momento com o sensei Watanabe.

Claro que naquela época eu não tinha muito a noção do tamanho do privilégio que a vida me deu por poder aprender com figuras tão importantes da vivência do Budo. Hoje paro, penso muito a respeito e vejo que a formação da minha base como Budoka e também como pessoa, deve-se e muito ao convívio que pude ter ao lado destes mestres.

A técnica, sim claro, mas mais importante que isso, eu aprendi com eles o que é certo e o que é errado para seguir trilhando o caminho do Karate-Do. Lição que faz toda diferença, não existe honra em quem não não respeita o certo e o errado dentro da arte marcial.

O Karate-Do é uma longa viagem e os mestres já rodaram um mundo todo.
Uma longa viagem era aquela, naquela van apertada e sem muito conforto. Mas lembrar do sensei Watanabe feliz e sorridente naquele dia parece ser uma lembrança muito mais forte do que o tempo, o desconforto ou até mesmo aquela viagem em si.

Porém chegando ali, eu descobriria que o mundo do Karate, não é o mesmo em todo lugar e que as coisas funcionavam de uma forma bem diferente agora...

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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nosso Caminho

O avião taxia na pista do aeroporto Internacional de Cumbica em Guarulhos e eu espero ansioso para descer e reencontrar minha família. Penso que deste dia em diante é uma nova etapa, um novo caminho a percorrer. Iniciar no Brasil um trabalho que iria exigir muita responsabilidade, mas também seria uma grande honra.
Passo pela alfândega e logo vejo o portão que separa os viajantes das pessoas que aguardam ansiosas. É uma sensação muito engraçada, diferente em todas as vezes que você passa por aquele portão. É muito bom viajar, mas é muito melhor voltar para casa.

Abraço a todos que estão ali, e desta vez quando abraço meu irmão, é como se tivesse voltado a ter o meu braço direito. Aquela era uma sensação realmente boa. Felicidade é saber aproveitar estes pequenos momentos de nossa vida e poder levá-los para todos os outros momentos.

Retornar à nossa casa, só que nova, reformada, graças ao meu pai que retornará antes ao Brasil e tinha reconstruído o que sempre chamamos de lar. Era bom estar de novo aqui.
Já no dia seguinte enviei ao Mestre Watanabe a carta de recomendação do meu Mestre por fax e falei com ele ao telefone. Imediatamente nos deu as boas vindas, o que fazia parte do caráter do grande homem que sempre foi o Mestre Watanabe e nos convidou para participar do campeonato Brasileiro de Karate-do Goju-ryu que aconteceria na cidade de Serra Negra já no final de semana.

Ali sentados na van em direção à Serra Negra, começávamos a trilhar o nosso Caminho aqui no Brasil, eu e meu irmão Horácio, irmãos de sangue, amigos  de verdade.....



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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Irmão de sangue

Buscar o meu no aeroporto era algo que me causava euforia e alegria, porém ao mesmo tempo havia uma sensação estranha. No caminho do aeroporto, um misto de sensações. Entre aquela alegria pelo reencontro e a certa estranheza.

Num período curto de tempo talvez eu tenha mudado muito, ou pelo menos achava que tinha mudado muito e de certa forma eu não sabia muito bem se mesmo assim tudo continuava a mesma coisa.

É claro que hoje, eu sei que certas coisas e nesse caso, as mais importantes, nunca mudam. Nem com o tempo, nem com outras circunstâncias da vida. O sangue permanece sangue, o caminho permanece o mesmo caminho e estes dois fatores se cruzam, se confundem entre si ao longo dos anos, então além do sangue, o caminho nos faz irmãos.

Um silêncio pairava nos meus pensamentos. Em mais desses dias que definem o que é a nossa história. Vejo o meu irmão no portão de desembarque e era simples como é hoje, irmão de sangue, amigos de verdade.

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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Aguardando o retorno

Em agosto tinha participado do Campeonato Nacional da Goju-kai em Tokyo, mas infelizmente esta era minha última participação e não consegui trazer para casa uma medalha. Voltei um pouco frustrado confesso, mas torneios no Japão são assim mesmo, o nível além de ser alto e competitivo, é também volumoso. Uma chave de uma categoria ter mais de 50 participantes é comum e conquistar uma medalha é realmente um fato difícil.
Mas por outro lado, tinha prestado o exame para o 3 Dan e havia passado, o que me deixou feliz. Meu Sensei já havia me entregue também uma carta de recomendação para o Mestre Watanabe para quando eu chegasse ao Brasil. Nela, dizia que eu estava autorizado também a utilizar o nome da Associação Shizuoka Goju-kan no Brasil, fato de muito orgulho, mas também de muita responsabilidade.

Arrumava as malas, nelas, além da bagunça, muitas lembranças de todo aquele tempo em que passei no Japão. Com certeza não há preço que pague a vivência e a experiência de ter convivido com grandes Senseis nos Dojos de Hamakita, Hamamatsu e claro, do Honbu Dojo de Shizuoka em Sagara. Com cada Sensei aprendi uma coisa diferente e marcante, mas uma coisa era muito clara. Todos eles ensinam Budo pelo exemplo, pela conduta correta, pela honra e dignidade empregada em seus dias de vida, pelos atos moldados e forjados por ensinamentos da Arte Marcial Japonesa.

Passagem comprada, estava ansioso para voltar à minha terra natal, reencontrar minha família, não apenas para visitar, mas agora para pensar em não mais se separar.
No Brasil iríamos iniciar um novo legado, levar o nome do nosso Mestre e sua técnica. No Brasil um Saito já estava fazendo o seu trabalho e já se destacando em algumas competições. O Horácio apesar de estar treinando no Dojo do Sensei Wagner que era Shotokan, estava mantendo as características do estilo nos seus treinamentos de kata.

Esperando o dia do embarque, esperando para os Saito Brothers estarem juntos novamente......


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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Todo presente, se faz presente

Generosidade e humildade são palavras que para mim,. definem grande parte do que significa a palavra Mestre, quando o assunto é Karate-Do.

Por trás de todo conhecimento, de anos de vivência percorrendo um longo caminho, sempre há uma base gigante que expressa tais qualidades.

O Konomoto sensei não era diferente. Ou melhor, ele é a definição da palavra Mestre. Em cada gesto, eu nunca vi um sinal que mostrasse qualquer falta de humildade. E acredito, que o caminho natural do Nagatani sensei seguia pelo mesmo destino.

Os presentes, vindos destes senseis, se contar com os pães de sua padaria, que o sensei Nagatani nos dava sempre após os treinos do sábado para que não gastássemos dinheiro com comida na volta para casa, eram presentes frequentes.

Os pães do sensei Nagatani, a luva da Mizuno que ganhei da Kondo-san, o dinheiro que recebi do sensei de Hamakita, a medalha que um dia foi do sensei Konomoto e que num dia, em uma lição sobre desapego, simplesmente me deu. Tudo isso, todos estes presentes continuam presente na minha vida.

Para mim, mais do que agrado, estes presentes significam confiança e esperança depositadas em nós naquela época. O engraçado disso tudo é que hoje, ao lembrar destas coisas e ao pegar em mãos alguns destes objetos, eu sinto o que eles depositaram nestes presentes. Confiança e esperança.

Existem presentes que só tem como função agradar. Nada de errado com isso, se este for o propósito. Mas existem outros presentes que acredito que poucas pessoas tem a honra de receber na vida, presentes que se fazem presentes, porque você honra, sua, chora e sorri para manter os valores daqueles objetos e memórias intactos.

O valor de cada presente, permanece aqui. Nós estamos presentes.

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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Presente Especial

O dia do exame para San Dan se aproximava, o Campeonato Nacional Goju-kai se aproximava e o meu retorno para o Brasil também se aproximava. Era um misto de alegria, medo, ansiedade e preocupação. Nestes dias era sempre bom conversar tanto com o Sensei Nagatani (Shihan-dai do Dojo) como com o Hanshi Konomoto. As coisas pareciam sempre bem mais fáceis quando ditas por suas palavras. E desta época acredito que consegui trazer uma das mais importantes lições, que é de sempre pensar, independentemente de quanto a situação esteja ruim, pensar no que o meu Sensei faria, o que ele diria. Tento pensar em como um grande Mestre, como é o meu Sensei resolveria aquela situação. Confesso que esta lição tem sido muito útil desde que retornei do Japão.

Em um dia normal de treinamento, após terminarmos, quando estávamos limpando o Dojo, o Hanshi Konomoto me chamou e disse que gostaria de me entregar algo. Pediu para que eu olhasse dentro de uma caixa que estava no chão, próximo à estante. Olhei curioso e dentro tinha um protetor antigo de karate (bogu), estava completo com o Men (capacete) o Do (protetor de tórax e virilha) e o kote (protetor de mão e antebraço). Achei o máximo, pois nunca tinha visto um ao vivo, apenas em fotos antigas. Fiquei ali admirado, reparando nos detalhes, imaginando de como eram os treinamentos de kumite antigamente, quando utilizavam aqueles protetores. Após ficar um tempão ali admirando, coloquei-os de volta na caixa. Então o Hanshi se vira para mim e diz: É seu! Para você levar ao Brasil.
Na hora nem acreditei, pensei até ter entendido errado. Fiquei sem saber o que fazer, agradeci e agradeci de novo. Peguei a caixa com todo cuidado para guardar no porta mala do carro, não sabia o que dizer e fazer ao certo. Apenas agradeci com toda sinceridade, era um presente sem igual.

Passaram-se quinze anos e olhando para o bogu hoje, continuo ainda com aquela mesma sensação, realmente foi um presente Especial......

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quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Bastante

Ganhava finalmente altura e perdia peso, ou melhor, não perdia peso e só crescia mesmo. Dos doze ao início dos meus quatorze anos, posso dizer que fui gordinho e baixinho. Tudo que alguém pode desejar(ao contrário) nesta fase da vida. Mas os dias de pouca estatura e peso a mais, ficava para trás naquele ano em que finalmente chegava o meu estirão.

A falta de altura já me causava muitos problemas desde o último ano em que morei no Japão. Já estava difícil competir com a diferença de altura.

Da mesma forma também que era dureza perder tais competições e ainda ter que "aturar" o meu irmão nos treinos de portas fechadas. Eu queria ser maior que aquele pouco mais que um metro e meio.

Porém agora as coisas estavam mudando. Naquele ano ganhei uns centímetros a mais que de certa forma me moldavam, talvez a vida e o tempo me preparava para a volta do meu irmão.

Nesta época, influenciado pelos novos moldes em que o meu corpo se ajeitava, eu peguei gosto pelos exercícios abdominais, talvz até por um certo trauma de nunca mais querer ser o gordinho de novo.

Fazia então meus treinos de Karate e tomava gosto pelo que se pode fazer de bônus quando ninguém estava me cobrando. Talvez esta tenha sido a minha primeira experiência de fato com o fator "treinar sozinho", por conta própria, por gosto próprio e pelas próprias metas.

Porém com toda a ingenuidade do mundo eu cometia um erro grave que mais tarde colocaria todo este prazer que eu sentia naquele momento no chão.

Eu achava que era o bastante, me satisfazia crendo que era o bastante e é aí que eu me enganava.

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Japan Karate-do Federation

Participar da etapa estadual classificatória da Província de Shizuoka da JKF (Japan Karate-do Federation) era uma experiência e tanto. Ali estavam todos os melhores atletas da província buscado uma vaga para disputar o Campeonato Nacional.

Eventos no Japão são famosos por sua pontualidade e organização perfeita. Poder acompanhar estes campeonatos de perto foi muito valioso para meu aprendizado sobre organização de eventos.

Tinha conseguido baixar meu peso, graças à uma dieta de maçã e chá verde e corridas todos os dias de manhã. Estava abaixo dos 65kg, importante para a categoria.

Confesso que não gostei da minha participação, venci apenas a primeira luta, não sendo suficiente para avançar na categoria. Perdi a segunda luta por uma diferença de um "wazari".
No kata passei pelas eliminatórias, ficando entre os oito e na rodada final (que ainda era por notas) acabei ficando em quinto lugar.
A competição aconteceu no mês de junho e queria muito ter conseguido uma classificação melhor, para poder voltar ao Brasil com aquele título. A viagem de volta já estava marcada para Setembro e agora só havia o nacional da Goju-kai e o exame para Sandan em Agosto.

Um dia que tive que voltar para casa sem meu objetivo.....

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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A ordem das coisas

Era hora de consumir as próprias vontades. O início talvez, de algo que pode ser definido como "as primeiras verdades".
Muitas sementes são plantadas, muitas vezes sem que realmente se saiba sobre o que está sendo plantado e consequentemente, sobre todos os frutos que futuramente serão colhidos. Nem tudo se trata de controle na vida e exatamente por isso é o controle que sempre buscamos.

Eu nunca treinei Karate pensando em me tornar um mestre ou coisa assim. Não comecei a treinar porque queria alguma coisa em troca, esperando por frutos de sucesso ou coisa do tipo. Mas por mais que eu não soubesse, pensasse nisso naquela época em que comecei a treinar, Karate é uma semente, que em solo fértil se transforma em algo para a vida toda. Uns o cultivam a vida toda, outros desistem e os desistentes, eu apenas considero como solo infértil para o Karate.

Só o tempo diz o que é fértil e o que não é. É necessário seguir, insistir, aprender com o tempo. Num belo dia, você acorda e faz, sem ninguém mandar, sem ninguém cobrar e aí, você de repente pode notar que existe algo brotando daquela semente.

Nada é garantido se você não der suas garantias e dentro do Karate-Do, toda garantia só existe através de provas, que muito provavelmente sejam a água necessária todos os dias, para a "mágica" acontecer.

Então era hora de ver algo brotando daquela semente. Ver por si só. Esse era o caminho natural das coisas. Hoje regando a minha árvore com treino, eu lembro daquela época sem o meu irmão por perto e vejo que tudo estava no seu devido lugar.

Meu irmão estava longe, mas de alguma forma acho que estávamos muito perto e talvez poucos entendam até hoje a nossa relação e sinceramente eu não espero que todos entendam. O que era de sangue, era de sangue, mas mais do que sangue, nós tinhamos a mesma verdade.

Só a verdade interessa e só cresce de verdade, quem cresce da verdade.

Neste solo, eu planto, colho e continuo a plantar.

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