segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um Dia de Treino Especial

Após meu irmão Horácio retornar da escola e contar as novidades e várias curiosidades, começamos a nos preparar para irmos ao Dojo do meu Sensei. Uma viagem de cerca de duas horas e meia, mas seria um dia especial, afinal de contas, estaria com meu irmão, que um dia me acompanhou em um treino quando eu ainda era faixa amarela no Brasil, agora no Japão, eu já era faixa preta e sentia um certo orgulho dele estar comigo neste treino.
Saímos de casa e fomos de táxi até a estação (Hamamatsu Eki), pegamos o trem para a estação Kikugawa (uma das cidades onde é produzido o melhor chá do Japão), chegando lá pegamos o ônibus para a cidade de Sagara. O ônibus para e descemos no centro de Sagara, uma cidade litorânea pequena, caminhamos pela rua principal onde fica a Loja de esportes da Kondo-san (uma senhora que também treina no Dojo) e a Loja de pães do Nagatani Sensei (Shihan-dai do Dojo) até chegarmos ao Honbu Dojo, que fica a alguns quarteirões da praia.
O Horácio ficou assistindo o treino e era muito boa aquela sensação de poder apresentá-lo ao Sensei Konomoto, ao Sensei Nagatani e a todos do Dojo, era uma sensação de que eu não estava mais sozinho, a minha família agora estava comigo.
No final do treino o Sensei Nagatani nos levou de carro até a estação Kikugawa, pois não haviam mais ônibus àquela hora.
Ao pegarmos o trem, reparo que estava sem a minha carteira. Descemos então e pegamos o trem de volta para Kikugawa e chegando lá, claro, em um país como o Japão, encontrei a minha carteira e com tudo que estava dentro.
Retornamos a Hamamatsu, pegamos o táxi e chegamos no apartamento, um dia de viagens, um dia de treino, um dia realmente muito especial para mim......

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Dia Que Me Faz

Amanhece um sábado chuvoso. O Apartamento está meio escuro e tomamos o nosso café em família. A sensação de ter todos ali era ótima, mas confesso que eu ali sentando, estava muito mais preocupado/ansioso/apreensivo com o meu primeiro dia de aula, do que exatamente feliz com aquele momento.

Eu nunca fui um sujeito dos mais espontâneos. Desde a primeira vez em que fui para uma escola na minha vida, eu sempre fiquei muito mais apreensivo do que confortável com a situação da primeira vez.
Ali, naquele país onde eu mal tinha chego, onde mal havia me habituado, eu encarava ali com muita apreensão o meu primeiro dia de aula.

Sentados em volta da mesa, tomando nosso café, lembro da minha mãe e principalmente do meu irmão me encorajando, dizendo coisas legais e fazendo brincadeiras à respeito da escola para que eu me sentisse mais seguro enquanto os minutos iam se passando.

Saio de casa acompanhado do meu irmão, da minha mãe, do Kaban preto e do Capacete amarelo. Chovia muito naquele dia. Durante o trajeto de ida, para melhorar ainda o meu "clima", um carro passou por uma poça gigante e nos molhou por completo. Meu irmão e minha mãe voltariam para casa, mas eu tive que ir para a aula todo molhado mesmo.

Já na escola, caminhando pelo corredor que me leva até a sala de aula, "escoltado" pelo meu professor da época, o Oishi sensei, lembro que aquele corredor de poucos mais de 5 metros pareceu gigante. Todos olhavam para mim e um ou outro cochichava algo com o amigo ao lado. Nunca na minha vida me senti tão deslocado, tão "outsider" em algum lugar ou em alguma coisa como naquele dia.  Aquela caminhada, parece ter durado horas até chegar à sala de aula.

O mundo sempre surpreende. E essa é a graça disso tudo. Um coletivo de indivíduos vivendo suas vida, onde vez ou outra um ou outro cruza o seu caminho quando você menos espera. O mundo surpreende por que não há controle de tudo, de todos e muito menos daquilo que você desconhece.

Para a minha surpresa, o Oishi sensei, que era o professor da minha turma, tinha organizado uma recepção de gala para mim. Todas as crianças da minha turma, vieram me receber naquele primeiro dia de aula com cartões de boas vindas com alguma mensagem ou desenho feito por cada um. O tempo acabou passando muito rápido naquele dia e no final da aula, Oisihi sensei ainda distribuiu um espécie de mini-dicionário com palavras do cotidiano de uma criança, em portguês para as crianças se comunicarem comigo.

Se alguém me diz "receptividade", logo, penso neste dia. E se eu pensar à fundo sobre quem eu sou, logo vou chegar à este dia que para mim, é onde eu começo a me tornar de verdade quem eu sou hoje. Naquele mesmo dia, eu conheci o que eu queria ser pelo resto da minha vida, mesmo que sem saber disso naquela épóca.

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Um dia em família

Não há sensação melhor do que reencontrar a família. Um dia de sábado tomando café da manhã com a família Saito completa novamente. Após voltarmos da escola onde havíamos deixado o meu irmão caçula, minha mãe não se continha de preocupação, como toda mãe, ficava pensando como meu irmão iria se sair na escola nova. Além de não dominar a língua japonesa, era o único brasileiro e a cultura e os costumes, apesar de sermos descendentes de japoneses, tinha suas diferenças. Ela contava os minutos e não via a hora de buscá-lo.
Quando voltou, chegou cheio de novidades. Crianças falam uma língua universal, a língua da amizade sincera.
Como era sábado, a noite eu iria ao Dojo do meu Sensei e levaria também meu irmão para assistir ao treino.
Conversamos sobre vários assuntos e parecia não acabar, rimos muito e a sensação de felicidade realmente parecia pairar no ar.
Queria mostrar muita coisa, queria levá-los a vários lugares, o Japão é um lugar muito longe, mas é um lugar muito bom para viver e também muito bonito.
O apartamento onde estávamos ficava perto do Estádio de Beisebol do time "Chunichi Dragons", time que havia adotado, depois de aprender a gostar dos jogos que eram transmitidos pela televisão. Ao lado do estádio ficava o parque "Shie Gurando" que era aberto ao público e contava com uma enorme área gramada e uma grande pista para correr e caminhar.
Começamos a arrumar nossas coisas, minha mochila com kimono e demais equipamentos de treino e as coisas do meu irmão, afinal, ir até o Dojo era uma viagem, táxi, trem e ônibus, ia ser uma aventura para um garoto recém chegado do Brasil.....

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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Um Novo Mundo de Velhas Pessoas

Aeroporto de Nagoya. Meio apreensivos, estávamos ali eu, minha mãe e minhas duas irmãs. Olhando para os lados após pegar a bagagem na esteira (outra apreensão que me mata até hoje, odeio essas esteiras). Buscando por rostos conhecidos num lugar totalmente desconhecido. Enfim, aquilo era o Japão.
Entre uma olhada e outra para o lado, eis que avistamos meu pai. Juntamente com um funcionário da empreiteira ele tinha se locomovido de Shizuoka para Nagoya, para nos buscar com uma van.

A primeira impressão do país, na verdade acaba ficando para segundo plano. Pois ali, o melhor de tudo para todos nós, foi o reencontro. Matar a saudade sem dúvida foi muito mais importante.

Chegando no “Apato”(Apartamento) onde meu pai morava e que agora nós também, lembro de ter comido um Cup Noodles sensacional. Se naquela época não existia aquilo no Brasil, hoje você pode até encontrar, mas só nos mercados do Bairro da Liberdade(Bairro Japonês) em São Paulo. Mercados da Liberdade, que hoje em dia para mim, tem em suas prateleiras sinônimos de saudade.

O meu irmão mais velho de quem tanto sentiamos falta, também foi para Shizuoka, morar em Hamamatsu conosco. E de alguma forma, mesmo sendo ainda apenas um menino, eu me senti completo novamente mesmo que não soubesse muito bem com aquela idade, a importância de tal coisa.
Nos primeiros dias, tudo era novidade e literalmente parecia que estávamos num outro mundo. Apesar de sermos descendentes de japoneses, desde sempre fomos criados (nascidos) no Brasil. A diferença cultural, mesmo para nós que mantínhamos alguns costumes em nossa família, era grande e tudo tinha uma atratividade imensa,  ainda mais para mim que era uma criança.

Dormir no chão, o quarto com piso de tatame, tirar os sapatos para entrar dentro da sua própria casa, as ruas limpas, sem contar os atrativos para diversão, a segurança, a estabilidade geral daquele lugar, era tudo muito fácil de ser absorvido, pois era demais.

Porém após menos de uma semana o que era lindo e maravilhoso, se mostrou um tanto quanto difícil. Era hora de encarar a escola. No Japão, por lei. Nenhuma criança pode ficar sem estudar sendo assim, eu, com meus poucos dias de Japão e com um domínio da língua japonesa na mesma proporção, em um sábado chuvoso acordava com uma ansiedade monstruosa no peito. Ali sim, começava o meu desafio...

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Reencontro

Dentro do táxi, vendo a bonita e moderna cidade de Hamamatsu, não continha a ansiedade de rever minha família. Ficar longe de nossos entes queridos só reforça a idéia de que é muito ruim a sensação de solidão. Mas agora esta sensação iria ficar apenas nas lembranças, o táxi para em frente ao prédio Horihoku-in, pego o elevador, paro em frente à porta e toco a campainha. Não há palavras para descrever a sensação daqueles abraços apertados, daquelas lágrimas a tanto tempo guardadas e agora escorrendo sem parar. É uma emoção muito forte, uma sensação de felicidade incomensurável.
Choramos, rimos, era difícil saber por onde começar a contar as novidades, afinal de contas, todos nós tínhamos muito a contar nestes dois longos anos longe.
A família Saito toda reunida novamente, minha mãe, meu pai, minhas irmãs Simone e Melissa e meu irmão caçula Horácio, um momento único.
A vida no Japão é com certeza muito organizada. Meu irmão já iria à escola no sábado, por estar em idade escolar, isso não uma opção, e sim uma obrigação. A taxa de analfabetismo é zero, não por acaso, a questão de educação é fundamental, não uma opção pessoal, mas sim uma obrigação e que o estado cobra e pune a família se não for cumprida a regra. Jantamos e ficou combinado que eu iria com minha mãe levar meu irmão à escola, no dia seguinte, afinal de contas ele só tinha dez anos e não sabia falar japonês.
Sábado de manhã, chuva intensa. Meu irmão todo uniformizado, capacete amarelo, "Kaban" um tipo de mochila-mala preta, meia branca e tênis branco. Saímos de guarda-chuva, e caminhamos até a escola municipal e chegamos ensopados, graças à uma poça que um caminhão transformou em onda. Ao chegarmos, fomos conversar com o diretor da escola e então ficamos sabendo que ali não estudara antes nenhum brasileiro e que eles teriam dificuldades com a língua portuguesa. Ficamos sabendo também que as regras eram rígidas e que não se tinham excessões para estrangeiros. Minha mãe podia ter levado meu irmão, mas não poderia fazê-lo novamente na segunda-feira. As crianças devem aprender a ter independência logo cedo. Após minha mãe tirar as dúvidas que eram muitas, deixamos meu irmão, ela com aperto no coração e sem saber se ele entenderia e conseguiria se virar sózinho.
Pegamos o caminho de volta, chovendo, sem olhar para trás, logo saberíamos como era estudar em uma escola japonesa....

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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Have a Nice Flight

Aos olhos de uma criança de 10 anos de idade, a viagem não poderia ter sido melhor. A infância é caracterizada sempre pelo NOVO. Pela sensação de sempre conhecer alguma novidade pelo caminho enquanto o tempo passa se encarregando do seu crescimento.
Creio que ansiedade para entrara no avião era tanta, que detalhes do trajeto -despedida dos parentes/entrada no avião, sinceramente eu não me recordo. Em 1992, viajar de avião não era como nos dias de hoje algo popular. Os tempos eram outros e sendo assim, aquela era a minha grande oportunidade de subir naquele bicho enorme de asas de metal e ver tudo de perto.

A primeira impressão que tive ao ver os assentos, achei que seria uma viagem bem confortável. Mas esta imagem se apagou com as primeiras 4 horas de vôo. A minha tentativa de ficar na janela olhando o mundo abaixo de mim foi frustrada já que nossos assentos eram aqueles que ficavam no meio do avião.
O barulho do avião era algo realmente único e eu nunca tinha imaginado que de dentro do aivão aquele treco ainda sim era tão barulhento.

Como disse, era tudo novidade. Aquela sensação na barriga da decolagem que pra mim seria novidade mais bacana, me lembrou os brinquedos do parque de diversão. Enquanto eu me divertia com essas coisas, certamente minnha mãe estava com um pouco de medo, já que para ela também era a primeira vez dentro de um avião e cá entre nós, minha mão sempre teve medo dessas coisas.

Nisso tudo só havia um pequeno problema: Passar um dia inteiro dentro daquele avião. E quando digo um dia inteiro, não quero dizer como numa jornada de trabalho de oito horas, quero dizer UM DIA INTEIRO. Tendo isso em vista, é impossível até mesmo para uma criança, se manter no pique das novidades. Porque acreditem, o Japão é longe, muito longe e até na idade onde tudo é novo as horas começam a se arrastar.

Posso estar enganado (acho que não) e pode ser até efeito dessa longa viagem, mas a comida de avião daquela época era simplesmente terrível. Não tinha gosto de comida, pelo menos não de gente. Lembro de uma cenoura que comi. Tinha cor de cenoura, sem cheiro de cenoura, nem gosto do mesmo. Acho que acertei no chute e o Sílvio, me deve um milhão.

Viajar para o Japão de avião, também pode ser descrito como: Dorme - Acorda - Dorme -Acorda - Dorme - Acorda, já chegou ? Não. Dorme - Acorda, agora sim chegou.
Onde você estava no dia 14 de Maio de 1992 ? Meu amigo, vou te dizer. Eu estava em solo japonês.

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Hamamatsu-shi

Mês de maio, mês em que eu completo dois anos vivendo no Japão, mês das mães, mas agora seria um mês especial também para a família Saito, mês que iríamos nos reencontrar.

Nas várias viagens que fazia de Nariwa-cho em Okayama até Sagara-cho em Shizuoka para treinar com meu Mestre, sempre pensava no dia em que poderia ver minha família reunida novamente. Agora, o tempo havia chegado e vendo a paisagem passando rápido pela janela do Shinkansen (trem bala) me dava conta de várias coisas que haviam acontecido. Chegara ao Japão sem saber falar japonês e depois de muito andar com o dicionário embaixo do braço, trabalhava em uma fábrica onde no setor não haviam brasileiros e com a ajuda do meu chefe, já falava fluente e estava aprendendo a ler e escrever alguns ideogramas; havia conseguido alcançar a faixa preta em um Dojo que nunca antes houvera treinado um brasileiro; havia conseguido conquistar meu primeiro título de campeão, em um campeonato estadual da Província de Shizuoka; havia experimentado muitos tipos de comida, algumas muito boas, outras nem tanto; havia aprendido diversos costumes que em um país organizado e disciplinado como o Japão, faziam todo o sentido e que quem vinha de um país como o Brasil estranhava e em muitas vezes não entendia; tinha realmente muitas coisas para contar e conversar com minha família que estava a apenas algumas horas de distância.
Dois anos para muitas coisas havia passado rápido, mas para a saudade que eu sentia, tinha demorado demais. Voltava a olhar para dentro do Shinkansen e ouvir meu *walkman (isso mesmo, de fita K-7, afinal a música sempre foi minha grande companheira), enquanto passava a comissária de bordo vendendo souvenirs.
Viajar pelo Japão tem um fator interesante, não se vê em nenhuma parte, áreas improdutivas. Tudo é, plantado, construído ou preservado. Outra coisa é como o moderno caminha lado a lado com a tradição, de forma equilibrada. No mesmo campo de plantação de arroz ou chá onde se planta e colhe na mão, por exemplo, pode-se encontrar lá no meio, uma máquina de venda de refrigerante e suco em lata.
O condutor avisa que a próxima parada será a estação de Hamamatsu-shi, desta vez, meu destino. O trem bala vai diminuindo a velocidade e para completamente na estação, sem trancos ou movimentos bruscos. As portas se abrem e desço, saio e caminho pela enorme estação de Hamamatsu, a cidade da Província de Shizuoka com o maior número de brasileiros residentes. Pego o endereço em meu bolso e caminho até o ponto de Táxi, enquanto caminho uma alegria vai tomando conta de mim, estou muito próximo de ver minha família.....

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Não olhar para trás

Com a viagem para o Japão definida, lembro de ter ido algumas vezes com a minha mãe no bairro da Liberdade (Bairro Oriental de SP) resolver os assuntos da nossa viagem. Como eu gostava daquele lugar. Por sinal, ainda gosto muito. A primeira vez que fui comer em um restaurante japonês foi ali naquele bairro. Meu irmão nos levou para jantar lá certa vez e foi tão bacana sentar no chão, devorar a soja que vinha de peticso e esperar o prato chegar. Acho que desde aquele dia, eu acabei criando um vínculo com aquele lugar. Dizem que é o bairro japonês, mas fato é que aquilo ali não representa quase nada do que é o Japão ou a sua cultura real. Mas para quem nunca foi para o Japão, sim, dá para dizer que aquele bairro tem sim uma parte do Japão ali.

No dia 13 de Maio de 1992, nós, eu, minha mãe e minhas duas irmãs acordamos sabendo que naquele dia entraríamos num avião pela primeira vez. Rumo ao Japão, rumo ao que seria a familia Saito junta novamente. Ou quase isso, já que meu irmão não morava na mesma cidade para a qual nós estavamos indo.
No aeroporto que em tantas ocasiões eu fui com a minha família ver alguém partir, naquele dia no entanto, era a nossa vez.

Ir naquele aeroporto quando alguém ia embora, para mim era sempre sinônimo de diversão. Muitas vezes eu levei bronca dos funcionários do Aeroporto, por estar brincando com os carrinhos de bagagens, hora montando em cima, hora empurrando alguém que estava em cima (Na maioria das vezes o Felipe). Fora as brincadeiras típicas de moleques como subir a escada rolante, só que pelo lado que ela desce. A minha infância foi muito bem aproveitada. Inclusive no Aeroporto Internacional de São Paulo.

A despedida foi difícil mesmo para um menino da minha idade. Mas acho que a sensação de estar se despedindo numa criança, não se compara à de um adulto. Lembro de ver minha mãe chorando. Mas é uma grande ironia do destino não? Já que estávamos indo para o Japão, nos encontrarmos com os outros dois membros da nossa família, porém, estavamos deixando outras pessoas que faziam parte de nossas vidas. No final das contas creio que fica valendo só a nossa vontade quase ingênua de sempre querer todas pessoas queridas por perto, mesmo sabendo que na vida raros são os momentos em que podemos ter tudo.

O portão de embarque só não é um lugar de certa melâncolia se você não olhar para trás. Mas afinal, quem não olha ?

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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Família Saito

Em fevereiro de 1992, além de ver meu sonho de faixa preta ser realizado, também tive a feliz notícia de que minha mãe, minhas duas irmãs e meu irmão caçula Horácio viriam ao Japão. Lembro que não contive a emoção quando meu pai me ligou para comunicar a decisão, afinal de contas faziam dois anos que não os via.

Os treinos continuavam intensos, duros, com certeza dignos dos faixas pretas que imaginava em minha infância. Quando voltava para a cidade de Nariwa, na Província de Okayama, mantinha o ritmo de treino, corridas à beira do rio de manhã e treino técnico à noite no porão do alojamento. A vida naquela cidade era pacata, apenas um supermercado, uma farmácia, um barbeiro, enfim, muito poucas opões.

O inverno era rigoroso e a cidade era cercada por montanhas, ventava pouco, então era comum nevar. Enquanto estava nevando era um espetáculo único, os flocos caindo do céu, cobrindo o telhado das casas e os galhos das árvores. Nesta hora o frio não parecia ser tão intenso, mas ao parar, é como se todo aquele gelo se condensasse. Nos dias em que nevava, ficava perigoso andar de bicicleta, andar a pé, por causa do gelo que se formava no chão, então correr exigia uma atenção grande. Mas valia a pena, depois de uma manhã de corrida, parar à beira do rio e ver as casas e as árvores cobertas de neve, enquanto a água desce cristalina, fruto do gelo derretendo no topo da montanha.

Tudo isso ajudava o tempo a passar, afinal, não via a hora de poder reencontrar minha família....

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