quinta-feira, 29 de março de 2012

Entre sementes e frutos

Até quando teria que aguentar aquelas despedidas? Por toda a vida, porque inevitavelmente um dia, seja lá quando,  nos despedimos das coisas e das pessoas, fazemos isso o tempo todo e nunca nos(eu pelo menos) acostumamos com isso. Há de se acostumar com aquilo que vai, mas um dia volta, porque nessa vida de um tiro, um momento, existem coisas que partem e nunca mais voltam. Então, a despedida de tudo aquilo que vai voltar, nada mais é do que um momento de alegria.

Hoje, passados tantos anos eu entendo isso. Mas naquela época em que num espaço curto de tempo eu me distanciei de tantas coisas, de tantas pessoas, tantas indas e vindas eram dolorosas.

Porém nesta época muita coisa começou a mudar, ou talvez seja melhor dizer, amadurecer. Durante este tempo que tive que entender algumas coisas sozinho sem a referência do meu irmão por perto, uma semente plantada começava a brotar.

Nesta época, o que era apenas algo que eu fazia no embalo do meu irmão mais velho, começava tomar a minha própria forma e aos poucos, aquilo se transformava num ideal.

Acredito que o processo natural da adolescência, é a formação do indivíduo, de seu caráter e de seus ideais. Afinal, é a hora em que todos(nem todos) devem(pelo menos começar a) caminhar com as próprias pernas. Muita coisa desta fase da vida, é o que vai ser para levar para o resto dela. Haverão mudanças ao longo do tempo é claro, mas certamente muita coisa não vão mudar e sim evoluir.

Era um processo de evolução. Porque na realidade, o ideal em si, era tudo que eu tinha aprendido no Japão.

Logo, aquilo era só uma evolução. Uma parte do caminho que eu descobria sozinho como tinha de ser. E à partir do momento em que uma semente é plantada, você é o que você é, porém um dia isso só lhe dará frutos se você realmente quiser ser. O que lhe espera lá na frente então, será apenas a evolução dos seus ideais.

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Voltar para Retornar

Minhas curtas férias estavam acabando. Estava novamente prestes a embarcar para o Japão, novamente um sentimento de tristeza, porém, desta vez com um plano de retorno prévio.
Despedidas em aeroportos são sempre tristes, ficar novamente longe da minha família só tinha significado agora porque já havia um plano concreto para minha volta definitiva para o Brasil.

Curtir os momentos com meu brother Horácio era o que me restava a fazer. Treinarmos juntos antes de partir novamente rumo ao Japão.

Era difícil imaginar naquela época o que o futuro nos guardava. Além de uma cumplicidade de sangue, tínhamos uma relação de amizade muito forte. Uma amizade que se fortaleceu com o tempo, com os sacrifícios e com os obstáculos. Talvez nesta época sonhava em um dia honrar o nome do nosso Mestre no Brasil, mas com toda a inexperiência de um jovem de vinte e cinco anos.

Voltar ao Japão, mas com a certeza de que uma nova jornada se iniciaria quando retornasse definitivamente ao Brasil.....

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quinta-feira, 22 de março de 2012

A nossa dimensão

A questão do tempo sempre esteve presente no nosso caminho. Meu irmão e as horas extras na fábrica, eu e os estudos no Japão, as partidas de video game nas nosas horas de lazer e o tempo, que passávamos treinando Karate de alguma forma.

Por algumas vezes, essas horas se encontravam e eu garanto que meu irmão passou diversas vezes pelo tempo trabalhando na fábrica, pensando no Karate, nas horas em que estava sozinho.

Costumo dizer que gosto de andar de metrô. Gosto porque me lembra dessa época em que todo o tempo que passávamos juntos, inclusive dentro dos trens, era um tempo que era invadido pelos desejos que tinhamos diante do Karate-Do.

Gosto de andar de metrô. Porque nessas horas eu me sinto sozinho. Sozinho o suficiente para conectar este meu tempo tempo gasto de um lugar para o outro, com o tempo que eu tenho para aprender sobre mim. Aprender, pensar, refletir e concluir muitas coisas à respeito do meu Karate.

Não existe tempo gasto em vão, nem tempo mal aproveitado quando falamos sobre experiência. Pois experiência em si não quer dizer acúmulo de tempo e sim, acúmulo de tempo muito bem aproveitado. A experiência está diretamente ligada à intensidade. E esta por sua vez, representa totalmente o que é o Karate-Do.

O tempo muda de acordo com a intensidade das coisas, hora passa mais rápido, hora mais devagar.
Lembro de ter lutado com o meu irmão, num treino no quintal de casa naquela época em que ele estava passeando por aqui. E naquele momento por exemplo, onde a situação era difícil, o tempo se prolongava de uma forma que chegava a dar raiva. Quando o ar é pouco ou pesado, quando alguém te faz sentir o ar pesado, o tempo custa a passar.

Porém voltando de metrô esses dias, na semana em que completo dezessete anos desde que me formei faixa preta, entre tantos pensamentos sobre o que preciso fazer para melhorar, paro e penso que passado esse tempo todo, eu continuo pensando no que fazer. Estou no caminho certo.

Dezessete anos que na verdade são um conjunto de momentos onde o ar ficou pesado. Sentando aqui, escrevendo sobre o passado, sei que vivemos na nossa dimensão. Continuamos querendo mais e enquanto esse sentimento estiver presente, nós seremos donos do tempo mesmo que este voe tão depressa.

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segunda-feira, 19 de março de 2012

Brasil sempre Brasil

Uma coisa é morar no seu país, outra coisa é "passear" no seu país. Passear, fazer turismo, é bom, é relaxante, é despreocupante e comigo não era diferente. Era muito bom poder rever os lugares onde passei a infância e adolescência, os amigos, os parentes, tudo que era ruim do meu país parecia não existir mais.
Claro que esta é uma visão bem simplista e fora da realidade, possível apenas para meros viajantes, como eu. O país continuava com seus problemas sociais, jurídicos, de violência, de corrupção, mas continuava a ser o meu país, onde eu me sentia realmente em casa.

O fato também de ter o tempo livre para poder fazer tudo isso também contribuía de forma bem benéfica! Trabalhava no Japão seis dias por semana, 15 horas por dia dentro de uma fábrica e quando não estava nela, era em casa ou no Dojo. Ter tempo para pegar o carro, ir na casa dos amigos, jogar conversa fora ou passear em algum lugar, era realmente muito bom.

Treinávamos também, mas nem de perto a quantidade que tínhamos no Japão. Iria ficar quarenta dias no Brasil e como estava chegando ao final, parecia que tinha que aproveitar o máximo possível, tudo parecia bom e barato.

Já havia ganho cinco quilos desde que chegara ao Brasil, muita comida boa e a vida de não fazer nada a não ser se divertir. O problema é que eu só teria vinte dias para perder tudo quando chegasse ao japão, pois tinha o Campeonato Estadual de Shizuoka e lá a regra é realmente seguida e estar fora do peso, significaria ser desclassificado.
Mas, por enquanto queria curtir estar com meu brother Horácio e minha família, o Brasil era o meu lar e estava decidido a voltar definitivamente para cá.



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quinta-feira, 15 de março de 2012

Prazos de validade

Ainda que fosse de forma não definitiva, lá estávamos nós juntos novamente. Por algumas vezes, como toda família que vive junta, os problemas surgiam.
Toda família que vive junta de verdade, que compartilha momentos bons e ruins lado a lado, inevitavelmente tem os seus atritos e problemas ao longo do percurso.
Conosco nunca foi diferente, pra falar a verdade, não eramos diferentes, eramos típicos isso sim. Creio que sempre representamos muito bem o que é uma família que vive junta.

A distância de um dos membros da família, sempre nos faz esquecer das brigas, dos atritos e a saudade que bate é a dos bons momentos da vida compartilhada.

Ter o meu irmão por aqui novamente, por perto era ter novamente essa vida em família novamente. Como se uma peça necessária na enfrenagem da nossa felicidade estivesse retornado ao lugar exato.

Provisoriamente.

Eu não sei ao certo. Quan as pessoas que moram em outros países vem visitar sua família é um misto de alegria e tristza. Claro que é uma boa coisa, mas toda alegria que já vem rotulada com um prazo de validade pode ser de certa forma cruel. Então sendo bem passional como todo ser que integra essa família, eu ria de um lado da moeda, mas dormia sabendo que menos tempo restava até a data de vencimento.

A realidade é que vivemos de prazos de validade desconhecidos, mas sempre há um prazo e na maioria das vezes saber deste prazo é uma paradoxo entre o gostar e não gostar da forma com que o tempo passa, gostar de como é gasto o tempo e não gostar de como ele se esgota.

O tempo realmente voa e voa muito se há um data marcada no calendário e pela terceira vez na minha vida se aproximava a hora de dizer até logo para o meu irmão.

O tempo voa e pelo lado bom da moeda, nós só podemos fazer o que nos é permitido fazer enquanto seres entre o Céu e a Terra. Viver da melhor forma possível.

Era exatamente isso, que fizemos naquela época. Como família, como irmãos de sangue e como amigos de verdade.

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segunda-feira, 12 de março de 2012

Passeio em casa

Fazer as malas para ir ao Japão foi um misto de sensações. De medo por estar indo sozinho a um país até então desconhecido, de euforia por ser jovem e querer descobrir o mundo e de tristeza por ter que deixar a família, os amigos e o meu lar.
Fazer as malas para voltar ao Brasil, mesmo que a passeio era uma sensação de puro entusiasmo.
Quando chegamos aqui, temos uma sensação estranha, de é estar em um lugar estranho dentro da sua própria casa.
Voltar a ver as ruas que cresci, os amigos, os vizinhos, era realmente uma sensação muito boa.
Mas o melhor de tudo era poder estar perto da minha família.

Pudemos voltar a tradicionalmente comer todos juntos, conversar, era realmente muito bom estar de volta.

Entre as muitas coisas que fazíamos, eu e o Horácio treinávamos na Academia do Sensei Wagner Piconez, meu primeiro professor. Era muito bom retornar aos treinos aqui no Brasil também, apesar de agora sermos de estilo diferentes, os princípios eram ainda os mesmos.

O Horácio havia crescido, estava com cara de adolescente. Apesar da nossa distância, nada havia mudado, continuávamos a ser amigos, irmãos de sangue, irmãos de treino. Mas também nos divertíamos, passeávamos, era como redescobrir o nosso país.

O melhor de tudo era que o meu tio Tadao era Diretor em um clube da colônia japonesa e havia uma grande possibilidade de quando eu voltasse definitivamente ao Brasil, eu inciasse o departamento de Karate no clube.

Voltar definitivamente ao Brasil, os planos pareciam estar dando certo.....

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quinta-feira, 8 de março de 2012

Casa

Meu irmão estava prestes à voltar ao Brasil. Poucos meses se passaram desde que voltei para o Brasil com os meus pais. Mas muita coisa ia mudando desde então.


Nesses poucos meses, fiz as coisas qu não fazia quando estava no Japão. Como não havia treino nos finais de semana, eu aproveitei bem esta fase como quis. Isso quer dizer que, eu me diverti e muito. Como todo moleque da minha idade.

Curiosamente, foi nesse ano que também comecei a crecser. Até então eu tinha pouco mais de 1 e 50 de altura e as coisas ficavam difíceis nos campeonatos de shiai kumite no Japão sem divisão de peso. Geralmente lutava com moleques bem maiores que eu e também com força física bem maior. Até então ser nanico era sim um baita problema.

E assim como quem se molda ao ambiente japonês, eu fui me moldando no ambiente brasileiro novamente. Um pouco de discplina fica de lado e entra em cena aquele improviso tradicional do nosso povo.

Crescendo e mudando e de uma forma muito inusitada, isso tudo me preparava novamente para um choque. Porque assim que o meu irmão voltasse, as coisas não seriam mais como antes, como no Japão, assim como nunca mais seriam como ali naqueles finais de semana só vivendo de improviso e diversão.

Tanto para mim, quanto para o meu irmão, acredito que a sua volta representava a mesma coisa. Voltar para casa.

O tempo voa, a tarde cai e um final de semana se vai e chega a hora em que todos, voltam para casa.

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segunda-feira, 5 de março de 2012

Traçando o caminho de volta

Um novo ano inicia-se e com ele os planos de retornar à minha terra Natal. O ano de 1995 havia terminado de forma esplêndida e eu havia conseguido conquistar o título do Estadual Goju-kai da Província de Shizuoka.
Por telefone ou por carta, ficava sabendo das notícias do Brasil e também de como estava minha família. O Horácio estava treinando no Dojo do meu primeiro Sensei, Wagner Piconez e apesar de ser um Dojo do estilo Shotokan-ryu, ele estava se saindo muito bem com a adaptação dos treinamentos.

Se tudo desse certo, iria até o Brasil no mês de abril ou maio para ver a situação que se encontrava o país e analisar quais as opções viáveis de negócios para um retorno sustentável.

Mas isso ainda levaria alguns meses, e até lá a palavra diária era treino, muito treino. Para o retorno ao Brasil, eu almejava possuir conhecimento suficiente para poder prestar o exame para San Dan, o que não seria fácil.

Um fato engraçado que acontecia no treino, era que o Nagatani Sensei sempre me perguntava coisas sobre o Brasil e se era possível viver dando aulas de Karate. Eu sempre dizia à ele, que sim, era possível, que eu conhecia muitos Senseis no Brasil que viviam de suas aulas. Ele ficava impressionado com isso, já que no nosso Dojo por exemplo, era mais um trabalho filantrópico, já que os valores arrecadados com a contribuição dos alunos, cobria apenas as despesas do Dojo. Nenhum Sensei ali recebia para dar aulas. Ele então soltava uma risada e dizia que bom que eu poderia viver então de Karate no Brasil.

Mas isso também era um plano, era preciso ainda batalhar muita coisa para que isso pudesse se tornar um dia realidade.

O bom era que um Saito já estava fazendo nome no Brasil......

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quinta-feira, 1 de março de 2012

Aprender sozinho

Até hoje costumo dizer que as coisas mais valiosas, eu aprendi com as horas em que estive sozinho. Sozinho, porque há um ponto onde o Karate-Do se torna o seu caminho e não mais dos seus pais que pagam suas contas, dos seus senseis que cobram seu desempenho. Existe uma hora, onde as influências e os ensinamentos já foram dados e o que se tem pela frente, é o que você fará com tudo isso.

Pela primeira vez de fato, eu estava sozinho. Não tinha mais cobranças e muito menos a referência do meu irmão por perto para me dizer o que fazer com o meu caminho.

A sensação de férias, uma hora chegaria ao seu fim, uma vez que esta não era a verdade e no fim das contas, só a verdade permanece.


Era previsto, que meu irmão voltasse no final daquele ano para o Brasil, no ano de 1996. Até lá, para dar "continuidade" no meu Karate, meus pais com o auxílio de informações do meu irmão, procuravam um lugar para que eu pudesse treinar. Não haviam escolas de Goju-Ryu na minha cidade, sendo assim acabei por alguns meses treinando um outro estilo de Karate bem mais popular, chamado Shotokan.

Voltava a vestir o Karate-gi, amarrar a mesma faixa de antes, mas nem de longe era a mesma coisa. Treinava e aprendia coisas do novo estilo. Porém de maneira muito correta, o sensei Wagner, nunca quis me converter ou coisa assim, o que seria muito comum nos dias de hoje onde o ego parece ser mais importante do que graduações, conhecimento ou sabedoria em si. Durante o tempo em que treinei ali, eu fiz o que todos faziam, mas nunca o sensei me desencorajou com o meu estilo de Karate, pelo contrário, sempre fazia questão de que eu mantivesse o que eu tinha aprendido até então. Afinal, eu tinha uma faixa preta do meu estilo.

Os meses passavam e por melhor que fosse o treino ali, eu nunca me senti adaptado ao que estava fazendo. Hoje eu vejo que são estilos bem distintos, por conhecimento eu sei disso, mas naquela época eu sabia pela apenas sensação. De Kimono, de faixa, mas ainda sim sozinho.

Ao contrário do que eu pudesse imaginar, não era questão de estar treinando com muita ou pouca gente, ou estar treinando ou não em algum lugar. Era uma questão de estar sozinho com o meu Karate. Então a sensação de estar de férias se transformava em uma sensação onde o que se percebia, era que na verdade era o meu mundo que estava de férias sem previsão de volta e eu é que estava sozinho, num lugar que por mais acolhedor que fosse, não era o meu lugar.

Ninguém quer estar sozinho e aquela sensação era estranha, como se estivesse hibernando de forma ativa, com a minha essência dormindo em algum lugar.

Certas coisas, você tem que aprender sozinho.

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