quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Melhores Amigos

Nunca vou me esquecer do Reveillon de 1992. Acho que aquele Natal e Ano Novo, simbólicamente encerraram um ciclo da minha infância.

Todos os anos, nós comemoravamos o final de ano com nossos parentes. Natal com a família do meu pai e  Ano Novo com a família da minha mãe. Aquele fim de ano porém foi diferente. Comemoramos em casa. Só nós quatro, celebramos a chegada do ano de 1992, com muita comida, nossos presentes e com aquela saudade de sempre do restante da família que estava no Japão.

Neste ano, meu primo Felipe veio morar conosco. Como já estava sendo planejado também a nossa ida para o Japão, a minha prima veio morar na nossa casa com o marido e seus 3 filhos( Felipe, Renato e André). Assim quando fossemos de fato, a casa não ficaria “abandonada”.
Felipe sempre foi um dos meus melhores amigos. O tempo em que vivemos sob o mesmo teto, não durou tanto assim, acho que foram uns quatro meses. Mas foi o bastante para nos divertirmos como nunca. Os filmes do Van Damme, agora sim já estavam na TV. E quando passava “O Grande Drgão Branco”, era simplesmente “o” acontecimento. Merecia no dia seguinte lutinhas no quintal e voadoras de cima do sofá.

O tal do eterno verão que eu já citei aqui, nessa época se fez valer por completo.
A esta altura do campeonato,  meu irmão já era faixa marrom de Karate Goju-Ryu. Eu lembro das fotos que ele mandava. Eu sentia um tremendo orgulho e dizia para todo mundo que meu irmão era faixa marrom de Karate. Uma vez,  quando fui buscar meu primo (de segundo grau) Felipe na escola, lembro que discuti com um garoto na rua e para finalizar aquilo tudo eu disse “meu irmão é faixa marrom de karate!!”. Foi o máximo dizer aquilo e é claro., a discussão acabou ali. Como era bom ser moleque, quem dera se hoje em dia os problemas mundanos se resolvessem assim.

A primeira parte da minha infância termina, quando eu soube que dentro de alguns dias o verão eterno não acabaria ali (ou aqui), mas que continuaria com os seus dias de sol infinito lá,  naquele continente longínquo, naquele país que dizem ser a Terra do Sol Nascente.

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

1992

O ano de 1992 se inicia, olho para trás e vejo que já passei dois Natais e Reveions sem a família. A solidão é válida somente para termos a certeza de que não a queremos. Tive a opção uma vez de ficar longe de minha família e se Deus permitir, espero nunca mais faze-lo novamente.
A vida na cidade de Nariwa é bem tranquila e sem agitação, típico de uma cidade do interior. Me preparava todos os dias, seja antes de ir ao trabalho ou após retornar, treinando no porão do alojamento e correndo pela cidade, precisava estar apto para prestar o exame.
Continuava minha peregrinação de finais de semana e isto ajudou muito no meu desenvolvimento, pois o fato de ficar hospedado no Dojo e na casa do Sensei, me fizeram conhecer o Sensei também como pessoa, o que aumentou ainda mais minha admiração e respeito. Valores verdadeiros de um grande Budoka, integridade, honra, respeito, humildade e simplicidade, não em um discurso, não em um texto bonito, mas sim, aplicados de forma prática, na vida, no cotidiano. Exemplos que ficaram marcados em minha memória, ensinamentos valorosos e sem dizer nenhuma palavra. Via alí um verdadeiro exemplo a ser seguido, que me mostrava que o caminho do Budo, trilhado de forma correta me levaria até àquele patamar, um patamar de evolução pessoal, de elevação espiritual, de sabedoria. Mais do que ganhar títulos, queria chegar a ser como meu Mestre, uma pessoa, um ser humano melhor.
Mas, chegado o dia do exame, nada da minha admiração e das nossas conversas de domingo de manhã, facilitariam o meu "teste". Deveria demonstrar todas as técnicas aprendidas até então, todos os katas e uma luta com regras, utilizando luvas e outra luta sem luvas, com as regras tradicionais do karate-do Goju-ryu. Lutar sem luvas com o Shihan Dai do dojo sempre foi uma experiência única, pois podia ver e "sentir" as técnicas sendo utilizadas de forma correta, com a força física e a força energética (Ki) circulando de tal maneira que se tornavam uma coisa só. Me lembro de uma vez que lutando com o Shihan Dai (Nagatani Sensei) ele me acertou um golpe no queixo (teisho ate) e em seguida outro teisho ate em meu estômago, o golpe em meu estômago fora tão forte que meu corpo saiu do solo, o que lhe permitiu golpear mais dois ou três teisho ates me atirando contra a parede do Dojo. O impacto foi tão forte que rachou a madeira da parede, fato que nosso aluno Felipe pôde constatar em sua visita ao Dojo, quando Nagatani Sensei lhe mostrou e disse rindo: "Isso foi o seu Sensei que fez....hahaha". Este treinamento rígido foi que me moldou e mostrou os padoxos da arte, tenho e vou ter sempre, grande admiração e respeito pelo Nagatani Sensei, Shihan Dai do Shizuoka Goju-kan Honbu Dojo.
O teste foi duro e penoso, mas sobrevivi. Ao final com todos os alunos perfilados, pude ouvir meu nome sendo chamado à frente, me ajoelho à frente do Sensei e recebo de suas mãos a faixa preta, com o bordado de um lado da Goju-kai do Japão e do outro, meu nome. Uma emoção muito grande tomou conta de mim, lembrei de minha vida até aquele instante e por tudo que havia passado, olhei para a faixa e jurei que iria honrar tudo aquilo até a minha última respiração....

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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Famicom Out

No ano de 1991, a nossa família também viu outro homem da família migrar para a terra do sol nascente. Desta vez, meu pai rumava com a missão de também trabalhar do outro lado do mundo em busca de dinheiro. 
Com a ida do meu pai, minha mãe teve de se virar comigo e com as minhas duas irmãs mais velhas. E assim, acabei me acostumando ou tendo que me acostumar com a idéia de ter as duas figuras masculinas de casa longe de nós. Eu era o homem da casa aos 9 anos de idade. Minha mãe buscava o pão do café da manhã e nós, nos virávamos por aqui.

Nem tudo era fácil e a rotina de telefonemas internacionais agora era mais constante e a choradeira em casa também. Para dificultar as coisas um pouco mais para a minha mãe, minha avó também veio à falecer. Esse deve ter sido o meu primeiro contato verdadeiro com a morte, com a ida do meu irmão e do meu pai para o Japão, a perda, parcialmente eu já tinha degustado.

A era dos video games continuava ali e mesmo do outro lado do mundo, o meu herói de sempre, meu irmão mais velho, tratou de tentar me encaixar nesse contexto me mandando um "Famicom" de lá. Porém, para a minha "sorte" o video game não funcionou por conta do valor histórico da nossa TV (leia-se pré-histórico). Tentativa frustrada, porém, valeu pela tentativa.

Entre as cartas que meu pai enviava, um belo dia ele me mandou um Game Boy, compensando assim a minha frustração do video game anterior que não funcionava. Sim, joguei até passar mal. Eu tinha um video game que não dependia da nossa velha e cansada TV. Ponto para o longínquo chefe de família.
Apesar da falta que faziam na minha vida nessa época, meu pai e meu irmão sempre tentavam compesar de alguma forma. Não posso negar que, eu tinha os robôs de brinquedo mais legais que eu já tinha visto naquela época. Então, sim, acredito que eles tiveram sucesso em amenizar essa falta, afinal, ter um game boy era legal demais.

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O tempo passa rápido

O mundo dá muitas voltas e às vezes não vemos o tempo passar. Estava no Japão a um ano, meu pai também tinha deixado seu país natal para vir trabalhar e apesar de ser boa a sua presença, era triste saber que nossa família no Brasil contava agora com um membro a menos.
No Dojo, os treinamentos tornaram-se mais intensos e técnicos após ser promovido para faixa marrom.
Mas, uma mudança inesperada estava por vir. A terceirização dos serviços da empresa havia acabado e teria que iniciar em outro serviço, mas em outra cidade, outra Província.
Ao comunicar a notícia ao Sensei, ele me disse: "Entendo perfeitamente se você parar agora, você veio ao Japão a trabalho e Okayama-ken é bem longe..."
Mas na verdade, no meu íntimo, não tinha intenção, não queria parar, queria saber se o Sensei permitiria que eu fosse treinar nos finais de semana e se poderia dormir no Dojo quando viesse. O Sensei então disse que poderia sim, e gentilmente cedeu o quarto de hóspedes que ficava no primeiro andar do Dojo.
O novo trabalho era bom, trabalhava um turno de 12 horas, uma semana de dia outra de noite. Quando trabalhava de dia treinava em um porão desocupado que havia no alojamento e corria à margens do rio que cortava a cidade. Quando trabalhava a noite, muitas vezes de madrugada ficava treinando atrás das máquinas.....
Quando chegava o final de semana, pegava o ônibus e ia até a estação de trêm de Nariwa, pegava o trêm até Okayama para pegar o "Shinkansen" (trêm bala) até a cidade de Kakegawa, onde pegava outro trêm até Kikuagawa e pegava um ônibus até Sagara-cho. Este percurso levava em torno de seis horas, mas o fazia feliz, afinal de contas iria ver meu Sensei, treinar duro e rever meus amigos de Dojo. Depois do treino do domingo de manhã, fazia todo o trajeto de volta e lá pelas 20h estava chegando no meu alojamento, na cidade de Nariwa.
Foi neste período que ganhei meu primeiro torneio estadual, na categoria Kata adulto até faixa marrom. Fiquei muito feliz e claro noticiei logo para minha família que estava no Brasil e para o meu pai que estava no Japão, mas em outra Provínica.
A cidade de Nariwa é uma típica cidade japonesa de interior. Suas tradições e costumes, sua arquitetura, suas belezas naturais: As montanhas com suas cores marrom-avermelhadas por causa de suas árvores "Momiji" na ápoca do outono e depois o branco da neve. E, ao chegar a primavera o florescer do "Sakura" flor de cerejeira que embelezava toda a cidade.
O tempo passa rápido e já estava a quase um ano em Nariwa, quando meu Sensei me informou que eu participaria do próximo exame para Faixas Pretas, uma mistura de alegria e medo tomou conta de mim. Afinal de contas, será que eu estaria preparado? Seria que conseguiria? Será que eu havia me esforçado o suficiente? Será? Dormia todos os dias pensando nas perguntas e sem as respostas.....

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Eterno verão de 1990

Em 1990, resolveu-se que meu irmão iria para o Japão. Com 8 anos, é claro que eu não fazia a menor idéia de quão longe era o Japão (com excessão das aulas de geografia) e do que de fato isso significava para os adultos. Para a minha mãe e para o meu irmão especialmente. Minha mãe, por se deparar com a ida de um filho para o outro canto do mundo e para o Akira, por estar deixando tudo que conhecia aos 19 anos de lado, em busca de novas experiências de vida.  Em relação ao peso disso, eu era só uma criança.

Criança,  porém família. E família para nós, sempre foi sinônimo de ligação, conexão (parece óbvio, mas garanto que nem todos crescem em famílias assim). A ida do meu irmão para o Japão, de certa forma era uma conexão sendo desfeita. Isso abalou minha mãe. Meu irmão partiu e mesmo sem entender muito, foi isso que me fez chorar com aquele abraço de despedida no aeroporto. Criança, que capta verdades e sentimentos, sem precisar compreender nada de forma tão racional. Criança que chora. Eu chorei, porque sabia que por um tempo indeterminado, eu estaria sem o meu irmão, aquele, que sempre me ensinava coisas tão legais, que sempre tinha alguma coisa nova para me mostrar, me apresentar.

Após a partida do meu irmão, lembro que diversas vezes eu encontrei minha mãe aos prantos na sala, segurandos cartas, ouvindo fitas K7, que o meu irmão gravava e mandava para ela, com músicas Japonesas. Vez ou outra encontrava minha irmã mais velha em situação semelhante.
Periódicamente, o telefone nos colocava em contato mais direto, se assim posso dizer. Íamos até a casa da minha tia já que não tinhamos telefone na época. Quem já viveu longe de alguém da família porém sabe, que essas maneiras de matar a saudade são paradoxas, já que não dá para afirmar se alivia ou se deixa mais saudade. Bom mesmo, é para saber se as coisas estão indo bem. Mantendo quem está longe informado.

Se não tinhamos um telefone, muito menos eu tinha um video game. Era época em que os video games se popularizavam, o final de década de oitenta e o início dos anos noventa no Brasil, creio que foram o grande "boom" dos video games. Meus amigos já possuiam os consoles e eu jogava na casa deles. Não vou dizer que faltou algo na minha infância, porque meus pais sempre batalharam para que eu tivesse tudo que fosse necessário, mas isso também não quer dizer que eu tive tudo que eu queria.

Mesmo sendo a hora dos video games, as melhores recordações desta época foram construidas nos asfalto da minha rua. Jogávamos bola, usando o portão dos vizinhos como gol e o goleiro usava o chinelo nas mãos para "abafar" o poderoso chute de um moleque de 8 anos. No fim da tarde tomávamos chá e comíamos o pão que a minha mãe servia para a molecada que vinha brincar em casa. Andar de bicicleta, correr do caminhão d'água que lavava a rua nos dias de feira e ouvir a minha mãe me chamar para tomar banho no fim da tarde. Na infância, é como se a magia do verão durasse o ano inteiro. As responsabilidades escolares, são meros detalhes deste eterno verão.

O verão dura para sempre ou quase isso...

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Shizuoka Goju-kan Honbu Dojo

O táxi para em frente ao Dojo. A placa de madeira com os ideogramas "Karate-do Goju-ryu" acima da porta, me fazia lembrar aqueles filmes antigos que via desde a minha infância. Olhei pela janela e não havia ninguém. Mas no fundo havia um bonito jardim e uma grande casa. Toquei a campainha e a senhora que me atendeu disse para eu entrar e que seu marido logo me receberia. Na sala, uma estante de vidro com algumas relíquia referentes ao karate, não apenas troféus ou medalhas, mas objetos de valor histórico. Fui então recebido pelo Sr. Konomoto Takashi, Hanshi 9 Dan, representante do estilo na Província de Shizuoka. Contei-lhe minha história enquanto tomávamos chá e que gostaria muito de poder aprender sob sua tutela e treinar em seu Dojo. Ele então me contou que conhecia o Mestre Watanabe do Brasil e que em seu dojo já haviam treinado pessoas de várias partes do mundo, da Malásia, China, Sirilanka, Estados Unidos, Austrália, entre outros, mas que do Brasil era a primeira vez. Passou-me as instruções e os requisitos para fazer parte do dojo, me despedi e eufórico retornei a meu alojamento. Acabara de conhecer um grande Mestre, um exemplo de ser humano e que me espelho até hoje.
Os requisitos para eu poder começar a treinar era conseguir alguém (japonês) que assinasse o termo de responsabilidade (caso eu usasse o karate de forma indevida) e que assim ficaria responsável por meus atos (um pai de aluno do dojo se simpatizou comigo e assinou o termo). E me comprometer em aprender de forma sincera e repeitosa os ensinamentos praticados naquele dojo, e assim comecei ali, sem questionar o que não entendia (treinar só com as crianças durante seis meses por exemplo) ou ficar exaustivamente repetindo um único movimento a aula toda e depois ir embora. Hoje sei que isto tudo era um teste, e que provei durante quase um ano que era sincero o meu desejo de aprender.
O tempo passa rápido e a saudade de casa era grande. Falava com minha família por telefone e era sempre um motivo de grande alegria, apesar de ser sempre triste a hora de desligar. Eu era muito ligado à família e confesso que foi muto difícil esta fase de separação, minhas irmãs, minha mãe, meu pai e meu irmão caçula, que já estava sendo influenciado pela arte do karate. Contava que para ir treinar tinha que ir de bicicleta e pedalava cerca de quarenta e cinco minutos, pois o dojo ficava na cidade vizinha e lembro de contar com muita alegria a minha promoção para faixa marrom.
A vida dá muitas voltas e uma mudança inesperada me esperava....

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Jean Claude Van Damme

Muito além do nosso compromisso com o Karate-Do e da nossa ligação pelo caminho da arte, penso que o que nos fortaleceu como parceiros, sempre foi a nossa relação familiar.
Durante a minha infância, eu sempre quis ser como o meu irmão. Ah, e também como o Jean Claude Van Damme. Definitivamente os dois ídolos do meu tempo de moleque.

Meu irmão, sempre dava um jeito de fazer coisas legais para mim. Provavelmente pela diferença de onze anos que existe entre nós, ele sempre tratou de ser uma referência para mim, sempre assumindo o papel daquele irmão que faz tudo por você. Eu lembro até hoje de um quebra-cabeças dos Transformers que ele me deu de aniversário e de um tênis da Vans que ele me deu quando eu comecei a andar de skate, por influência dele mesmo é claro. Isso sem contar, um pôster mega-legal, do meu outro ídolo, o Van Damme. Lembro muito de bem, era o postêr do filme talvez menos conhecido do astro belga chamado "Retroceder nunca, render-se jamais."

Não era em espanhol, mas era este o pôster.

Até hoje, costumo dizer que os grandes incentivadores do meu início no Karate, foram meu irmão e o Van Damme.

Durante os anos oitenta, o meu irmão vivia rodeado de amigos. Sempre muito carismático (coisa que eu sempre admirei), enchia a casa de amigos bacanas que também me tratavam de maneira com que eu me sentisse parte da "gangue". Casa cheia, sempre tinha festa. Vira e mexe, eles estavam falando dos filmes de luta que viam no cinema e eu sempre tentava pescar algum detalhe da conversa.

Entre um Van Damme e outro, outras coisas também chegaram à mim por influência do meu irmão. Lembro de ter visto "Karate Kid II" no cinema com a minha mãe. Indicação de quem? Claro, dele.

Os filmes do Van Damme, sempre estiveram presentes. Lembro-me que na época, antes ainda de vê-los na TV, meu irmão trazia para casa direto da locadora de fitas em que na época trabalhava. Faz um bom tempo. pois nesta época existia até um concorrente para o já falecido VHS. Nós, tínhamos um vídeo desse formato concorrente, chamado de BetaMax se não estou enganado. Meu irmão os alugava sempre e sempre tínhamos filmes do Van Damme no vídeo, na TV da nossa sala. 

Eu tive o meu primeiro contato com a arte marcial, através dele. Lembro que me levou para assistir um treino e um campeonato de Karate (ainda aqui no Brasil). Na época, meu irmão treinava outro estilo de Karate(Shotokan) num clube perto de casa. À essa altura ele e o Van Damme já tinham me contagiado com a onda "Karate" dos anos oitenta. Das brincadeirais de "lutinha" com os amigos, ao treino que ele me levou para assistir. Lembro que naquela época, por conta desta febre toda, as aulas de Karate eram lotadas, muita gente treinando Karate por influência de tantos personagens de filme de luta. Do treino eu lembro até que ele me pagou um lanche, cujo qual acredito que tenha sido um dos melhores que eu já comi na vida. Talvez nem tanto pelo sabor. Mas simplesmente porque, essa lembrança é uma das que eu carrego no meu "Top 10".

Então, quão legal era o seu irmão? O meu, era(é) o máximo!

Quando se é criança, você não sabe muito bem o que acontece no mundo dos adultos. E parece que vivemos num mundo só nosso. Por conta disso, certas notícias que vem do mundo dos adultos, acabam te pegando de calças curtas porque não faz a mínima noção de onde vieram. Os anos oitenta acabando e em 1990 o meu mundo ficaria um pouco diferente...

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Início no Japão

Chegar no Japão foi um mixto de sentimentos. Um país com costumes, cultura e tradições diferentes, a falta do domínio no idioma e o futuro totalmente incerto, confesso que deu um pouco de medo. Mas agora não havia mais volta, já estava pisando em solo Nipônico e o que me restava era seguir em frente. Saimos do Brasil com um emprego de grampear fundos de caixa de papelão e ao chegarmos, nos deparamos com uma fábrica de container de madeira para transporte de peças automobilísticas. Serviço pesado e perigoso, mas era preciso trabalhar seis meses para pelo menos pagar as despesas com a passagem aérea. Todos os dias antes de trabalhar acordava às 5h da manhã para correr, eram 10 km no calçadão que haviam entre as cidades de Omaezaki e Sagara, queria treinar, mas ainda não havia conseguido encontrar uma academia de karate. Quando saimos do Brasil pensamos que ao chegar no Japão, se encontrará uma academia de karate em cada esquina...rrsrsrs.
O serviço era pesado e a cada dia chegava mais cansado. Me lembro de ter dias em que não havia força para nada mais, a não ser jantar e tomar banho. Nestes dias, o bom era que não havia tempo de sentir saudades, pois em outros era comum dormir com lágrimas no olhos, com as fotos da família e amigos embaixo do travesseiro. Mas nem tudo era tristeza. Ligava algumas vezes ao Brasil e era muito bom e reconfortante ouvir a voz de alguém da família do outro lado da linha. Muitos não sabem, mas aquelas ligações é que dão forças e mantém as pessoas sãs, o sentimento de solidão e a saudade é muito grande.
Acordar cedo para correr com a vista do mar e em alguns dias de sorte poder ver o Monte Fuji imponente, como se flutuasse na água, era uma visão fantástica e tinha um sentimento indescritível. Fazia meu treinamento diário de corrida e sózinho tentava corrigir os exercícios de karate que havia aprendido no Brasil, mas precisava encontrar um Dojo, precisava encontrar um Sensei para me ensinar.
Após muito procurar e com a ajuda de alguns amigos japoneses que acabei fazendo dentro da fábrica, houve a notícia de que havia um Dojo de karate na cidade vizinha de Sagara. Programei então para ir fazer uma visita no sábado e fiquei ansioso, muito ansioso, não conseguia pensar em outra coisa, será que eu seria aceito? Será que o karate dali seria diferente do que eu havia aprendido no Brasil? Será? Será?
Os dias se passaram e chegara então o grande dia, o táxi buzina lá embaixo, desço, entro no táxi e passo-lhe o endereço, estava agora a caminho de conhecer um grande homem.....

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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O mundo

O nome que carrego nas minhas faixas. O nome de quem foi responsável por tantas conquistas já alcançadas por nós. Era o nome à ser honrado e de fato foi.

Era difícil conter as lágrimas, mesmo quando eu já estava sentando na arquibancada, só esperando o tempo passar para recebermos a medalha. Se lembrasse por um instante da nossa história, ou do nosso mestre, inevitavelmente acabava marejando os olhos.

Ali sentado, lembrei dos dias em que as lesões tentavam me enfraquecer. Dos dias que eu escondi a dor e dos dias que não consegui esconder. Aquelas manhãs, em que acordava às 5 horas para correr pelas ruas da cidade. Poucas pessoas entendem o verdadeiro significado dessas coisas que se faz pelos sonhos que nos alimentam. Mas ali, prestes à subir no pódio de um Campeonato Mundial, de nada importava a compreensão das pessoas, porque tudo, exatamente tudo que fizemos até ali, tinha valido à pena.

Não somos loucos, não somos ricos e o que fazemos não é hobby. Não é confortável sofrer com lesões, da mesma forma que não é agradável acordar tão cedo, cheio de lesões e sair para correr. Porém nós somos as nossas paixões e sonhos. E não há preço em tudo aquilo que você faz para continuar perto de tudo aquilo que você sonhou.

O tempo passa, o dinheiro é gasto, as pessoas vem e vão. Mas nós permanecemos ali, com o melhor de nossas forças, nos alimentando por uma paixão que nunca há de ter fim. Ser o melhor do mundo. Ver o mundo, enfrentar o mundo e levar o nome de quem nos criou para o mundo. O mundo.
 

Ali sentado, lembrei de momentos tão difíceis, que até as pessoas mais próximas chegaram a duvidar. Mas não existe culpa por parte dessas pessoas, elas só não conseguem ver o mundo do modo que nós vemos. É o nosso mundo. E a certeza de continuar, mesmo nas horas mais incertas da vida só existe, porque existe a convicção inabalável de que só nós somos capazes de ver o mundo desta forma. E aí mora a nossa força. 

Acompanhados da nossa bandeira brasileira no pódio. A sensação que tive, era de que tudo estava exatamente onde devia estar. A vista dali era ótima. O terceiro lugar, não é o topo da nossa montanha, do nosso mundo, mas com certeza ali naquele momento, tive a melhor sensação experimentada até hoje. A sensação de estar no lugar certo. Na minha montanha.

Os irmãos Saito no palco dos sonhos. Sonhos que construimos e mantivemos ao longo desses ano. Mas isso, já é uma outra história...

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pódio na África e nossa história

Último dia de competição, agora já na arquibancada, vendo as últimas categorias, estava feliz. Estava feliz não apenas por ter garantido uma classificação inédita para nosso querido país, claro que isso era importante e dava a sensação de dever cumprido, mas também por estar ali, por fazer parte de tudo aquilo. Feliz por um dia lá no passado ter sonhado em participar de um mundial e poder ganhar uma medalha para o meu país e depois de muito batalhar, de ser este o meu terceiro mundial e de conseguir uma classificação, de poder honrar o nome do meu Mestre Konomoto Takashi, que com sua paciência e bondade me mostrou o caminho que pude trilhar.

Quando chegou a hora da premiação, uma emoção muito grande tomou conta de mim. Emoção por subir no pódio de um campeonato mundial, emoção de representar e levar a bandeira do meu país, emoção de saber que ali estava o fruto de um trabalho que um dia meu mestre confiou a mim. Mas também uma emoção por poder dividir aquele pódio com aquele que um dia fora um garoto que me acompanhava nos treinos, que um dia resolveu começar a treinar, que cresceu, que pedia e ouvia meus conselhos e que agora estava ali, como meu parceiro, juntos para receber aquela medalha do mundial. Estavámos ali recebendo a nossa medalha, abraçados, segurando a bandeira do Brasil, unidos não apenas pelo sangue, mas pela amizade, pela confiança, pelo nosso caminho.

No dia seguinte ainda participamos do seminário com o Saiko Shihan Yamaguchi Goshi e também da Festa de despedida com os integrantes das outras delegações.

Mas esta história do mundial não poderia ser contada se não houvesse um começo, um início de tudo.....

....Dia 14 de maio de 1990, uma segunda-feira, ontem foi Dai das Mães, queria ter dado um presente melhor para minha mãe, mas em nome dos meus sonhos, acabei dando talvez o pior, a nossa separação.

Estou aqui sentado em nossa mesa da coziha sentindo o cheiro de "tempura de batata doce", prato que eu adoro e que minha mãe está fazendo em pé ao lado do fogão, tentando se segurar para não chorar e hora ou outra não consegue. Disfarça rapidamente as lágrimas, tenta ser "durona" para acreditar que os filhos tem mesmo que seguir seus caminhos em nome de seus sonhos.

Sou mais um como tantos outros sonhadores "dekaseguis" que vão ao Japão em busca de um sonho de fortuna, mas que ao chegar lá se deparam com uma realidade totalmente diferente.

Nos sentamos todos à mesa, o último café da tarde juntos até o meu retorno. Minha mãe, meu pai, minhas irmãs Simone e Melissa e o meu irmão caçula Horácio. Saboreio o tempura de batata doce e é incrível como este gosto e textura sinto até hoje na boca. Começo a sentir o frio na barriga, o grande dia havia chegado e com isso trouxe também uma mescla de sentimentos. Por um lado aquela sensação de euforia, de ser jovem, de estar prestes a descobrir o mundo, de conquistar os ideais e do outro o sentimento de tristeza por ter que abrir mão da minha família, dos meus amigos, da minha casa e da minha pátria. Mas como todo jovem, eu tinha o poder de mudar o mundo e isto era sufuciente. Precisava ir em busca dos meus sonhos.

A despedida no aeroporto deveria ser mais fácil, mas nunca é. A cada abraço um choro diferente, e claro isto é mais que natural, afinal, ficarei sem ver estas pessoas por muito tempo e isso dói lá no fundo do peito. Quando abraçamos nossa família nessa hora, é como se os braços se fechassem e aí torcemos para que o tempo pare naquele instante e não tenhamos que soltar mais. Não tinha mais lágrimas, os olhos inchados e o coração partido. O corredor depois do raio X é frio e escuro, assim era o sentimento que eu tinha, um imenso vazio no peito....

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um Choro de 17 anos

Eu não faço a mínima idéia do que acontece com o mundo quando o assunto é fé.
Mas de uma coisa sobre a minha fé eu sei, acredito que o mundo diz, o que precisa ser dito. E que a fé que nós depositamos nos sonhos, é  a fé que o mundo deposita em nós. Pode ter sido apenas uma estrela cadente qualquer. Mas para mim, e certamente par ao meu irmão, aquela estrela era o mundo nos mostrando o que precisávamos ver. O dia seguinte, seria com certeza um grande dia.


Derrotados pelos japoneses na semi-final por quatro à um, ali estávamos na disputa pela medalha de bronze. Era como se as lembranças, não tivessem levado 17 anos para serem escritas. Ali, prestes à enfrentar os italianos, na minha cabeça eu só enxergava estas lembranças e a certeza da vitória. Lembro de por um instante pedir à Deus, para que pudéssemos apenas fazer aquilo que sabíamos, nada mais, nada menos que isso. Olhava para as letras da minha faixa que diziam “Konomoto Takashi”.
Pensei no nosso sensei, que há tantos anos não vemos. Aquela faixa, nasceu para estar ali, mostrando para o mundo, o Karate de Konomoto Takashi. Olhava para a nossa bandeira, estendida na arquibancada, bandeira da nossa escola Shizuoka Goju-Kan dada pelo nosso mestre em 1996. Deu vontade de chorar. Porém, ainda não era hora para isso. Ainda não havia nada ganho, nada de memórias em flash-back ou homenagens, ainda nos restava vencer. Por isso voltei a me concentrar na disputa para fazer assim o meu papel. Deus fez e certamente sempre faz a sua parte.


Uma grande execução. Sem um segundo sequer de desatenção.  Desde o momento em que pisamos no ginásio naquele dia, nós nos fechamos para todas as outras coisas até mesmo os nossos adversários. Não houve um momento sequer de dúvida e se houvesse eventualmente, o foco de um dos dois era suficiente para cobrir a falha do outro. Talvez tenha sido nessa hora, que eu vi o quanto era forte e significativa a nossa ligação. Dada pelo sangue de irmãos e pelo caminho do Karate-Do.
Momentos antes da decisão dos árbitros, eu tinha certeza de termos feito, deixado ali naquela quadra, o nosso melhor. Julgando pelo que vi, vitória certa.

Quando os cinco árbitros levantaram as bandeiras à nosso favor, eu simplesmente abracei meu irmão e chorei. Aquele era o fruto do nosso trabalho, dos nossos sacrifícios e atritos. Muita gente pensa que é fácil ser o irmão mais novo de Akira Saito. Mas poucos sabem que na verdade é o maior desafio que eu sempre enfrentei. É difícil, porque ele é meu irmão. Ser aluno na maioria das vezes é seguir. E por conseqüência disso, na maioria das vezes trata-se apenas de admirar e aprender. Ser irmão, trata-se de conhecer tudo.  Eu sei que o meu irmão, apesar de ser meu mentor,  tem lá os seus defeitos que só os irmãos conhecem, da mesma forma que ele sabe que tenho tais defeitos também.  Chorar com aquela decisão dos árbitros, que reconheceram de forma unânime que nós merecíamos ser os terceiros do mundo, foi muito mais do que um choro pela medalha. Foi o choro da nossa história. Olhava para a minha faixa, as segurava sem conseguir parar de chorar. Um choro, que  esteve conosco, guardado, desde o meu início no Karate em 1992. Um choro de um irmão mais velho batalhando durante todos estes anos para sem se quer saber, moldar um parceiro. O choro, dos 17 anos.

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domingo, 21 de novembro de 2010

Conquista na África do Sul

Chegara a hora da decisão. Quem perdesse estaria fora do pódio e provavelmente veria seu sonho ser adiado por mais quatro anos. Nervosismo, tensão, todo tipo de pensamento vem em sua cabeça. Mas o que difere nessa hora é aquele que consegue controlar melhor suas emoções. Eu e meu brother Horácio havíamos passado por muitas coisas para estarmos ali, foram muitos os sacrifícios, muitos os treinos, muitas as dores e a vitória não era mais apenas um desejo, era o significado de tudo que representava aquele tempo, aquela nossa fase da vida. Apertamos as mãos, nos abraçamos e dissemos um para o outro: - "Vamos ganhar, viemos até aqui para vencer, vamos ganhar essa p...".

Nos posicionamos na lateral do Koto, na ordem ficou determinado que seríamos a dupla "AO", azul, portanto faríamos o Bunkai depois da dupla da Itália.

Enquanto eles executavam o Bunkai ficamos concentrados, focados no nosso objetivo que era dar o melhor de nós, fazermos um bunkai não apenas técnico, mas com espírito, com coração. Assim que eles terminaram, nos posicionamos para entrar e como se tomados por um transe, executamos o bunkai sem erros, sincronizados, com uma energia interligada e harmoniosa. Para aquele dia, para aquele instante de nossas vidas, foi perfeito, acabamos o bunkai e com toda aquela energia ainda pairando no ar, fomos ao nosso lado do koto esperar pela decisão nas banderias dos juízes. E após aqueles segundos de ansiedade e tensão intermináveis, o juiz central sinaliza com seu apito e todos os outros quatro juízes dão seu parecer. 5 X 0 azul. Contamos as bandeiras e nos abraçamos, não mais contendo a emoção. Choramos. Choramos por nós, por nosso país, por nossos Mestres e alunos, por nossas famílias e amigos, choramos porque sabíamos o que aquela arte representava em nossa vida. O representante do Chile veio nos cumprimentar e calorosamente nos parabenizar. Nossos alunos nos esperavam na saída do Koto e com abraços e lágrimas comemoravam também esta vitória de todos, pois era a primeira vez na história dos mundiais da Goju-ryu que o Brasil ganhara uma medalha nesta modalidade.

Antes de sairmos da área de competição, paramos para tirar uma foto com a nossa bandeira, a bandeira da Associação Shizuoka Goju-kan do Brasil, presente que nosso Mestre no Japão, havia dado quando voltei ao Brasil. Fiz uma prece e agradeci. Agradeci meu mestre no Japão que me ensinou e me mostrou as técnicas e os valores da arte e nosso saudoso mestre aqui do Brasil, Ryuzo Watanabe, que nos recebeu de braços abertos quando chegamos.

Andamos pelo ginásio, agora com aquela sensação de dever cumprido, e sem aquela pressão da competição, pudemos confraternizar mais com os atletas das outras delegações. Cumprimentei e troquei camisetas com a equipe da Indonésia, que como nós, também ficaram em terceiro lugar, tiramos fotos com a equipe do Japão, que haviam ficado em segundo, perdendo para a Suiça e que tinha um fato interessante: Um de seus técnicos, Kamogawa, era no passado meu algoz, que nos campeonatos estaduais da Província de Shizuoka sempre ficava com o primeiro lugar e era muito bom encontrá-lo ali, depois de quase quinze anos.


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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

África do Sul

Saio de casa, com muitos pensamentos. A velha sensação de estar partindo para o desconhecido que nunca foi a sensação mais atrativa do mundo para mim desde sempre. Desde o primeiro dia de aula na escola, até as viagens pela seleção brasileira adulta de Karate. Engraçado, já que já viajei e competi centenas de vezes até aqui. Porém, é sempre assim. Sempre como se fosse para um mundo totalmente diferente, deixando tudo que eu conheço para trás. Deus que me perdoe dizer isso, mas eu sempre sinto que é uma despedida. Eu prefiro pensar que isso é um bom sinal, sinal de que deixo em casa a minha versão antiga, buscando mudo afora uma nova versão atualizada.

Parte o carro rumo ao aeroporto. Estamos indo para a África do Sul.
Quase quinze anos após  voltar do Japão com a faixa preta. Hoje como um homem adulto me lembro de momentos e pessoas importantes, que apesar da distância criada pelo tempo e pela distância geográfica, estão sempre presentes de uma forma quase paterna dentro do ser que aqui se encontra pensativo dentro de um carro acompanhado de pessoas queridas, mas de certa forma sozinho, no interior de seus pensamentos.
Nos encontramos com os outros atletas no aeroporto, todos, amigos. Com certeza, isso fez com que a viagem fosse divertida e o nervosismo ficasse em segundo plano.

Viagem cansativa e definitivamente o avião não é o melhor lugar para descansar as pernas .  Durante a viagem, procurei não pensar muito na competição. Tentei distrair-me com a viagem e com o pessoal, mas vez ou outra, inevitavelmente lembrava do quanto aquilo era importante para nós. Quando lembrava, surgia lá no fundo uma ansiedade que se não tomava cuidado, logo me levava para o campeonato,  para as situações e conseqüentemente para a  responsabilidade que caia sob os ombros.
Medo. Sempre acreditei que a coragem nada tem a ver com a falta desta sensação de temor, mas sim com aqueles indivíduos que tem o medo pela frente, mas avançam mesmo conhecendo as conseqüências de uma eventual derrota.
Não ter medo de nada para mim é mais inconseqüência do que coragem. Então sentir medo, e saber reconhecê-lo, já é um pedaço da coragem.

Chegando em Cape Town, e já transitando de van pela cidade, rumo ao hotel, a sensação nítida que fica, é  a de que realmente existem pessoas de realidades econômicas e sociais extremas naquele país. Uns com tanto, outro s com praticamente nada. Carrões circulando por bairros praticamente europeus e probreza, favelas e ônibus velhos  transportando só negros em partes mais pobres da cidade.
Serviço de transporte público que deixa a desejar. A impressão que fica, é que o transporte público é somente para os miseráveis. Que os ricos só andam de carrões e não existe meio termo entre um e o outro.  Em São Paulo por exemplo, existem inúmeras pessoas que deixam seus carros para irem trabalhar de ônibus e/ou metrô. Na África do Sul, não parece ser assim, nem de longe.

Entrando no clima do campeonato, visitamos os ginásio vazio. Apenas com as estruturas (tatamis e afins) sendo finalizadas para a competição. Aquele frio na barriga que havia acalmado durante a viagem, agora voltava para ficar de vez. Ali no meu estômago permaneceu, seja comigo ali naquele ginásio vazio ou mais tarde quando todos já fechavam os olhos em seus quartos no Hotel.

No primeiro dia de competições, nossos alunos vão bem. Uma medalha de bronze e uma disputa de medalha perdida. É um bom saldo de alunos que tenho treinado, uma nova geração da Shizuoka Goju-kan! Porém como se da noite para o dia tudo pudesse acontecer (erealmente pode) , no segundo dia de competição, o dia das disputas individuais das categorias adultas, todos nós vimos um por vez cair e deixar o sonho de ser o melhor do mundo ser adiado.
Fiz o meu melhor, mas sei que ali, eixsitiam pessoas mais capacitadas do que eu e por justiça, estas seguiram adiante. Porém isso me frustrou também por mais justo que tenha sido, já que só eu sei o quanto eu me preparei para estar ali. Sentando, já na arquibancada eu apenas lido com a certeza de que nada mais podia ter sido feito.

Decepcionados, eu e o meu irmão tivemos um atrito. Mas com um verdadeiro exemplo de sabedoria, ele me mostrou que deveríamos nos manter unidos, deixando toda frustração daquele dia para trás. Quando um quase coloca tudo à perder, o outro toma à rédea da situação. Acredito que isso mais do que nunca me mostrou porque somos uma verdadeira dupla, um verdadeiro time. O terceiro dia, o dia da disputa do Bunkai-Kata (em duplas, a dupla Brasileira para a disputa era formada por mim e pelo meu irmão) ainda estava por vir. No céu escuro de um dia de decepções, uma estrela cadente só pode ser um sinal. É assim que começa a nossa vitória.

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mundial da África do Sul

Olá a todos os nossos amigos, a pedido de várias pessoas que nos enviaram mensagens, mudamos a forma de postarmos e para não ficar apenas uma postagem por semana, faremos da seguinte forma a partir de hoje: eu (Akira) postarei às segundas-feiras e o Horácio postará às quintas-feiras, sobre o mesmo assunto, mas com o ponto de vista de cada um.

Hoje vou contar um pouco sobre a nossa viagem em outubro de 2009 à cidade do Cabo, na África do Sul, para disputarmos o Campeonato Mundial de Karate-do Goju-kai. No embarque no aeroporto internacional de Guarulhos já sentia uma grande emoção, pois o Brasil havia ficado fora do circuito da Goju-kai desde 1999, e depois de 10 anos eu estava lá outra vez defendendo a bandeira do meu querido Brasil. E também, por não estar sozinho, além do meu brother Horácio, estavámos também levando seis alunos, que era também motivo de muito orgulho, pois quando voltei ao Brasil em 1996, tinha na minha bagagem também a respondabilidade de representar aqui no Brasil o nome do meu Sensei, Hanshi Konomoto Takashi e de sua Associação Shizuoka Goju-kan que ele havia me autorizado a usar aqui, com certeza era uma honra participar deste torneio.

Chegamos dois dias antes do evento para podermos nos adaptar, e vimos um país por um lado muito rico e por outro com tanta pobreza. Mas fomos muito bem recebidos e o país é muito bonito e moderno. Ficamos em Tyger Valley no Protea Hotel, um ótimo hotel.

Estar no mundial já é grandioso, a organização, o ginásio impecável, os diversos países presentes. Tudo e todos por um objetivo, ser o melhor do mundo...

Nossos juvenis competiram no primeiro dia e haviam garantido uma medalha de bronze e isso nos entusiasmou, o que não esperávamos é que no segundo dia de competição, todos nós fossemos eliminados em suas categorias individuais e uma sensação de desânimo e frustração assolou a todos. No final do dia conversamos, precisava recuperar o ânimo de todos, pois no dia seguinte iríamos competir o Bunkai-Kata-Kumite e precisaríamos estar bem para tentar alguma coisa. Já a noite enquanto conversava com o Horácio, olhamos para o céu e vimos uma estrela cadente, aquilo só poderia ser um bom sinal.

Chegamos cedo no ginásio no terceiro e último dia de competição e fomos já para a área de aquecimento. Lá estavam as duplas, do Japão, do Suiça, da Indonésia, do Irã, da Itália, da Inglaterra, todas as grandes com chances de medalha, entre outras. Eu e o Horácio nos colocamos a aquecer ao lado da Indonésia e do Japão e dissemos um ao outro: Vamos dar o nosso cartão de visita? E mandamos um bunkai no ritmo da competição, com vigor, com velocidade, com espírito. Pareceu dar certo, pois nos deram espaço, nos deram respeito. Agora não éramos mais a dupla desconhecida do Brasil, éramos agora a dupla do Brasil que mostrou que também estava ali com vontade de vencer.

Chamaram então a nossa categoria, uma pessoa da organização que já havia conferido as duplas e as chaves, pediu então que a acompanhassemos. Andando em fila começamos a subir os degraus que nos levariam para dentro do ginásio de competição, nessa hora lembrei das dificuldades que antecederam a viagem, que só a cinco dias do embarque a obstetra da minha esposa me liberou, dizendo que a gravidez agora estava controlada e que estava tudo bem. Subindo aqueles degraus, veio uma sensação de paz, de alegria e nessa hora pensei: Yumi-chan, papai vai levar esta medalha para você!!!!!

Ganhamos a primeira rodada da Inglaterra por um placar apertado: 3 X 2, mas em seguida iríamos pegar o Japão... com o Japão perdemos de 4 x 1, mas se o Japão fosse para a final, nos puxaria para a repescagem e foi o que aconteceu... e na disputa de terceiro lugar iríamos pegar a dupla da Itália, havia chegado a hora do tudo ou nada...........

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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Irmãos de Sangue, amigos de verdade

Olá amigo, convido você a nos visitar uma vez por semana, estaremos postando todas as segundas-feiras um novo capítulo da nossa história, das nossas aventuras de quando fomos ao Japão, do nosso dia a dia lá, dos nossos campeonatos, da nossa ida à África do Sul ao Mundial, quando conquistamos uma medalha inédita para o Brasil, da nossa vitória no Sul-Americano no Uruguai. Uma história de batalha, de suor e de amizade. Queremos compartilhar com você nosso amigo, nossas conquistas e nossas alegrias, pois isto tudo faz parte de um projeto para o Mundial de 2013 na Índia. Antes pretendemos ir também ao Japão, para visitarmos nosso Mestre e claro, treinarmos muito para nos aperfeiçoarmos, e este projeto inclui você, nosso amigo que estará nos acompanhando pelo nosso blog toda semana, pois o projeto Saito Brothers, propõe que dentro do Koto de competição somos UM, mas fora dele somos MUITOS!!!!!
Todas as segundas serão dois posts sobre o mesmo assunto, mas com dois pontos de vista diferentes. O ponto de vista do Akira e o ponto de vista do Horácio. E quem são os irmãos Saito? Para aqueles que ainda não nos conhecem, uma breve apresentação e no decorrer das semanas tudo estará mais detalhado:
Akira, o irmão mais velho: Fui ao Japão em 1990, no Brasil já treinava Karate e lá treinei com o Mestre Konomoto Takashi, na Província de Shizuoka. Horácio, o irmão mais novo: Foi ao Japão em 1992 e começou a treinar Karate com o Mestre Konomoto Takashi. A partir de então começamos a trilhar juntos "O Caminho". Em 1991 fui Campeão Estadual, em 1995 Horácio se torna faixa preta com apenas 13 anos, estes são alguns dos fatos que serão contados detalhadamente nos próximos posts. Quando retornamos ao Brasil, recebi a autorização de utilizar o nome da Associação do meu Mestre do Japão: "Associação Shizuoka Goju-kan" e que no Brasil se propõe principalmente a formação de seres humanos melhores para a sociedade.
Somos os irmãos Saito, amigos de verdade e parceiros. Nem tudo foi só alegria, existiram também os obstáculos e os sofrimentos, mas quando se quer algo de verdade, tudo se supera, tudo vale a pena!!!!!
Este foi o primeiro post, esperamos vocês aqui semana que vem!!!!!

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