quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Só honra quem carrega

Mais do que medalhas e fotografias, fica o aprendizado.
Aquela era a nossa primeira competição internacional de Bunkai. A primeira competição fora de casa, como Saito Brothers.

Mais do que os títulos como o daquele dia, ficam para sempre os laços que se fortalecem a cada disputa, cada vitória ou derrota. Toda vitória, toda historia é construída com a vivência intensa destes momentos. Tudo tem de valer à pena. Da dor à alegria, tudo tem de servir como alicerce de uma grande fortaleza. Esse é o caminho e é o nosso caminho.

Com o tempo, há de se aprender que quem não coloca tudo em jogo, não serve para o jogo. Porque ali só vence quem é sincero. Não existe sinceridade com o pé atrás. Só conta se for 100%. A sinceridade nunca perde, sempre vence, embora algumas vitórias só o tempo revele.

Com o tempo, há de se aprender também, que aquele que quer honrar a confiança das pessoas, sempre luta com 100% do que tem e além disso, leva todas estas pessoas à serem honradas nos ombros, nas costas, na mente, no pensamento. Quem luta por muitos, tem a força de muitos.

O juvenil, aprende a lutar por si. O homem luta por si e pelos outros. Seja pela memória destes, pela gratidão ou pelo apoio recebido. Os homens honram o(s) nome(s) que carregam.

Naquele dia, aprendi a carregar as coisas nas costas. Para honrar o nome de quem um dia fez o mesmo caminho. Tinha dezesseis anos, muita coisa pela frente, mas sabia que estava no lugar certo.


Estava no caminho.

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

O ÚLTIMO POST

Hoje é o último post desta temporada. Em breve estaremos de volta com novidades, algumas bem legais mas que não podemos contar por enquanto..... e claro, com novas histórias do SAITO BROTHERS.

Tínhamos tomado a decisão de viajar a Santiago para representar o nosso País, mas principalmente para representarmos o Mestre Ryuzo Watanabe. Fora uma perda imensurável, mas queríamos lembrar sempre do Mestre Watanabe com alegria e da forma que ele sempre nos ensinou, de karate-gi.
Neste Sul-Americano, eu e o brother Horácio não estávamos mais sozinhos, alguns dos nossos alunos também estavam ali defendendo as cores do nosso país, o que me deixava bastante orgulhoso. 


Iria competir no Kata adulto acima de Sandan, no Kumite Individual até 65 kg, no Kata Equipe, no Kumite Equipe e no Bunkai-Kumite-Kata. Era uma grande responsabilidade, mas o clima era de alegria. Os alunos, viajando pela primeira vez para fora do País, faziam uma grande festa. Apesar de alguns sustos que os alunos me deram (um deles é ao chegarmos em Santiago e ao descer do avião, um dos alunos me diz que perdeu seu passaporte, só depois de muito procurar no aeroporto e quase buscar ajuda ao consulado, ele percebe que o que ele perdeu não era o passaporte, pois ele nem tinha, o que perdera era o ticket de embarque), a viagem foi tranquila e fomos enfim para o hotel. 

Já no Ginásio para a competição, tivemos uma grande homenagem ao Mestre Watanabe e que emocionou a todos os presentes. Um Grande Mestre e todos sem exceção sentiram sua partida.
Mas o clima logo saiu da tristeza para o de competição, começaram pelas crianças e os nosso alunos já começaram também a se destacar.

Competi no kata individual acima de San Dan e consegui me consagrar Vice-Campeão, logo depois fomos competir o Kata Equipe (eu, o brother Horácio e nosso primo Felipe) e ficamos também com a segunda colocação. Eu e o brother Horácio fomos então competir o Bunkai-Kumite-Kata e conseguimos nos consagrar Campeões da categoria, para a nossa alegria. Competi ainda no kumite até 65 kg e no kumite equipe e consegui em ambas a medalha de bronze.

Mais do que as minhas conquistas em si, era muito gratificante ver o resultado também do meu brother Horácio e de todos os nossos alunos, não pelas medalhas apenas, mas por tudo que havia acontecido e pela postura que todos da Associação Shizuoka Goju-kan tinham tomado.

A de honrar o Mestre Watanabe, 

Sentia a sensação de que tínhamos cumprido o nosso dever.....



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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Pelo nome e não com o nome

Um dia todos vamos embora. Não existe maior certeza do que a morte. O que acontece, é que nos maravilhamos com a vida e passamos os dias sem se quer pensar(corretamente até) nesta única certeza. Um dia, todos vamos morrer.

Nós nunca imaginamos a vida sem aquelas pessoas que fazem dela um lugar seguro. Ninguém nunca pensa em perder um pai, uma mãe, por mais que essa seja a ordem natural das coisas.

Com os mestres acontece a mesma coisa. Eles são pais de muitos. São as figuras centrais de contos, histórias e até lendas dentro de suas artes. Representam sempre em carne e osso, as lições de um caminho que abriga muitos peregrinos. Eles são o caminho.

A perda do mestre Ryuzo Watanabe, significava para nós da Goju-Kai, perder o caminho. Pois assim como outros grandes mestres, ele era o desde o ar que respirava, até o último batimento do seu coração, puro Karate-Do.

Foi um momento de muita tristeza. Lembro-me do dia do enterro do sensei até hoje com muita clareza. Se lembrar demais, talvez comece a sentir que é muito mais triste do que já é, porque sei, que ele faz muita falta neste mundo. Porém creio que pensar nisso seria de certo modo egoísmo meu, já que certamente hoje em dia ele deve estar muito mais feliz no lugar em que se encontra (provavelmente com outros grandes mestres).

Muitos se perderam depois daquele dia, muitos, decidiram levar o caminho adiante honrando a memória de alguém que viveu pelo caminho do Karate.

Todos temos a opção de escolher o que fazer com a memória das pessoas que se foram, o que fazer com os bons dias vividos ao lado de quem se foi, o que fazer com os ensinamentos, as lições de quem viveu para passar um ideal adiante e liderar um grupo, uma família.

Tenho orgulho e gratidão pelos senseis que tive, tenho orgulho de ser irmão de um grande Budoka que sempre optou por seguir os exemplos, fazendo como eles, liderando, desbravando rumo àquilo que é certo.

Depois de tantos anos, eu olho para todos estes dias que ficaram para trás desde o falecimento do sensei Watanabe e vejo que o meu irmão me(nos) guiou para o caminho certo.

Por onde se honra a memória das pessoas com a nossa própria maneira de viver. Não nos agarramos, nos escoramos no nome de ninguém, não usamos a imagem de ninguém. Nós somos aquilo que aprendemos, somos o que passamos adiante. É assim que um legado, uma memória se matém viva.  Os mestres vivem no caminho e na transmissão dos ensinamentos deste. De nada adianta ficar citando nomes se as atitudes não falarem por estes nomes citados.

Temos MUITO ORGULHO das nossas raízes, de ter aprendido com quem aprendemos e é exatamente por isso que damos o nosso melhor todos os dias. Para honrar o nome das pessoas com atitudes, porque Karate-Do é feito muito mais de luta, do que nomes à serem citados na primeira oportunidade.

Tínhamos um campeonao para vencer, por nós, pela memória do sensei e acima de tudo... Por honra e gratidão.

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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Próximo de um final

Na próxima semana postaremos a última história desta etapa do Saito Brothers, que retornará com novo visual, novidades e novas histórias, claro. Aguardem!!!!!

O ano de 1998 estava começando a dar seus frutos. Nossos alunos disputaram o Campeonato Paulista e se classificaram para o Campeonato Brasileiro. No Brasileiro, conseguiram resultados além do esperado e conquistaram a vaga para a Seleção Brasileira para disputarmos o Campeonato Sul-Americano que seria disputado em Santiago, no Chile, no mês de dezembro.

Em apenas dois anos de trabalho com aqueles garotos e garotas já tínhamos conseguido classificar, além de mim e o brother Horácio, mais cinco alunos. Isto era muito gratificante, pois ali estavam os frutos de muita confiança depositada no meu trabalho, pelo meu Mestre no Japão e pelo Mestre Watanabe aqui no Brasil. 

Infelizmente acontecem coisas em nossas vidas que não temos controle e que imaginamos intimamente não acontecer. 
Após o Mestre Watanabe retornar do Chile, viagem que fez para visitar e acompanhar a organização do Campeonato Sul-Americano, é internado às pressas com uma suspeita de infecção intestinal. Mas, após diversos exames foi constatado que era um câncer de estômago que derrubara o nosso grande guerreiro, líder e exemplo de milhares de pessoas que o acompanhavam em sua jornada de vida, que era o Karate. 
Não deu tempo de assimilarmos a situação e quão grave era, e o Grande Mestre Ryuzo Watanabe veio a falecer no dia 05 de Dezembro de 1998. Uma grande tristeza assolou a todos, lágrimas não eram suficientes para expressar a dor que estávamos sentido. Um líder, um Mestre, um pai para muitos. Ninguém queria acreditar e era difícil conter os sentimentos de uma perda como esta. 
Em seu velório, pessoas de todos os lugares vinham prestar suas homenagens. Não apenas pessoas ligadas ao Karate, mas também da colônia japonesa e de diversos amigos que o Mestre galgara também como pessoa pública. 

O Mestre Ryuzo Watanabe foi enterrado no Cemitério da cidade de Suzano e a nós restou a dúvida agora a respeito do Campeonato Sul-Americano que aconteceria na semana seguinte.
Nos reunimos e decidimos que a melhor forma de honrar o nome do nosso querido Mestre e que amava tanto o Karate-do Goju-ryu, era vestindo o Karate-gi e lutando. Iríamos sim ao Chile e lá prestaríamos nossas homenagens, da forma que o Mestre Watanabe sempre nos ensinou,

Com honra!!!!!


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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Pescando na chuva

Meu irmão sempre gostou de pescar.
Todas às segundas, meu irmão pegava na escola depois da aula, eu trocava de roupa no caminho, dentro do carro e íamos pescar. Essa era mais uma das "nossas coisas", momentos, como aqueles vividos no Japão, nas viagens de trem, quando passávamos na livraria, líamos o que queríamos, meu irmão pegava uma revista de Karate, eu pegava a nova edição do mangá preferido e pegávamos um taxi para casa.
Entre essas coisas que fazíamos juntos, lembro também das manhãs já aqui no Brasil, quando acordava cedo e íamos correr no parque antes da escola. Voltava para casa, tomava um banho, vestia o uniforme e ia estudar.

Pescar, naquela época era a "nossa coisa"do momento. Apesar de eu ir muito mais pela diversão de fisgar o peixe e por acompanhar sempre o meu irmão em todos os lugares, gostava muito desta época. Mas nunca fui um pescador como o meu irmão.

Meu irmão se divertia pescando, mas também se divertia com as minhas trapalhadas com a "tralha" de pesca, quando eu gastava mais tempo desembaraçando a linha do que pescando em si. Eu ficava bravo e ele ria e quando os nós eram cegos demais, ele montava outra vara para mim.

A maioria das pessoas gosta de fisgar o peixe. E acho que isso se encaixa muito bem no que é a vida. As pessoas sempre querer ter algo, ter o prazer de ter algo, mas quem aqui gosta de pescar na chuva sem pegar nada?
Bom, o meu irmão gosta.

Lembro-me de um dia, que estava frio e chovia muito. Fomos pescar, porque o meu irmão sempre seguia em frentre com os seus planos, fosse com sol, fosse com chuva. Chovia tanto naquele dia, que eu mal podia ver o que se passava lá na ponta da linha lançada no lago, quase não via a bóia. Não dava para diferenciar o que era a chuva balançando a água e o que era o peixe tentando morder a isca. Tudo que eu via, era o meu irmão. Parado, quieto, atento, coberto com uma capa de chuva, olhando para a água.

Nesse dia, do quiosque, observando o meu irmão pescando na chuva eu entendi muita coisa sobre pescar, aprendi o que é gostar de pescar. E quem sabe até, tenha aprendido muita coisa sobre a própria vida. A verdadeira pescaria, mora em quem gosta de pescar independente de tudo.

É preciso estar lá. Com sol ou com chuva. Enxergando o que há adiante ou não, é preciso estar lá.
O que essas lembranças tem a ver com o nosso Karate? Bom, só entende, quem está na chuva. Para se molhar? Sim. Mas mais do que isso, para pescar.

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